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sexta-feira, 27 de julho de 2012

APOSTILA 18 - ECLESIOLOGIA (A DOUTRINA DA IGREJA)

APOSTILA DE ECLESIOLOGIA

TEOLOGIA SISTEMÁTICA  

Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira


DATA
AULA Nº
ECLESIOLOGIA


Conhecendo os Alunos


1 – O CONCEITO DE IGREJA BÍBLICO


1.1 – Considerações Negativas


1.2 – Significado e Usos da Palavra Igreja


2 – A IGREJA LOCAL


2.1 – As Ordenanças da Igreja: O Batismo e a Ceia do Senhor


2.2 – Formas de Governo da Igreja


2.3 – Sua Organização


3 – A IGREJA UNIVERSAL


3.1 – A Realidade de Sua Existência


3.2 – Suas Representações


3.3 – A Unidade da Igreja

OBJETIVO
            Apresentar a origem, a fundamentação bíblica e histórica da Igreja e a sua dimensão salvífica, histórica e escatológica.
Apontar a igreja como sinal do Reino de Deus no mundo e destacar a Igreja no seu aspecto existencial e estrutural como organismo, corpo vivo de Cristo.

BIBLIOGRAFIAS:
BERKOFF, Louis. Teologia Sistemática, Campinas: Luz para o Caminho.
COFFANI, Edson Rogério. Apostila de Eclesiologia. Escola Teológica Batista Auriflamense.
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Edições Vida Nova, 1999.
HARBIN, Christopher. Apostila de Eclesiologia. Seminário Teológico Batista do Rio Grande do Sul.
BÍBLIA ANOTADA. Versão Almeida, Revista e Atualizada. São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1991.







INTRODUÇÃO
Eclesiologia é a disciplina que estuda a doutrina da Igreja.

“A igreja é um aspecto da doutrina cristã sobre o qual praticamente todos, crentes e descrentes, têm uma opinião. Em parte, é porque, sendo uma instituição da sociedade, a igreja pode ser observada e estudada pelos métodos da ciência social. Isso, porém, nos apresenta um dilema. Podemos ser tentados a definir a igreja pelo que é empiricamente. Tal abordagem, no entanto, poderia confundir o real com o ideal e, assim, por mais interessante que seja, deve ser evitada.
Outra maneira de analisar e definir a igreja é usar os mesmos meios usados nas outras partes da teologia sistemática, ou seja, estudando o material bíblico. O significado do termo igreja destaca-se melhor quando estudado no contexto grego e vetereotestamentário. No grego clássico, a palavra grega usada no Novo Testamento para designar a igreja (ekklésia) referia-se simplesmente a uma assembleia dos cidadãos de uma localidade. O equivalente mais próximo do Antigo Testamento (qáhál) não é tanto uma especificação dos membros de uma assembleia, mas uma designação do ato de se reunirem.
No Novo Testamento, a palavra igreja tem dois sentidos. Por um lado, denota todos os crentes em Cristo em todas as épocas e lugares. Esse sentido universal é encontrado em Mateus 16:18, em que Jesus promete que construirá sua igreja, e na figura do corpo de Cristo, desenvolvida por Paulo (ver Ef 1:22-23, Ef 4:4, Ef 5:23). Com maior frequência, porém, “igreja” refere-se a um grupo de crentes em dada localidade geográfica. Esse é o sentido claro em textos como 1Corintios 1:2 e 1Tessalonicenses 1:1” (Profº Edson Rogério Coffani - Escola Teológica Batista Auriflamense).

OBJETIVO
            Apresentar a origem, a fundamentação bíblica e histórica da Igreja e a sua dimensão salvífica, histórica e escatológica.
Apontar a igreja como sinal do Reino de Deus no mundo e destacar a Igreja no seu aspecto existencial e estrutural como organismo, corpo vivo de Cristo.





1 – O CONCEITO DE IGREJA NA VISÃO BÍBLICA
Iniciaremos nosso estudo a partir do conceito básico do significado de Igreja.

Definição: A Igreja é a comunidade de todos os verdadeiros crentes de todos os tempos.

1.1  Considerações negativas
·         A Igreja não é judaísmo continuado e ampliado – Embora haja uma continuidade entre os remidos de todas as eras. A Igreja está fundamentada numa nova aliança. Ela parte do judaísmo, mas rompe com o judaísmo por meio de Cristo, que cumpre todas as exigências do judaísmo.
A convocação do povo no Sinai foi estabelecida em termos condicionais. Era apenas necessário que o povo se multiplicasse e fosse utilizado como bênção a todas as nações, condição esta que se cumpriu em Jesus.
Grande parte da expectativa judaica referente ao Messias girava em torno de um reino político e geográfico. Jesus, no entanto, declarava claramente que o reino dele não era político. Ele pregava o reinar de Deus no interior do ser humano, enfatizando que o jugo romano sobre Israel do seu dia não era tema de interesse. Jesus não tinha interesse político, nem em sentido pessoal de reinar, nem em libertar Israel da opressão romana. Por outro lado, ensinou em vários contextos sobre a necessidade do povo ser fiel e servir a Deus de forma comprometida. O reinar de Deus por sua mensagem era algo interior, não uma questão nacional, institucional ou de outra forma externa ao indivíduo. Sua pregação era com respeito ao compromisso interior com Deus.Todos aqueles que creram no período antes de Cristo, na promessa de Deus também fazem parte da Igreja. No culto judaico tinha uma adoração centralizadora. Somente se adorava de verdade em Israel, mais especificamente em Jerusalém (Templo), dependiam de sacerdotes para oferecer seus sacrifícios e ofertas de adoração. Os estrangeiros tinham que se submeter às leis judaicas, se tornando “judeu” através da circuncisão.
O cristianismo oferece uma religião descentralizadora. Pode-se adorar de qualquer lugar, não precisa de sacerdotes, nem de templos, não se oferece mais sacrifícios e nenhuma raça tem domínio sobre outra.
Reflexão: As igrejas de hoje estão libertando os santos para adorarem livremente ou os estão aprisionando novamente? Por que a igreja cristã acumulou tantos fardos em torno de coisas como o prédio, o domingo, o culto e o clérigo?
·         A Igreja não é o reino de Deus – O reino é o domínio de Deus sobre a Terra e sobre todo Universo. A Igreja é parte do Reino. A igreja autêntica existe como a concretização do reinar de Deus e não pode existir desvinculada deste reino. É na vida da igreja, o povo de Deus, que o reinar de Cristo tem forma e exercício.
·         A Igreja não é uma instituição religiosa - Na Bíblia, a igreja não é uma instituição religiosa, mas um organismo vivo que se vai transformando em termos organizacionais. De certa forma a igreja é, conforme implicação de Romanos 9.25 e 1 Pedro 2.9-10, o povo de Deus em desenvolvimento. Logo, ao tratar da igreja, é necessário tratar de dois aspectos da mesma: o organismo e a estrutura organizacional que se vem desenvolvendo naturalmente. Esta é necessária, mesmo que não deva ser vista como o aspecto principal.

1.2  Significado e Usos da Palavra Igreja
·         Ekklesia (literalmente do grego) “assembleia” ou “grupo chamado” – O texto bíblico no português usa o termo igreja, mas as conotações originais do termo muitas vezes estão perdidas na tradução. O conceito básico do termo igreja surge do hebraico qahal ou kahal, derivada de uma raiz qal (ou kal) significa “chamar”, e também do grego ekklesia é de uma assembléia, tratados por muitos no sentido de “comunidade”. Geralmente se pensa em termos de haver uma convocação de caráter político, sendo uma reunião do povo para decidir ou ouvir decisões de importância geral para o mesmo.
Não existe no Antigo Testamento o que propriamente se chamaria de igreja, já que o conceito é do povo como um todo pertencendo a YHWH como nação. Nesse contexto, emprega-se o termo hebraico ‘edhah, que designa o povo de Deus, seja reunido ou não. Na época do exílio, o termo qahal vem a ser empregado com esse mesmo uso também, mas nunca como uma instituição.
Synagoge é a versão usual, quase universal no Velho Testamento, de ‘edhah na Septuaginta, e é também a versão usual de qahal no Pentateuco. Nos últimos livros da Bíblia [Velho Testamento], porém qahal é geralmente traduzida por ekklesia.
O Novo Testamento também tem duas palavras, derivadas da Septuaginta, quais sejam, ekklesia, de ek e kaleo, “chamar”, “chamar para fora”, “convocar”, e synagoge, de syn e ago, significando “reunir-se” ou “reunir”. Synagoge no Novo Testamento é empregada exclusivamente para denotar, quer as reuniões religiosas dos judeus, quer os edifícios em que eles se reuniam para o culto público, Mt 4.23; At 13.43; Ap 2.9; 3.9.
No caso do Novo Testamento, quando se trata da igreja em sentido universal ou mesmo local o termo usado é normalmente algo como “santos” ou “eleitos”, em lugar de “igreja” (ekklesía), aproveitando também expressões como “noiva” ou “povo de Deus” especialmente ao tratar da igreja em sentido universal. Portanto, é necessário ter cuidado ao procurar sistematizar ensino bíblico a partir de um estudo do emprego do termo bíblico “igreja”, já que o conceito igreja é comumente tratado com outros vocábulos e o uso que se faz do termo igreja nem sempre é o que se espera a partir do português.
o   Pode ser usada para se referir - A vários contextos e com vários sentidos no português. O termo igreja pode vir a designar uma congregação local, uma denominação, uma causa, a igreja de caráter universal ou “invisível” ou até um prédio onde se reúne um grupo de adoradores. Em cada contexto deve-se assegurar qual o uso que se faz do termo. Usaremos aqui como definição prática de igreja, “um agrupamento de crentes que vivenciam um relacionamento de dependência (fé) em Jesus Cristo, unindo-se para cumprirem a missão entregue por Deus”.
§  À assembleia do povo de Israel (At 7.38).
§  A uma assembleia dos cidadãos de uma cidade (At 19.32,39, 41).
§  Ao corpo de Cristo (Cl 1.18).
§  A uma igreja ou assembleia local (1 Co 1.2).


2        – A IGREJA LOCAL
          Uma Igreja local é um grupo de cristãos professos em Jesus Cristo, batizados em nome de Jesus e organizados com o propósito de fazer a vontade de Deus.

“Diversas formas da igreja existem, não porque o evangelho é relativo ou ‘aguado’ para atingir cada possível circunstância, mas porque o evangelho é relevante, respondendo às divergentes necessidades de pessoas, culturas, e sociedades.... O que é a igreja? Em síntese, é uma comunidade histórica que começa com Deus e é fundada em Cristo Jesus. É testemunha ao Seu evangelho em seu culto e fé, trabalho e memória. Através do seu testemunho em palavra e serviço ela aponta não a si mas para Cristo.... A igreja está continuamente em processo. É uma noiva sendo preparada para Cristo (2a Coríntios 11.2); é uma comunidade de peregrinos, escolhidos, mas ainda não completos, sempre seguindo em direção à promessa do reino de Deus.... Fazer a pergunta ‘O que é a igreja?’ ... é procurar ‘pela cidade que tem cimentos, cujo construtor e criador é Deus’ - Heb. 11.10 (Leonard)”.

A igreja é muito mais do que uma congregação local e é muito mais do que uma estrutura e instituição. Usa-se o retrato da igreja local como auxílio na visualização concreta do conceito, porém lembra-se a necessidade de olhar além dos aspectos institucionais, formais e estruturais. Toda a estrutura e organização elaborada pode ser benéfica, mas deve sempre ser associada ao propósito da igreja, missão que parte de sua verdadeira natureza.
A Bíblia não estabelece um sistema organizacional para a igreja, nem contraria a sua elaboração. O que ela oferece é uma missão a ser cumprida.
É esta missão que deveria unir a igreja mais do que qualquer outro elemento individual. É por tal motivo, por exemplo, que as igrejas batistas desde sua origem começaram a se relacionar em associações e logo em convenções. Queriam estar unidos para melhor cooperarem no desenvolvimento das tarefas que a igreja local tinha dificuldade em cumprir sem apoio externo. É também nesse interesse que surge a necessidade de cooperação entre denominações para cumprirem em conjunto com certos aspectos da missão da igreja.
O ideal de união para a igreja nunca chegará a completa satisfação na terra, em função de posições teológicas diferenciadas entre grupos componentes da Igreja. Estas diferenças surgem de início em decorrência da incapacidade humana de plena compreensão da Bíblia em sua íntegra e da debilidade humana em compreender plenamente a vontade do Deus infinito, revelado em Cristo Jesus.


2.1  – As Ordenanças da Igreja: O Batismo e a Ceia do Senhor
O Cristianismo no Novo Testamento não é uma religião ritualística; a essência do Cristianismo é o contato direto do homem com Deus por meio do Espírito. Portanto, não há uma ordem de adoração dogmática e inflexível, antes permitindo à igreja, em todos os tempos e países, a liberdade de adotar o método que lhe seja mais adequado, para a expressão de sua vida. Não obstante, há duas cerimônias que são essenciais, por serem divinamente ordenadas, a saber, o batismo nas águas e a Ceia do Senhor.
O batismo nas águas é o rito do ingresso na igreja cristã, e simboliza o começo da vida espiritual. A Ceia do Senhor é o rito de comunhão e significa a continuação da vida espiritual. O primeiro sugere a fé em Cristo; o segundo sugere a comunhão com Cristo. O primeiro é administrado somente uma vez, porque pode haver apenas um começo da vida espiritual; o segundo é administrado freqüentemente, ensinando que a vida espiritual deve ser alimentada.
As ordenanças são ritos exteriores prescritos por Cristo com o propósito de ser observados por sua igreja. Para alguns são mais do que ritos exteriores, são sacramentos.
A palavra sacramento acrescenta a ideia da comunicação direta da graça ao que participa do rito, isto é, o rito transmite alguma graça ao que o recebe.

·         O Batismo - Vamos iniciar este tópico falando sobre o batismo. Virtualmente todas as igrejas cristãs praticam o rito do batismo. Em grande parte, elas o fazem porque Jesus, em sua comissão final, ordenou aos apóstolos e à igreja: “Ide [...] fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho, e do Espirito Santo” (Mt 28:19).
o   O significadoExiste uma concordância quase universal de que o batismo relaciona-se de alguma forma com o inicio da vida cristã; é a iniciação da pessoa tanto na igreja universal, invisível, como na igreja local, visível.
O batismo significa a identificação ou associação com uma mensagem, neste caso a mensagem do novo nascimento. O batismo sugere as seguintes idéias:
§  1) Salvação. O batismo nas águas é um rito, representando os fundamentos do Evangelho. A descida do convertido às águas retrata a morte de Cristo efetuada; a submersão do convertido fala da morte ratificada, ou seja, o seu sepultamento; o levantamento do converso significa a conquista sobre a morte, isto é a ressurreição de Cristo.
§  2) União com Cristo. O fato de que esses atos são efetuados com o próprio convertido demonstra que ele se identificou espiritualmente com Cristo. A imersão proclama a seguinte mensagem: “Cristo morreu pelo pecado para que este homem morresse para o pecado.” O levantamento do convertido expressa a seguinte mensagem: “Cristo ressuscitou dentre os mortos a fim de que este homem pudesse viver uma nova vida de justiça.” União na morte e ressurreição.
§  3) Regeneração. A experiência do novo nascimento tem sido descrita como uma, “lavagem” (literalmente “banho”, Tito 3:5), porque por meio dela, os pecados e as contaminações da vida de outrora foram lavados. Assim como o lavar com água limpa o corpo, assim também Deus, em união com a morte de Cristo e pelo Espírito Santo, purifica a alma. O batismo nas águas simboliza essa purificação. “Levanta-te, e lava os teus pecados (isto é, como sinal do que já se efetuou)” (Atos 22:16).
§  4) Testemunho. “Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo” (Gál. 3:27). O batismo nas águas significa que o convertido, pela fé, “vestiu-se” do caráter de Cristo de modo que os homens podem ver a Cristo nele, como se vê o uniforme no soldado. Pelo rito de batismo, o convertido, figurativamente falando, publicamente veste o uniforme do reino de Cristo.
O batismo é, portanto, uma proclamação poderosa da verdade do que Cristo fez; é uma “palavra em forma de agua”, testificando da participação do crente na morte e ressurreição de Cristo. É mais um símbolo que um mero sinal, pois é um quadro vivo da verdade que transmite.

o   A fórmula - “Batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo” (Mat. 28:19). Como vamos reconciliar isso com o mandamento de Pedro: “…cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo”? (Atos 2:38). Estas últimas palavras não representam uma fórmula batismal, porém uma simples declaração afirmando que recebiam batismo as pessoas que reconheciam Jesus como Senhor e Cristo. Por exemplo, o “Didaquê”, um documento cristão escrito cerca do ano 100 A.D., fala do batismo cristão celebrado em nome do Senhor Jesus, mas o mesmo documento, quando descreve o rito detalhadamente, usa a fórmula trinitária. Quando Paulo fala que Israel foi batizado no Mar Vermelho “em Moisés”, ele não se refere a uma fórmula que se pronunciasse na ocasião; ele simplesmente quer dizer que, por causa da passagem milagrosa através do Mar Vermelho, os israelitas aceitaram Moisés como seu guia e mestre como enviado do céu. Da mesma maneira, ser batizado em nome de Jesus significa encomendar-se inteira e eternamente a ele como Salvador enviado do céu, e a aceitação de sua direção impõe a aceitação da fórmula dada por Jesus no capítulo 28 de Mateus. A tradução literal de Atos 2:38 é: “seja batizado sobre o nome de Jesus Cristo”. Isso significa, segundo o dicionário de Thayer, que os judeus haviam de “repousar sua esperança e confiança em sua autoridade messiânica”. Note-se que fórmula trinitária é descrita duma experiência. Aqueles que são batizados em nome do triúno Deus, por esse meio estão testificando que foram submergidos em comunhão espiritual com a Trindade. Desse modo pode-se dizer acerca deles: “A graça do Senhor Jesus Cristo e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com vós todos” (2 Cor. 13:13).

o   A eficáciaO batismo é um meio de regeneração, sendo essencial para a salvação? O batismo nas águas, em si não tem poder para salvar; as pessoas são batizadas, não para serem salvas, mas porque já são salvas. Portanto, não podemos dizer que o rito seja absolutamente essencial para a salvação. Mas podemos insistir em que seja essencial para a integral obediência a Cristo.
Muitos dizem que o texto de Marcos 16:16  parece sustentar a posição de que o batismo salva ou é essencial para a salvação. Sob observação mais minuciosa, porém, a capacidade de persuasão desse conceito torna-se menor. Em Marcos 16:16 lemos:- “Quem crer e for batizado será salvo”; note, porém, que a segunda parte do versículo não faz nenhuma menção ao batismo: “quem, porém, não crer será condenado”. É simplesmente a falta de fé, não de batismo, que se correlaciona com a condenação.
O batismo é em si um ato de fé e compromisso. Embora a fé seja possível sem o batismo (pois a salvação não depende do batismo), o batismo é o desdobramento natural e a complementação da fé.

o   Tipos de Batismo:
§  Imersão – O batizando é mergulhado na água.
§  Aspersão – A água é aspergida sobre o batizando.
§  Efusão – A água é derramada sobre a cabeça do batizando.
§  Pedobatismo – Batismo infantil.

·         A Ceia do Senhor - Enquanto que batismo é o rito de iniciação, a ceia do Senhor é o rito continuo da igreja visível, ela pode ser definida, em caráter preliminar, como um rito que Cristo mesmo estabeleceu para que a igreja a praticasse em comemoração e memória à sua morte.
o   A ordem - “Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão, e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é  a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim” (1 Co 11.23-26).

o   O significado – Um memorial. “Fazei isto em memória de mim”.
Cada vez que um grupo de cristãos se congrega para celebrar a Ceia do Senhor, estão relembrando, dum modo especial, a morte expiatória de Cristo que os libertou dos pecados.
Por que recordar a sua morte mais do que outro evento de sua vida? Porque a sua morte foi o evento culminante de seu ministério e porque somos salvos, não meramente por sua vida e seus ensinos, embora sejam divinos, mas por seu sacrifício expiatório.
Além disso, simboliza nossa dependência do Senhor e nossa ligação vital com ele, também fortalece a unidade dos crentes dentro da igreja, e aponta para Sua segunda vinda.

o   Ensino – A Ceia do Senhor é uma lição objetiva que expõe os dois fundamentos do Evangelho:
§  1) A encarnação. Ao participar do pão, ouvimos o apóstolo João dizer: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (João 1:14); ouvimos o próprio Senhor declarar: “Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo” (João 6:33).
§  2) A expiação. Mas as bênçãos incluídas na encarnação nos são concedidas mediante a morte de Cristo. O simbolismo do pão partido é que Cristo (o pão da vida) é morto e sua vida é distribuída entre os espiritualmente famintos; o vinho derramado nos diz que o sangue de Cristo, o qual é sua vida, deve ser derramado na morte a fim de que seu poder purificador e vivificante possa ser outorgado às almas necessitadas.
§  3) Segurança – Um terceiro aspecto do ensino diz respeito a segurança de nossa salvação.
Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue”! (1 Cor. 11:25). Nos tempos antigos a forma mais solene de aliança era o pacto de sangue, que era selado ou firmado com sangue sacrificial. A aliança feita com Israel no Monto Sinai foi um pacto de sangue. Depois que Deus expôs as suas condições e o povo as aceitou, Moisés tomou uma bacia cheia de sangue sacrificial e aspergiu a metade sobre o altar do sacrifício, significando esse ato que Deus se havia comprometido a cumprir a sua parte do convênio; em seguida, ele aspergiu o resto do sangue sobre o povo, comprometendo-o, desse modo, a guardar também a sua parte do contrato (Êxo. 24:3-8).
A nova aliança firmada por Jesus é um pacto de sangue. Deus aceitou o sangue de Cristo (Heb); portanto, comprometeu-se, por causa de Cristo, a perdoar e salvar a todos os que vierem a ele. O sangue de Cristo é a divina garantia. A nossa parte nesse contrato é crer na morte expiatória de Cristo. (Rom. 3:25,26.)

o   Responsabilidade – Quanto a questão da responsabilidade analisaremos dois aspectos importantes:
§  Quem deve ser admitido ou excluído da Mesa do Senhor?
Sendo um relacionamento espiritual entre o crente como individuo e o Senhor, aqueles que querem ser participantes devem crer genuinamente em Cristo, embora não se possa fazer nenhuma restrição, o comungante deve ser maduro o suficiente para ser capaz de discernir o corpo (1Co 11:29).
Paulo trata da questão dos que são dignos do memorial em 1 Cor 11:20-34. “Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber este cálice do Senhor indignamente, será culpado (uma ofensa ou pecado contra) do corpo e do sangue do Senhor.”
Quer isso dizer que somente aqueles que são dignos podem chegar-se à Mesa do Senhor? Então, todos nós estamos excluídos! Pois quem dentre os filhos dos homens é digno da mínima das misericórdias de Deus? Não, o apóstolo não está falando acerca da indignidade das pessoas, mas da indignidade das ações.
Sendo assim, por estranho que pareça, é possível a uma pessoa indigna participar dignamente. E em certo sentido, somente aqueles que sinceramente sentem a sua indignidade estão aptos para se aproximar da Mesa; os que se justificam a si mesmos nunca serão dignos. Outros sim, nota-se que as pessoas mais profundamente espirituais são as que mais sentem a sua indignidade.
Como pode alguém participar indignamente? Praticando alguma coisa que nos impeça de claramente apreciar o significado dos elementos, e de nos aproximarmos em atitude solene, meditativa e reverente. No caso dos coríntios o impedimento era sério, a saber, a embriaguez e a divisão entre eles demonstrada pela falta de amor.


§  Quem deve ministrar a Ceia do Senhor?
As Escrituras fornecem bem pouca orientação sobre a questão de quem deve ministrar a ceia do Senhor, o que aparece nos relatos dos evangelhos e nos relatos de Paulo que a ceia do Senhor foi confiada à igreja, e pelo que se presume, deve ser ministrada por ela, entendendo que seja justo que as pessoas escolhidas e empossadas pela igreja para supervisionar e dirigir seus cultos de louvor também supervisionem a ceia do Senhor.

o   Elementos da Ceia – Os elementos são pão e suco de uva (vinho).
As considerações quanto aos elementos dependem das preocupações dos participantes. Por exemplo: se a preocupação principal deles for a preservação do simbolismo pode-se usar pão levedado e suco de uva.
Se a preocupação for ressaltar a unidade do corpo, pode-se usar pão inteiro simbolizando a unidade da igreja; o partir do pão simbolizaria o corpo de Cristo sendo rasgado.
O suco de uva seria suficiente para representar o sangue de Cristo. Não se aconselha o vinho devido a fraqueza de alguns irmãos pelo álcool.

o   Frequência – Ao que parece, no caso da Igreja primitiva, a ceia era realizada semanalmente (At 20.7). “Todas as vezes” que se reuniam.
O importante é prevenir intervalos longos entre os períodos de reflexão sobre as verdades transmitidas por ela, mas não com tanta frequência que a torne tão trivial ou comum que nos submetamos ao processo sem de fato pensar no seu significado.

o   Tipos de entendimentos sobre a Ceia:
§  Transubstanciação (ponto de vista católico) – Os elementos transformam-se no corpo e sangue de Cristo.
§  Consubstanciação (ponto de vista luterano) – O corpo e o sangue de Cristo estão presentes, misturados aos elementos.
§  Presença Espiritual (ponto de vista calvinista) – Cristo se faz presente.
§  Ordenança - (ponto de vista batista) – Apenas um memorial não possui nenhum poder místico, nem atribui graça alguma.

A ceia do Senhor, ministrada de modo adequado, é um canal para inspirar a fé e o amor do crente, à medida que ele volta a refletir sobre a maravilha da morte do Senhor e sobre o fato de que os que creem nele terão vida eterna.


2.2 – Formas de Governo da Igreja
Iremos agora discutir o tipo de estruturas organizacionais usadas pelas diversas igrejas existentes. Na realidade, os defensores das varias formas do governo da igreja concordam que Deus é (ou possui) a autoridade final. Os pontos em que diferem estão em suas concepções de como ou por meio de quem ele expressa ou exerce essa autoridade.
É evidente que o propósito do Senhor era que houvesse uma sociedade de seus seguidores que comunicasse seu Evangelho aos homens e o representasse no mundo. Mas Ele não moldou nenhuma organização ou plano de governo; não estabeleceu nenhuma regra detalhada de fé e prática.
Assim como o corpo vivo se adapta ao meio ambiente, semelhantemente, ao corpo vivo de Cristo foi dada liberdade para escolher suas próprias formas de organização, segundo suas necessidades e circunstâncias. Naturalmente, a igreja não era livre para seguir nenhuma manifestação contrária aos ensinos de Cristo ou à doutrina apostólica. Qualquer manifestação contrária aos princípios das Escrituras é corrupção.
Durante os dias que se seguiram ao Pentecoste, os crentes praticamente não tinham nenhuma organização, e por algum tempo faziam os cultos em suas casas e observavam as horas de oração no templo. (Atos 2:46.) Isso foi completado pelo ensino e comunhão apostólicos. Ao crescer numericamente a igreja, a organização originou-se das seguintes causas:
·         Primeira, oficiais da igreja foram escolhidos para resolver as emergências que surgiam, como, por exemplo, em Atos 6:1-5;
·         Segunda, a possessão de dons espirituais separava certos indivíduos para a obra do ministério.
As primeiras igrejas eram democráticas em seu governo, circunstância natural em uma comunidade onde o dom do Espírito Santo estava disponível a todos, e onde toda e qualquer pessoa podia ser dotada de dons para um ministério especial. É verdade que os apóstolos e anciãos presidiam às reuniões de negócios e à seleção dos oficiais; mas tudo se fez em cooperação com a igreja, não existia uma hierarquia estabelecida. Alguns textos que confirmam essa verdade são Atos 6:3-6; 15:22; 1Cor. 16:3; 2Cor. 8:19; Fil. 2:25. Pelo que se lê em Atos 14:23 e Tito 1:5, poderá entender-se que Paulo e Barnabé nomearam anciãos sem consultar a igreja; mas historiadores eclesiásticos de responsabilidade afirmam que eles os ”nomearam” da maneira usual, pelo voto dos membros da igreja. Vemos claramente que no Novo Testamento não há apoio para uma fusão das igrejas em uma “máquina eclesiástica” governada por uma hierarquia. Nos dias primitivos não havia nenhum governo centralizado abrangendo toda a igreja. Cada igreja local era autônoma e administrava seus próprios negócios com liberdade. Naturalmente os ”Doze Apóstolos” eram muito respeitados por causa de suas relações com Cristo, e exerciam certa autoridade (Vide Atos 15.).
Paulo exercia certa supervisão sobre as igrejas gentílicas; entretanto, essa autoridade era puramente espiritual, e não uma autoridade oficial tal como se outorga numa organização. Embora que cada igreja fosse independente da outra, quanto à jurisdição, as igrejas do Novo Testamento mantinham relações cooperativas umas com as outras. (Rom. 15:26, 27; 2Cor. 8:19; Gál. 2:10; Rom. 15:1; 3João 8.) Nos séculos primitivos as igrejas locais, embora nunca lhes faltasse o sentimento de pertencerem a um só corpo, eram comunidades independentes e com governo próprio, que mantinham relações umas com as outras, não por uma organização política que as reunisse todas elas, mas por uma comunhão fraternal mediante visitas de delegados, intercâmbio de cartas, e alguma assistência recíproca indefinida na escolha e consagração de pastores.
Vários tipos de governo foram estabelecidos ao longo da história eclesiástica. Nosso estudo começara com o mais estruturado – o episcopal – prosseguindo rumo ao menos estruturado.

                   Governo Episcopal - Na forma episcopal de governo da igreja, a autoridade reside no bispo.

Há vários graus de episcopado, ou seja, há variações quanto ao número de níveis de bispos.
o   A forma mais simples de governo episcopal é encontrada na Igreja Metodista, que só possui um nível de bispos.
o   Um pouco mais desenvolvida é a estrutura governamental da Igreja Anglicana ou Episcopal.
o   A Igreja Católica Romana possui o sistema mais completo de hierarquia, com a autoridade investida especialmente no sumo pontífice, o bispo de Roma, o papa.
Inerente à estrutura episcopal é a ideia de diferentes níveis de ministério ou diferentes graus de ordenação. O primeiro nível é o ministro ou do sacerdote comum. Em algumas igrejas, há passos ou divisões dentro desse primeiro nível, por exemplo, diácono e presbítero.
Os clérigos nesse nível são autorizados a desempenhar todas as tarefas básicas associadas ao ministério, ou seja, pregam e ministram os sacramentos. Além desse nível, porém, há um segundo nível de ordenação que constitui uma pessoa bispo. O papel dos bispos é exercer o poder de Deus de que foram investidos. Em particular, como representantes de Deus e pastores, governam um grupo de igrejas e cuidam dele, em vez de simplesmente cuidar de uma congregação local. Entre seus poderes está a de ordenar ministros ou sacerdotes.

·         Governo Nacional – Este sistema, também denominado sistema colegial (que superou o sistema territorial), foi desenvolvido na Alemanha, principalmente por C. M. Pfaff (1686-1780), e mais tarde foi introduzido na Holanda. Ele parte do pressuposto de que a igreja é uma associação voluntária, igual ao estado. As igrejas ou congregações separadas são meras subdivisões da igreja nacional única. O poder original reside numa organização nacional, e esta organização tem jurisdição sobre as igrejas locais. Este sistema é justamente o inverso do sistema presbiteriano, segundo o qual o poder original tem sua sede no conselho ou consistório. O sistema territorial reconhecia o direito inerente ao estado de reformar o culto público, resolver contendas sobre doutrina e conduta, e convocar sínodos, ao passo que o sistema colegial atribui ao estado unicamente o direito de supervisão como direito inerente, e considera todos os outros direitos, que o estado poderia exercer em questões da igreja, como direitos que a igreja, por um entendimento tácito ou por um pacto formal, conferiria ao estado. Este sistema desconsidera completamente a autonomia das igrejas locais, ignora os princípios de governo e de direta responsabilidade para com Cristo, gera formalismo e confina uma igreja professadamente espiritual dentro dos limites e geográficos. Um sistema como este, semelhante que é ao sistema erastiano, naturalmente se adapta melhor à idéia atual do estado totalitário.

·         Governo Presbiteriano (Governo Federal) - O sistema presbiteriano de governo da igreja também coloca a autoridade em determinado oficio.
Neste sistema o ofício individual e o detentor do ofício destacam-se menos que os grupos representativos que exercem tal autoridade.
O oficial principal na estrutura presbiteriana é o presbítero, posição que remonta à sinagoga judaica. Os presbíteros também são encontrados na igreja do Novo Testamento. Em Atos 11:30 lemos sobre a presença dos presbíteros na congregação de Jerusalém, enviando suas ofertas aos presbíteros pelas mãos de Barnabé e Saulo”. As epístolas pastorais também mencionam os presbíteros.
Parece que na época do Novo Testamento as pessoas escolhiam seus presbíteros, indivíduos a quem consideram particularmente qualificados para dirigir a igreja. Ao selecionar presbíteros para dirigir a igreja, as pessoas tinham consciência de que se conformavam, pelo ato externo, com a escolha que o Senhor já fizera. No sistema presbiteriano, entende-se que a autoridade de Cristo é dispensada a indivíduos crentes, que a delegam aos presbíteros por eles escolhidos e aos que passam a representa-los dali em diante. Uma vez eleitos ou designados, os presbíteros atuam em favor ou no lugar dos indivíduos crentes. É, portanto, através dos presbíteros que a autoridade divina de fato atua dentro da igreja.
Essa autoridade é exercida numa serie de concílios.
o        No âmbito da igreja local, o conselho (presbiteriana) ou o consistório (reformada) é o grupo responsável pelas decisões.
o        Todas as igrejas de uma área são governadas pelo presbitério (presbiteriana) ou classe (reformada).
o        O grupo seguinte é o sínodo, formado por igual número de presbíteros leigos e clérigos escolhidos pelos presbitérios ou classes.
o        No nível mais alto, a Igreja Presbiteriana também possui uma assembleia geral, chamada Supremo Concílio, composta mais uma vez de representantes leigos e clérigos dentre os presbíteros.
As prerrogativas de cada um desses concílios são descritas na constituição da denominação.
O sistema presbiteriano difere do episcopal no fato de existir só um nível de clero. Só existe o presbítero docente (o pastor) ou o presbítero regente. Não existem níveis mais altos, como o de bispo. É claro que certas pessoas são eleitas para cargos administrativos dentro dos concílios. Elas são selecionadas (de baixo) para presidir ou supervisionar, executando funções especificas. Não são bispos, não havendo ordenações especiais para tais funções. Não existe autoridade especial inerente ao oficio. Outra medida de nivelamento no sistema presbiteriano é uma coordenação deliberada entre clérigos e leigos. Ambos os grupos são incluídos em todos os concílios. Ninguém possui poderes ou direitos especiais que o outro não possua.

·         Congregacional - A terceira forma de governo da igreja destaca o papel do cristão como indivíduo e tem a igreja local como centro de autoridade.
Dois conceitos são básicos ao sistema congregacional: autonomia e democracia.
o   Por autonomia entendemos que a congregação é independente e governa a si mesma. Não há poderes externos que possam ditar diretrizes para a igreja local.
o   Por democracia entendemos que cada membro da congregação local tem voz em seus assuntos. São os indivíduos da congregação que possuem e exercem a autoridade. A autoridade não é prerrogativa de um único individuo ou de um grupo seleto.
Entre as principais denominações que praticam a forma de governo congregacional estão os grupos batistas, congregacionais e boa parte dos grupos luteranos.
Seguindo um principio de autonomia, cada igreja local chama seu próprio pastor e determina seu próprio orçamento. Ela adquire e gere propriedades independentemente de quaisquer autoridades externas.
O princípio da democracia baseia-se no sacerdócio de todos os crentes que, segundo entendem, ficaria prejudicado, caso bispos ou presbíteros recebessem a prerrogativa de tomar as decisões. A obra de Cristo torna tais dirigentes desnecessários, pois agora cada crente tem acesso ao Santo dos Santos e pode ter acesso direto a Deus. Além disso, como Paulo nos relembra, cada membro ou parte do corpo pode fazer uma contribuição valiosa para o bem–estar do todo.
Há decerto, alguns elementos de democracia representativa dentro da forma congregacional de governo da igreja. Certas pessoas são eleitas por livre escolha dos membros do corpo para servir de maneiras especiais. Todas as decisões mais importantes, porém, tais como a contratação de um pastor e a compra ou venda de propriedades, são tomadas pela igreja como um todo.


2.3  – Sua Organização (Hb 13.7, 17)
Os Oficiais da Igreja - Podemos distinguir diferentes classes de oficiais na Igreja. Uma distinção muito geral é de oficiais ordinários e extraordinários

·         Oficiais Extra-ordinários - O ministério geral e profético
o   Apóstolos – Estritamente falando, este nome só é aplicável aos doze escolhidos por Jesus e a Paulo; mas também se aplica a certos homens apostólicos que assessoram a Paulo em seu trabalho e que foram dotados de dons graças apostólicas, At 14:4 e 14, 1 Co 9:5-6, 2 Co 8:23.
Os apóstolos tinham a incumbência especial de lançar os alicerces da Igreja de todos os séculos. Somente por meio da sua palavra é que os crentes de todas as eras subsequentes têm comunhão com Jesus Cristo, assim sendo, eles são os apóstolos da Igreja dos dias atuais, como também o foram da Igreja Primitiva, eles tinham certas qualificações especiais como:
§  Foram comissionados diretamente por Deus ou por Jesus Cristo (Mc 3:14, Lc 6:13, Gl 1:1).
§  Eram testemunhas da vida de Cristo principalmente, de Sua ressurreição (Jo 15:27, At 1:21-22, 1Co 9:1).
§  Estavam cônscios de serem inspirados pelo Espirito de Deus em todo o seu ensino, oral e escrito (At 15:28, 1Co 2:13).
§  cujo trabalho principal era estabelecer igrejas em campos novos. (2Cor. 10:16.) Eram administradores da igreja e organizadores missionários, chamados por Cristo e cheios do Espírito.
A palavra “apóstolo” significa simplesmente “enviado” ou “missionário”. (Atos 14:14; Rom. 16:7.) Tem havido apóstolos desde então? A relação dos doze para com Cristo foi uma relação única que ninguém desde então pôde ocupar. Sem dúvida, a obra de homens tais como João Wesley, com toda razão, pode ser considerada como apostólica e muitos outros tem realizado esta obra, entretanto não possuem a mesma autoridade que os primeiros apóstolos.

o   Profetas – O Novo Testamento também fala sobre os profetas (At 11:28, At 13:1-2, At 15:32). Evidentemente o dom de falar para a edificação da Igreja era altamente desenvolvido nestes profetas, e ocasionalmente eles serviam de instrumentos para a revelação de mistérios e para a predição de eventos futuros.
Eram os dotados do dom de expressão inspirada. Desde os primeiros dias até ao fim do século constantemente apareceram, nas igrejas cristãs profetas e profetisas. Enquanto o apóstolo e o evangelista levavam sua mensagem aos incrédulos, o ministério do profeta, era particularmente entre os cristãos. Os profetas viajavam de igreja em igreja, tanto como os evangelistas o fazem na atualidade; não obstante, cada igreja tinha profetas que eram membros ativos dela. Entretanto suas palavras deviam ser provadas pelas escrituras.

o   Evangelistas – Em acréscimo a apóstolos e profetas, são mencionados evangelistas na Bíblia (At 21:8, Ef 4:1, 2Tm 4:5). Filipe, Marcos, Timóteo e Tito pertenciam a esta classe.
Pouco se sabe destes evangelistas, eles acompanhavam e assistiam os apóstolos, e às vezes eram enviados por estes em missões especiais, seu trabalho era pregar e batizar, mas incluía também a ordenação de presbíteros (Tt 1:5, 1 Tm 5:22), o exercício da disciplina (Tt 3:10).

·         Oficiais Ordinários - O ministério local e prático
o   Pastor – O líder da igreja.  Qualificações (1 Tm 3.1-6; Tt 1.7-9).
Este termo não aparece diretamente no Novo Testamento. Mas o titulo é aplicado a Jesus Cristo, pois Ele é o Bom Pastor (Jo 10:11-14), grande Pastor (Hb 13:20), Pastor e Bispo (1Pd 2:25), já no Antigo Testamento os lideres do povo eram chamados pastores (Jr 3:15, Jr 23:4, Ez 34:23), entre os evangélicos, tem havido uma predileção pelo titulo pastor para o líder espiritual da igreja. Por que a preferencia desse nome?
Alguns fatores podem ser apontados para explicar a preferência do nome pastor:
§  O fato de a igreja ser chamada de rebanho.
§  A função de apascentar dos pastores, presbíteros e bispos.
§  Cristo se apresenta como Pastor.
§  A ideia de pastores do povo de Deus no Antigo Testamento.
§  E o mais importante é o chamado para a obra e missão de homens e hoje até mulheres de exercerem este ministério que é tão importante, pois é a maneira de Deus agir e ouvir o seu povo através de seus pastores.

Alguns nomes que designam o pastor bíblico.
§   Pastor (poimen  –  poimen) - A palavra pastor é usada para designar àquele que é responsável pela igreja institucional e espiritual. Este termo por si só já designa diversos deveres baseado na figura do pastor como: cuidar, proteger, conhecer, alimentar, guiar e sacrificar-se pelo rebanho.
§   Bispos (επίσκοπος –  episkopos) - Atos 20.17, 28; Tito 1.7; Filemon 1.1
A palavra bispo no grego significa “supervisores”, na bíblia também são chamados de presbíteros. O título bispo era um termo secular dado aos homens responsáveis pela administração ou supervisão de uma cidade. Os presbíteros em Atos 20.28 recebem a orientação de Paulo para supervisionarem a igreja, isto é, pastorearem a igreja.
§  Presbíteros (πρεσβυτερος – presbyteros) – At 20.17; I Tm 5.17-18; 1 Pe 5.1-4
O termo presbítero significa “ancião”. Nas sinagogas era comum que o “ancião” fosse o supervisor da sinagoga. Normalmente por este possuir maior experiência e conhecimento adquirido com o passar dos anos. Os presbíteros são designados nos textos acima a supervisionarem a igreja e a pastorear o rebanho de Deus.

Podemos afirmar que na visão bíblica presbítero = bispo = pastor.

o    Mestres – É evidente que, originalmente, os presbíteros não eram mestres, ai vem a declaração de Paulo em Ef 4:11, de que o Cristo elevado ao céu também dera à Igreja “pastores e mestres”, mencionados como uma única classe, mostra claramente que estes dois não constituem duas diferentes classes oficiais. Nisso com o transcorrer do tempo, duas circunstancias levaram a uma distinção entre os presbíteros ou superintendentes encarregados somente do governo da Igreja, e os que também eram chamados para ensinar.
Quando os apóstolos faleceram e as heresias surgiam e aumentavam, a tarefa dos que eram chamados para ensinar tornou-se mais exigente, requerendo preparação especial (2Tm 2:2, Tt 1:9).
Em vista do fato de que o trabalhador é digno do seu salário, os que estão engajados no ministério da Palavra, tarefa amplamente abrangente que requer todo o seu tempo, foram liberados doutros trabalhos para poderem devotar-se mais exclusivamente ao trabalho de ensinar.

o   Diáconos Significa: servo, criado, assistente, auxiliar.
Qualificações (1 Tm 3.8-10,12,13). Os diáconos eram auxiliares dos presbíteros (At 6.1-6) e um grupo oficialmente reconhecido na igreja (Fp 1.1).
Segundo a opinião predominante, At 6:1-6 contém o registro da instituição do diaconato. O nome diakonai que, antes do evento narrado em Atos 6, era sempre empregado nos sentido geral de servo ou servidor, subsequentemente começou a ser empregado como designativo daqueles que se dedicavam às obras de misericórdia e caridade, e, com o tempo, veio a ser usado exclusivamente neste sentido.


2.4 – Seu Propósito
·         A Missão - Se o reinar de Deus é importante para o estudo da eclesiologia, a “missão” é essencial para a aplicação do reino. O reinar de Deus implica em deixar que Deus cumpra a Sua missão entre aqueles que pertencem ao reino. É a aceitação das responsabilidades da missão que introduzem o indivíduo ao reinar de Deus. Existe um duplo enfoque da missão em seu relacionamento com o reinar de Deus: a missão tem aspecto interior—a aplicação pessoal do ensino e da vida do reinar de Deus; e o seu aspecto exterior—o levar a mensagem do reinar de Deus aos demais.
O aspecto interior da missão da igreja visa a preparar os integrantes para a sua missão externa. Esta preparação é ativa, como se pode ver no modelo de Jesus, enviando os seus discípulos em mais de uma instância para cumprir com exigências da missão exterior. Vale lembrar que os discípulos eram indivíduos menos do que qualificados, especialmente ao ver que, mesmo depois da crucificação de Jesus, relutavam em aceitar que era necessário que Jesus morresse. Em pleno processo de discipulado, porém, mesmo com todas as suas falhas, Jesus os enviou mais de uma vez para levar adiante a sua mensagem do reinar de Deus. Mesmo o gadareno endemonhinhado é enviado para pregar em toda a região de Decápolis (uma região de dez cidades) sem capacitação especial27.
Olhando para o lado exterior da missão da igreja, Moody coloca que a missão pode ser resumida em três aspectos especiais: “como martyria (testemunho), diakonia (serviço) e koinonia (comunhão)”28.
São estas as tarefas que servem de base para compreender e cumprir a missão da igreja. Deve-se lembrar de fazer distinção entre os termos “missão” e “missões”. Por “missão”, trata-se da raison d’etre da igreja, seu propósito no mundo. Missão é um termo de importância suprema para a eclesiologia. Como fora observado, “não é a igreja que tem uma missão, mas é o inverso: a missão de Cristo criou a igreja. Não é a missão da igreja que se deve entender, mas o inverso”29. Mais do que deixar uma igreja, Jesus deixou uma tarefa a ser cumprida por seus discípulos. Esta missão gera estruturas para que ela possa ser levada adiante. Sem missão, a igreja não existe.
A missão é o propósito de efetivar o reinar de Deus dentro dos parâmetros da história. Mesmo que o conceito de “missões” esteja ligado intimamente à missão da igreja, o conceito é distinto. Missões tem a ver com os meios usados para levar adiante a missão externa da igreja entre todos os povos. A missão da igreja inclui também aspectos do amadurecimento e discipulado do individuo e da igreja local como um corpo. Mesmo que a tarefa missionária seja de “discipular as nações”, o conceito “missões” reflete sempre a questão do envio de obreiros. A missão da igreja, por outro lado, é mais global já que inclui a obra missionária como um aspecto do propósito eclesiástico. A missão não requer por si a questão do envio, mas do cumprir com o propósito de discipular.
Voltando à colocação de Moody dos três aspectos da missão, a questão do testemunho rege o enfoque central da aplicação. “O testemunho é a missão central da igreja em todas as situações”30. Este testemunho inclui o testemunho referente à pessoa e obra de Cristo, como também os demais aspectos da aplicação da mensagem de Cristo no âmbito completo do Seu ministério. Este testemunho é logo aplicado em parte através do serviço cristão como também no contexto da comunhão cristã. O enfoque triplo da missão é unificado em torno do primeiro aspecto de oferecer testemunho a Cristo, incluindo nesta definição todo o processo de discipular o ouvinte.
A missão da igreja deve ser estudada a sério, pois é o direcionador para cada aspecto da vida eclesiástica. As palavras de Jesus registradas em Mateus 28 e Atos 1 requerem que a igreja cumpra com a tarefa de discipular. Esta é a missão: ser testemunha de Cristo, discipulando todas as nações.
O papel de testemunha no contexto de Atos 1.8 tem a mesma força do conceito de fazer discípulos em Mateus 28. De fato, são dois relatos das mesmas palavras de Jesus, numa mesma ocasião. O testemunho e discipulado especificados abrangem todo o ensino de Jesus em toda expansão étnica e geográfica. A missão da igreja deve reger todo o esforço, direcionando toda a atividade e estrutura para que ajude a cumprir com o propósito da igreja.
O propósito maior da Igreja é Glorificar a Deus. De maneira prática glorificamos a Deus quando o obedecemos e honramos Seu nome. A igreja O glorifica quando:
o   Evangeliza (Prega a salvação) - O tópico que se relata nos dois relatos sobre as ultimas palavras de Jesus aos discípulos é a evangelização. Em Mateus 28:19 ele o instrui: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações”. Em Atos 1:8 ele diz: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espirito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra”. Esse foi o último assunto que Jesus tratou com seus discípulos. Parece que ele via a evangelização como a própria razão da existência deles.
O chamado para evangelização é uma ordem. Tendo aceitado Jesus como Senhor, os discípulos haviam se colocado sob seu governo e estavam obrigados a fazer tudo o que ele lhes pedisse, pois ele disse: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14:15). Se os discípulos realmente amassem o Senhor, cumpririam esse chamado para a evangelização. Não se tratava de uma questão opcional para eles.
Mas os discípulos não foram enviados simplesmente em seu próprio poder. Jesus prefaciou sua comissão com a afirmação: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra”(Mt 28:18). Tendo toda a autoridade, ele comissionou os discípulos como seus agentes. Assim, eles tinham o direito de ir e evangelizar todas as nações. Além disso, Jesus prometeu aos discípulos que o Espirito Santo viria sobre eles e também a capacitação para a tarefa a ser exercida.
Portanto para a Igreja ser fiel ao seu Senhor e lhe alegrar o coração, deve se esforçar para levar o evangelho a todas as pessoas. Isso implica ir a pessoas de quem gostamos e a pessoas de quem, por natureza, talvez tenhamos a tendência de não gostar. Isso se estende a pessoas que são diferentes de nós. E vai além de nosso circulo imediato de contato e influencia. Num sentido mais definido evangelização local, expansão ou fundação de igrejas e missões mundiais são a mesma coisa.

o   Produz cristãos maduros e santos (ensino, comunhão, etc.) - Uma das ordens de Jesus na Grande Comissão foi de ensinar os convertidos a “guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mt 28:20). Com esse intuito, um dos dons para as igrejas é “pastores e mestres” (Ef 4:11) visando preparar e equipar o povo de Deus para o serviço. A educação pode assumir varias formas e ocorrer em muitos níveis. É dever da igreja utilizar todos os meios e tecnologias legitimas hoje disponíveis. A pregação é um meio de instrução que vem sendo usado pela igreja cristã desde o princípio.

o   Cuida das necessidades de seus membros em primeiro lugar (1 Tm 5) e pratica o bem aos de fora (Mt 5.16) - Atravessando as varias funções da igreja até aqui examinadas, existe a responsabilidade de praticar atos de amor e compaixão cristã tanto para crentes como para descrentes. É claro que Jesus se importava com os problemas dos necessitados e dos sofredores. Ele curou os doentes e por vezes até ressuscitou mortos. Se a igreja for dar continuidade ao ministério dele, estará engajada em alguma forma de ministério aos necessitados e sofredores. Que Jesus esperava isso dos crentes evidencia-se na parábola do bom samaritano (Lc 10:25-37). Jesus contou essa parábola para o interprete da lei que, compreendendo que a pessoa pode herdar a vida eterna amando a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmo, perguntou quem era o próximo. Ao responder a pergunta, Jesus também explicou o que significa amar o próximo como a si mesmo. Na mesma linha, Jesus insinua em Mateus 25:31-46 que o sinal pelo qual os verdadeiros crentes podem ser distinguidos dos que fazem confissões vazias são os atos de amor feitos em nome de Jesus, seguindo seu exemplo.
A ênfase na preocupação social transporta-se também para as epístolas. Tiago é especialmente vigoroso ao salientar o cristianismo pratico. Considere por exemplo, sua definição de religião: “A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo” (Tg 1:27). Ele denuncia o incentivo verbal desacompanhado de ação: “Se um irmão ou irmã estiver necessitado de roupas e do alimento de cada dia e um de vocês lhe disser: ‘Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até ficar satisfeito’, sem porém lhe dar nada, deque adianta isso? Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta” (Tg 2:15-17).
Igreja deve mostrar interesse e atuar sempre que vê necessidades, sofrimentos ou erros, obviamente que as igrejas tem muito o que fazer para melhorarem os seus desempenhos nessa aréa.


Reflexão: A igreja local deve também refletir a perspectiva descentralizadora do Evangelho de Cristo. Isso implica evangelização e missões. O Corpo de Cristo é a entidade espiritual que opera no mundo.
A igreja local não tem como missão criar programas diversos para que os cristãos não tenham tempo para pecar ou pensar em outras coisas. A igreja não tem como meta centralizar o Evangelho dentro das quatro paredes e algumas poucas pessoas.
Descentralizar implica que devemos incentivar os membros para que tenham um bom tempo com suas esposas, filhos, pais e parentes. Devemos ajudar o cristão a pensar sobre como ele pode alcançar seus conhecidos com o evangelho, ou abrir suas casas para outros, dando um testemunho cristão. A visão descentralizadora quer dizer que a igreja local se esforça para equipar os santos para que eles sejam sal e luz nos seus lugares. Entende-se que a igreja é uma comunidade para apoiar, não uma fortaleza para retirar o cristão do mundo. Ela existe como meio para aperfeiçoar o cristão e não como um fim em si mesmo.



3 – A IGREJA UNIVERSAL
Há uma certa tensão a ser mantida aqui entre a igreja em sentido local e universal, pois a igreja local é a expressão corpórea da igreja única em uma localidade específica. É a expressão da igreja única onde quer que ela seja encontrada. A igreja local é expressão do todo — a igreja universal — e ao mesmo tempo uma expressão parcial.
A igreja é um organismo vivo, a acoplação (ajuntamento) dos santos, o povo de Deus na face da terra. Nem todo membro da igreja local faz parte, e nem todo aquele que não faz parte de uma igreja local visível está fora da igreja.
A igreja universal também é composta de todos cristãos de todos os tempos, isto é, de todos aqueles que professaram sua fé no Messias Jesus, o Cristo.

3.1 – A Realidade de Sua Existência (Mt 16.18; Cl 1.18; Ef 3.10)
·         Sua Fundação
o   Consideração profética – Israel é descrito como uma igreja no sentido de ser uma nação chamada dentre as outras nações a ser um povo de servos de Deus. (Atos 7:38.) Quando o Antigo Testamento foi traduzido para o grego, a palavra “congregação” (de Israel) foi traduzida “ekklesia” ou “igreja”. Israel, pois, era a congregação ou a igreja de Jeová. Depois de a igreja judaica o ter rejeitado, Cristo predisse a fundação duma nova congregação ou igreja, uma instituição divina que continuaria sua obra no terra (Mat. 16:18). Essa é a igreja de Cristo, que veio a ter existência no dia de Pentecoste.

o   Consideração Histórica – A igreja de Cristo veio a existir, como igreja, no dia de Pentecoste, quando foi derramado o Espírito Santo sobre os fiéis. Assim como o Tabernáculo foi construído e depois consagrado pela descida da glória divina (Êxo. 40:34), assim os primeiros membros da igreja foram congregados no cenáculo e consagrados como igreja pela descida do Espírito Santo. É muito provável que os cristãos primitivos vissem nesse evento o retorno da “Shekinah” (a glória manifesta no Tabernáculo e no templo) que, havia muito, partira do templo, e cuja ausência era lamentada por alguns dos rabinos. Davi juntou os materiais para a construção do templo, mas a construção foi feita por seu sucessor, Salomão. Da mesma maneira, Jesus, durante seu ministério terreno, havia juntado os materiais da sua igreja, por assim dizer, mas o edifício foi erigido por seu sucessor, o Espírito Santo. Realmente, essa obra foi feita pelo Espírito, operando mediante os apóstolos que lançaram os fundamentos e edificaram a igreja por sua pregação, ensino e organização. Portanto, a igreja é descrita como sendo ”edificados sobre o fundamento dos apóstolos…” (Efés. 2:20).

o   Cristo – Foi seu fundador no sentido de ter sido seu mestre, construtor e aquele que enviou o Espírito, o qual deu forma real ao corpo de Cristo.

·         Seu Fundamento
o   Cristo – (Mt 16.18; 1 Pe 2.4-8). Ele é a Pedra angular e todo cristão é uma pedra sobre a grande pedra angular.

o   Os membros da Igreja – O Novo Testamento estabelece as seguintes condições para os membros da igreja:


§  Fé implícita no Evangelho, confiança sincera e de coração em Cristo como o único e divino Salvador (Atos 16:31).

Apenas esperavam que tivessem sido regenerados pelo Espírito Santo.
No princípio, praticamente todos os membros da igreja eram verdadeiramente regenerados. “E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que iam sendo salvos” (Atos 2:47).
Entrar na igreja não era uma questão de unir-se a uma organização, mas de tornar-se membro de Cristo, assim como o ramo é enxertado na árvore.
As marcas visíveis de uma pessoa regenerada eram:

§  Submeter-se ao batismo nas águas como testemunho simbólico da fé em Cristo.
§  Confessar verbalmente essa fé. (Rom.10:9,10).

No transcurso do tempo, entretanto, conforme a igreja aumentou em número e em popularidade, o batismo nas águas e a catequese tomaram o lugar da conversão. O resultado foi um influxo na igreja de grande número de pessoas que não eram cristãs de coração. E desde então, essa tem sido mais ou menos a condição da cristandade. Assim como nos tempos do Antigo Testamento havia um Israel dentro de Israel, israelitas de verdade, bem como israelitas nominais, assim também no transcurso da história da igreja vemos uma igreja, dentro da igreja, cristãos verdadeiros no meio de cristãos apenas de nome. Portanto, devemos distinguir entre a igreja invisível, composta dos verdadeiros cristãos de todas as denominações, e a igreja visível, constituída de todos os que professam ser cristãos — a primeira, composta daqueles cujos nomes estão escritos no céu; a segunda, compreendendo aqueles cujos nomes estão registrados no rol de membros das igrejas. 


3.4 – Suas Representações
Algo da natureza da igreja é espelhado nas seguintes figuras: povo de Deus, corpo de Cristo, noiva de Cristo, esposa de Deus, templo do Espírito do Santo, santos, povo eleito, filhos de Deus, ramos da videira, galhos da oliva, lavoura, horta, edifício, sacerdócio, nação santa, luzeiro, coluna e baluarte da verdade, lavradores da vinha, integrantes do reino de Deus e amigos de Jesus. Estas descrições e metáforas são usadas de formas diferentes, espelhando certos aspectos da natureza, do ideal, ou da dura realidade no quotidiano da igreja.
Estudaremos algumas dessas figuras.

o   Povo de Deus – Uma das primeiras descrições ou metáforas aplicadas à igreja é a de povo de Deus. Com o uso desta frase, a perspectiva é de focalizar no relacionamento de dependência de Deus dentro dos limites da aliança estabelecida. Êxodo 19 assenta os elementos essenciais desta aliança e da designação de ser povo peculiar a YHWH. Nestes mesmos termos encerra-se também as figuras de sacerdócio real, nação santa, povo adquirido, povo eleito e em parte referências à participação no reino de Deus.
No Antigo Testamento, o conceito de igreja é traçado em termos da nação como um todo ou de um remanescente, porém há modificações de tal idéia no Novo Testamento, partindo do desenvolvimento das referências a um remanescente fiel. É na base do conceito de Israel como o povo de Deus que o Novo Testamento desenvolve o seu ensino do povo de Deus em Cristo.


o   O templo do Espirito Santo – É o Espírito que fez surgir a igreja. Essa obra impressionante do Espirito ocorreu no Pentecostes, em que ele batizou os discípulos e converteu três mil, fazendo nascer a igreja. E o Espírito continua trazendo pessoas para a igreja: “Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito” (1Co 12:13).
A igreja é agora habitada pelo Espirito, tanto no aspecto individual como no coletivo. Paulo escreve aos coríntios: “Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado” (1Co 3:16-17). Em outra passagem ele descreve os crentes como “santuário dedicado ao Senhor [...] para habitação de Deus no Espirito” (Ef 2:21-22).
Habitando na igreja, o Espírito Santo partilha com ela sua vida. Aquelas qualidades próprias de sua natureza e referidas como “fruto do Espírito”, serão encontradas na igreja: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio (Gl 5:22-23). A presença de tais qualidades são indicações da atividade do Espirito Santo e, portanto, em certo sentido da genuinidade da Igreja.
É o Espírito Santo que transmite o poder para a igreja, como Jesus indicou em Atos 1:8. Por causa da vinda iminente do Espirito com poder, Jesus pôde dar aos discípulos a promessa incrível de que fariam obras maiores que as dele (Jo 14:12), sendo o Espírito o realizador do que é necessário para convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16:7).

o   O cabeça e o corpo (1 Co 12) - Estas designações como corpo e membros de Cristo, refletem a igreja como a presença visível e ativa de Deus na terra, reflete a missão a ser desempenhada pela igreja. A missão de estender o ministério de Cristo espelha-se nos termos como ramos da parreira, galhos da oliva, lavradores da vinha, coluna e baluarte da verdade, luzeiro e sacerdócio real. Há também expressões parecidas sacadas da agricultura como lavoura, vinha e horta, mas estes termos refletem  mais a obra de Cristo nos integrantes da igreja, em conjunto com termos no sentido de edifício, construção e seu vínculo com colocações da obra de Cristo na igreja. Este agrupação de termos reflete a natureza da igreja pelo seu aspecto do processo de desenvolvimento, chegando a cumprir com o propósito de Deus.
A figura do corpo de Cristo também salienta a ligação da igreja, como um grupo de crentes, com Cristo. A salvação, em toda sua complexidade, é em grande parte uma consequência da união com Cristo. A imagem é usada tanto para a igreja universal (Ef 1:22-23) como para congregações locais (1Co 12:27).
Observamos no capitulo 33 algumas referencias ao fato de o crente estar “em Cristo”. Aqui encontramos uma ênfase no reverso desse fato. Cristo no crente é a base da fé e da esperança. Paulo escreve: “Aos quais [se refere aos santos] Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da gloria deste ministério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória” (Cl 1:27, Gl 2:20).
Em fim podemos dizer que a figura da igreja como corpo de Cristo comporta vários aspectos:
§  Cristo é a cabeça desse corpo (Cl 1:18) do qual os crentes, como indivíduos são membros ou partes, os crentes unidos a ele, estão sendo alimentados por meio dele, a cabeça a que estão ligados (Cl 2:19).
§  A figura do corpo de Cristo também fala da ligação mutua entre todas as pessoas que compõem a igreja. Não existe algo como uma vida cristã isolada solitária. Em 1Co 12, Paulo desenvolve o conceito da interligação do corpo, especialmente com respeito aos dons do Espirito, aqui ele salienta a dependência de cada crente em relação a todos os outros.
§  O corpo deve ser caracterizado pela comunhão genuína. Isso não significa meras relações sociais, mas um sentimento de intimidade e uma compreensão mútua. Deve haver empatia e encorajamento (edificação). O que é experimentado por um é experimentado por todos. Assim, Paulo escreve: “De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com eles todos se regozijam” (1Co 12:26), um exemplo é a igreja de Atos que dividiu os seus bens.
§  O corpo deve ser unido, os membros da igreja de Corinto estavam divididos quanto aos lideres religiosos a que deviam seguir (1Co 1:10-17; 1Co 3:1-9). Haviam formado divisões ou facções que se evidenciavam demais nas reuniões da igreja(1Co 11:17-19).
§  O corpo de Cristo é também universal. É para todos os que chegarão a ele. Já não há requisitos especiais como nacionalidade. Todas as barreiras deste tipo foram removidas, como indica Paulo: “no qual não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todo” (Cl 3:11).
§  Sendo o corpo de Cristo, a igreja é a expansão de seu ministério, Jesus deixou uma ordenança para a grande comissão de Cristo (Mt 28:18), assim Jesus enviou os seus discípulos para evangelizar, batizar e ensinar, prometendo-lhes que sempre estaria com eles, até o final dos tempos (vs. 19-20). Cristo lhes disse que deveriam prosseguir com seu trabalho e que o fariam em grau assombroso (Jo14:12), assim sendo, a obra de Cristo sendo feita pela Igreja.

o   O noivo e a noiva (Ef 5) - O Antigo Testamento utiliza muito a imagem da esposa, muitas vezes encerrado nos termos de prostituição. Vez por outra, a mensagem referida tem sentido duplo, já que o culto aos deuses dos povos ao redor de Israel era comumente associado a orgias e à utilização de prostituição nos próprios templos e altares pagãos. Quando o texto fala de prostituir-se com outros deuses, trata diretamente de questões de prostituição e lascívia sexual, mas o enfoque principal é a infidelidade de Israel a YHWH, sob a figura da relação matrimonial sendo violada pela esposa. O ideal da natureza da igreja é, no entanto, referido aqui no sentido de pureza relacional e fidelidade perante Deus. É este aspecto da natureza da igreja que normalmente vem sendo apontado na utilização dos termos esposa, noiva e também Templo.


3.5 – A Unidade da Igreja
De ajuda na compreensão da natureza da igreja é uma doutrina claramente ensinada no Novo Testamento, a unidade da igreja. O ideal da unidade é salientado na oração sacerdotal de Jesus (Jo 17:20-23), bem como em Efésios 4:1-16, na dissertação de Paulo sobre a igreja. Isso também se reflete numa referência à igreja local de Jerusalém (At 4:32) e num apelo para que os crentes tenham um coração em mente (Fp 2:2).
Paradoxalmente, porém, a igreja, conforme existe hoje no mundo, não parece estar unificada. Vemos incontáveis denominações, às vezes bem semelhantes quanto ao ensino, competindo umas com as outras. E os relacionamentos entre os membros da Igreja local são às vezes caracterizados por indiferença e até hostilidade aberta. Mas sabemos que, como crentes, devíamos estar perseguindo a unidade, pois essa é a vontade declarada de Cristo para a igreja. Devemos perguntar, portanto, o que ele tinha em vista. Nos últimos anos, tem surgido várias concepções acerca das implicações da unidade:
·         Alguns cristãos entendem a unidade da igreja como algo essencialmente espiritual quanto à natureza. Encontram a unidade no fato de todos os crentes servirem e amarem ao mesmo Senhor. Embora não estejam organicamente ligados a outros grupos de crentes e talvez não atuem juntos em nenhum projeto externo, amam-se uns aos outros, mesmo às pessoas com quem não tem nenhum contato. Um dia, quando a noiva de Cristo, a igreja, for reunida, haverá verdadeira unidade. A unidade, em outras palavras, aplica-se à igreja universal ou invisível, mais do que à igreja visível.
·         A segunda concepção centra-se no reconhecimento e na comunhão mútua. Essa abordagem dá ênfase ao fato de que, embora as congregações e denominações sejam separadas umas das outras, possuem basicamente a mesma fé e, portanto, devem lutar para dar expressão observável a essa unidade, usando todos os meios possíveis. Assim, deve haver comunhão entre diferentes grupos, transferências imediatas de filiação e intercâmbios de púlpito. Sempre que possível, as congregações e denominações devem trabalhar juntas em seu serviço ao Senhor.
·         Uma terceira concepção promove a unidade conciliar. Embora mantenham a identidade individual, as denominações se juntam numa associação ou num conselho formal. Elas confessam suas próprias tradições e convicções, mas também procuram juntar as forças na ação.
·         Finalmente, há a concepção de que a unidade da igreja significa unidade orgânica. Aqui, as congregações se unem numa grande denominação, juntando suas tradições. A igreja Unida do Canadá, que juntou metodistas, presbiterianos e congregacionais em uma só comunidade, é um exemplo de tal movimento. O alvo supremo é a união de todas as denominações em um grupo.

Em geral, o movimento rumo à unidade conciliar e orgânica, especialmente esta
última, vem declinado consideravelmente em anos recentes. Com certeza, os crentes devem desejar e buscar a concretização de uma unidade espiritual e, na medida do possível, o reconhecimento e a comunhão mútua. Cada pessoa e congregação terá de determinar até que ponto o envolvimento maior e a atividade cooperativa são coerentes com a preservação de suas convicções bíblicas e com o cumprimento da tarefa dada pelo Senhor.

·         O Caráter Multiforme da Igreja
o   1. A da Igreja Militante e a Igreja Triunfante – Na presente dispensação, a igreja é militante, isto é, convocada para uma guerra santa, e de fato nela está emprenhada. Isto, naturalmente, não significa que ela deve gastar suas forças em lutas sangrentas de autodestruição, mas, sim, que tem o dever de levar avante uma incessante guerra contra o mundo hostil em todas as formas em que este se revele, seja na igreja ou fora dela, e contra todos os poderes espirituais das trevas. A igreja não pode passar o tempo todo em oração e meditação, embora estas práticas sejam tão necessárias e importantes, nem tampouco deve parar de agir, no pacífico gozo da sua herança espiritual. Ela tem que estar engajada com todas as suas forças nas pelejas do seu Senhor, combatendo numa guerra que é tanto ofensiva como defensiva. Se a igreja na terra é a igreja militante, no céu é a igreja triunfante. Lá a espada é permutada pelos louros da vitória, os brados de guerra se transformam em cânticos triunfais, e a cruz é substituída pela coroa. A luta é finda, a batalha está ganha, e os santos reinam com Cristo para todo o sempre. Nestes dois estágios da sua existência, a igreja reflete a humilhação e a exaltação do seu celestial Senhor. Os católicos romanos falam, não somente de uma igreja militante e triunfante, mas também de uma igreja padecente. Esta igreja, de acordo com eles, inclui todos os crentes que já não estão na terra, mas que ainda não penetraram nos gozos do céu, e agora estão sendo purificados dos seus restantes pecados no purgatório.

o   2. Distinção entre Igreja Visível e Invisível – Quer dizer que, de um lado, a igreja de Deus é visível, e de outro, é invisível. Dizem que Lutero foi o primeiro a fazer esta distinção, mas os outros Reformadores a reconheceram e também a aplicaram à igreja. Nem sempre se entendeu bem esta distinção. Os oponentes dos Reformadores freqüentemente os acusavam de ensinarem que existem duas igrejas separadas. Lutero talvez tenha dado ocasião a esta acusação, por falar de uma ecclesiola invisível dentro da ecclesia visível. Mas tanto ele como Calvino acentuam o fato de que, quando falam de uma igreja visível e invisível, não se referem a duas igrejas, mas a dois aspectos da única igreja de Jesus Cristo. Tem-se interpretado variadamente o termo “invisível” como aplicável (a) à igreja triunfante; (b) à igreja ideal e completa, como será no fim dos séculos; (c) à igreja de todas as terras e de todos os lugares, que o homem não tem nenhuma possibilidade de ver; e (d) à igreja como ela vive nos dias de perseguição, oculta e privada da Palavra e dos sacramentos. Agora, é indubitavelmente certo que a igreja triunfante é invisível para os que se acham na terra, e que Calvino, em suas Institutas, também concebe como incluída na igreja invisível, mas, sem dúvida, a distinção foi feita principalmente com a intenção de aplicar-se à igreja militante. Em geral, é feita essa aplicação na teologia reformada (calvinista). Ela ressalta o fato de que a igreja, como existe na terra, é visível e invisível. Esta igreja é dita invisível porque é essencialmente espiritual e, em sua essência espiritual, não a pode discernir o olho humano; e porque é impossível determinar infalivelmente quem não lhe pertence. A união dos crentes com Cristo é uma união mística; o Espírito que o une constitui um laço invisível; e as bênçãos da salvação, tais como a regeneração, a conversão genuína, a fé verdadeira e a comunhão espiritual com Cristo, são todas invisíveis aos olhos naturais; – e, todavia, estas coisas constituem a forma real (o caráter ideal) da igreja. Que o termo “invisível” deve ser entendido neste sentido, vê-se pela origem histórica da distinção entre a igreja visível e a invisível na época da Reforma. A Bíblia atribui certos atributos gloriosos à igreja e a apresenta como um meio de salvação e de bênçãos eternais. Roma aplicava isto à igreja como instituição externa, mais particularmente à ecclesia representativa ou à hierarquia como distribuidora das bênçãos da salvação e, assim, ignorava e virtualmente negava a comunhão imediata e direta de Deus com os Seus filhos, colocando entre eles um sacerdócio mediatário humano. Este é o erro que os Reformadores procuraram erradicar salientando o fato de que a igreja da qual a Bíblia diz coisas tão gloriosas não é a igreja considerada como instituição externa, mas a igreja como corpo espiritual de Jesus Cristo, que é essencialmente invisível no presente, embora tendo uma encarnação relativa e imperfeita na igreja visível e esteja destinada a ter uma perfeita encarnação visível no fim dos séculos.
Naturalmente , a igreja invisível assume uma forma visível. Justamente como a alma humana se adapta a um corpo e se expressa por meio do corpo, assim a igreja invisível, que consiste, não de almas, mas de seres humanas que têm alma e corpo, assume necessariamente forma visível numa organização externa, por meio da qual se expressa. A igreja é visível na profissão de fé e conduta cristã, no ministério da Palavra e dos sacramentos, e na organização externa e seu governo. Ao fazer esta distinção, diz McPherson: “O protestantismo procurou encontrar o ponto médio adequado entre o externalismo mágico e sobrenatural da idéia romanista e a extravagante depreciação de todos os ritos externos característica do espiritualismo fanático e sectário”.[1] É muito importante ter em mente que, embora tanto a igreja invisível como a visível possam ser consideradas universais, as duas não são comensuráveis em todos os aspectos. É possível que alguns pertencem à igreja invisível nunca se tornem membros da organização visível, como as pessoas alcançadas pela ação missionária e convertidas em seus leitos de morte, e que outros sejam temporariamente excluídos dela, como crentes errantes por algum tempo afastados da comunhão da igreja visível. Por outro lado, pode haver crianças e adultos não regenerados que, apesar de professarem a Cristo, não têm a verdadeira fé nele, se achem na igreja como instituição externa; e estes, enquanto estiverem nestas condições, não pertencerão à igreja invisível. Pode-se achar boas definições da igreja invisível na Confissão de Westminster.

o   3. A Distinção Entre a Igreja Como Organismo e a Igreja Como Instituição – Não se deve identificar esta distinção com a imediatamente anterior, como às vezes se faz. É uma distinção que se aplica à igreja visível e dirige a atenção a dois aspectos diferentes da igreja considerada como corpo visível.[2] É um erro pensar que a igreja só se torna visível nos ofícios, na administração da Palavra e dos Sacramentos e numa certa forma de governo eclesiástico. Mesmo que todas estas coisa estivessem ausentes, a igreja continuaria sendo visível na vida comunitária e no testemunho público dos crentes, e em sua unida oposição ao mundo. Mas, embora salientando o fato de que a distinção em foco é feita dentro da igreja visível, não devemos esquecer que tanto a igreja como organismo como a igreja como instituição (também chamadas apparitio e institutio – função e instituição) têm seu pano de fundo na igreja invisível. Contudo, apesar de ser verdade que estes são dois aspectos diferentes da igreja visível, representam diferenças importantes. A igreja como organismo é o coetus fidelium, a união ou comunhão dos fiéis, unidos pelo vínculo do Espírito, enquanto que a igreja como instituição é a mater fidelium, a mãe dos fiéis, uma Heilsanstalt, um meio de salvação, uma agência para a conversão dos pecadores e para o aperfeiçoamento dos santos. A igreja como organismo tem existência carismática: nela todos os tipos de dons e talentos tornam-se manifestos e são utilizados na obra do Senhor. A igreja como instituição, por outro lado, existe numa forma institucional e funciona por meio dos ofícios e meios que Deus instituiu. Num sentido, ambas são coordenadas, e , todavia, há também certa subordinação de uma à outra. A igreja como instituição ou organização (mater fidelium) é um meio para um fim, e este fim se acha na igreja como organismo, a comunidade dos crentes (coetus fidelium).

·         As Marcas da Igreja em Particular
o   A fiel pregação da Palavra. Esta é a mais importante marca da igreja. Enquanto que esta independe dos sacramentos, estes não são independentes dela. A fiel pregação da Palavra é o grande meio para a manutenção da igreja e para habilita-la a ser a mãe dos fiéis. Que esta é uma das características da igreja transparece em passagens como Jo 8.31, 32, 47; 14.23; 1 Jo 4.1-3; 2 Jo 9. Atribuir esta marca à igreja não significa que a pregação da Palavra na igreja terá que ser perfeita para que ela possa ser considerada co como igreja verdadeira. Tal ideal é inatingível na terra; só se pode atribuir à igreja uma relativa pureza de doutrina. Uma igreja pode ser relativamente impura em sua apresentação da verdade, sem deixar de ser uma igreja verdadeira. Mas há um limite além do qual a igreja não pode ir, na apresentação errônea da verdade ou em sua negação, sem perder o seu verdadeiro caráter e tornar-se uma igreja falsa. É o que acontece quando artigos fundamentais de fé são negados publicamente, e a doutrina e a vida já não estão sob o domínio da Palavra de Deus.
o   A correta ministração dos sacramentos. Jamais se deve separar os sacramentos da Palavra, pois eles não têm conteúdo próprio, mas extraem o seu conteúdo da Palavra de Deus; são de fato uma pregação visível da Palavra. Nesta qualidade, eles devem ser ministrados por legítimos ministros da Palavra, de acordo com a instituição divina, e somente a participantes devidamente qualificados – os crentes e sua semente. Uma negação das verdades centrais do Evangelho, naturalmente afetará a adequada ministração dos sacramentos; e, certamente, a igreja de Roma se afasta do modo correto quando separa da Palavra de Deus os sacramentos, atribuindo-lhes uma espécie de eficácia mágica, e quando permite que as parteiras ministrem o batismo, em ocasiões de necessidade. Que a reta administração dos sacramentos é uma característica da igreja verdadeira, segue-se da sua inseparável conexão com a pregação da Palavra e de passagens como Mt 28.19; Mc 16.15, 16; At 2.42; 1 Co 11.23-30.
o   O fiel exercício de disciplina. É deveras essencial para a manutenção da pureza da doutrina e para salvaguardar a santidade dos sacramentos. As igrejas que relaxarem na disciplina, descobrirão mais cedo ou mais tarde em sua esfera de influência um eclipse da luz da verdade e abusos nas coisas santas. Daí, a igreja que quiser permanecer fiel ao seu ideal, na medida em que isto é possível na terra, deverá ser diligente e conscienciosa no exercício da disciplina cristã. A Palavra de Deus insiste na adequada disciplina a ser exercida na igreja de Cristo, Mt 18.18; 1 Co 5.1-5, 13; 14.33, 40; Ap 2.14, 15, 20.


Bibliografias:
BERKOFF, Louis. Teologia Sistemática, Campinas: Luz para o Caminho.
CHAFER, Lewis Sperry. Teologia Sistemática, São Paulo: Hagnos
COFFANI, Edson Rogério. Apostila de Eclesiologia. Escola Teológica Batista Auriflamense.
ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997.
DAGG, John Leadley. Manual de Teologia, S. J. Campos: Fiel
GEORGE, Timothy. Teologia dos Reformadores. São Paulo: Edições Vida Nova,
GETZ, Gene. Igreja: Forma e Essência, O Corpo .... São Paulo: Edições Vida Nova, 1994.
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Edições Vida Nova, 1999.
HARBIN, Christopher. Apostila de Eclesiologia. Seminário Teológico Batista do Rio Grande do Sul.
HODGE, Charles. Teologia Sistemática, São Paulo: Hagnos
HORRELL, Scott. Ed. Ultrapassando Barreiras, volumes 1 e 2. São Paulo: Edições V. Nova
HISCOX, Edward T. Manual das Igrejas Batistas. São Paulo: Editora Batista Regular
LANGSTON, A.B. Esboço de Teologia Sistemática, Rio: JUERP
SOBRINHO, João Falcão. A Túnica Inconsútil. Rio: JUERP
STRONG, A.H. Teologia Sistemática, São Paulo: Hagnos
THIESSEN, Henry C. Palestras em Teologia Sistemática, São Paulo: Editora Batista Regular


[1] Chr. Dogmatic, p.417.
[2] Cf. Kuyper, Enc. III, p. 204; Bavinck, Geref. Dogm. IV, p. 331; Ten Hoor, Afscheiding of Goleantie, p. 88, 89; Doekes, De Moeder der Geloovigen, p. 10, 11;  Steen, de Kerk, p. 51 e segtes. 

11 comentários:

  1. BOM DIA CORNÉLIO, MUITO AGRADECIDO PELO ÓTIMO TRABALHO, NOS AJUDOU MUITO. DEUS TE ABENÇOE.

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  2. Boa tarde Pr.Cornélio!Graça e Paz! Excelente apostila, uma benção. Que Deus continue lhe abençoando.
    Gostaria de saber como faço pra entrar em contato com o senhor. Desde já lhe agradeço.

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    1. Oi Marcelo Antonio. Pode entrar em contato comigo pelo e-mail: cornelio@ibmemorial.org.br

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  3. Boa noite Pastor Cornélio Póvoa.
    Sou Professor de Curso Teológico na igreja onde sirvo a Deus e li sua apostila de Eclesiologia. Gostaria de saber se é possível tê-la para subsidiar as minhas aulas e complementar minha ministração. Obrigado.

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    1. Sinta-se a vontade em usar este material. Deus o abençoe nas ministrações de sua aula.

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  4. Graça e paz!
    Gostaria de saber se posso utilizar o seu material para nosso curso de liderança da igreja, será muito útil para nosso trabalho aqui. Obrigado. Deus o abençoe pelo excelente trabalho!

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    1. Tércio sinta-se a vontade em usar este material. Deus o abençoe nas ministrações de seu curso.

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  6. Muito obrigado pastor, texto belíssimo e de uma didática irretocável, foi uma benção ter prendido com o senhor.

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