A Perdição e Sua Provisão em
Cristo
Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido
(Lc 19:10 TEB)
Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido
(Lc 19:10 TEB)
O sentimento e a realidade de perdição apresentam-se em nossa
vida, vez por outra, em situações concretas ou abstratas que, ainda assim, e
talvez de maneira mais pungente sentimos nossa garganta apertada por ela.
Querendo ou não, conscientemente ou não, vez por outra estamos numa situação de
perdição real. E exatamente por estarmos nesta condição existencial, perdemos
alguns de nossos referenciais mais necessários. É exatamente isso que
caracteriza a perdição. A noite escura na floresta, o barco solto em meio a uma
madrugada chuvosa no mar furioso da existência. Tudo isto sem bússola, sem
norte, sem referenciais.
O sentimento de perdição articula-se em categorias diversas, e ignorar qualquer
uma delas seria equivalente a minimizar o campo de abrangência do Milagre.
Hoje podemos falar de algumas categorias, das que estão mais próximas de nossa
realidade, que podem ser perdição política; financeira; religiosa; moral e,
finalmente, perdição real.
Os mecanismos de relacionamento entre os povos; os projetos de solução dos
problemas para a sociedade e sua viabilidade reais, caracterizam uma perdição
política. Os referenciais teóricos, que por gerações influenciaram os povos, e
serviram de balizas para a estruturação de nossa sociedade sumiram, foram
substituídas por uma série de elementos que formam, e impõem à sociedade um
padrão sem paradigmas e de difícil digestão conceitual. O filósofo brasileiro e
professor da Harvard University, sr. Roberto Mangabeira Unger, questiona
inclusive a idéia do capitalismo frente à realidade do que estamos vivendo
hoje. Todos os nossos referenciais de teorias políticas, hoje se não foram
substituídas por essas novas realidades sem paradigmas, foram condenadas pela
história como inúteis e inviáveis.
No contexto desta confusa massa de teorias sobre macroeconomia, está a nossa
micro-economia doméstica; modesta e ameaçada, que sofre os choques das mudanças
de rumo da economia mundial, que por sua vez, deixa de ser local para ser
global. E nossa economia doméstica é ferozmente achatada em razão das
tentativas de se manter um equilíbrio precário na economia do mundo. Falta hoje
o dinheiro no bolso da classe média; os jovens que gastavam por final de semana
em festas e bares, hoje guardam recursos para ter como andar de ônibus ou
metrô. Caracteriza-se uma perdição financeira, no contexto de uma economia equilibrada
precariamente às custas do sacrifício do povo. Aumenta-se o bolsão de miséria,
os moradores de rua, mendigos e crianças desmazeladas; que além de não
possuírem expectativas, são desprovidos inclusive da noção de algo que poderia,
quiçá, tirá-los desta perdição.
A religião que sempre foi o escape do homem quando não sabia as respostas para
suas indagações mais profundas, é hoje o escape para qualquer coisa, virou
hobby, elemento de consumo. O brasileiro, que possui uma facilidade para
qualquer tipo de crença, devido a sua falta de investigação científica, com o
que se relaciona a religião e religiosidade, enfrenta hoje o propalar de várias
seitas, doutrinas, religiões e "igrejas". Todas elas com a afirmação
de possuírem as "respostas", a indicação correta do caminho. E frente
a esta miscelânea de crenças, está o desorientado e cego homem em busca de
Deus.
Hoje Deus é apenas mais uma opção, neste supermercado da fé e crenças diversas
que se tornou o Brasil, e de certa maneira o mundo. Até no meio evangélico
brasileiro há opções para qualquer classe de pessoas, os ricos têm sua igreja,
igualmente os pobres; as mulheres têm uma igreja formada por uma liderança só
de mulheres; os homossexuais, os sincretistas, os patriarcais, cada um na sua,
o importante é "ganhar o mundo".
A religião já não liga o homem ao Absoluto, sequer orienta o caminho a Ele;
distrair, entreter e divertir o fiel já é o bastante.
A geração Xuxa é hoje uma multidão de mães solteiras. Depois veio a geração
Tchan e Axé Music, de danças sensuais e genicológicas. As moças do movimento
Funk, são identificadas por nomes animalescos e pornográficos. A situação moral
brasileira chegou a ponto de sua cultura ser representada no exterior por
danças que sequer história fizeram no país, e a história que se fará redundará
em catástrofe para as famílias futuras. Frente a isso questiona-se o uso da
censura, uma vez que os resultados de seu emprego na história recente do País
foi lastimável, para se dizer o mínimo; mas as alternativas de solução têm sido
parcas. É um tipo de fenômeno Tostines, a mídia não quer abrir mão da
sensualidade porque a sensualidade vende bem; e esta, por sua vez, vende bem
porque está na mídia. Fora deste ciclo, o investimento em cultura de boa
qualidade no Brasil é quase nulo, comparado ao que se investe nas chamadas
"culturas de lixo". Isso, mesmo com a lei de incentivo à cultura do
governo federal que determina isenção de imposto para as empresas que invistam
em ações culturais. Isso, mesmo com toda nossa tradição literária reconhecida
no mundo inteiro. Isso, mesmo tendo nossa musica reconhecida, admirada e
executada no mundo todo. Isso, mesmo com o nosso Samba, nossa Bossa Nova, nossa
excelente MPB.
A situação de culto a uma "cultura lixo", frente ao parco
investimento em cultura que traga informação de boa qualidade ao povo;
acrescido, ainda, da crescente falta de noções morais mínimas, como o respeito
ao próprio corpo e vida,denota uma situação de total perdição moral que ora
enfrentamos.
Haveria ainda várias outras categorias que poderíamos alistar, mas estas talvez
sejam as mais gritantes, e as demais, talvez sejam apenas um desdobramento das
que aqui foram apresentadas, senão, serão desenvolvidas em trabalhos futuros.
Mas há ainda que ser tratada uma outra categoria de perdição, que está fora da
abrangência de todas as que tratamos aqui. Eu quero chamá-la de Perdição Real,
não que as demais não o sejam, mas, antes, porque a natureza desta categoria
situa-se num campo totalmente dissociado das demais, uma vez que, as que foram
aqui dispostas podem ser superadas através de um esforço da sociedade ou de
alguns seguimentos desta; ou mesmo de uma postura pessoal do indivíduo frente a
elas, e o resultado será o "achar-se", a despeito de toda a situação.
Mas o que caracteriza esta outra categoria de perdição está relacionado
exatamente com a natureza da provisão para tal.
Sobre Perdição Real podemos entender a total falta de orientação do homem em
achar Deus, mesmo diante das mais variadas propostas de religiões e crenças que
aparentemente dEle, se arrogam conhecer e ensinar.
Uma das atribuições do caráter de Deus que mais me admira é sua total
fidelidade aos decretos que Ele, em sua eterna sabedoria estabeleceu sobre o
conhecimento de Sua Pessoa. Ele não se entrega fácil, Deus Se respeita, não Se
mostra a qualquer preço ou ao primeiro que O busca.
Em Jeremias capítulo vinte e nove, versículos de números treze e quatorze, o
Senhor Deus revela-nos a natureza da busca por Ele que resultará no
"achamento" de Sua Pessoa.
Deus quer se revelar, quer se deixar achar, quer sair de detrás da cortina, do
Santíssimo Lugar, quer vir para fora, para o alcance de quem O busca, mas não a
qualquer preço. Importa que, os que O querem revelado, empreguem todo o coração
nesta busca.
Isso não é emocional, Deus não se revela por causa de choros, ou de poesias
românticas, Davi não era, com certeza o único poeta de Israel em sua época ou
depois dela, mas nem todos foram segundo o coração de Deus.
Qual é, então, o caminho para a revelação de Deus? O texto de Lucas que
escolhemos nos dá uma dica. Nele há três verdades que após serem analisadas com
cuidado, nos levarão a posição correta frente ao Mistério que resultará na
Revelação de Deus e de Sua Vontade.
A primeira verdade fala da realidade que já constatamos, que é, a existência de
uma categoria de pessoas perdidas que sozinhas não se acharão. São os que se
perderam de Deus na queda adâmica.
A segunda verdade da qual trata o Texto fala exatamente do
"achamento" de Deus em Cristo. Ou seja, por Cristo e em Cristo
seremos achados e acharemos ao Pai.
E o terceiro, e mais profundo segredo do qual trata o Texto, mostra que Deus
quer se revelar ao homem e este desejo chega a ponto de, Ele mesmo nos enviar o
Guia que nos levará para Ele.
Se antes de começarmos nossa busca por Deus, não reconhecermos que estamos
totalmente perdidos em nossas ofensas e pecados, separados, por causa de nossa
miséria, de Sua Pessoa Sempre Bendita, poderemos até chegar em algumas
conclusões espirituais, a experiências místicas e tudo, mas certamente
estaremos nos distanciando dEle. É uma questão até simples, para se achar
precisa-se reconhecer que se está perdido. O apóstolo Paulo, começa sua aula de
doutrina aos crentes de Éfeso exatamente com esta lição, após seu hino de
louvor no capítulo um, ele inicia o capítulo seguinte, dizendo "E vos
vivificou estando vós mortos em vossas ofensas e pecados; em que noutro tempo
andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar,
do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Entre os quais todos
nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da
carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros
também. Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que
nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente
com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele e nos
fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus".
Não havia como chegar nas conclusões dos capítulos finais do livro se Paulo não
começasse deixando claro aos efésios que todos éramos mortos, totalmente
separados de Deus.
Mas Paulo ainda salienta a segunda verdade que identificamos no texto de Lucas,
que é em Cristo que ocorre o grande "achamento" de Deus, neste mesmo
capítulo Paulo nos mostra que, "Ele (Jesus) é a nossa paz, [...] Na sua
carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em
ordenanças, para criar em si mesmo dos dois(judeus e gentios) um novo homem,
fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com
ela as inimizades.[...] Porque por ele ambos(judeus e gentios) temos acesso ao
Pai em um mesmo Espírito."Cristo é a provisão perfeita de Deus para
aqueles que querem ter acesso a Deus e enfim chamá-lo de Pai.
No entanto, a beleza e profundidade deste desejo de Deus em fazer com que o
homem o alcance, se mostra de maneira inigualável na disposição de Deus em
fazê-lo por e através de Cristo; a narrativa de Paulo é belíssima, "Para
mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua
benignidade para conosco em Cristo Jesus".
A graça de Deus é abundante e rica, e isso se mostra em que Deus, quis em
Cristo nos reconciliar Consigo.
Não há filosofia ou pensador que tenha dito com tamanha autoridade, e
inquestionável pertinência acerca da verdade como Jesus o fez; ele não falou
sobre a verdade em categorias que não poderíamos ubíquar; sequer falou em
categorias como, a verdade "consiste em" ou "a verdade é";
enfaticamente Ele falou "Eu Sou a Verdade"; mais, Ele disse, "Eu
Sou o Caminho e ninguém vai ao Pai senão por mim!".
O que Paulo afirma em Efésios dois está com base em João quatorze e versículo
seis; está baseado na revelação total da Paixão de Cristo. Pois tão profunda
demonstração de amor só poderia ser a Revelação do Amor de um Deus que quer ser
chamado mais de Pai do que de Deus das Guerras, ou dos Sacrifícios de Touros;
quer que nos acheguemos a Ele, mais como Filhos Amados que como adoradores que
ignoram o caráter de quem adoram; quis-nos nascidos não da vontade da carne,
mas de Sua própria Vontade Livre e Soberana; e se Ele nos fez renascer em
Cristo, segundo Sua própria vontade, Ele quer se revelar a nós e tirar-nos desta
Perdição que é levar a existência sem a noção de sua misericórdia e proposição
de paz, proposta exatamente por Ele em Cristo.
Esta categoria de Libertação da Perdição Real não se encaixa em outras
categorias, apesar de fornecer novas perspectivas para a discussão na busca de
solução para elas. As palavras do Dr. Martym Loyd-Jones é normativa, "O
objetivo do Evangelho não é fazer do homem um ser com padrão moral elevado, mas
sim fazer do homem um Novo Homem".
Ser encontrado em Cristo, tampouco resolve as questões referentes a finanças,
Dietrich Bonhoffer, em seu livro Tentação, deixa claro, na Meditação sobre a
Primeira Tentação de Jesus, que, "Há duas grandes interrogações na vida do
homem: uma indaga a respeito de Deus e a outra trata do pão; as duas perguntas
têm ciúmes uma da outra. Nenhuma pretende excluir totalmente a outra, mas cada
uma deseja estar em primeiro lugar. O problema acerca de Deus não exige do
homem desistir da pergunta pelo pão, nem nega a pergunta pelo pão, após ter
sido resolvido, o direito ao homem de também interessar-se por Deus." Mas
a conclusão do notável mártir é decisiva, "Certamente(Jesus) poderia
produzir pão, mas os homens o adorariam como a quem lhes fornece pão e não como
àquele que ele realmente é, o Deus que também na fome, na privação, até mesmo
na cruz e na morte, ainda é Deus.[...]" Pois, "Deus se manifesta a si
mesmo por si mesmo e jamais pelo pão".
O Senhor Deus te oferece a oportunidade de conquistas de bens, mas o texto
sagrado vai sempre determinar que o bem adquirido deve ser utilizado no auxílio
ao próximo. Na segunda carta aos Coríntios, capítulo nove e versículo oito,
Paulo estabelece qual a razão pela qual Deus nos cumula de bens, "Deus tem
o poder de vos cumular com toda sorte de graças, para que, dispondo sempre e em
tudo do necessário, tenhais ainda de sobra para toda boa obra."
Tampouco esta liberação tem a ver com religião, Deus não exige do homem uma
série de normas a serem obedecidas, antes, Ele nos dispõe um padrão que se
posto em prática resultarão em um relacionamento pessoal e real com Ele.
Esta libertação nos traz um novo padrão de relacionamento político, é a
política do perdão e amor.
Não ignoramos, como mencionou Bonhoffer a pergunta por outras categorias de
perdição, mas lembramos apenas que Deus não está interessado em trazer
respostas para as questões fora de abrangência de Sua revelação. Ele quer que
tenhamos sim uma postura coerente quanto as demais categorias de perdição. Mas
todavia, ele nos quer conscientes de quem Ele é, o Deus que tão profundamente
nos amou que nos enviou seu próprio filho para nEle sermos achados. Ele não só
intervém em nossa direção para que o achemos mas faz isto através de Seu filho,
Ele nos busca e nos salva por meio do Cristo, tirando-nos do abismo de nossa
perdição.
Glória pois a sua Majestade, Eternidade e Beleza.
AUTOR DESCONHECIDO
(Não nos responsabilizamos pelo conteúdo teológico deste material)
Nenhum comentário:
Postar um comentário