A Divina Tríade: Irineu de Lião e a Doutrina de Deus
Irineu, o bispo
de Lião (140-200 AD, aproximadamente), ocupa um lugar de destaque tanto na
história da igreja em geral quanto na história do pensamento cristão em
particular. A sua vida e obra são especialmente significativas porque ele viveu
em um período importante da igreja primitiva, sobre o qual temos relativamente
poucas informações. O segundo século foi uma época em que os apóstolos, os
sucessores imediatos de Jesus, já não viviam, e a igreja cristã ainda não havia
alcançado a força e estabilidade que iria obter nos séculos seguintes. Foi uma
época de incertezas para o movimento cristão ainda recente, constantemente
ameaçado por perseguições e heresias; uma época em que a igreja, pressionada
pelos desafios lançados tanto por seus críticos pagãos como por seus
dissidentes cristãos e pseudo-cristãos, sentiu-se mais e mais compelida a
explicitar a sua fé em termos claros e convincentes.1
Irineu de Lião
tem sido chamado merecidamente "o pai da ortodoxia cristã", "o
pai da dogmática católica" e "o primeiro grande teólogo sistemático
da igreja."2 Ele também foi caracterizado como o mais importante
teólogo do segundo século, o teólogo que sintetizou o pensamento daquele século
e dominou a ortodoxia cristã antes de Orígenes.3 Curiosamente, Irineu não
foi primariamente um teólogo no modelo escolástico, mas um pastor e mestre da
igreja, um homem preocupado com a integridade da mensagem cristã e com a
unidade, paz e prosperidade do corpo de Cristo. Os seus escritos são uma
resposta direta, motivada por considerações pastorais e práticas, ao sério
desafio e ameaça representados pelo gnosticismo. Portanto, ele se dirige a
outros líderes cristãos para ajudá-los a protegerem os seus rebanhos de
ensinamentos que pervertiam seriamente o evangelho.
A sua luta
decisiva e eficaz contra o gnosticismo coloca Irineu entre os chamados Pais
Anti-Gnósticos. Como tal, Irineu se insere numa longa tradição de defesa
corajosa da fé cristã contra as heresias que foi iniciada pelos autores do Novo
Testamento e teve prosseguimento com os Pais Apostólicos e os
Apologistas.4 Nos seus esforços intelectuais ele foi imediatamente
seguido pelos grandes pensadores do terceiro século, mui especialmente
Tertuliano (c.155-222) e Orígenes (c.185-254).
Ainda que não
tenha sido fundamentalmente um teólogo, muito menos um teólogo sistemático,
Irineu certamente produziu uma teologia profunda, sólida e influente. No
entanto, ao contrário dos Apologistas, particularmente Justino Mártir
(c.100-165), ele nutria grandes suspeitas em relação às especulações
filosóficas, e isto por duas razões—elas não levavam a conclusões certas e
confiáveis e eram, a seu ver, uma das fontes do gnosticismo.5 O traço
peculiar dos escritos de Irineu é a sua natureza explicitamente bíblica. Ele é
acima de tudo um teólogo bíblico, no sentido de que para ele a tradição bíblica
era a única fonte da fé e o verdadeiro fundamento da teologia. Tendo rejeitado
a noção de que o conteúdo da revelação era simplesmente uma nova e melhor
filosofia, Irineu, mais do que qualquer dos seus predecessores, esforçou-se
para fornecer uma síntese de toda a Escritura, cobrindo todas as principais
áreas da teologia cristã.
Ao mesmo tempo,
é evidente que Irineu recebeu muitas influências e fez uso de diferentes
fontes, tanto bíblicas como extra-bíblicas, que faziam parte do seu contexto
intelectual secular e religioso. Ele não reivindica ser um autor original, mas
vê a si mesmo como um expositor da doutrina que havia recebido da igreja.
Embora os seus escritos sejam circunstanciais, condicionados pelas necessidades
imediatas da igreja sob sua responsabilidade, eles nos dão uma boa perspectiva
de como era o pensamento e o ensino bíblico e doutrinário da cristandade em
geral, ao final do segundo século.
Devido à sua
contribuição, "não é de surpreender," diz Hardy, "que os
teólogos modernos convidem Irineu a dar-lhes apoio em nossas atuais
discussões."6 González vai além, afirmando que "a sua teologia,
fundamentada na Bíblia e na doutrina da igreja antes que em suas opiniões
pessoais, tem sido continuamente uma fonte de renovação teológica."7
Provavelmente a principal área em que Irineu deu uma contribuição permanente à
igreja de todos os tempos foi a teologia propriamente dita, ou seja, a doutrina
de Deus. Era precisamente nesta área que o ensino gnóstico se mostrava mais
prejudicial à doutrina cristã, através de sua incisiva negação da unidade de
Deus e a sua conseqüente tendência divisionista na cristologia, na antropologia
e na eclesiologia.
O propósito
deste estudo é rever e avaliar esta contribuição de Irineu ao pensamento
cristão a partir de uma perspectiva histórica e teológica. As próximas seções
irão tratar resumidamente da vida e obra desse pensador, de alguns aspectos do
sistema gnóstico por ele combatido e dos argumentos utilizados nesta
confrontação, e de uma exposição e análise da sua doutrina de Deus, que
antecipou vários temas das célebres discussões trinitárias dos séculos
seguintes.
I.
A Vida de Irineu
Muito pouco se
conhece sobre a vida de Irineu. Ele aparece pela primeira vez nos documentos
antigos como o portador de uma carta dos confessores de Lião para a igreja de
Roma (bispo Eleutério, c.174-189), na época da perseguição do ano 177. Esta
carta pedia tolerância para os montanistas da Ásia Menor. Em uma carta pessoal
preservada por Eusébio de Cesaréia (Hist.
eccl. 5,20,4-8), Irineu conta que tinha vívidas lembranças de Policarpo, o
bispo de Esmirna, que fora discípulo do apóstolo João.8 Isto era
altamente significativo para Irineu, uma vez que Policarpo o colocava em
contato com a era apostólica. Irineu nasceu entre os anos 120 e 140 na Ásia
Menor, provavelmente em Esmirna, onde ainda menino conheceu Policarpo, que foi
martirizado aos 86 anos de idade, no ano 155.
Possivelmente
por volta do ano 170, motivos familiares, pessoais ou missionários o levaram a
Roma e depois para Lião (Lugdunum), no sul da Gália, atual França, onde ele se
tornou um presbítero. Hardy comenta que a Lião do segundo século era uma
pequena Roma.9 Uma cidade comercial às margens do Ródano e o centro do
sistema romano de estradas da Gália, Lião era a sede de uma guarnição romana e
a capital das três províncias gaulesas, sendo também o centro do culto imperial
naquelas províncias. Como Roma, Lião tinha uma grande população de língua
grega, entre a qual o cristianismo estava firmemente estabelecido. A igreja de
Lião tinha outros imigrantes de língua grega procedentes da Ásia Menor, como
Irineu.
Após a sua
missão em Roma no ano 177, Irineu retornou para Lião e descobriu que o bispo
Potino havia sido martirizado, sendo então escolhido para ser o seu sucessor.
Como bispo de Lião, Irineu liderou a igreja daquela cidade, defendeu o seu
rebanho contra as heresias e lutou pela paz e unidade da igreja cristã como um
todo. Esta última preocupação o levou a intervir na controvérsia pascal
(c.190), quando Vítor, o bispo de Roma (189-198), ameaçou excomungar as igrejas
da Ásia Menor por causa de um desentendimento referente à data da celebração da
Páscoa. Por esta razão, Eusébio declara que Irineu portou-se à altura do seu
nome, porque provou ser um verdadeiro pacificador ou eurenopoios (Hist. eccl.
5,24,18). Após este incidente Irineu desapareceu completamente dos registros
históricos e até mesmo o ano da sua morte é desconhecido.10
Escritos
Irineu escreveu
uma longa série de obras, das quais somente duas sobrevivem: seu grande tratado
A Detecção e Refutação da Falsamente
Chamada Gnose (c. 185), geralmente conhecido como Contra as Heresias (Adversus
Haereses), e uma obra de menor tamanho, Epideixis
ou Demonstração da Pregação Apostólica,
um tratado apologético descoberto em uma versão armênia em 1904 e publicado
pela primeira vez em 1907. Dos outros escritos de Irineu—vários tratados e
cartas—temos apenas uns poucos fragmentos ou somente os títulos, os quais foram
preservados por Eusébio de Cesaréia.
A gigantesca Contra as Heresias consiste de cinco
livros que, no seu conjunto, são maiores do que todo o corpo de literatura
cristã existente naquela época. O original grego perdeu-se quase inteiramente,
mas existe uma tradução latina muito literal que foi publicada pela primeira
vez por Erasmo de Roterdã em 1526, e também uma versão armênia dos dois últimos
livros publicada em 1913.11
Como indica o
título original, a obra é composta de duas partes. A primeira parte (Livro I)
trata da detecção ou descrição das doutrinas dos gnósticos, especialmente dos
discípulos de Ptolomeu, que era discípulo de Valentino. O autor conclui
triunfantemente: "Meramente descrever tais doutrinas é o mesmo que refutá-las"
(Adv. haer. 1,31,3-4).12 A segunda
parte, a "refutação," compreende os quatro livros restantes. No Livro
II Irineu refuta a gnose dos valentinianos e dos marcionitas com base na razão.
Ele ataca as doutrinas do pleroma e
dos eons com uma lógica implacável,
mas não procura elaborar uma alternativa especulativa. Na realidade, o Livro II
desenvolve o que havia ficado incompleto no primeiro livro.
Os últimos três
livros são devotados à refutação do gnosticismo com base nas Escrituras. Aqui
Irineu trata de muitos temas mais amplos e elabora os princípios basilares da
teologia cristã.13 O Livro III coloca o fundamento da doutrina cristã nas
Escrituras e na tradição e elabora com detalhes os seus pontos essenciais—a
unidade de Deus e a redenção por meio de Cristo. O Livro IV defende contra
Marcião a unidade das duas alianças, e o Livro V continua a discussão acerca da
redenção e daí passa para as últimas coisas e a esperança do mundo por vir.
Neste livro Irineu discorre longamente sobre a ressurreição do corpo, que era
negada por todos os gnósticos.
Contra as Heresias é a primeira grande
obra cristã no segundo nível da teologia, a primeira tentativa abrangente de
declarar o que é realmente o cristianismo. Embora muito menor, a Epideixis ou Demonstração também é significativa, uma vez que parece representar
o ensino de Irineu aos catecúmenos.14 Ela segue a ordem da fórmula batismal,
aduzindo provas escriturísticas para a crença no Pai, Filho e Espírito Santo.
II.
O Gnosticismo
Bengt Hägglund
observa com propriedade que "foi o idealismo gnóstico, com a sua negação
da criação, que compeliu os pais da igreja a abordarem com tantos detalhes as
doutrinas de Deus e da criação, juntamente com o problema do homem, a
encarnação e a ressurreição do corpo."15 É bem sabido que aquilo que
chamamos de gnosticismo era um fenômeno muito complexo, que assumiu uma grande
variedade de configurações. De um lado do espectro havia manifestações de uma
gnose cristã, das quais a mais destacada foi o marcionismo.16 Por outro lado, os
gnósticos do tipo valentiniano dificilmente poderiam ser considerados como
cristãos. Eles eram perigosamente enganosos, uma vez que utilizavam as mesmas
Escrituras e a mesma linguagem que os cristãos, mas com um sentido radicalmente
diferente. Irineu chama atenção para este fato através da interessante analogia
da imagem de um rei e de sua transformação na imagem de um animal (Adv. haer. 1,8,1).
Todos os
sistemas gnósticos tinham em comum a opinião de que o cristianismo ortodoxo,
com o seu "credo" claro e objetivo, era demasiado simples. Eles
professavam ter no mínimo uma resposta mais complexa para o enigma do
universo.17 Filosoficamente, as diferentes correntes do gnosticismo também
tinham em comum a negação da unidade de Deus conforme apresentada nas Escrituras
e ensinada pela igreja primitiva. Na sua forma mais simples, eles negavam a
identificação do Deus do Velho Testamento, Iavé, com o Deus de Jesus Cristo.
Norris pondera
que o contexto da "gnose" ou "verdade mais profunda" do
gnosticismo "tinha a ver com a questão religiosa fundamental da origem,
natureza e destino da alma."18 Esta preocupação levava a um entendimento
do Ser Divino e da sua relação com o mundo que distorcia por completo o ensino
cristão tradicional acerca de Deus. Deste erro fundamental decorriam todas as
outras idéias gnósticas errôneas nas diferentes áreas da teologia cristã.
Na concepção de
Irineu, a gnose era pura e simplesmente uma contradição do cristianismo, uma
negação das suas doutrinas capitais. Como sabemos, Irineu não estava
interessado no gnosticismo como um fenômeno geral mas em um tipo particular de
ensino que ele havia encontrado em Lião—a doutrina de Ptolomeu, "um
rebento da doutrina de Valentino" (Adv.
haer. 1, prefácio, 2). Como tal, a gnose ptolomaica era "um sistema de
complexidade fantasmagórica, cujo propósito era expor a verdade acerca da
identidade do gnóstico em sua natureza mais íntima."19
Conforme a
descrição de Irineu, o traço essencial da gnose ptolomaica era um dualismo
consistente. Os gnósticos não reconheciam um, e sim dois mundos. Havia o Pleroma ou Plenitude, uma sociedade de
seres divinos ou Eons, em cujo ápice
ficava a realidade última desconhecida e incognoscível, o Abismo. Fora e abaixo
do Pleroma estava o corrupto mundo
material, o produto indesejado de uma desordem temporária na vida do Pleroma. O mundo foi produzido através
de um processo complexo que gerou os seus três elementos constitutivos: matéria
corpórea, alma e espírito. Os espíritos dos gnósticos estavam destinados a
retornar finalmente para o seu lar no Pleroma.
O artífice do
mundo visível é uma entidade angélica, o Demiurgo, uma simples alma que ignora
qualquer vida superior à sua própria. Este é o Deus dos judeus, e o Jesus
humano e terreno é o seu Messias. No entanto, existe uma dimensão oculta da
verdade nos ensinos de Jesus que revela o próprio Pleroma. Isto acontece porque um eon divino, o Salvador, veio sobre Jesus no seu batismo e
permaneceu com ele até o momento do seu sofrimento e morte. Todo aquele que lê
as palavras de Cristo em sintonia com o seu significado interior e não com o
seu sentido literal encontra nas mesmas não as palavras do Messias judeu, mas o
ensino do próprio Salvador, que traz o conhecimento da vida divina do Pleroma.
Obviamente, a
conseqüência deste sistema era o abandono completo do entendimento cristão
tradicional acerca do Ser Divino e do seu relacionamento com o mundo. Conforme
Norris observa: "Na sua ansiedade de segregar a matéria do espírito, o mal
do bem, os gnósticos dissolveram ao mesmo tempo a unidade do mundo e a unidade
de Deus."20 Por sua vez, este dualismo gnóstico destruía a integridade da
teologia da história que estava no âmago da pregação cristã. A oposição entre o
Velho e o Novo Testamento, entre Iavé e o Salvador manifestado em Jesus, levava
a uma dissolução da unidade da história da salvação, a história da relação de
Deus com a humanidade apresentada nos escritos sagrados da igreja.
IV.
O Argumento de Irineu
A argumentação
de Irineu contra a heresia gnóstica foi tríplice: filosófica, histórica e
exegética. Primeiramente ele chamou a atenção para o absurdo lógico do sistema
gnóstico, especialmente na sua idéia de Deus. Particularmente no segundo livro
de Adversus Haereses, ele procura
expor "as inconsistências de uma concepção que proclama a infinidade e a
supremacia do Deus absoluto e ao mesmo tempo nega a sua responsabilidade pelo
mundo material.21 A forma racional e abstrata deste argumento parece
contradizer a afirmação anterior de que Irineu nutria suspeitas com relação às
especulações filosóficas. Sabemos que em vários pontos de suas obras a sua
hostilidade para com a filosofia é bastante explícita (Adv. haer. 2,26,1). Todavia, o fato é que Irineu não poderia deixar
de fazer especulações e de utilizar idéias religiosas e filosóficas que estavam
profundamente incrustadas no seu contexto cultural (judaísmo helenístico,
platonismo, etc.).22
Mas Irineu não
parou aí. Em segundo lugar, ele refutou a alegação dos gnósticos de que eles
ensinavam a verdadeira doutrina de Cristo e dos apóstolos. Nesta tarefa, Irineu
teve de estabelecer as credenciais históricas da sua própria posição, ou seja,
a harmonia existente entre aquela doutrina e o seu cristianismo anti-gnóstico.
Ele apelou para os escritos sagrados que constituíam o fundamento dos ensinos da
igreja (o Velho Testamento na versão da Septuaginta e os livros que mais tarde
seriam conhecidos como o Novo Testamento) e insistiu em que estas fontes
escritas eram o único padrão final do autêntico ensinamento cristão. Além
disso, ele apelou ao princípio da tradição: o critério para o entendimento das
Escrituras é encontrado na doutrina abertamente proclamada ("a regra da
verdade") por aquelas igrejas cujos líderes sucederam numa ordem
publicamente reconhecida o ofício docente dos apóstolos.23 A "verdade"
que, de acordo com Irineu, era a "regra" (kanon), consistia da ordem da salvação revelada na Bíblia,
proclamada pela igreja, e sintetizada na confissão batismal.24
O terceiro
nível do argumento de Irineu foi exegético. Ele tomou os ensinos dos profetas,
de Cristo e dos apóstolos e mostrou que eles se opunham frontalmente à doutrina
dos adversários gnósticos. No decurso da sua análise exegética Irineu
desenvolveu o que considerava a alternativa ortodoxa ao gnosticismo. Este
empreendimento o levou a utilizar idéias exegéticas e teológicas que havia
herdado de escritores cristãos anteriores, especialmente dos apologistas. Desse
modo, a elaboração feita por Irineu de uma alternativa ao gnosticismo o levou a
dialogar com a cosmologia teológica grega, cujo início consciente pode ser
visto nas apologias de Justino. Além disso, à medida em que procurava mostrar a
continuidade entre os eventos do Velho Testamento e os do Novo Testamento,
Irineu utilizou e desenvolveu a chamada exegese tipológica (Adv. haer. 4,20,7 - 25,3).
V.
A Doutrina de Deus
Por volta de
meados do segundo século começou a surgir nos círculos cristãos uma crescente
elaboração de formulações confessionais, catequéticas e batismais, bem como o
esforço de falar sobre as implicações mais amplas das mesmas, em nível
intelectual. Estas elaborações marcam a transição de uma teologia primária para
uma teologia secundária ou de segundo nível, em resposta à necessidade de
explicar o que acontecia quando alguém era batizado, ou seja, qual o
significado do novo relacionamento estabelecido com o Pai, o Filho e o Espírito
Santo. Mais especificamente, a necessidade de interpretar as fórmulas
catequéticas, confessionais e batismais em face dos escritos heréticos foi o
contexto no qual começou a surgir a busca intelectual da doutrina da trindade.
Em Irineu encontramos a primeira elaboração extensa das fórmulas batismais
triádicas, juntamente com as suas implicações, como uma resposta direta ao
desafio lançado pelo gnosticismo à concepção cristã de Deus.
Irineu inicia
com a regra da verdade, a "tradição" ou ensino transmitido pelos
apóstolos e fielmente preservado pela igreja.25 A partir daí ele desenvolve o
seu entendimento acerca da unidade de Deus e da realidade da tríade divina:
Pai, Filho e Espírito Santo. Não havia um credo em Lião, mas uma linguagem
triádica sobre o que significava ser um cristão. Evidentemente ainda não havia
uma doutrina da trindade. Apesar das suas afirmações ao contrário, Irineu
demonstrou ter uma mente altamente criativa ao deduzir as implicações das
fórmulas tradicionais para muitas áreas do pensamento cristão, particularmente
para a idéia de Deus.
A. A Regra da
Verdade
Como foi visto
acima, para Irineu a "regra da verdade" era o sistema de fé derivado
dos apóstolos e dos seus discípulos e compartilhado pela igreja universal. Com
isto ele não estava se referindo a um único credo universalmente aceito ou a
qualquer tipo de fórmula como tal, mas ao conteúdo doutrinário da fé cristã
transmitida na igreja "católica."26 Em várias passagens Irineu faz
alusões a esta regra da verdade e até mesmo reproduz sínteses da mesma, quase
invariavelmente em termos triádicos e em conexão com o batismo.
Existem vários
exemplos na Epideixis, como este
encontrado no capítulo 3: "Antes de tudo, precisamos ter em mente que
recebemos o batismo para a remissão dos pecados em nome de Deus o Pai, e em
nome de Jesus Cristo o Filho de Deus, que se encarnou, morreu e ressuscitou, e
em nome do Espírito Santo de Deus." Existem outras referências nos
capítulos 7 e 100. A partir desta linguagem, Kelly conclui que Irineu conhecia
uma série de perguntas batismais que seriam mais ou menos assim: "Você crê
em Deus Pai? Você crê em Jesus Cristo, o Filho de Deus, que se encarnou, morreu
e ressurgiu? Você crê no Espírito Santo de Deus?"27 A Epideixis tem no seu capítulo 6 uma exposição detalhada dos três
pontos, novamente em um contexto relacionado com o batismo, o que dá uma boa
idéia da instrução catequética pré-batismal fornecida naquela época.
Os sumários
"credais" mais importantes encontrados em Contra as Heresias são também confissões com três cláusulas. A
passagem mais notável é aquela encontrada em 1,10,1:
A Igreja,
embora dispersa por todo o mundo, até aos confins da terra, recebeu dos
apóstolos e dos seus discípulos esta fé: [Ela crê] em um Deus, o Pai
Todo-Poderoso, Criador dos céus, da terra, do mar e de todas as coisas que
neles estão; e em um Cristo Jesus, o Filho de Deus, que se encarnou para a
nossa salvação; e no Espírito Santo, que proclamou através dos profetas as dispensações
de Deus...
Outra
referência importante é aquela encontrada em 4,33,7, que parece ter sido
deliberadamente baseada em 1 Coríntios 8.6:
Ele [o
verdadeiro discípulo espiritual] tem plena fé em um Deus Todo-Poderoso, de quem
são todas as coisas; e no Filho de Deus, Jesus Cristo nosso Senhor, por quem
são todas as coisas, e nas dispensações referentes a Ele, por meio das quais o
Filho de Deus se fez homem; e uma fé firme no Espírito de Deus, que nos
proporciona o conhecimento da verdade, e tem apresentado as dispensações do Pai
e do Filho, em virtude das quais Ele habita com cada geração dos homens, de
acordo com a vontade do Pai.
Também existem
vários exemplos de fórmulas com dois artigos (Adv. haer. 3,1,2; 3,42; 3,16,6; etc.).
Kelly pondera
que, surpreendentemente, é tênue a influência de motivos anti-heréticos nestas
várias declarações.28 Talvez isto seja verdade quanto às declarações em si
mesmas, mas certamente os seus contextos não deixam dúvida quanto à sua
intenção polêmica. É precisamente a partir dessas afirmações da regra da
verdade que Irineu deriva os seus principais argumentos contra as noções
gnósticas acerca de Deus e do seu relacionamento com a ordem criada.
B. Deus, Uno e
Criador
Com Irineu, a
afirmação de Deus como uno e criador assumiu importância especial, uma vez que
a sua tarefa era refutar a teoria gnóstica de uma hierarquia de eons que desciam de um Deus Supremo
incognoscível e o seu corolário de uma grande distância entre ele e o criador
ou Demiurgo.29 Um texto torna clara
esta posição: "O primeiro artigo de nossa fé," explica Irineu,
"é Deus o Pai, incriado, não-gerado, invisível, Divindade una e única,
criador do universo" (Dem. 6;
ver também Adv. haer. 2,1,1; 2,9,1;
2,16,3). Deus exerce a Sua atividade criadora através da Sua Palavra e da Sua
Sabedoria ou Espírito (2,30,9). Ele criou ex
nihilo (2,10,4), sendo esta provavelmente a primeira declaração cristã
explícita da criação de todas as coisas a partir do nada. Para fundamentar
estes princípios Irineu apela, além das Escrituras, à razão natural (Dem. 4).
Deus
relaciona-se com o mundo não somente através da criação mas também através da
redenção. O Deus da salvação é o mesmo Deus da criação (Adv. haer. 4,6,2; 4,20,2), ou seja, não há senão um só Deus, que
tanto cria como redime. O ensino gnóstico acerca de dois deuses era uma
blasfêmia contra o Criador. Ele também implicava na impossibilidade da
salvação, porque se Deus não criou, a criação também não poderia ser redimida.
Se Deus não foi o criador, ele não iria salvar a criação. Todavia, segundo
Irineu, este é o alvo de toda a ordem da criação. Para os gnósticos, a salvação
consistia em serem libertos da criação, do mundo material; para Irineu, no
entanto, a salvação significava que a própria criação seria restaurada ao seu
estado original e alcançaria o seu destino conferido por Deus.
A visão
gnóstica de Deus não somente colocava em dúvida o princípio bíblico essencial
do monoteísmo, mas impunha uma limitação seja ao poder ou à bondade de Deus.
Contra estas concepções, Irineu afirma que Deus é um e único em sua majestade e
bondade, e supremo no seu poder. Os termos que ele emprega são tomados,
curiosamente, do judaísmo helenístico e da teologia do médio platonismo.30 Ele
escreve que Deus é incriado, incompreensível, sem figura ou forma, impassível e
incapaz de erro (Adv. haer.
4,38,2-3). Ele é estático, imutável (2,34,2), auto-contido e auto-suficiente
(2,1,5; 4,16,4). Deus é, como Platão observou corretamente, incapaz de ser
declarado e, portanto, como Irineu conclui de maneira não platônica, ele é
conhecido somente na medida em que se dá a conhecer a si mesmo. Ele é simples,
não-composto e totalmente diferente das coisas criadas (2,13,3).
Irineu também
repete constantemente que Deus é sem limites. O verdadeiro Deus é ele mesmo o Pleroma, a "Plenitude" de
todas as coisas. Como tal, ele não é contido por nada e todavia contém tudo o
que existe (2,30,9; 2,1,1). Ele é ilimitado tanto no seu poder como na sua
presença: não existe nada à parte dele e nada que não esteja sujeito a ele. Na
sua simplicidade e eternidade não-originadas, Deus é o contexto imensurável de
todo o ser, bem como a sua fonte—diferente de todas as criaturas, porém não
separado de nenhuma delas.
Norris vê aqui
uma diferença significativa entre Irineu e Justino.31 Enquanto que Justino
tende a acentuar a transcendência radical do Criador sobre a sua criação, a
agenda de Irineu requer uma maneira de afirmar a majestade transcendente de
Deus que não pareça excluí-lo do mundo. A noção do caráter ilimitado de Deus
não significa meramente que Deus não pode ser medido, mas também que nada impõe
um limite ao seu poder e à sua presença. Assim, o que torna Deus diferente de
toda criatura—a sua simplicidade eterna e não-gerada—é precisamente o que lhe
assegura um relacionamento direto e íntimo com toda criatura.
C. A Divina
Tríade
Da mesma
maneira que os ensinos gnósticos levam Irineu a enfatizar a unidade de Deus, a
regra da verdade ligada ao batismo o faz refletir sobre as distinções do Ser
Divino: Pai, Filho e Espírito Santo. Irineu mostra a dificuldade de se
reconciliar uma só realidade divina com tais distinções, isto é, como afirmar a
unidade de Deus e ao mesmo tempo preservar a Tríade.32 No seu pensamento, as
próprias relações das "pessoas" da Tríade permanecem obscuras. Ele trata
das implicações da fórmula mas se recusa a ir além disso; esta tarefa seria
deixada para teólogos posteriores.
Como foi visto
anteriormente, Irineu começa a sua exposição do Ser Divino a partir dos três
artigos fundamentais do símbolo batismal. Uma passagem essencial é Demonstração 6. Lebreton observa
apropriadamente que "a fim de julgar as heresias [Irineu] leva-as a esta
regra fundamental e demonstra a oposição das mesmas aos três artigos do
símbolo."33 Por sua vez, Kelly argumenta que Irineu vai além dos
apologistas em dois aspectos, a saber, na sua compreensão mais firme e
afirmação mais explícita da noção de "economia" e no seu
reconhecimento muito mais pleno do lugar do Espírito no esquema triádico.34
A divina Tríade
é invocada para mostrar com mais detalhes como Deus se relaciona com o mundo
não somente na criação mas na redenção. Irineu se acerca de Deus a partir de
duas direções, vendo-o tanto como ele existe no seu ser intrínseco e também
como ele se manifesta na economia, o processo ordenado da sua
auto-manifestação. Do primeiro ponto de vista, Deus é o Pai de todas as coisas,
inefavelmente um, e todavia contendo em si mesmo desde toda a eternidade a sua
Palavra e a sua Sabedoria. Porém, ao dar-se a conhecer ou por-se em atividade
na criação e na redenção, Deus manifesta esta Palavra e esta Sabedoria; como o
Filho e o Espírito, elas são as suas "mãos," os veículos ou formas da
sua auto-revelação.35
Norris pondera
que a nota característica do ensino de Irineu acerca de Deus pode ser vista na
sua luta com a doutrina do Logos
herdada dos apologistas.36 Ele a utiliza, mas um tanto a contragosto e com
cuidadosas qualificações. A Palavra ou o Verbo é visto como o Mediador. O Pai
está "acima de tudo," enquanto que a Palavra é "através de todas
as coisas." O Pai está de algum modo "fora" do mundo e a Palavra
parece um poder intermediário através de quem Deus se relaciona com o mundo e
atua nele. A Palavra é o Mediador da revelação: o Deus invisível e
incompreensível não é dado a conhecer diretamente, mas através da sua Palavra.
Irineu não fica
inteiramente satisfeito com esta linguagem. A sua oposição ao gnosticismo o
torna avesso a qualquer sugestão de que existe mais de uma substância divina ou
de que Deus está de algum modo separado do seu mundo. Assim, ele repudia todas
as tentativas de se explorar o processo pelo qual o Logos/Verbo foi gerado
(2,28,4-6; 2,13,8). Tal linguagem parece sugerir que o Logos é um estado
intermediário entre Deus e a criação e parece implicar em distinções de grau
dentro da Divindade. Ao mesmo tempo o Verbo ou Filho é corretamente chamado
"Deus" (Dem. 47); ele é
distinto de tudo o que é gerado e coexiste com o Pai desde toda a eternidade
(2,30,9; 3,18,1; 4,20,1).
Com o Filho
Irineu associou intimamente o Espírito, argumentando que, se Deus era racional
e portanto tinha o seu Logos, ele também era espiritual e assim tinha o seu
Espírito (Dem. 5). Nisto Irineu
demonstrou ser um seguidor de Teófilo de Antioquia e não de Justino,
identificando o Espírito, não o Verbo, com a Sabedoria divina, e assim
fortalecendo a sua doutrina do Espírito Santo com uma base bíblica segura (Sl
33.6; Pv 3.19; 8.22-36; etc.). O Espírito é plenamente divino, ainda que em
nenhum lugar Irineu o designe expressamente como Deus, pois ele é o Espírito de
Deus, continuamente brotando do seu ser (5,12,2).
Irineu também é
bastante peculiar e criativo no seu ensino acerca do Verbo e da Sabedoria, o
Filho e o Espírito, como "as duas mãos de Deus" (4,20,1), uma imagem
que faz lembrar Jó 10.8a e o Salmo 119.73. Esta é outra maneira pela qual ele
acentua a doutrina de um Deus imediatamente presente e ativo. É o próprio Deus
Supremo que está empenhado numa atividade criadora neste mundo. Lawson observa
que este ensino denota uma "ação direta," em contraste com os anjos
intermediários dos sistemas gnósticos (Adv.
haer. 4,7,4).37 Irineu também fala do "Pai que planeja tudo bem e dá
as suas ordens, o Filho que as executa e realiza a obra de criação, e o
Espírito que nutre e faz crescer..." (4,38,3). Vê-se aqui um esforço de
preservar a igualdade do status
divino entre o Filho e o Espírito exigida pela fórmula triádica.38 Assim,
"as duas mãos de Deus" é uma expressão do caráter imediato da
criação, não do seu caráter mediato.
O Verbo e o
Espírito colaboram na obra de criação e direção (4,20,2; Dem. 5) e também nas atividades de inspiração e revelação. O Verbo
revela o Pai (4,6,3; 4,6,6). Na encarnação o Verbo, até então invisível aos
olhos humanos, tornou-se visível e manifestou pela primeira vez aquela imagem
de Deus a cuja semelhança o ser humano foi originalmente criado (5,16,2). O
Espírito atuou nos profetas e nos crentes da antigüidade; somente ele capacita
as pessoas a conhecerem o Filho (Dem.
6,7). A santificação é inteiramente obra do Espírito.
Lawson acredita
que o tratamento mais profundo e consistente da natureza de Deus feito por
Irineu está em Adv. haer. 4,20,1-12,
um capítulo que inicia com a celebração do amor de Deus.39 No centro da
religião de Irineu está o conceito do amor auto-comunicativo de Deus. Porque ele
ama, Deus livremente dá de si mesmo na criação, nos profetas e no Filho do seu
amor.
VI.
Conclusão
A visão de
Irineu acerca da Divindade é a mais completa e também a mais explicitamente
"trinitária" que se pode encontrar antes de Tertuliano.40 Seus característicos
do segundo século destacam-se claramente, particularmente em sua apresentação
da Tríade através da imagem, não de três pessoas co-iguais (conceito
pós-niceno), mas de um único personagem, o Pai, que é a própria Deidade, com a
sua mente ou racionalidade e a sua sabedoria.
Confrontado com
as extravagâncias gnósticas, Irineu permaneceu extremamente avesso à
investigação das profundezas ontológicas da Tríade e das relações entre o Pai,
o Filho e o Espírito Santo.41 O fato importante destacado pela fórmula batismal
e acentuado por Irineu é que existem distinções reais no ser imanente do Pai
único e indivisível e que, embora somente tenham sido plenamente manifestas na
"economia," elas realmente estavam presentes desde toda a eternidade.
A teologia de Irineu
também é importante porque a Igreja de hoje depara-se com o mesmo tipo de
desafios que enfrentou no passado. O gnosticismo pretendia ser cristão, mas
apenas expressava em terminologia bíblica conceitos inteiramente alheios ao
cristianismo apostólico. Incomodados com a "simplicidade" das
declarações doutrinárias da Igreja, os gnósticos apelavam para uma revelação
especial e o conhecimento "verdadeiro", oculto, das Escrituras. A
partir daí, efetuavam uma leitura alegórica e altamente individualista do texto
bíblico, que deturpava radicalmente a parádosis,
o ensinamento cristão transmitido pelos apóstolos e recebido pela Igreja.
Nos nossos dias
defrontamo-nos com situações semelhantes diante da existência de grupos que,
reivindicando ligações com a fé cristã, divergem dos seus postulados básicos em
maior ou menor grau. Num posicionamento extremo encontram-se movimentos como o
espiritismo kardecista, a Legião da Boa Vontade, a Ciência Cristã, e até certo
ponto, o mormonismo, os quais, embora dotados de uma roupagem cristã, estão
grandemente afastados das convicções do cristianismo histórico. Outro tipo de
manifestações, menos radicais, mas igualmente preocupantes, são os movimentos
neopentecostais, com sua ênfase indevida na experiência individual, em pretensas
novas revelações e em interpretações subjetivas da Bíblia como critérios da
verdade.
Irineu de Lião
nos aponta os dois elementos cruciais para a preservação da "fé que uma
vez por todas foi dada aos santos" contra os perigos do subjetivismo e do
relativismo: o retorno constante à revelação bíblica, num estudo sério e
criterioso dos seus ensinamentos, e uma cuidadosa consideração do testemunho
histórico da Igreja, a maneira como a comunidade cristã tem entendido e
transmitido as verdades da fé.
Notas
1 O historiador
Justo L. González observa que a posição cronológica de Irineu entre os
primeiros sucessores dos apóstolos e a igreja do terceiro e quarto séculos
"o coloca numa encruzilhada importante da história do pensamento
cristão." A History of Christian Thought, vol. 1: From the Beginnings to the
Council of Chalcedon, ed. rev. (Nashville: Abingdon, 1970) 170.
2 R. A. Norris, Jr., God and World in Early Christian Theology
(New York: Seabury Press, 1965) 72; Bengt Hägglund, History of Theology, trad. Gene J. Lund (Saint Louis: Concordia,
1968) 44; e Edward Rochie Hardy, "An Exposition of the Faith," em Early Christian Fathers, ed. Cyril C.
Richardson, 343-397 (New York: Macmillan, 1970) 344. A partir do segundo
século, a expressão "igreja católica" serviu para designar a igreja
verdadeira, ortodoxa, em contraposição aos grupos heréticos.
3 Johannes Quasten, Patrology, vol. 1: The Beginnings of
Patristic Literature (Westminster, Maryland: Christian Classics, 1984) 287; e
J.N.D. Kelly, Early Christian Doctrines
(New York: Harper and Brothers, 1958) 104.
4 Entre aqueles
que escreveram extensamente contra sistemas heréticos, Irineu é o primeiro
autor cujas obras sobreviveram. O Syntagmation
de Justino perdeu-se; caso venha a ser descoberto, teremos maiores informações
sobre o pano de fundo da obra de Irineu.
5 Norris, God and World, 81.
6 Hardy, "Exposition of the
Faith," 343. Entre outros teólogos modernos influenciados por
Irineu, Hardy menciona Gustav Aulén e S.L. Thornton.
7 González, History of Christian Thought, 170.
8 A importante obra de Eusébio, Historia Ecclesiastica, pode ser
encontrada em: Philip Schaff, ed., Nicene
and Post-Nicene Fathers, second series, vol. 1 (Peabody, Massachusetts:
Hendrickson Publishers, 1994).
9 Hardy, "Exposition of the Faith,"
347.
10 González diz
que ele pode ter morrido no ano 202, quando muitos cristãos foram martirizados
em Lião (History of Christian Thought,
158), mas Irineu não é lembrado como um mártir na tradição do cristianismo
primitivo.
11 Para a
tradução inglesa de Contra as Heresias,
ver Alexander Roberts e James Donaldson, eds., Ante-Nicene Fathers, rev. A.C. Coxe, vol. 1: The Apostolic Fathers with Justin Martyr and Irenaeus
(Peadoby, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1994).
12 As
referências de Contra as Heresias
(Adv. haer.) contêm respectivamente o número do livro, do capítulo e da seção.
13 F.L. Cross, The Early Christian Fathers (London: Gerald Duckworth, 1960) 112.
14 Para o texto inglês da Epideixis tou Apostolikou Kerygmatos,
ver a tradução de J. Armitage Robinson, The
Demonstration of the Apostolic Preaching (London: SPCK; New York:
Macmillan, 1920).
15 Hägglund, History of Theology, 43.
16 Hardy
argumenta que, "dentre todos os principais gnósticos, Marcião é aquele que
é mais claramente um herege. . . Ele é certamente o primeiro fundador de uma
denominação ou seita entre os cristãos." "Exposition of the Faith," 345.
17 Ibid.
18 Norris, God and World, 73.
19 Ibid., 75.
20 Ibid., 79.
21 Ibid., 81.
22 O fato de
Irineu não se considerar um filósofo não significa que ele ignorava os
conceitos que circulavam ao seu redor. Ele também foi influenciado pelas idéias
de Justino Mártir e de outros escritores cristãos.
23 Norris, God and World, 83.
24 Hägglund, History of Theology, 45.
25 Uma questão
importante é como Irineu entendia a parádosis
(tradição) da igreja em relação às Escrituras — não como algo separado, mas uma
espécie de roteiro ou guia.
26 J.N.D. Kelly, Early Christian Creeds (New York: David
McKay, 1960) 76.
27 Ibid., 77.
28 Ibid., 81.
29 Kelly, Early Christian Doctrines, 86. O conceito de Demiourgos (criador) é essencial, uma
vez que os seguidores de Ptolomeu o consideravam uma realidade separada e
inferior.
30 Norris, God and World, 85.
31 Ibid., 86.
32 Com Irineu
ainda não se pode falar em "trindade," uma concepção que somente
seria elaborada posteriormente; a noção de "tríade" é mais
consentânea com o seu pensamento.
33 Citado em Bertrand de Margerie, The Christian Trinity in History: Studies in
Historical Theology, Vol. 1, trad. Edmund J. Fortman (Still River, MA: St.
Bede’s Publications, 1982) 69.
34 Kelly, Early Christian Doctrines, 105. Nesse contexto,
"economia" tem a ver com a atribuição de diferentes
"funções" ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
35 Ibid., 104-105.
36 Norris, God and World, 87.
37 John Lawson, The Biblical Theology of Saint Irenaeus (London: Epworth Press,
1948) 124.
38 Ver Adv. haer. 3,24,2:
"...estabelecendo todas as coisas pelo seu Verbo e consolidando-as pela
sua Sabedoria."
39 Lawson, Biblical Theology of Saint Irenaeus, 128.
40 Kelly, Early Christian Doctrines, 107. Hardy considera que as
diversas declarações de fé emitidas por Irineu contém todos os elementos
essenciais do Credo de Nicéia, exceto os seus termos técnicos. "Exposition of the Faith,"
350.
41 Porém, como
argumenta Frances M. Young, Irineu foi "o primeiro a aclarar as questões
fundamentais"; "um pioneiro doutrinário particularmente significativo
em diversas áreas." The
Making of the Creeds (London: SCM, 1991) 19, 81.
AUTOR DESCONHECIDO
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