A palavra que sara
Daí graças ao Senhor, porque Ele é bom; porque a sua benignidade dura
para sempre; pois ele satisfaz a alma sedenta, e enche de bens a alma faminta.
Tirou-os das trevas e da sombra da morte, e quebrou-lhes as prisões. Enviou a
sua palavra, e os sarou, e os livrou da destruição. Quem é sábio observe essas
coisas, e considere atentamente as benignidades do Senhor." ( Sl 107.
1,9,14,20,43 )
Seja na área das ciências biológicas ou das ciências humanas; seja na
Teologia ou na Medicina, para bem conduzir o rumo das coisas, torna-se
necessária uma compreensão da natureza humana. É evidente que a antropologia
contemporânea reserva-se o direito de guardar traços??? das culturas passadas.
No entanto, como divergiam essas culturas! ... Sumérios, Caldeus, Assírios e
Babilônios, ou seja, os povos mesopotâmicos, viam a natureza humana como algo
essencialmente inferior. Marduque, seu deus principal, reinava sobre pequenos
deuses que podiam favorecer ou complicar miseravelmente a vida dos pobres seres
humanos. Havia um fatalismo nessas culturas mesopotâmicas que era desumanizador
a todas dominando.
Os gregos olhavam o ser humano com otimismo. No portal do oráculo de
Delfos, havia uma inscrição que dizia "Conhece-te a ti mesmo",
expressão que, na verdade, queria dizer o seguinte: "Você é apenas um ser
humano, um mero homem, nada mais que isso. Você precisa se conhecer".
Harold Ellens enfatiza que esse é excelente lembrete para terapeutas,
psicólogos, psiquiatras e médicos cristãos, para quem trabalha com o ser humano
na mente, no espírito ou no corpo de um modo geral, pois, se enfrentarmos com
honestidade e com o coração aberto nossas próprias realidades, já estaremos no
meio da jornada para lidar com ela construtiva e positivamente.
Mas uma coisa é ser simplesmente humano, como queria o Oráculo de
Delfos; outra é ser compassivamente humano. E o conceito grego do ser humano
evoluiu dessa ansiedade original e humilhante, para a segurança do humanismo de
Sócrates. Para os gregos, ser humano era, acima de tudo, ser o palco de uma
tremenda luta entre a mente e a carne, entre a psychê e a sarx que deveria ser
submetida ao domínio do espírito.
E os hebreus? Que disseram sobre isso? O conceito do ser humano entre os
hebreus é muito simples. Simples, porém majestosamente monumental, porque
tinham uma visão unitária da pessoa humana, quer dizer, não há divisão do homem
em corpo, alma e espírito. O ser humano é um todo; a visão hebréia do ser humano
é circular, sistêmica. O ser humano é cooperador de Deus num mundo que é de
Deus, razão porque não há separação entre o secular e o sagrado. E, realmente,
o sacerdote entre os hebreus era o homem de religião a quem se recorria, até,
em assuntos de saúde. Em Levítico, livro de regulamentos rituais, culturais,
civis e religiosos, encontramos : "Quando o homem tiver na pele da sua
carne inchação, ou pústula, ou mancha lustrosa, e esta se tornar na sua pele
como praga de lepra, então será levado a Arão, o sacerdote, ou a um dos seus
filhos, os sacerdotes"
(Lv 13.2 ) e daí em diante, vem toda uma prescrição sobre esse assunto.
Isso aconteceu há quase 4.000 anos.
Mas essas antropologias persistem hoje ainda nas mentes de homens e
mulheres da Medicina e da Teologia, e moldam a nossa vida, e nossa visão do ser
humano como paciente, ou aquele a quem ministramos na igreja.
UM TOQUE HUMANO
A Bíblia Sagrada apresenta um conceito de "ser pessoa" iluminado e
modificado pelo pensamento divino. Sem esse conceito, torna-se muito difícil
cultivar o caráter relacional do ser humano. Diz Gênesis 1.26, 27 que o ser
humano foi criado à imagem moral e semelhança espiritual do Ser Divino. E essa
é a diferença estabelecida entre os peixes do mar, as aves do céu, os répteis, e
os animais ditos inferiores. Por natureza, pertencemos a essa ordem, pois somos
marcados pelos mesmos elementos naturais: sais minerais, proteínas, ácidos,
elementos físicos e substâncias químicas, e, por isso, nos identificamos
substancialmente com esses animais que devemos subjugar (segundo a ordem do
Criador), e, mesmo, com o solo do qual, em sua linguagem metáforica e gráfica,
fomos retirados. Uma filigrana lingüística é que, em hebraico, "ser
humano", "humanidade" se diz adam; "barro, argila,
solo" é adamah (forma feminina de adam), jogo de palavras que seria como
se disséssemos "do humus foi o homem tirado".
Pois bem, esse ser humano feito à imagem de Deus (o apóstolo Paulo diz
que "poemas de Deus somos nós", Ef 2. 10), tem uma vocação que
determina o seu caráter, e uma posição diante do Criador: é administrador,
gerente, fiel depositário do patrimônio divino na Terra (Sl 24.1; Gn 1. 26, 28;
2.15). É sua vocação, é nossa vocação!
Esse ser humano, que a Escritura chama adam, foi criado macho e fêmea,
varão e varoa, homem e mulher com suas peculiaridades, e particularidades, e
idiossincrasias, e funções próprias, diferenças próprias, das quais dá conta e
busca resolver os problemas a própria Medicina em suas especialidades
Há diferenças na ordem natural entre o homem e a mulher: a sexualidade,
e é por isso que logo depois da Escritura Sagrada dizer que Deus criou o adam
(o ser humano, a humanidade), diz que essa humanidade foi criada de duas
maneiras: ish e ishah. E esse ish e essa ishah, esse homem e essa mulher são
atraídos um pelo outro pelo amor hormonal, visceral, biológico que os gregos
chamam de eros. Boa palavra para designar a atração sexual, e que só pode ser
de um homem por uma mulher, ou de uma mulher por um homem; nunca (e a Bíblia a
isso chama de "perversão") de um homem por um homem, de uma mulher
por outra mulher, de adulto por criança, ou de um ser humano por um animal.
Por outro lado, esses dois seres (ish e ishah) têm outra qualidade que é
a complementariedade. São diferentes em sexualidade, em funcionalidade, não em
competição, mas complementam-se o homem e a mulher, o ish e a ishah da história
bíblica para que, unindo-se os dois, forme-se o adam, e o ser humano físico,
emocional e espiritual seja restabelecido.
Apesar de diferentes, são iguais em ordem natural e destino
sobrenatural, têm idêntica vocação e idêntica satisfação: complementam-se tanto
que homem e mulher se procuram e aceitam-se como a parte que falta no outro.
O ser humano não é, como quer o pensamento materialista, apenas matéria em movimento. Ou como
disse Emerson, "um ser em ruínas", ou Jonathan Swift, autor das
Aventuras de Gulliver, "o homem é a espécie de verme mais perniciosa e
degradante que a natureza jamais permitiu que rastejasse na face da
terra", ou, ainda, Martin Heidegger, o filósofo alemão:
"um-ser-para-a-morte, cuja marcha final é o Nada, onde não se reconhece
Deus, onde não se reconhece descanso, nem salvação. Nada. Nada".
Rollo May salienta que as características do homem moderno são o senso
de vazio, tremendo vazio dentro de si; a solidão, imensa solidão tão escura
quanto a noite; e essa ansiedade que machuca, corrói as entranhas do coração. E
não é revelador que a Bíblia tem para cada uma destas características respostas
diretas? Diretas e eternas? Por exemplo: para o sentimento de vazio do ser
humano, encontramos nas Sagradas Letras esta palavra de São Paulo que diz
"Nele [ em Cristo] habita corporalmente toda a plenitude da divindade, e
tendes a vossa plenitude nele, que é a cabeça de todo principado e potestade"
(Cl 2.9,10; cf. Jo 1.16; Ef 3.17-19). Encontramos, ainda, na Escritura que, com
respeito ao problema tão sério da solidão, a Bíblia diz: "Deus faz que o
solitário viva em família" (Sl 68. 6a). E no que toca à ansiedade, quem
toma a palavra é São Pedro ao dizer "Humilhai-vos, pois, debaixo da
potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte; lançando sobre ele toda a
vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós" (1Pe 5. 6,7; cf. Sl 37.5;
55.22; Mt 6.25, 26).
O CUIDADO
Durante muito tempo, o cuidado de pessoas ansiosas e desesperadas era
considerado responsabilidade dos homens da religião. E, na verdade, uma
"abordagem clínica" em países do Primeiro Mundo inclui a presença de
um capelão preparado, não só em Psicologia Pastoral , mas, também, com estágio
supervisionado em hospitais, clínicas e casas de saúde. E a idéia básica é a
restauração do bem-estar físico pelo médico, e da plenitude do ser pela
reconstrução psicoterapêutica da personalidade. Isso quer dizer que médicos e
pastores são agentes da esperança. O pastor precisa ter uma visão clínica
daquele que sofre ou convalesce; mas o médico precisa ter uma visão pastoral do
seu paciente. Quantos problemas de ordem psicossomática em vez de um placebo,
poderiam ter recebido o cuidado pastoral, a atenção espiritual, o
aconselhamento, a confissão e o perdão! E é nessa linha que Tiago vai escrever:
"Está aflito alguém entre nós? Ore... Está doente algum do vós? Chame os
anciões [os pastores] da igreja, e estes orem sobre ele, ungindo-o com óleo [era
um tratamento, uma terapia da época] em nome do Senhor; e a oração da fé
salvará o doente, e o Senhor o levantará; e se houver cometido pecados,
ser-lhe-ão perdoados". E ele continua "Confessai, portanto os vossos
pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados" (Tg
5.13a, 14-16). Vejam se não há aqui todo um somatismo de problemas interiores,
mentais, emocionais, jogados para fora do corpo! Sem dúvida, como já foi dito,
a Medicina estava ligada ao sacerdócio:
" Quando um homem tiver na pele da sua carne inchação, ou pústula,
ou mancha lustrosa, e esta se tornar na sua pele como praga de lepra, então
será levado a Arão o sacerdote, ou a um de seus filhos, os sacerdotes, e o
sacerdote examinará a praga na pele da carne. Se o pelo na praga se tiver
tornado branco, e a praga parecer mais profunda que a pele, é praga de lepra; o
sacerdote, verificando isto, o declarará imundo. Mas, se a mancha lustrosa na
sua pele for branca, e não parecer mais profunda que a pele, e o pelo não se
tiver tornado branco, o sacerdote encerrará por sete dias aquele que tem a
praga. Ao sétimo dia o sacerdote o examinará; se a praga, na sua opinião, tiver
parado e não se tiver estendido na pele, o sacerdote o encerrará por outros
sete dias. Ao sétimo dia o sacerdote o examinará outra vez: se a praga tiver
escurecido, não se estendido na pele, o sacerdote o declarará limpo; é uma
pústula. O homem lavará as suas vestes, e será limpo" (Lv 13.2-6; cf. Lv
12.6,7)
. E até mesmo a genética era regulada pelos sacerdotes. Vejam que
curiosidade da Palavra de Deus, isso há quanto tempo antes de Cristo foi
escrito?!
"Nenhum de vós se chegará àquela que lhe é próxima por sangue, para
descobrir a sua nudez. Eu sou o Senhor. A nudez de tua irmã por parte de pai ou
por parte de mãe, quer nascida em casa ou fora de casa, não a descobrirás. Nem
tampouco descobrirás a nudez da filha de teu filho, ou da filha de tua filha;
porque é tua nudez. A nudez da filha da mulher de teu pai, gerada de teu pai, a
qual é tua irmã, não a descobrirás. Não descobrirás a nudez da irmã de teu pai;
ela é parenta chegada de teu pai. Não descobrirás a nudez da irmã de tua mãe,
pois ela é parenta chegada de tua mãe" (Lv 18.6, 9, 10-13).
"Descobrir a nudez" é um eufemismo semitico para designar
relações sexuais. Toda essa regulação visava a evitar problemas na geração de
filhos. Sim, e havia, até, normas especiais (numa era précientifica?!) Para
prevenção de doenças infecto-contagiosas conforme podemos ler no livro de
Números, capítulo 5. É impressionante que quase há 4.000 anos o hebreu no
deserto, na caminhada do Egito para Canaã, fosse instruído na Palavra de Deus a
fazer uma coisa que parece medicina sanitária dos dias de hoje?! "Entre os
teus utensílios terás uma pá [e aqui a explicação: todo hebreu, homem ou mulher
tinha que ter uma pequena pá consigo] e quando te assentares lá fora [fora do
acampamento num lugar reservado, cf. Dt 23.12], então com ela cavarás e,
virando-te, cobrirás o teu excremento" (Dt 23. 12, 13; cf. Nm 5.2, 3;
19.11, 16). Isso é medicina sanitária há 4.000 anos?!
O tema do sofrimento ou da enfermidade é sempre abordado com receio, com
escrúpulos ou com respeito. Mas são problemas tocados de perto seja por quem
lida com a enfermidade mental, ou com a espiritual. O homem é um todo: o corpo
influi no espírito, o espírito influi no corpo. Daí essas enfermidades
psicossomáticas a que nos referimos.
Mas a doença é uma revelação. Revelação de nossa finitude, de nossa
fragilidade, de nossa condição de ser vivo. É revelação de um mistério que abrigamos
dentro de nós: o mistério da dor. Há aliás, na Bíblia, todo um livro sobre a
dor física e existencial de um homem, que é o Livro de Jó. E é desse livro e
desse homem que tiramos estas expressões:
"Por que não morri ao nascer? Por que não expirei ao vir à luz? Por
que me receberam os joelhos? E por que os seios, para que eu mamasse? Pois
agora estaria deitado e quieto: teria dormido e estaria em repouso, ou, como
aborto oculto, eu não teria existido, como as crianças que nunca viram a luz.
Não tenho repouso, nem sossego, nem descanso; mas vem a perturbação" (Jó
3.11-13, 16, 26),
porque Jó estava falando dessa dor tão grande que sentia no seu corpo.
Há uma descrição da sua enfermidade que diz:
"Os meus parentes se afastam, e os meus conhecidos se esquecem de
mim. Os meus domésticos e as minhas servas me têm por estranho; vim a ser um
estrangeiro aos seus olhos. Chamo ao meu criado, e ele não me responde; tenho
que suplicar-lhe com a minha boca. O meu hálito é intolerável à minha mulher;
sou repugnante aos filhos de minha mãe. Até os pequeninos me desprezam; quando
me levanto, falam contra mim. Todos os meus amigos íntimos me abominan, e até
os que eu amava se tornaram contra mim. Os meus ossos se apegam à minha pele e
à minha carne, e só escapei com a pele dos meus dentes" (Jó 19.14-20).
Mas é, também, um livro sobre a fé, porque no final, depois de falar de
sofrimento, ele fala de fé, e diz: "Com os ouvidos eu ouvira falar de ti;
mas agora te vêem os meus olhos" (Jó 42.5). Essa é a razão porque, junto
ao que sofre, temos que pensar no Cristo crucificado, no Cristo do Calvário, no
Cristo de Quem foi dito setecentos anos antes que viesse ao mundo:
"Era desprezado, e rejeitado dos homens; homem de dores, e
experimentado nos sofrimentos; e como um de quem os homens escondiam o rosto,
era desprezado, e não fizemos dele caso algum. Verdadeiramente ele tomou sobre
si as nossas enfermidades, e carregou com as nossas dores; e nós o reputávamos
por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas
transgressões, e esmagado por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos
traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados" (Is
53.3-5).
SHALOM = SAÚDE TOTAL
O problema é olhar o paciente, e vê-lo só como um corpo doente, um corpo
sofrido, e não lembrar o seu espírito talvez mais doente que o seu corpo. É
evidente que o paciente não é um eletrodoméstico que vai à oficina de reparos,
não é um objeto. É uma pessoa que, atingida por uma disfunção do corpo ou da
mente, muda seu comportamento, e, até mesmo, sua vida de si própria, de seu
presente ou de seu futuro. Ele se desequilibra, ele se atormenta, tem sérias
crises de comunicação consigo próprio, com o mundo que o cerca, porque ele não
tem liberdade, está fora do lar. Tem conflitos de comunicação com a família,
com as práticas religiosas, com Deus, até.
Na verdade, o que buscamos para o enfermo, para o hospitalizado, é
aquilo que os profetas do povo de Israel apregoavam: o shalom, a paz integral,
a integridade, a inteireza, a plenitude, a restauração, o bem-estar total.
Platão, nos seus Diálogos deixou claro:
"Assim como você não deveria tentar curar... a cabeça sem o corpo,
da mesma forma não deveria tentar curar o corpo sem curar a alma... porque uma
parte nunca pode estar bem a menos que o todo esteja bem... Por isso, se quiser
que a cabeça e o corpo estejam bem, você deve começar cuidando a alma."
E nessa linha, Carl Jung, Erich Fromm, Viktor Frankl, Rollo May, e
outros tantos sustentam que problemas religiosos devem ser vistos como sintomas
de problemas psicológicos mais profundos. Há problemas psicológicos enraizados
na patologia espiritual. O Pastor Dr. Wayne Oates, professor de Psicologia
Pastoral no Seminário Batista de Louisville, nos EUA, escreveu, entre as mais
de quarenta obras que assinou, uma muito interessante intitulada, Quando a
Religião Fica Doente (When Religions Gets Sick), onde aborda essas
manifestações patológicas, enfermiças de expressão religiosa. Talvez possamos,
até, em certos casos parodiar e dizer "Quando o Doente Fica
Religioso", tão doente que agora se apega aos céus, produto dessa
ansiedade incontida, e maior que o espírito, o coração e a fé de quem a
manifesta. Mas a única maneira construtiva de lidar com essa ansiedade existencial
é uma vida religiosa autêntica que torne possível a imagem de Deus dentro da
pessoa.
O renovado interesse pela saúde e cura totais por parte das igrejas
evangélicas tem raízes na herança bíblica. Porque Jesus é chamado "O
Grande Médico", porque Jesus é chamado "Médico dos médicos"
desde os primeiros dias da era cristã. E o pastor é um profissional da escuta,
é o profissional do ouvido-amigo, o conselheiro. Por essa razão, temos que ver
alguns princípios para a saúde total, a saúde do corpo e do espírito:
Saúde é mais que a ausência de doença: é a presença de "bem-estar
de alto nível". É o shalom bíblico, a integridade da pessoa humana. E
bem-estar de alto nível é inteireza, é plenitude em várias dimensões que são
interdependentes da pessoa: a dimensão física, a dimensão psicológica, a
dimensão interpessoal, a dimensão ambiental, a dimensão institucional e a
dimensão espiritual. "Deus criou o corpo humano com capacidade para se
recuperar de uma doença: é um processo lento, natural, que obedece ao plano de
Deus". Deus está nesse processo efetuando a cura: pastores não fazem
milagres. Mas Deus em sua soberania faz milagres através da força total
interior de cada indivíduo, força física e não-física. Enquanto o médico
examina, diagnostica, e prescreve o tratamento, o pastor tem a responsabilidade
de liberar essas energias para ajudar o paciente a se recuperar. O médico
facilita a recuperação dando ajuda ao corpo do paciente, mas o pastor a
facilita ajudando esse paciente a dispor dos poderes do espírito. Daí a energia
total no processo da recuperação.
A PALAVRA QUE SARA
Não é fácil, não pode ser fácil estar enfermo, porque isso significa grandes
perdas. O paciente perde espaço: seu mundo se reduz a um quarto; sua mobilidade
é exígua, ao máximo vai ao corredor, e quantas vezes com toda uma parafernália
de tubos e drenos. Ele perde o controle sobre os que invadem seu espaço. Perde
o controle do tempo. Perde o controle do próprio corpo. Perde o contato com
outras pessoas, e tem, por essa razão, crises de solidão, crises de isolamento,
e de desamparo. E esse é o motivo porque as igrejas buscam ministrar, servir,
atender espiritualmente a esses solitários, isolados e desamparados. É o que o
Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC) chama de "Vocação
Terapêutica da Igreja." Ministrar e servir ao enfermo, e à família do
enfermo, e dizer-lhe que "Deus é o nosso refúgio e fortaleza, e socorro
bem presente na angústia; aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus" (Sl 46.
10a) e também "O Senhor o sustentará no leito da enfermidade; tu lhe
amaciarás a cama na sua doença" ( Sl 41.3; cf. Sl 3.5; 4.8).
O Dr. Flamínio Fávero, professor emérito da Faculdade de medicina da
USP, e evangélico, em seu trabalho Humanização da Medicina, publicado na obra
coletiva A Palavra que Sara que dá o título a este trabalho, lembra que a
Medicina visa ao homem, lembra que o médico é objeto de amor e de ódio, e cita
uma trova vinda da Escola Médica de Salerno, na Itália:
"Tem três faces o médico.
É julgado anjo, demo ou suprema divindade!
Anjo, se acode, logo que é chamado
E forte, enfrenta a dura enfermidade!
Se o doente melhora, tão amado
Não é o próprio Deus na Eternidade!
Mas, quando a conta manda do trabalho,
Nem mesmo Satanás é tão bandalho."
E ensina que "a verdadeira medicina não tem pátria, não tem inimigos, não
tem prevenções raciais, religiosas e outras que sejam, porque ela deve ser,
como o evangelho, manifestação e reflexo da sua fonte de origem: Deus.
Sim; há algo no ser humano que a biologia e a química não podem
explicar. Talvez, por isso, São Paulo diz que "somos poemas de Deus"
, e Davi exclama, "pouco abaixo de Deus fizeste [o ser humano], de glória
e de honra o coroaste" . Tem, no entanto, o ser humano a tendência de
viver em níveis baixos e degradados. Mas algo traz à sua mente que não foi criado
para o lixo, mas para as estrelas, para os céus, para o infinito. E daí
caminhamos para a Suprema Terapia, a Grande Cura que é a ressurreição final dos
corpos, a Gloriosa Restauração dos corpos, sem que haja mais sofrimento, pavor
ou gemido, ou, na linguagem da Bíblia: "Ele enxugará de seus olhos toda
lágrima; e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem lamento, nem dor;
porque já as primeiras coisas são passadas" (Ap 21.4).
INTERCESSÕES
Huub Oosterhuis
Por todos os que são crucificados,
Como teu Filho
Por todos os homens abandonados,
Nós te rogamos.
Por todos os que não podem mais
Suportar a situação em que se acham,
Por todos os que vivem no sofrimento,
Não percebendo o seu sentido, nem seu fim,
Nós te rogamos, Senhor.
Por todos os que se revoltam,
Que não sabem mais irradiar, nem agir.
Por todos os implacáveis e rancorosos,
Os arrogantes e os cínicos;
Torna-os, Senhor, mais indulgentes,
Abre de novo seus olhos
Para a bondade possível entre os homens,
Para que vejam tua criação
E o futuro que lhes reservas.
Por todos os que são acusados,
Que vivem oprimidos pela perseguição e calúnia.
Por todos os que, por sua dureza
Para com os outros,
Perderam a confiança em si mesmos.
Por todos os que não encontram compreensão,
Nem uma palavra sequer de lenitivo,
Que não encontram alguém que os queira aceitar.
Por todos os que são inibidos ou ansiosos,
Por todos os angustiados e tensos,
Por todos os que são vítimas
De chantagem ou corrupção,
Por todos os que são obrigados
A viver na injustiça,
Presos nas engrenagens de um sistema inumano,
Sem dele poderem sair,
Nós te rogamos, Senhor.
Por todos os que mergulham no desânimo,
Vendo o mal espalhado no mundo.
Por todos os otimistas,
Por todos os corajosos
E por todos que sabem ser amigos,
Para que permaneçam firmes na hora da provação
E que seu apoio nunca nos falte.
Oremos por todos aqueles
Que não tem beleza nem encanto,
Atraindo os olhares.
Por todos os que não são semelhantes aos outros,
Os mongolóides e excepcionais,
Os instáveis e mutilados,
Os doentes incuráveis.
Pedimos, Senhor, que nos ajude a descobrir
O sentido da sua presença neste mundo.
AUTOR DESCONHECIDO
(Não nos responsabilizamos pelo conteúdo teológico deste material)
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