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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

REFLEXÃO 60 - A DESCRIÇÃO DO SOFRIMENTO DE JESUS

A DESCRIÇÃO DO SOFRIMENTO DE JESUS

A descrição abaixo foram pronunciadas pelo Dr. Robert Stein, médico que estudou sobre a forma como os romanos lidavam com seus prisioneiros.



A tortura anterior à cruz

Para começar, eu queria de Metherell uma descrição básica dos eventos que levaram à morte de Jesus. Por isso, depois de um pouco de conversa social, pus de lado meu chá gelado e ajeitei a cadeira para poder olhá-lo de frente.
— O senhor poderia traçar um quadro do que aconteceu com Jesus? — pedi.
Ele limpou a garganta.
— Tudo começou logo depois da última ceia — ele disse. — Jesus foi com seus discípulos para o monte das Oliveiras, especificamente ao jardim de Getsêmani. Ali, você deve lembrar, ele orou a noite inteira. Nesse processo, ele estava antevendo os eventos que ocorreriam no dia seguinte. Como sabia quanto sofrimento teria de suportar, foi bastante natural que experimentasse muito estresse psicológico.
Levantei a mão para interrompê-lo.
— Espere. É aí que os céticos têm espaço aberto hoje em dia. Os evangelhos nos contam que ele começou a suar sangue durante esse tempo. Diga-me, isso não é um mero produto da imaginação frutífera de alguém? Isso não põe em xeque a exatidão dos escritores dos evangelhos?
Imperturbável, Metherell balançou a cabeça.
— De jeito nenhum — replicou. — Essa é uma condição médica conhecida, chamada hematidrose. Não é comum, mas está ligada ao alto grau de estresse psicológico. O que acontece é que a ansiedade extrema ocasiona a liberação de produtos químicos que rompem os vasos capilares nas glândulas sudoríparas. Em conseqüência, essas glândulas sangram um pouco, e o suor brota misturado com sangue. Não estamos falando de muito sangue, só uma quantidade bem pequena.
Já um tanto satisfeito, ampliei a pergunta.
— Isso tem algum outro efeito sobre o corpo?
— O efeito disso é que a pele fica muito frágil, de modo que, quando Jesus foi açoitado pelo soldado romano no dia seguinte, sua pele devia estar muito, muito sensível.
Muito bem, pensei, lá vamos nós. Preparei-me para as imagens assustadoras que eu sabia que surgiriam na minha mente. Eu tinha visto muitos corpos de pessoas mortas como jornalista: vítimas de acidentes de trânsito, de crimes, de tiroteios entre gangues. Contudo, é especialmente horrível ouvir sobre alguém que foi intencionalmente brutalizado por executores decididos a causar o máximo de sofrimento.
— Diga-me — retomei a conversa —, como foi esse açoitamento?
Metherell não tirou os olhos de mim enquanto falava.
— Os açoitamentos romanos eram famosos por serem terrivelmente brutais. O comum é que consistissem em 39 chicotadas, mas com freqüência esse número era ultrapassado, dependendo do humor do soldado que as aplicava. O soldado usava um chicote de tiras de couro trançadas, com bolinhas de metal amarradas. Quando o açoite atingia a carne, essas bolinhas causavam hematomas ou contusões profundas, que se abriam nas chicotadas seguintes. Havia também, presos ao açoite, pedaços afiados de ossos, que cortavam a carne profundamente. As costas ficavam tão maltratadas que às vezes os cortes profundos chegavam a deixar a espinha exposta. As chicotadas cobriam toda a extensão do dorso, desde a nuca até o traseiro e as pernas. Era terrível.
Metherell fez uma pausa.

— Continue — eu o incentivei.
— Um médico que estudou os castigos infligidos pelos romanos disse: "À medida que o açoitamento continuava, as lacerações atingiam os músculos inferiores que seguram o esqueleto, deixando penduradas tiras de carne ensangüentada". Um historiador do século m de nome Eusébio descreveu um açoitamento nestes termos: 'As veias do sofredor ficavam abertas, e os músculos, tendões e órgãos internos da vítima ficavam expostos". Sabemos que algumas pessoas morriam desse tipo de suplício antes de chegar a ser crucificadas. No mínimo, a vítima sofria dores terríveis e entrava em choque hipovolêmico.
Metherell usara um termo médico que eu não conhecia.
— O que quer dizer choque hipovolêmico? — perguntei.
— Hipo significa "baixo", vol refere-se a "volume" e êmico significa "sangue"; portanto, choque hipovolêmico quer dizer que a pessoa está sofrendo os efeitos de perder grande quantidade de sangue — explicou o médico. — Isso ocasiona quatro coisas. Em primeiro lugar, o coração se esforça para bombear mais sangue, mas não tem de onde; em segundo lugar, a pressão sangüínea cai, causando desmaio ou colapso; em terceiro lugar, os rins param de produzir urina, para conservar o volume que sobrou; e em quarto lugar a pessoa fica com muita sede, pois o corpo pede por líquidos para repor o sangue que perdeu.
— O senhor vê evidências nos evangelhos de que isso ocorreu?
— Sim, certamente — ele respondeu. — Jesus estava em choque hipovolêmico quando se arrastou pela rua que subia para o lugar de execução no Calvário, carregando a viga horizontal da cruz. Ele acabou caindo, e o soldado romano ordenou a Simão que carregasse a cruz. Mais tarde lemos que Jesus disse: "Tenho sede", e uma esponja com vinagre foi estendida a ele. Por causa dos efeitos terríveis do açoitamento, não há dúvida de que Jesus já se encontrava em condição crítica mesmo antes de os pregos atravessarem suas mãos e pés.


A agonia da cruz
Por mais desagradável que fosse a descrição do açoitamento, eu sabia que um testemunho ainda mais repugnante estava por vir. Os historiadores são unânimes em dizer que Jesus sobreviveu à flagelação daquele dia e foi até a cruz — onde o processo era fatal.
Em nossos dias, quando criminosos são imobilizados e executados com injeções de veneno, ou por meio de choque elétrico, ou com um tiro na nuca, as circunstâncias estão todas sob controle. A morte vem de modo rápido e previsível. Médicos acompanham e certificam cuidadosamente a morte da vítima. Bem próximas, testemunhas avaliam tudo do começo ao fim.
No entanto, que certeza se tinha da morte por essa forma cruel, lenta e bastante inexata de execução chamada crucificação? Na verdade, a maioria das pessoas não sabe como a cruz mata suas vítimas. E sem um médico preparado para atestar oficialmente que Jesus morrera, poderia ele ter passado pela experiência, brutalizado e ensangüentado, mas ainda vivo?
Comecei a desembrulhar esses assuntos.
— O que aconteceu quando Jesus chegou no lugar da crucificação? — perguntei.
— Ele deve ter sido deitado de costas, para que suas mãos pudessem ser pregadas em posição estendida na viga horizontal. Essa viga era chamada patibulum, até então separada da viga vertical, que estava fixada no chão de modo permanente.
Eu tinha dificuldades para visualizar isso; precisava de mais detalhes.
— Pregado com quê? — perguntei. — Pregado onde?
— Os romanos usavam pregos grandes, com cerca de 15 centímetros, bem afiados. Com eles, atravessavam os pulsos — Metherell disse, indicando uns dois dedos abaixo do seu pulso.
— Espere aí — interrompi. — Eu pensava que os pregos haviam furado suas mãos. Isso é o que mostram todas as pinturas. Na verdade, essa se tornou uma maneira padrão de representar a crucificação.
— Não, eles atravessavam os pulsos — Metherell repetiu. Essa era uma posição firme que prendia a mão. Se os pregos furassem apenas a palma da mão, o peso do corpo a rasgaria e ele teria caído da cruz. Por isso perfuravam os pulsos, que eram considerados parte da mão, na linguagem da época. E é importante entender que o prego atravessava o lugar por onde passa o nervo central. Esse é o maior nervo que vai até a mão, e era esmagado pelo prego.
Como eu só tenho um conhecimento rudimentar da anatomia humana, não tinha certeza se havia entendido.
— Que tipo de dor isso teria causado?
— Deixe-me dizê-lo da seguinte maneira. Você conhece o tipo de dor que sente quando bate o cotovelo e leva um "choque"? Na verdade, você acertou um nervo, chamado ulna. A dor é muito grande quando você o acerta em cheio. Bem, imagine este nervo sendo apertado e esmagado por um alicate — ele disse, enfatizando a palavra apertado enquanto girava na mão um alicate imaginário. — A sensação seria semelhante à que Jesus experimentou.
Estremeci diante da idéia e me encolhi na cadeira.
— A dor era totalmente insuportável — Metherell continuou. — Na verdade, ela está além da descrição por palavras. Foi necessário inventar uma nova palavra: dor excruciante. Essa palavra significa literalmente "da cruz". Veja só: foi necessário criar uma nova palavra, porque não havia nenhuma na língua que pudesse descrever a angústia terrível provocada pela crucificação. Depois de ter as mãos pregadas na viga transversal, Jesus foi erguido para que esta pudesse ser colocada sobre a viga vertical, e seus pés foram pregados nesta. Também os nervos dos pés foram esmagados, e a dor era semelhante à das mãos.
Nervos esmagados e cortados certamente causavam dor suficiente, mas eu precisava saber que efeito o fato de estar pendurado teria sobre Jesus.
— O que essa posição causa ao corpo? Metherell respondeu:
— Em primeiro lugar, os braços ficam imediatamente esticados, os ombros saem do lugar, as juntas se distendem 15 centímetros. Dá para calcular isso com equações matemáticas simples.
— Isso cumpriu a profecia do Antigo Testamento, Salmos no salmo 22, que predisse a crucificação de Jesus séculos antes de ela ocorrer: "Todos os meus ossos estão desconjuntados".


A causa da morte
Metherell conseguira mostrar — quase visivelmente — o grande sofrimento suportado até o início do processo de crucificação. Mas eu precisava saber o que tira a vida de uma vítima desse modo de execução, porque essa é a questão crucial para determinar se uma morte pode ser encenada ou falsificada. Por isso coloquei a questão da causa da morte de modo direto para Metherell.
— Uma vez que a pessoa está pendurada em posição vertical — esclareceu ele —, a crucificação é, em essência, uma lenta agonia até a morte por asfixia. A razão para isso é que a tensão dos músculos e do diafragma deixa o peito na posição de inalar. Para exalar, a pessoa tem de firmar-se sobre os pés, para aliviar por um pouco a tensão dos músculos. Ao fazer isso, o prego rasga o pé, até se prender contra os ossos do tarso. Depois de conseguir exalar, a pessoa pode relaxar e inalar novamente. Depois tem de empurrar-se novamente para cima, para exalar, esfregando suas costas esfoladas contra a madeira áspera da cruz. Isso se repete até que a exaustão total toma conta, e a pessoa não consegue mais se erguer para respirar. Ao diminuir a respiração, ela entra no que é chamado acidose respiratória: o dióxido de carbono no sangue é dissolvido em ácido carbônico, fazendo a acidez do sangue aumentar. Isso faz o coração bater de modo irregular. Quando seu coração começou a bater irregularmente, Jesus deve ter entendido que estava chegando a hora da morte, e disse: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". Depois morreu de ataque cardíaco.
Essa foi a explanação mais clara que eu já ouvira da morte por crucificação; Metherell, porém, ainda não tinha terminado.
— Um pouco antes de morrer, e isso também é importante, o choque hipovolêmico deve ter feito o coração bater rapidamente por algum tempo, o que teria contribuído para fazê-lo falhar, resultando no acúmulo de líquido na membrana em torno do coração, chamado efusão pericardial, bem como em torno dos pulmões, chamado efusão pleural.
— Por que isso é importante? — eu quis saber.
— Por causa do que aconteceu quando o soldado romano se aproximou e, tendo quase certeza de que Jesus estava morto, confirmou a morte enfiando uma lança em seu lado. Provavelmente foi o lado direito; não temos certeza, mas pela descrição deve ter sido, entre as costelas. Ao que parece, a lança atravessou o pulmão direito e o coração, e, quando foi tirada, saiu um líquido — a efusão que mencionei. Esse líquido tem aparência transparente, como água, e é seguido de um grande volume de sangue, como João, testemunha ocular, descreveu em seu evangelho.
João provavelmente não fazia nenhuma idéia da razão por que vira sangue e esse líquido transparente fluir. Certamente não era o que uma pessoa sem formação como ele poderia esperar. Mas sua descrição é coerente com o que a medicina moderna esperaria que acontecesse. A princípio, isso parecia dar credibilidade a João como testemunha ocular; todavia, podia haver uma grande fraude em tudo isso.
Abri minha Bíblia e virei as páginas até achar João 19.34.
— Espere um minuto, doutor — protestei. — Lendo com atenção o que João disse, vemos que ele viu sair "sangue e água": ele pôs as palavras intencionalmente nessa ordem. Porém, segundo o que o senhor disse, o líquido transparente teria saído primeiro. Portanto, temos uma discrepância importante aqui.
Metherell sorriu levemente.
— Não sou um estudioso do grego — ele respondeu —, porém, de acordo com pessoas que são, a ordem das palavras no grego antigo não era determinada necessariamente pela seqüência dos fatos, mas por sua importância. Isso quer dizer que, como houve bem mais sangue do que água, para João faria sentido mencionar o sangue primeiro.
Tive de concordar, mas anotei mentalmente o lembrete de verificar isso mais tarde.
— A essa altura, qual deveria ser a condição de Jesus?
O olhar de Metherell cruzou com o meu. Ele respondeu com firmeza e autoridade:
Não havia absolutamente dúvida de que Jesus estava morto.

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