A ciência tem que conhecer seus limites
“O temor do Senhor é o princípio do saber...” (Provérbios 1:7).
Esta era moderna tem sido grandemente modelada por uma visão científica do
mundo. A ciência é o método primário através do qual o conhecimento é
descoberto. Os fatos são validados e aceitos por meio de métodos científicos.
Aquilo que não pode ser verificado através da ciência é considerado “não
científico” e, assim, não pode ser adequadamente visto como real. É assim que
os modernistas vêem a realidade. A ciência é o determinador final da verdade. É
o único modo objetivo através do qual podemos aprender qualquer coisa sobre o
mundo. Este é o modo como alguns vêem a ciência, mas é esta uma visão correta?
Deveria a ciência ser tão altamente considerada? E o que isto diz sobre Deus e
religião? Precisamos entender o que a ciência é, quais são seus limites, como
nosso entendimento dela afeta a discussão sobre a evolução, e como a Bíblia se
ajusta com este assunto.
O
que é a ciência?
Eu não sou um cientista. Na mente de
algumas pessoas, isto deveria desqualificar-me para falar sobre o assunto. O
que alguns deixam de perceber, contudo, é que a ciência em si é baseada em
idéias filosóficas. Os primeiros “cientistas” eram mais filósofos do que
qualquer outra coisa. Eu posso não ser qualificado para falar sobre todas as
minúcias da disciplina científica, mas posso discutir as filosofias que a
fundamentam. É disto que estamos tratando. A ciência natural é descrita como
“conhecimento sistematizado derivado da observação, estudo e experimentação
efetuados de modo a determinar a natureza ou os princípios do que está sendo
estudado”. Ela envolve o uso dos cinco sentidos — tato, paladar, olfato,
audição e visão — para ajudar pessoas a aprenderem sobre o mundo. Os
componentes-chaves da ciência são a experiência e a observação. Isto requer que
a coisa que está sendo estudada possa ser experimentada e observada, e que os
experimentos possam ser repetidos num ambiente controlado. Se alguma coisa não
pode ser experimentada, observada e experimentada novamente, então não pode ser
provada pelo método científico típico. A ciência precisa ser capaz de
experimentar aquilo que é refutável. Isto significa que é possível que a
hipótese seja comprovada como falsa através do processo experimental. O método
científico envolve observações, depois hipóteses, que são respostas possíveis
sobre porque algo acontece da maneira que o faz. Através da experiência e da
observação, as respostas possíveis a um dado problema são eliminadas
(refutadas). Depois de um período de tempo, a hipótese que resiste à
experiência pode se tornar uma “teoria” (um termo que, em ciência, denota um
sentido mais forte da verdade do que uma opinião). O ponto principal é que a
ciência lida com o domínio natural daquilo que pode ser experimentado e
observado com os cinco sentidos.
Limites
da ciência
Pela sua própria natureza, a ciência é
limitada. Ela não pode experimentar tudo o que cai dentro do domínio do que é
verdadeiro; ela não é o determinador final da verdade. Por exemplo, eventos
históricos inimitáveis não podem ser experimentados e observados. Condições
similares podem ser observadas pela ciência, mas os eventos reais não podem. A
vida de Abraham Lincoln não pode ser observada pela ciência, mas nenhuma pessoa
sã questiona ser ele histórico ou que foi presidente dos Estados Unidos durante
a Guerra Civil. Estas coisas são verdadeiras, ainda que estejam fora do domínio
da ciência natural. A ciência só pode experimentar e observar evidência que
existe no presente. Fósseis, por exemplo, dão à humanidade um registro de
coisas mortas, mas existem somente agora. Eles não são escavados com manuais
explicando quão velhos são, o que estavam fazendo quando morreram ou como
morreram. A reconstrução da história de um fóssil não é capaz de ser
experimentada e observada. Está aberta a investigação histórica, mas não se
pode observar o passado. Assim, um fóssil não pode, em si mesmo e por si mesmo,
dar-nos um quadro completo da história. A ciência é ainda mais limitada pelo
fato que não está equipada para lidar com a moralidade. Em outras palavras, o
próprio método científico não é capaz de fazer julgamentos de valor. Os
resultados do estudo científico podem ter um efeito sobre como as pessoas fazem
julgamentos de valor, mas no final são as pessoas, e não os métodos, que
atestam valores e moralidade. A moralidade não começa nem termina com a
ciência. Antes, os cristãos crêem que a moralidade, como o conhecimento, começa
e termina com Deus (veja Levítico 11:44-45; 1 Pedro 1:13-16). É importante
lembrar isto quando se pensa sobre assuntos como o aborto. Como foi observado,
a ciência é limitada porque não pode lidar com o que é inimitável. Ela só pode
lidar com coisas que são universais, confiáveis e passíveis de repetição.
Eventos de uma só vez não podem ser experimentados. O inimitável cai fora da
ciência natural. Nada disto é escrito para criticar a verdadeira ciência. Foi
Deus quem criou o mundo natural e o sustém, e é por causa da confiabilidade da
natureza que se pode estudar ciência (veja Salmo 19:1). A gravidade, por
exemplo, é algo com que podemos sempre contar para trabalhar. É confiável. Isto
é o que faz o estudo da ciência possível. Mas a ciência não é o padrão final de
tudo o que é verdadeiro e certo. Ela é muito limitada para isso.
Pressuposições
da ciência
O método científico tem certas
pressuposições que o apóiam (Moreland 198). Em outras palavras, ele pressupõe
que certas coisas são verdadeiras antes mesmo que ele possa ser uma disciplina
válida. Por exemplo, antes que o experimento científico possa ocorrer,
precisa-se supor que os cinco sentidos dão, de modo confiável, informação
adequada sobre o mundo. De outro modo, como se pode confiar nos descobrimentos
dos experimentos? Ele tem que aceitar que a mente é racional, capaz de
conhecimento e lógica. Tem que aceitar que a lógica é verdadeira, que a verdade
existe, que números e linguagem têm significado verdadeiro, e que há certos
valores morais universais (como a necessidade de relatar a verdade). Mas
nenhuma dessas pressuposições pode ser provada pelo método científico. Tentar
provar qualquer dessas pressuposições pela ciência seria incorrer em petição de
princípio (i. e. aceitar o que precisa ser provado em primeiro lugar). Estas
questões são realmente mais filosóficas por natureza, mas são necessárias para
o uso adequado da ciência. Esta é a razão por que dizemos que a ciência é
edificada sobre a filosofia. Ela precisa primeiro aceitar estas pressuposições.
Os cristãos crêem que Deus é a chave para estas pressuposições. Deus criou a
humanidade com mentes capazes de aprender e conhecer (Gênesis 1:26-27). Ele nos
fez criaturas racionais e nos deu padrões morais pelos quais vivermos (1 Pedro
1:16). Ele criou o mundo e governa o funcionamento natural do universo (Gênesis
1; Hebreus 1:3; Colossenses 1:17). “Pois toda casa é estabelecida por
alguém, mas aquele que estabeleceu todas as coisas é Deus” (Hebreus
3:4). Por trás de tudo, e antes que a ciência tenha qualquer validade, há Deus.
A
ciência e a evolução
Diz-se que a evolução é uma teoria
científica. Por causa do seu apego à ciência, muitos têm aceito que a evolução
seja um fato científico, como se fosse uma das “leis” descobertas por
cientistas objetivos. Isto é um engano. A macro-evolução está longe de ser um
fato estabelecido. De fato, é apenas má ciência, para não mencionar má
filosofia. A macro-evolução é uma história, uma crença sobre o que aconteceu no
passado. Não é um fato científico. É uma crença, uma filosofia na qual as
pessoas acreditam. Dados os princípios envolvidos no método científico, pode se
ficar céptico quanto a qualquer teoria que não pode ser observada
proclamando-se ser científica. O método científico simplesmente não está
equipado para lidar com as questões de origens. Desde que não podemos observar
e experimentar o começo do universo, da terra ou da vida na terra, então não
podemos declarar que nossas crenças sobre estas coisas sejam fatos científicos.
Isto é tão verdadeiro quanto a teoria evolucionista como quanto a criação.
Estes assuntos estão ligados a eventos históricos inigualáveis que não podem
ser repetidos por nossas observações. Nem a teoria naturalista do “big bang”,
nem a declaração bíblica de Gênesis 1 podem ser refutadas. Conquanto os
princípios científicos possam ser usados para estudar a natureza deste
universo, o que, por sua vez, pode se chocar com nosso entendimento da criação,
o próprio e inigualável evento da criação em si mesmo é um assunto histórico
que não pode ser repetido em condições controladas. Nosso conceito final de
origens é entendido melhor desde a perspectiva daquele que estava lá (Gênesis
1:1). É aqui que os cristãos começam. Suponha, contudo, que um cientista
pudesse “criar” vida num laboratório. Isto provaria que a vida gerou-se
espontaneamente milhões de anos atrás? Não. Apenas mostraria somente que tal
coisa poderia ser feita hoje (sob condições humanamente controladas, com
experimentação inteligente, etc.). Não provaria nada do que realmente ocorreu
no passado. Quando um cientista experimenta com mariposas e moscas das frutas e
observa mudanças que ocorrem dentro das espécies, isto prova que a
macro-evolução ocorreu no passado? Não. Prova somente que mudanças podem
ocorrer dentro de espécies. Não prova nada sobre espécies mudando para outras
espécies. Mas este é o tipo de evidência que os evolucionistas usam para provar
suas idéias. Tal evidência, contudo, simplesmente não prova o que eles querem
provar. O ponto é simplesmente este. A ciência, por si só, não favorece a
teoria da macro-evolução. É o povo que faz girar a evidência e põe sua própria
visão ou fé numa história que imaginou. Não é questão de fé versus ciência, mas
de fé versus fé. A tendência da pessoa tem algo a ver com como ela interpreta a
evidência.
A
ciência e a Bíblia
Algumas pessoas reivindicam que a
Bíblia tem “má ciência” em suas páginas. Contudo, estudar a Bíblia em seu
contexto mostra que esta reivindicação não tem base. A Bíblia não é um
livro de estudos científicos. Ela não pretende fornecer informação científica
para satisfação daqueles que viveriam séculos mais tarde. A linguagem da Bíblia
não é científica por natureza. Antes, é a linguagem de pessoas comuns em dadas
culturas. Ela descreve as coisas de modos não técnicos. É escrita através de
olhos comuns, com a linguagem comum da observação de cada dia. É por isto que a
Bíblia pode usar frases como “os quatro cantos da terra” sem pretender passar a
noção de que aqueles que a escreveram acreditavam que a terra fosse plana
(Isaías 11:12; Apocalipse 7:1; 20:8). Ela pode falar do sol ficar parado sem
transmitir o conceito que os escritores pensassem que o sol girava em torno da
terra (Josué 10:12). Seria bem como as frases de hoje, quando se fala do
“levantar do sol” ou do “por do sol”. O tecnicismo científico diz que estas
frases são incorretas, mas estamos usando figuras de linguagem para descrever
nossas observações a partir da terra. Não estamos fazendo afirmações
científicas quando usamos tais frases, nem estamos usando má ciência. Temos que
permitir aos escritores da Bíblia a mesma liberdade para usar figuras de
linguagem para expressarem-se sob a guia de Deus.
Resumo
Aciência é uma disciplina válida por
causa do modo como Deus criou os céus e a terra (Gênesis 1:1). Pensar, contudo,
que a ciência é o “ser tudo e terminar tudo” da verdade é depositar demasiada
confiança nos métodos e conclusões desenvolvidos e relatados por humanos
falíveis. A ciência tem seus limites, e é bom lembrar disto quando se estuda
sobre Deus, criação e evolução. A demonstração “científica” de Deus não é
impossibilitada pela falta de realidade, mas pelos limites da ciência. Deus não
é um ser material que possa ser controlado e experimentado. Ainda assim,
estudos científicos são compatíveis com a verdade que “Deus existe”. Nunca se
pretendeu que a Bíblia fosse um livro sobre ciência. Está escrita na linguagem
comum de sua época, sem o jargão técnico e científico do mundo moderno.
Portanto, não se deverá pensar que a Bíblia seja oposta à ciência. Não é a
ciência em si que a Bíblia contradiz; antes, são as falsas teorias do povo que
contradizem a Bíblia. A Bíblia em si ajusta-se bem com a disciplina científica,
porque ela responde pelo que torna o estudo da ciência possível, em primeiro
lugar. Podemos confiar na Bíblia.
por Doy Moyer
Obra citada: Moreland, J. P. Scaling
The Secular City, Grand Rapids, MI: Baker Books, 1987.
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