A
cobiça do Poder.
Ricardo Gondim
Existe uma categoria existencial que afeta todos, Deus, anjos e
humanos: o poder. Poder é quase que uma entidade autônoma do universo – não se
preocupe, ainda não sucumbi ao dualismo.
Aqueles que experimentaram poder, sabem de sua capacidade de agarrar-se a
nós como os vermes que roem os corpos dos pássaros, e não os largam nem depois
de mortos.
O poder controla os atos de qualquer um, sem deixar que se
perceba como seus fios fazem as pessoas dançarem como marionetes, no palco
do absurdo. A conquista do poder embriaga o vassalo e o rei, a cortesã e o
cardeal, o general e o catador de lixo. Como regulador das relações
humanas, poder encanta como uma serpente faminta.
O poder promete dar opção, controle sobre as decisões. Ele diz
que os fortes fazem sua vontade prevalecer. Os poderosos acreditam viver sem
temores, eles acham que não caminharão pela vida como o cervo que passeia
pela relva, sempre amedrontado com o vento que traz o cheiro do tigre que lhe
espreita.
Com o poder vem a promessa de autonomia. O mais capaz não teria
carências, mas desdenha dos que vivem das migalhas que sobram de sua mesa. Ele
sente que domina, e não conhece timidez; ninguém tem direitos sobre sua vida,
já que não deixa que lhe coloquem cabrestos.
Em todo universo apenas um tem todo poder: Deus. Os anjos e suas
hostes, os humanos e seus descendentes imaginam como seria fantástico se um dia
pudessem se tornar deuses, onipotentes.
Essa é marcha dos vivos. Todos querem, de qualquer maneira,
conquistar, ganhar, herdar a capacidade de serem iguais a Deus. Invejamos a
sorte d’Ele, que não tem a quem prestar contas. Seríamos felizes, nos
convencemos, se pudéssemos agir, e controlar todas as variáveis
Vamos à igreja, acumulamos riquezas, narcotizamos nossa mente,
organizamos instituições, atropelamos outras pessoas querendo, pelo menos
sentir que dominamos algo ou alguém.
A religião promete a possibilidade de se retirar os percalços da
vida, dominar as doenças e nunca enfrentar tribulações. Cultuamos a Deus,
porque no fundo, no fundo, invejamos sua sorte de viver sem acidentes. Queremos
ficar perto dele para, quem sabe, podermos nos tornar mestres do grande xadrez
existencial, conhecendo todas as possíveis jogadas; sem jamais sermos
surpreendidos por algum lance inédito.
Acontece que o Deus bíblico, revelado em Jesus de Nazaré, tendo
todo o poder, jamais foi sequer tentado por ele. O mais interessante é que
anjos cobiçaram poder e se tornaram em demônios; homens correram atrás do poder
e se tornaram pecadores; e Deus revelou través de Jesus que nunca desejou
relacionar-se ou governar seu universo valendo-se dessa categoria.
A mensagem é nítida: se cobiçamos ser iguais a Deus, devemos
abrir mão do poder, como fez Jesus Cristo. Se queremos relacionamentos verdadeiros,
temos que escolher a senda do Calvário; levar as cargas do próximo,
perdoar e amar incondicionalmente.
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