A Depravação Total do Homem
Arthur Walkington Pink
Capítulo 1
Introdução
O
assunto a que este capítulo é designado introduzir, é provavelmente dar de cara
com uma recepção decididamente mesclada. Alguns leitores mui provavelmente se
desapontarão quando virem que o título deste livro, considerando o assunto
totalmente sem atrativo e deprezível. Se é assim, devem ser piedosos; nós
esperamos que Deus abençoará os conteúdos a eles. A medicina é proverbialmente
desagradável, mas há tempos quando todos de nós achamos-a necessária e
benéfica. Outras agradecerão que, pela graça divina, procuramos glorificar mais
a Deus do que agradar à carne. E certamente que esse glorificar mais a Deus é
declarar "todo Seu conselho",
insistir naquilo que põe o homem em seu devido lugar diante dEle, e enfatizar
aquelas porções e aspectos da verdade da qual nossa geração tem mais
necessidade. Conforme nos esforçaremos para mostrar, nosso tema é uma de
importância doutrinal imensa e de grande valor prático. Desde que é um assunto
que ocupa
Uma Questão Contemporânea Vital
É
nossa profunda convicção que a questão vital que mais se requer ser levantada
hoje é esta: O homem é uma criatura total e completamente depravada por
natureza? Ele entra no mundo completamente arruinado e impotente,
espiritualmente cego e morto em delitos e pecados? De acordo com nossa resposta
a esta questão, assim será nossa visão em muitas outras. É com base neste fundo
negro que toda a Bíblia procede. Qualquer tentativa de mudar ou a diminuir,
repudiar ou atenuar o ensino das Escrituras neste assunto é fatal. Colocando a
questão de uma outra forma: O homem está em uma tal condição que não pode se
salvar sem a especial e direta intervenção do Deus triúno em seu favor? Em
outras palavras, há alguma esperança para ele aparte de sua eleição pessoal
pelo Pai, de sua redenção particular pelo Filho, e das operações sobrenaturais
do Espírito dentro dele? Ou, colocando de outro modo ainda: Se o homem é um ser
totalmente depravado, pode possivelmente tomar o primeiro passo no assunto de
seu retorno a Deus?
A Resposta Escriturística
A
resposta das Escrituras à esta questão, torna evidente a total futilidade dos
esquemas de reformadores social para "a elevação moral das
multidões", os planos de políticos para a paz das nações e as ideologias
de senhoradores de introduzir neste mundo uma Idade de Ouro. E tanto patético
como trágico ver muitos dos nossos grandes homens colocando sua fé em tais
quimeras. Divisões e Discórdias, ódio e derramamento de sangue, não podem ser
banidos enquanto a natureza humana for o que ela é. Mas, durante o século
passado, a forte tendência de uma Cristandade deteriorada tem sido a de
subestimar o mal do pecado e sobrestimar as capacidades morais do homem. Em vez
de proclamarem a vileza do pecado, tem havido uma enfatização mais sobre suas
inconveniências; e a representação humilhante da condição perdida do homem,
como exposta nas Sagradas Escrituras, tem sido obscurecida, se não destruída
pelos discursos bajulatórios sobre o progresso humano. Se a religião popular
das igrejas - incluindo os nove-décimos do que é chamado de "Cristandade
evangélica" - for testada neste ponto, encontrar-se-á em confronto direto
com a queda do homem, com a sua condição arruinada e espiritualmente morta.
Há,
portanto, uma urgente necessidade hoje do pecado ser visto na luz da lei de
Deus e do evangelho, de modo que sua excessiva malignidade possa ser
demonstrada, e as profundidades negras da depravação humana expostas pelo
ensino das Sagradas Escrituras, a fim de que possamos aprender o que é
implicado por aquelas terríveis palavras: "mortos em delitos e pecados". O grande objetivo da
Bíblia é o de fazer Deus conhecido a nós,descrever o homem como ele é aparece
aos olhos de seu Criador, e para mostrar a relação de um com o outro. É
conseqüentemente a ocupação de Seus servos não somente declarar o caráter e as
perfeições divinas, mas também o delinear a condição e apostasia original do
homem, bem como o divino remédio para sua ruína. Até que nós realmente
contemplemos o horror do abismo no qual nos encontramos por natureza, nunca
poderemos apreciar corretamente a tão grande salvação de Cristo. Na condição
caída do homem, temos a terrível doença para a qual a redenão é o único
remédio; e nossa estimação e avaliação das provisões da graça divina serão
necessariamente modificadas na proporção em que modificamos a necessidade que
ela tencionava suprir.
David
Clarkson, um dos Puritanos, expôs este fato em seu sermão sobre o Salmo 51:5
O
objetivo do ministro do Evangelho é o de trazer pecadores a Cristo. O caminho
deles para este fim repousa através do senso de sua miséria sem Cristo. Os
ingredientes desta miséria são nossa pecaminosidade, original e atual; a ira de
Deus, a que o pecado nos tem exposto; e nossa impotência de livrar-nos à nós
mesmos tanto do pecado como da ira. Para que possamos então promover este
grande fim, nos esforçaremos, a medida que o Senhor nos assistir, a te guiar neste
caminho, pelo senso da miséria, ao Único que pode nos livrar dela. Ora, sendo a
origem de nossa miséria a corrupção de nossa natureza, ou o pecado original,
acreditamos ser adequado começar aqui, e então escolher sobre aquelas palavras
como mui apropriadas para nosso propósito: "Eis que em iniquidade fui formado, e em
pecado me concebeu minha mãe".
Características da Doutrina
Este
assunto é deveras muito solene, e ninguém pode adequadamente escrever ou pregar
sobre ele, a menos que seu próprio coração esteja aterrorizado por ele. Isto
não é algo do qual qualquer homem possa se separar e discorrer detalhadamente
sobre ele, como se ele mesmo não estivesse envolvido diretamente nele; ainda
menos de um nívels mais alto olhando de cima aqueles a quem denuncia. Nada é
mais inconguente e impróprio do que para um jovem pregador o tagarelar
abundantemente sobre passagens das Escrituras que retratam sua própria vileza
por natureza. Antes, eles deveriam ler ou citá-las com a mais alta seriedade.
J. O. Philpot declarou:
Assim como o
coração não pode suficientemente compreender, a língua não pode adequadamente
expressar o estado de desgraça e ruína no qual o pecado tem sobrepujado o
culpado e miserável homem. Ao separá-lo de Deus, ele priva-o da única fonte de
felicidade e santidade. Ele tem arruinado seu corpo e alma: um, ele tem enchido
cheio de doença e enfermidade; no outro, ele tem desfigurado e destruído a
imagem de Deus na qual ele foi criado. Ele tem lhe feito amar o pecado e odiar
a Deus.
A
doutrina da depravação total é uma muito humilhante. Não é que o homem se
incline para um lado e necessita ser escorado, nem que ele seja meramente
ignorante e requera instrução, nem que ele esteja para baixo e precide de um
reanimador; porém, pelo contrário, ele está destuído, perdido e espiritualmente
morto. Conseqüentemente, ele está "sem forças", perfeitamente incapaz
de se auto-melhorar; ele está exposto à ira de Deus, e inapto para executar uma
simples obra que possa achar aceitação diante dEle. Quase todas páginas da Bíblia
testemunham esta verdade. O sistema completo da redenção toma-a como verdade
absoluta. O plano da salvação ensinado nas Escritura não tem lugar em qualquer
outra suposição. A impossibilidade de qualquer homem ganhar a aprovação de Deus
pela suas obras, aparece claramente no caso do rico moço que veio a Jesus.
Julgado pelos padrões humanos, ele era um modelo de virtude e realizações
religiosas. Todavia, como todos os outros que confiam em seus próprios
esforços, ele era um ignorante da espiritualidade e severidade da lei de Deus;
quando Cristo colocou-o à prova, suas justas expectações foram sopradas pelos
ventos e "e retirou-se triste"
(Mateus 19:22).
Esta
é conseqüentemente uma doutrina muito desagradável ao paladar. E não poderia
ser de outra maneira, porque o não regenerado ama ouvir da grandeza, dignidada
e nobreza do homem. O homem natural pensa altamente de si mesmo e aprecia
somente o que é lisonja. Nada lhe agrada mais do que ouvir o que exalta a
natureza humana e enaltece o estado da humanidade, mesmo que isto seja em
termos não somente repudiem o ensino da Palavra de Deus, mas que
categoricamente contradigam a observação comum e a experiência universal. E há
muitos que se agradam pelos abundantes louvores da excelência da civilização e
do estável progresso da raça. Portanto, desmentir a popular teoria da evolução
é altamente desgostoso ao seus desiludidos admiradores. Não obstante, o dever
dos servos de Deus é manchar o orgulho de todos que se gloriem no homem, tirar
suas plumas roubadas, e lançá-los ao pó diante de Deus. Embora este ensino seja
repugnante, o emissário de Deus deve fielmente cumprir seu dever, "quer ouçam quer deixem
de ouvir"
(Ezequiel 3:11).
Este
não é um dogma funesto inventado pela igreja na "escuridão da Idade
Média", mas um verdade das Sagradas Escrituras. George Whitefleld disse:
"Eu não olho para ela como meramente uma doutrina das Escrituras - a
grande Fonte da verdade - mas como uma doutrina fundamental, da qual eu espero
que Deus não permita que nenhum de vocês sejam ludibriados". Este é um
assunto para o qual grande promeminência é dada na Bíblia. Cada parte das
Escrituras tem muito o que dizer do terrível estado de degradação e escravidão
para o qual a queda trouxe o homem. A corrupção, a cegueira, a hostilidade de
todos os descendentes de Adão a tudo o que é de uma natureza espiritual,
constantemente insintem sobre isso. Não somente a decadência total do homem é
completamente descrita, mas também sua falta de poder para se salvar do mesmo.
Nas declarações e denúncias dos profetas, de Cristo e Seus apóstolos, o
cativeiro de todo homem à Satanás e sua completa impotência para se voltar para
Deus para a libertação são repetidamente apresentados não indiretamente e
vagamente, mas enfaticamente e em grande detalhe. Esta é uma das centenas de
provas que a Bíblia não é uma invenção humana, mas uma comunicação do três
vezes Santo.
Este
é um assunto tristemente negligenciado. Não obstante o claro e uniforme ensino
das Escrituras, a condição arrunidade do homem e sua alienação de Deus são
apenas debilmente compreendidas e raramente ouvidas nos púlpitos modernos, e é
dado pouco lugar até menos nos que são reconhecidos como centros de ortodoxia.
Antes, toda a tendência do pensamento e ensino moderno está em direção oposta,
e até onde a hipótese Darwiniana não tem sido aceita, suas perniciosas
influências são freqüentementes vistas. Em conseqüência do culpado silêncio do
púlpito moderno, uma geração de devotos tem se levantado, a qual é
deploravelmente ignorante das verdades básicas da Bíblia, de forma que não mais
do que um em cada mil tem apenas um conhecimento mental dos grilhões de
dificuldade e incredulidade que prende o coração natural, ou da masmorarra de
escuridão no qual ele permanece. Milhares de pregadores, no lugar de fielmente
advertir seus ouvintes de seu terrível estado por natureza, estão desperdiçando
o seu tempo relatando as últimas notícias do Kremlin [N.T.: centro
administrativo da cidade de Moscou]
ou do desenvolvimento de armas nucleares.
E
é portanto uma doutrina de teste, especialmente da saúde na fé dos pregadores.
A ortodoxia de um homem sobre este assunto determina seu ponto de vista de
muitas outras doutrinas de grande importância. Se sua crença aqui é
escriturística, então ele perceberá claramente quão impossível é para os homem
se auto-melhoraram - que Cristo é a única esperança deles. Ele saberá que, a
menos que um pecador nasça de novo, não poderá existir nenhuma entrada para ele
no reino de Deus. Nem entretará ele a idéia de que o livre-arbítrio de criaturas
caídos conquistarão a bondade. Ele será prevenido de muitos erros. Andrew
Fuller declarou: "Eu nunca conheci uma pessoa tendente ao esquemas
Arminiano, Ariano, Sociano e Antinomiano, sem primeiro entreter diminutas
noções da depravação ou indignidade humana". O bem-equipado instrutor
teológico, J. M. Stifler, disse: "Não é dizer demais que freqüentemente
uma falsa teologia encontra sua origem em uma inadequada visão da
depravação".
Esta
é uma doutrina de grande valor prática bem como de importância espiritual. O
fundamento de toda verdadeira piedade reside em uma correta visão de nós mesmos
e de nossa vileza, e uma crença escriturística em Deus em na Sua graça. Não pode
existir uma genuína repulsa ou arrependimento, nem uma real apreciação da
misericórdia salvadora de Deus, nem fé em Cristo, sem ela. Não há nada
semelhante a um conhecimento desta doutrina tão bem calculado para apontar a
vanidade do homem e convencê-lo da indignidade e podridão de sua própria
justiça. Embora o pregação que esteja consciente da praga de seu próprio
coração saiba perfeitamenet que ele não pode apresentar esta verdade de um modo
que faça seus ouvintes realmente perceber e sentir o mesmo, para ajudar-lhes a
parar de amar a si mesmos e motivá-los a renunciar para sempre toda esperança
neles mesmos. Então, em vez de contar com sua fidelidade na apresentação da
doutrina, ele deixará com Deus o aplicá-la graciosamente em poder àqueles que
ouviram-na, e abençoar seus débeis esforços.
Esta
é uma doutrina que ilumina excessivamente. Ela pode ser melancólica e
humilhante, não obstante, ela lança um dilúvio de luz sobre os mistérios que
eram outrora insolúveis. Ela fornece a chave para a maldição da história
humana, e mostra porque tanto dela tem sido escrita em sangue e lágrimas. Ela
fornece uma explanação de muitos problemas que doloramente perplexam e
estarrecem os pensativos. Ela revela o porque uma criança é tendente ao mal e
necessitar ser ensinada e disciplinada a tudo que é bom. Ela explica porque
cada aperfeiçoamento no meio-ambiente do homem, cada tentativa para educá-lo,
todos os esforços de reformadores sociais, são inúteis para efetuar qualquer
melhora radical em sua natureza e caráter. Ela mostra o porque do horrível
tratamento que Cristo recebeu quando Ele agiu tão graciosamente neste mundo, e
porque Ele ainda é desprezado e rejeitado pelos homens. Ela capacita ao próprio
Cristão a um melhor entendimento do penoso conflito que sempre está opernado
dentro dele, e que faz tão freqüentemente clamar: "Oh, miserável homem que
sou!"
Esta
é portanto uma doutrian muito necessária, porque a vasta maioria de nossos
semelhantes são ignorantes dela. Os servos de Deus são às vezes ditos falar
muito fortemente e tristemente do estado terrível do homens através de sua
apostasia de Deus. O fato é que é impossível exagerar em linguagem humana a
escuridão e poluição do coração do homem ou descrever a miséria e total
desamparo de uma condição, tal como a Palavra da verdade descreve nestas
solenes passagens: "Mas, se ainda o nosso evangelho está encoberto, para os que se
perdem está encoberto. Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos
incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de
Cristo, que é a imagem de Deus.
" (2 Coríntios 4:3,4). "Por isso não podiam crer, então Isaías disse outra vez: Cegou-lhes
os olhos, e endureceu-lhes o coração, A fim de que não vejam com os olhos, e
compreendam no coração, E se convertam, E eu os cure " (João 12:39-40). Isto é
todavia mais evidente quando contrastamos o estado da alma daqueles nos quais
um milagre da graça é operado (veja Luke 1:78-79).
Esta
é uma doutrina salutar - uma que Deus freqüentemente usa para trazer homens à
compreensão de si mesmos. Enquanto imaginarmos que teremos poder para fazer o
que é agradável a Deus, nunca abandores a auto-dependência. Nada além de um
mero conhecimento intelectual da queda e ruína do homem é suficiente para
livrar-nos do orgulho. Somente as poderosas operações do Espírito podem
realizar isto. Todavia, Ele se agrada de usar a fiel pregação da Palavra até o
fim. Nada senão um senso real de nossa condição perdida nos lançará no pó
diante de Deus.
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