A doutrina e história da
igreja ortodoxa
Nosso nome, ou melhor, nossos
nomes revelam muita coisa sobre nós. Muitos nomes têm sido usados através dos
séculos para descrever nossa Igreja e seus mais de 250 milhões de adeptos.
"Grega", "Oriental", "Ortodoxa", "Una,
Santa, Católica e Apostólica", todas são designações apropriadas de nossa
Igreja.
Nossa Igreja é denominada
"Igreja Grega" porque o grego foi a primeira língua da Igreja Cristã
antiga, através da qual nossa Fé foi transmitida. O Novo Testamento foi escrito
em grego, e os primitivos escritos dos antigos seguidores de Cristo eram em
língua grega. A palavra "grega" não é usada para descrever apenas as
pessoas cristãs ortodoxas da Grécia e outros povos de língua grega. Mais
propriamente, é usada para descrever os cristãos que se originaram da primitiva
Igreja Cristã de língua grega e que se utilizaram do pensamento grego para
encontrar representações apropriadas da Fé Ortodoxa.
"Ortodoxa" também é
usada para descrever nossa Igreja. A palavra "Ortodoxa" é derivada de
duas pequenas palavras gregas: "orthos" que significa correta e
"doxa" significando fé ou glorificação. Deste modo, usamos a palavra
"Ortodoxa" para indicar nossa convicção de que acreditamos e
glorificamos a Deus de forma correta. Damos grande importância à tradição,
integridade e fidelidade Apostólica no decurso de uma história de 2.000 anos.
De nossa Igreja também se diz
"Igreja Oriental" para distinguí-la das Igrejas do Ocidente.
"Oriental" é usado para indicar que no primeiro milênio a influência
de nossa Igreja estava concentrada na parte oriental do mundo cristão e para
mostrar que um número muito grande de nossos membros é de outra nacionalidade
que não a grega. Deste modo, os Cristãos Ortodoxos por todo o mundo usam vários
títulos étnicos ou nacionais: "gregos", "russos",
"sérvios", "romenos", "ucranianos",
"búlgaros", "antioquinos", "albaneses",
"cárpato-russos", ou de forma mais abrangente, como "Ortodoxos
Orientais":
No Credo Niceno de fé nossa
Igreja é definida como a "Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica":
"Una" porque apenas pode haver uma só Igreja verdadeira, com um só
chefe que é Cristo. "Santa" porque a Igreja procura santificar e
transformar seus membros através dos Sacramentos. "Católica" porque a
Igreja é universal e tem membros em todas as partes do mundo. A palavra
"Católica" provém da palavra grega "Katholikos" que
significa mundial ou universal. "Apostólica" porque sua doutrina está
estabelecida sobre os fundamentos colocados pelos Apóstolos, de quem nossa
Igreja recebeu seus ensinamentos e autoridade sem ruptura ou mudança .
Todos estes títulos são
limitados em certos aspectos, uma vez que descrevem os Cristãos como
pertencentes a Igrejas históricas ou regionais particulares da comunhão
Ortodoxa. O Cristianismo Ortodoxo não está de modo algum limitado ao Oriente,
nem em termos de sua própria auto-definição, ou de localização geográfica. Há
muitos Cristãos Ortodoxos que vivem no Ocidente, e estão rapidamente
tornando-se completamente integrados espiritual, intelectual e culturalmente à
vida ocidental.
Nossas origens e
desenvolvimento: conhecer-nos é entender nossa história
O Cristianismo originado na
Palestina, difundiu-se rapidamente por todo o Mediterrâneo e, ao final do
quarto século, foi reconhecido como a religião oficial do novo Império Romano
ou Império Bizantino. Visto no contexto de seu crescimento histórico, foi um
movimento religioso unificado, apesar de multiforme em vários aspectos. Foi
grandemente vivo e dinâmico em seu desenvolvimento histórico.
O Cristianismo Católico
Ortodoxo permaneceu essencialmente indiviso. Seus cinco maiores centros
administrativos estavam localizados em Roma, Constantinopla (atualmente
Istanbul), Alexandria, Antioquia e Jerusallém. A definição da doutrina e normas
cristãs foi conseguida através dos grandes Concílios Ecumênicos, o primeiro dos
quais foi reunido em 325 AD. Todos os líderes e centros de Cristianismo foram
representados nestes Concílios e tomaram parte nas deliberações.
O primeiro grande cisma ou
separação teve lugar nos séculos quinto e sexto, em virtude principalmente do
entendimento a respeito da pessoa de Cristo. Determinadas antigas e veneráveis
Igrejas Orientais são completamente semelhantes à Igreja Ortodoxa em caráter,
costumes e culto. São de dois tipos, um chamado a Igreja Nestoriana ou Assíria
do Oriente, e o outro grupo muito maior, intitulado Pré-Calcedoniano, por causa
de sua não aceitação do Concílio de Calcedônia (451 AD). As Igrejas
pré-calcedonianas incluem a Igreja Copta do Egito, a Igreja Etíope, a Igreja
Apostólica Armênia, a Igreja de São Tomé na Índia, e a Igreja Siriana Jacobita
de Antioquia. Ao todo contam aproximadamente 22 milhões de fiéis.
A religião cristã foi a
principal influência no Império Bizantino, moldando sua cultura, leis, arte,
arquitetura e vida intelectual. A harmonia entre as esferas civil e
eclesiástica, Império e Igreja, raramente foi quebrada, de tal modo a
apresentar um Império Cristão verdadeiramente unificado, um universo Cristão.
Este relacionamento sinfônico de fé e cultura é um legado distintivo da Igreja
Ortodoxa que mais tarde foi transmitido aos povos eslavos da Europa Oriental e
Rússia.
Após o Sétimo Concílio
Ecumênico em 787 AD, a unidade básica de fé e vida eclesiástica entre Oriente e
Ocidente começou a desfazer-se, devido a uma variedade de diferenças
teológicas, jurisdicionais, culturais e políticas. Isto finalmente conduziu ao
Grande Cisma de 1054 AD, entre Oriente e Ocidente. Esta divisão infeliz foi
agravada até ao ponto de uma completa ruptura na comunicação entre a Igreja
Ortodoxa e Católica Romana. Séculos mais tarde, os protestos contra Roma na
Europa Ocidental deram origem à Reforma Protestante. Em nossos dias, as Igrejas
Orientais pré-Calcedonianas, a Igreja Ortodoxa, a Igreja Católica Romana e as várias
Igrejas e grupos Protestantes compõem o largo espectro de Cristianismo.
Após o Grande Cisma o
Cristianismo Ortodoxo continuou a progredir separado do Cristianismo Ocidental.
Obstinadamente conservador, confiando em seu conceito dinâmico de Tradição, preserva
as formas clássicas de vida e dogma cristãos até os dias de hoje. É muito mais
uma Igreja "popular", estreitamente identificada com a vida nacional
e aspirações de seu povo. Em países ortodoxos tradicionais é difícil separar a
vida religiosa da secular, uma vez que são uma coisa só nas mentes do povo. A
Ortodoxia absorveu e em alguns casos ainda moldou as tradições culturais de
muitas nações, principalmente no Oriente Próximo, os Bálcãs e Grécia, Europa
Oriental e Rússia. É, para muitas destas nações, a religião nacional. Em outras
terras, naturalmente, é um grupo minoritário muito pequeno. De fato, grande
número de Cristãos Ortodoxos hoje vivem em repúblicas socialistas secularizadas
ou oficialmente ateísticas e dão testemunho de sua fé sob condições de ativa
perseguição e intolerância. São verdadeiros mártires da fé.
A Igreja Ortodoxa hoje
A Igreja Ortodoxa hoje é uma
comunhão de Igrejas autogovernadas, cada uma independente administrativamente
da outra, mas unidas pela fé e espiritualidade comuns. Sua unidade fundamental
está baseada na identidade de doutrinas, vida sacramental e culto, que
distingue o cristianismo ortodoxo. Todos reconhecem a preeminência espiritual
do Patriarca Ecumênico de Constantinopla, que é reconhecido como "primus inter
pares", primeiro entre iguais. Todas têm plena comunhão umas com as
outras. A tradição viva da Igreja e os princípios de concórdia e harmonia são
expressos por meio de parecer comum do episcopado universal assim que as
necessidades aparecem. Em todos os outros assuntos, a vida interna de cada
Igreja independente é administrada pelos bispos daquela Igreja particular.
Conforme o antigo princípio de um só povo de Deus em cada lugar e o sacerdócio
universal de todos os crentes, o laicato compartilha igualmente a
responsabilidade pela preservação e propagação da Fé e da Igreja cristã.
Além dos quatro antigos
Patriarcados de Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém, com suas
várias subdivisões geográficas e eclesiásticas, também há muitas Igrejas
Cristãs Ortodoxas independentes ou autocéfalas. Estas incluem as Igrejas da
Rússia, Romênia, Sérvia, Bulgária, Grécia; Geórgia, Chipre, Checoslováquia,
Polônia, Finlândia, Albânia e Sinai. Igrejas Ortodoxas autônomas menores e
missões podem ser encontradas em todos os continentes ao redor do mundo.
A vida Cristã
A vida de um cristão como
indivíduo é compreendida no contexto da comunidade de crentes. Cada pessoa é
chamada a viver a vida religiosa e a avançar em crescimento espiritual e moral
na abundância da própria Vida Divina pela graça.
A Salvação é vista como um
processo iniciado no Batismo e continuando até a morte. Os Mandamentos e a
Vontade de Deus anunciada são o critério para a conduta ética e elevação
espiritual. O objetivo da piedade cristã é a união com Deus, e nossa cooperação
com a Divina Graça é necessária para esta união. O empenho e o esforço para
viver em Deus envolve uma escalada constante, longe das tentações e
ambiguidades de uma condição humana pecadora e corrompida, em direção à glória
eterna do Reino de Deus. Esta possibilidade é dada a todos em Jesus Cristo e Sua
Igreja. É um esforço místico e ascético diário de obediência e fé em cooperação
com a divina graça.
Tradição: a chave para nossa
auto-compreensão
A Ortodoxia afirma que as
verdades eternas da revelação salvífica de Deus em Jesus Cristo são
preservadas na Tradição viva da Igreja sob a direção e inspiração do Espírito
Santo. As Sagradas Escrituras são o coração da Tradição e o fundamento da fé.
Enquanto a Bíblia é o testemunho escrito da revelação de Deus, a Tradição
Sagrada é a experiência completa da Igreja fiel sob a permanente condução e
direção do Espírito Santo. Essencialmente, os Cristãos Ortodoxos consideram que
suas crenças são muito semelhantes às de outras tradições cristãs, mas que a
continuidade e integridade da fé Apostólica incólume transmitida aos Santos tem
sido preservada inalterada na Igreja Ortodoxa. Esta auto-compreensão da
Ortodoxia não a tem impedido de participar ativamente do movimento ecumênico.
Há cooperação integral em muitos esforços para afirmar o testemunho Bíblico e
Apostólico que estabelece a base sólida para a unidade dos Cristãos em uma só
Igreja.
O Credo Niceno: a Fé da
Ortodoxia
A Igreja Ortodoxa é
profundamente bíblica e patrística. Sua profissão de fé fundamental é o Credo
Niceno-Constantinopolitano, que foi universalmente promulgado durante o Segundo
Concílio Ecumênico (381 AD). É uma síntese, sumário essencial das verdades
salvíficas do Cristianismo, proclamando em forma doxológica o mistério do amor
e ação de Deus pelo gênero humano. O Credo Niceno contém os critérios da fé
cristã e é considerado um guia para o entendimento da Bíblia. Este Credo é uma
declaração autorizada e oficial de fé e o critério infalível da verdadeira
Ortodoxia. Proclama um só Deus em três Pessoas -- Pai, Filho e Espírito Santo; a
Igreja una, Santa, Católica e Apostólica; um só Batismo para a remissão dos
pecados; a Ressurreição dos mortos; e a vida eterna. Nós conhecemos Deus em
Trindade através de Suas energias e Seu proceder para conosco na história
sagrada, primeiro através do povo judeu e finalmente em Seu Filho Jesus
Cristo e Seu Corpo Místico, a Igreja. A Igreja Cristã foi fundada sobre a fé
dos Santos Apóstolos e é conduzida e santificada pelo Espírito Santo por todo o
sempre. É o "Corpo de Cristo", a comunidade do fiel povo de Deus. É o
local histórico do Reino de Deus instaurado que encontrará seu cumprimento
definitivo em Deus no final dos tempos.
A Revelação de Deus no culto
divino: A Beleza da Ortodoxia
A Revelação de Deus tornou-se
plenamente conhecida em
Jesus Cristo e está confirmada pelo Espírito Santo em nossa
regra de fé. Em Jesus
Cristo nós temos "a revelação do mistério que foi
ocultado durante muitas gerações, mas está agora revelado e, por meio dos escritos
proféticos, tornou-se conhecido a todas as nações" (Romanos 16:25-26). São
Santos aqueles que estiveram associados a Cristo durante Sua vida, ou mistica e
sacramentalmente unidos com Ele depois. Primeiramente entre os Santos está a
Virgem Maria, também conhecida pelo título doutrinal "Theotokos" --
Mãe de Deus. O evento total de Cristo, que é a Encarnação, Ministério terreno,
Morte, Ressurreição e Ascenção em Glória, é um acontecimento histórico que une
a eternidade e a criação. Esta compreensão de realismo bíblico é percebida no
bem elaborado e altamente simbólico culto da Igreja Ortodoxa. A Páscoa é a
"Festa das Festas", repetida anualmente e semanalmente no culto
dominical. A Igreja celebra e toma parte no evento da Ressurreição do Senhor em cada Divina Liturgia.
Todo momento particular da vida e ministério de Cristo é visto à Luz da
Ressurreição. Cada parte do culto da Igreja está intimamente relacionado com a
Proclamação e participação neste acontecimento salvífico. Cada aspecto de
liturgia e prece é compreendida como um esforço com vistas à bela expressão
desta realidade. Todos os sentidos são empregados num culto ortodoxo. Todos os
meios apropriados são utilizados para revelar em termos humanos o mistério do
amor de Deus por nós.
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