A dúvida
de João Batista
Rev. Josivaldo de França Pereira
De
acordo com o dicionário Caldas Aulete, dúvida significa: "Incerteza,
vacilação, hesitação da inteligência entre a afirmativa e a negativa de um
fato, ou de um asserto, como verdadeiro". Mateus relata que
"Quando João ouviu, no cárcere, falar das obras de Cristo, mandou por seus
discípulos perguntar-lhe: És tu aquele que estava para vir ou havemos de
esperar outro?" (Mt 11.2,3). Alguns intérpretes acham que não foi João
Batista quem duvidou se Jesus era ou não era "aquele que estava para
vir", mas tão somente os discípulos dele (de João). Ele os enviou a Cristo
a fim de que a dúvida deles fosse dissipada. Contudo, essa não parece ser uma
interpretação segura. A afirmação de Jesus, "Ide e anunciai a João" (Mt
11.4), confirma que era João mesmo quem tinha a dúvida.
Em que consistia a dúvida de João? Os judeus tinham a idéia de que o reino
vindouro do Messias seria um reino militarista, nacionalista e materialista. Os
judeus pensavam que quando o Messias chegasse haveria de firmar-se como um
grande Monarca, o qual haveria de libertá-los de toda a sua escravidão, e que
elevaria os judeus acima de todos os demais povos, através do que se tornariam
eles a raça conquistadora e proeminente. O próprio João Batista parece ter-se
apoiado nesse conceito quando enviou seus discípulos para fazerem a Jesus a
referida pergunta. É como se ele tivesse mandado dizer: "Eu sei tudo sobre
esses milagres que tu fazes, mas quando terá lugar aquele grande acontecimento?".
Jesus respondeu a João citando as Escrituras (Mt 11.4-6), como costumeiramente
fazia. Em que sentido era alentadora esta resposta? Não é verdade que João
Batista já sabia tudo isto (cf. Mt 11.2), e que o fato de o saber havia
contribuído substancialmente para criar a dúvida? É verdade, porém, a forma de
Jesus se expressar era nova. Era nova no sentido de que os amigos que
informaram João dos milagres de Cristo não havia usado este tipo de formulação.
Por outro lado, a mensagem na forma em que Jesus a expressou tinha um som
conhecido. João devia recordar-se de certas predições proféticas; a saber,
Isaías 35.5,6; 61.1. É como se Jesus dissesse ternamente a João: "Você se
lembra destas profecias? Isto também foi predito acerca do Messias. E tudo isso
está se cumprindo hoje em mim".
A mensagem dirigida a João Batista termina com as palavras: "E
bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço" (Mt 11.6).
Ou seja, quem não permite que nada do que faço ou diga lhe sirva de laço, o
induza a pecar. Ainda que seja correto o ponto de vista segundo o qual nesta
admoestação Jesus estivesse repreendendo João, a repreensão (se é que houve)
era tão terna que não eclipsava em nenhuma forma o amor do Senhor por seu
discípulo momentaneamente confuso.
Na verdade, considerada corretamente, a admoestação contém uma bem-aventurança.
"Bem-aventurado é aquele que...". O Senhor trata tão ternamente a
João como o fez com o cego de nascença, a mulher pega em adultério, Pedro,
Tomé, etc. Em vista do modo em que Jesus imediatamente procede a elogiar João
publicamente, e a repreender aqueles que vêem falta neste arauto e nAquele de
quem ele deu testemunho (Mt 11.7-19), temos como certo que a mensagem de Jesus
teve o efeito desejado em João. Porém, o que se destaca é a sabedoria e a
ternura de Jesus, e isto tanto na mensagem de alento dirigida a João como no
testemunho dado acerca de João.
Josivaldo de França Pereira é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil em
Bragança Paulista - SP. Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico
Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição - SP. Licenciado em Filosofia pela
Faculdade Associada do Ipiranga - SP. Mestre em Missiologia pela Faculdade
Teológica Sul Americana de Londrina-PR e Doutorando em Ministério pelo Centro
Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper/Mackenzie - SP. É autor do livro
Atos do Espírito Santo (Ed. Descoberta, 2002) e de vários ensaios e artigos
bíblicos em jornais, revistas e Internet. E-mail:
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