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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

REFLEXÃO 177 - A EMPATIA E O AMOR EM AÇÃO

A empatia e o amor em ação


Há uma antiga história. Um homem viajava com o seu carro e o abastecimento eram raro. Ao parar em um posto, havia um cão sentado ao lado da bomba, uivava com semblante de dor e tristeza. O frentista ao aproximar-se para atendê-lo, foi interpelado sobre o porquê daquela situação angustiante do cão. "Não dê atenção" disse ele.
Mas o viajante não se contentou, pois contemplava o cão tentando imaginar sua angústia, colocando-se no lugar do pobre animal. Ao terminar de abastecer, no momento de pagar o combustível, com intensa compaixão do cão, que não cessava de uivar tristemente, insistiu junto ao frentista por uma resposta. Veio a revelação, o velho cão estava sentado em um grande prego. Assim que ouviu a resposta, o homem retrucou : "Porque então ele não levanta ?" O frentista, dando com os ombros, disse: "Deixa pra lá, já avisei, mas não deve estar doendo muito."
Este conto serve para introduzir a questão da empatia como alavancadora e o próprio combustível, para que o amor prático ao próximo, que é a obra prima de Deus, seja real, ainda que o próximo não tenha amor próprio.


A questão é que para ter este amor, o mesmo não pode ser simplesmente racional e até mesmo teórico, fruto de um conhecimento empírico e que, ao ficar apenas no raciocínio, não envolve nossas emoções totalmente e não nos leva a ação, ao amor em funcionamento. Só com a empatia, isso mesmo, nos colocarmos no lugar do outro, pensar como o outro, entender os sentimentos do próximo. E muito do que fazemos, ou deixamos de fazer, não é pelo intelecto, mas sim porque as nossas emoções nos mobilizam ou não.
O maior sermão pregado em toda história não foi o de Martin Luther King ou o de Paulo no Areópagos em Atenas, nem mesmo o de Spurgeon em Londres, mas o Sermão da Montanha. Quero destacar, o que às vezes não é percebido, a FRASE : "Jesus VENDO as multidões..." Mais do que olhar, houve uma contemplação de Jesus para com o ser humano, seus sonhos, suas dificuldades, suas crises, suas depressões, seus abismos. Esta prévia empatização, o colocar-se no lugar, foi a causa do sucesso deste inesquecível tratado sobre a vida humana e do amor prático que Jesus demonstrou em seu ministério.
Mas, e eu e você, o que temos com isso ? Bem, assisti novamente o filme : "UM SONHO DE LIBERDADE" e compartilho minha experiência pessoal ao término da exibição. No filme, o diretor de um presídio, aparentemente cristão, comete as maiores barbáries com os detentos. Apesar de já ter sido capelão prisional e, pior, de prisão de adolescentes infratores, chorei como criança, sim, pois me coloquei no lugar (empatia) de cada presidiário momento. Pude vivenciar um pouco do que Jesus sentiu pelas multidões. Se ficou curioso, veja o filme, vale a pena. Tente sentir este processo de empatização, pois a beleza do filme, proporcionou-me a chance de ser empático, de sentir o que é ser rejeitado, ter medo de mudanças.
No entanto, o processo da empatização com prostitutas, viciados, doentes, ateus, pessoas sem Deus, iletrados, sem tetos e todos que necessitam do amor de Deus, não deve ser restrito aos ministros do Evangelho. Não, por favor não. Uma das boas heranças da Reforma é o retorno à prática bíblica do Sacerdócio universal de todos os crentes. Ou seja, você amado, necessita mais do que nunca, amar na prática, ser empático em sua vida para com todos os que o cercam.
No contexto frio e impessoal em que vivemos hoje, é preciso amar com ações palpáveis, mensuráveis, com todo o ser, com todas as forças, o semelhante, o próximo, o irmão e principalmente quem ainda não é irmão, o inimigo até. Não apenas por palavras, não para sermos salvos, pois já o somos pela graça maravilhosa de Deus, mas por sermos salvos, imitemos nosso Mestre, Jesus, amando na prática.
Amar teoricamente, como hipócrita ou interesseiro, justificando os meios pelo fim, usando a lei da vantagem, sem escrúpulo, não é novidade. Infelizmente até na Igreja isto ocorre, a que foi fundada pelo Senhor aquele que mais amou e ama o Ser humano, Jesus Cristo.
Assim, vemos aberrações hermenêuticas, como crer que é possível ser um adorador de Deus e agradá-lo, sem sentir a dor do irmão ao lado e o que é pior, prejudicando o próximo. Em Nome de Deus, fofocas são criadas e incentivadas, mentiras são ditas, manipulações são realizadas, omissão, oculta-se, esconde-se, engana-se, por que, pra que ? Porque não há empatia, não se coloca em ação uma das frases mais sintéticas sobre o que é ser um verdadeiro servo de Deus : "não fazer ao próximo o que não gostaríamos que fizessem a nós."
Talvez esta seja a principal dificuldade da Igreja de hoje. Jesus era um especialista em pessoas. Seu ministério era estar cercado de pessoas. Apaixonado por elas, que são a obra prima de Deus. Embora a natureza seja linda, o mar, os campos, os animais, o céu, Jesus priorizou as pessoas enquanto esteve no seu ministério terreno. Com a agitação dos tempos modernos, às vezes, esquecemos isso.
As estruturas eclesiásticas, denominacionais, projetos, burocracias e nossas idiossincrasias, nosso mundo fechado que infelizmente criamos, nos tiram tempo, tempo de amar as pessoas, de empatizar, vivenciar seus medos e traumas.
É necessário estar resgatando a cada dia, a Missão da Igreja de Jesus neste mundo e corrigir seus rumos. Pois ao nos desfocarmos da Missão apascentadora da humanidade, corremos o risco de sermos Igreja-tudo, Igreja-construtora, Igreja-Política, Igreja-empresa, Igreja-animadora de reuniões, Igreja-opressora, Igreja-empreendedora, Igreja-qualquer coisa, Igreja-nada.
Por isso, hoje, o mundo, os carentes, estão clamando por uma Igreja - e esta Igreja são pessoas, de carne e osso, sou eu e você - que "chore com os que choram..." não com o teórico, mas com o empático amor de Deus.


AUTOR DESCONHECIDO

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