A Doutrina
Reformada da Autoridade
I. Definição
O que queriam dizer os
Reformadores ao professarem a doutrina da autoridade das Escrituras? Que, por
serem divinamente inspiradas, elas são verídicas em todas as suas afirmativas. Segundo
esta doutrina, as Escrituras são a fonte infalível de informação que estabelece
definitivamente qualquer assunto nelas tratado: a única regra infalível de fé e
de prática, o supremo tribunal de recursos ao qual a Igreja pode apelar para a
resolução de qualquer controvérsia religiosa.
Isto não significa que as
Escrituras sejam o único instrumento de revelação divina. Os atributos de Deus
se revelam por meio da criação: a revelação natural (cf. Sl 19:1-4 e Rm
1:18-20). Uma versão da sua lei moral foi registrada em nosso coração: a
consciência (cf. Rm 2:14-15), "uma espiã de Deus em nosso peito,"
"uma embaixadora de Deus em nossa alma," como os puritanos costumavam
chamá-la.3 A própria pessoa de Deus, o ser de Deus, revela-se de modo
especialíssimo no Verbo encarnado, a segunda pessoa da Trindade (cf. Jo 14.19;
Cl 1.15 e 3.9).
Mas, visto que Cristo nos fala
agora pelo seu Espírito por meio das Escrituras, e que as revelações da criação
e da consciência não são nem perfeitas e nem suficientes por causa da queda,
que corrompeu tanto uma como outra, a palavra final, suficiente e autoritativa
de Deus para esta dispensação são as Escrituras Sagradas.
II. Base Bíblica
A base bíblica da doutrina
reformada da autoridade suprema das Escrituras é tanto inferencial como direta.
A. Base Inferencial
É inferencial, porque decorre
do ensino bíblico a respeito da inspiração divina das Escrituras. Visto que as
Escrituras não são produto da mera inquirição espiritual dos seus autores (cf.
2 Pe 1.20), mas da ação sobrenatural do Espírito Santo (cf. 2 Tm 3.16 e 2 Pe
1.21), infere-se que são autoritativas. Na linguagem da Confissão de Fé, a
autoridade das Escrituras procede da sua autoria divina: "porque é a
Palavra de Deus."
Isto não significa que cada
palavra foi ditada pelo Espírito Santo, de modo a anular a mente e a
personalidade daqueles que a escreveram. Os autores bíblicos não escreveram
mecanicamente. As Escrituras não foram psicografadas, ou melhor,
"pneumografadas." Os diversos livros que compõem o cânon revelam
claramente as características culturais, intelectuais, estilísticas e
circunstanciais dos diversos autores. Paulo não escreve como João ou Pedro.
Lucas fez uso de pesquisas para escrever o seu Evangelho e o livro de Atos.
Cada autor escreveu na sua própria língua: hebraico, aramaico e grego. Os
autores bíblicos, embora secundários, não foram instrumentos passivos nas mãos
de Deus. A superintendência do Espírito não eliminou de modo algum as suas
características e peculiaridades individuais. Por outro lado, a agência humana
também em nada prejudicou a revelação divina. Seus autores humanos foram de tal
modo dirigidos e supervisionados pelo Espírito Santo que tudo o que foi
registrado por eles nas Escrituras constitui-se em revelação infalível,
inerrante e autoritativa de Deus. Não somente as idéias gerais ou fatos
revelados foram registrados, mas as próprias palavras empregadas foram
escolhidas pelo Espírito Santo, pela livre instrumentalidade dos escritores.4
O fato é que, por procederem
de Deus, as Escrituras reivindicam atributos divinos: são perfeitas, fiéis,
retas, puras, duram para sempre, verdadeiras, justas (Sl 19.7-9) e santas (2 Tm
3.15).5
B. Base Direta
Mas a doutrina reformada da autoridade das Escrituras não se fundamenta apenasem inferências. Diversos
textos bíblicos reivindicam autoridade suprema.
Mas a doutrina reformada da autoridade das Escrituras não se fundamenta apenas
Os profetas do Antigo
Testamento reivindicam falar palavras de Deus, introduzindo suas profecias com
as assim chamadas fórmulas proféticas, dizendo: "assim diz o Senhor,"
"ouvi a palavra do Senhor," ou "palavra que veio da parte do
Senhor."6 No Novo Testamento, vários textos do Antigo Testamento são
citados, sendo atribuídos a Deus ou ao Espírito Santo. Por exemplo: "Assim
diz o Espírito Santo..." (Hb 3:7ss).7
A autoridade apostólica também
evidencia a autoridade suprema das Escrituras. O Apóstolo Paulo dava graças a
Deus pelo fato de os tessalonicenses terem recebido as suas palavras "não
como palavra de homens, e, sim, como em verdade é, a palavra de Deus, a qual,
com efeito, está operando eficazmente em vós, os que credes" (1 Ts 2:13).
Que autoridade teria Paulo para exortar aos gálatas no sentido de rejeitarem
qualquer evangelho que fosse além do evangelho que ele lhes havia anunciado,
ainda que viesse a ser pregado por anjos? Só há uma resposta razoável: ele
sabia que o evangelho por ele anunciado não era segundo o homem; porque não o
havia aprendido de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo (Gl
1:8-12).
Jesus também atesta a
autoridade suprema das Escrituras: pelo modo como a usa, para estabelecer
qualquer controvérsia: "está escrito"8 (exemplos: Mt 4:4,6,7,10;
etc.), e ao afirmar explicitamente a autoridade das mesmas, dizendo em João
10:35 que "a Escritura não pode falhar."9
III. Usurpações da
Autoridade das Escrituras
Apesar da sólida base bíblico-teológica em favor da doutrina reformada da
autoridade suprema das Escrituras, hoje, como no passado, deparamo-nos com a
mesma tendência geral de diminuir a autoridade das Escrituras. E isso ocorre de
duas maneiras: por um lado, há a propensão em admitir fontes adicionais ou
suplementares de autoridade, que tendem a usurpar a autoridade da Palavra de
Deus. Por outro lado, há a tendência de limitar a autoridade das Escrituras,
negando-a, subjetivando-a ou reduzindo o seu escopo.
Com relação à primeira dessas
tendências, pelo menos três fontes suplementares usurpadoras da autoridade das
Escrituras podem ser identificadas: a tradição (degenerada em tradicionalismo),
a emoção (degenerada em emocionalismo) e a razão (degenerada no racionalismo).
Sempre que um desses elementos é indevidamente enfatizado, a autoridade das
Escrituras é questionada, diminuída ou mesmo suplantada.
A.
A Tradição Degenerada em Tradicionalismo
Este foi um dos grandes problemas enfrentados pelo Senhor Jesus. A religião judaica havia se tornado incrivelmente tradicionalista. Havendo cessado a revelação, os judeus, já no segundo século antes de Cristo, produziram uma infinidade de tradições ou interpretações da Lei, conhecidas como Mishnah. Essas tradições foram cuidadosamente guardadas pelos escribas e fariseus por séculos, até serem registradas nos séculos IV e V A.D., passando a ser conhecidas como o Talmude,10 a interpretação judaica oficial do Antigo Testamento até o dia de hoje. Muitas dessas tradições judaicas eram, entretanto, distorções do ensino do Antigo Testamento. Mas tornaram-se tão autoritativas, que suplantaram a autoridade do Antigo Testamento. Jesus acusou severamente os escribas e fariseus da sua época, dizendo:
Em vão me adoram, ensinando
doutrinas que são preceitos de homens. Negligenciando o mandamento de Deus,
guardais a tradição dos homens. E disse-lhes ainda: Jeitosamente rejeitais o
preceito de Deus para guardardes a vossa própria tradição... invalidando a
palavra de Deus pela vossa própria tradição que vós mesmos transmitistes... (Mc
7.7-9,13).11
O Apóstolo Paulo também
denunciou essa tendência. Escrevendo aos colossenses, ele advertiu:
Cuidado que ninguém vos venha
a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens,
conforme os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo... Se morrestes com
Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos
sujeitais a ordenanças: Não manuseies isto, não proves aquilo, não toques
aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? (Cl 2.8,20-22).
Quinze séculos depois, os
Reformadores se depararam com o mesmo problema: as tradições contidas nos
livros apócrifos e pseudepígrafos, nos escritos dos pais da igreja, nas
decisões conciliares e nas bulas papais também degeneraram em tradicionalismo. As
tradições eclesiásticas adquiriram autoridade que não possuíam, usurpando a
autoridade bíblica. É neste contexto que se deve entender a doutrina reformada
da autoridade das Escrituras. Trata-se, primordialmente, de uma reação à
posição da Igreja Católica.
Isto não significa,
entretanto, que a tradição eclesiástica seja necessariamente ruim. Se a
tradição reflete, de fato, o ensino bíblico, ou está de acordo com ele, não
sendo considerada normativa (autoritativa) a não ser que reflita realmente o
ensino bíblico, então não é má. Os próprios Reformadores produziram,
registraram e empregaram confissões de fé e catecismos (os quais também são
tradições eclesiásticas). Para eles, contudo, esses símbolos de fé não têm
autoridade própria, só sendo normativos na medida em que refletem fielmente a
autoridade das Escrituras.
O problema, portanto, não está
na tradição, mas na sua degeneração, no tradicionalismo, que atribui à tradição
autoridade inerente. O tradicionalismo atribui autoridade às tradições, pelo
simples fato de serem antigas ou geralmente observadas, e não por serem
bíblicas. Essa tendência acaba sempre usurpando a autoridade das Escrituras.
B. A Emoção Degenerada em
Emocionalismo
Outra fonte de autoridade que
sempre ameaça a autoridade das Escrituras é a emoção, quando degenerada em emocionalismo. Isto
quase inevitavelmente conduz ao misticismo. Na esfera religiosa, freqüentemente
é dado um valor exagerado à intuição, ao sentimento, ao convencimento
subjetivo. Quando tal ênfase ocorre, facilmente esse sentimento subjetivo de
convicção, pessoal e interno, é explicado misticamente, em termos de iluminação
espiritual e revelação divina direta, seja por meio do Espírito, seja pela
instrumentalidade de anjos, sonhos, visões, arrebatamentos, etc.
Não é que Deus não tenha se
revelado por esses meios. Ele de fato o fez. Foi, em parte, através desses
meios que a revelação especial foi comunicada à Igreja e registrada no cânon
pelo processo de inspiração. O que se está afirmando é que o misticismo copia,
forja essas formas reais de revelação do passado, para reivindicar autoridade
que na verdade não é divina, mas humana (quando não diabólica). Essa tendência
não é de modo algum nova. Eis as palavras do Senhor através do profeta
Jeremias:
Assim diz o Senhor dos
Exércitos: Não deis ouvido às palavras dos profetas que entre vós profetizam, e
vos enchem de vãs esperanças; falam as visões do seu coração, não o que vem da
boca do Senhor... Até quando sucederá isso no coração dos profetas que
proclamam mentiras, que proclamam só o engano do próprio coração?... O profeta
que tem sonho conte-o como apenas sonho; mas aquele em quem está a minha
palavra, fale a minha palavra com verdade. Que tem a palha com o trigo? diz o
Senhor (Jr 23.16,26,28).
Séculos depois o Apóstolo
Paulo enfrentou o mesmo problema. Ele próprio foi instrumento de revelações
espirituais verdadeiras, inspirado que foi para escrever suas cartas canônicas.
Nessa condição, ele sabia muito bem o que eram sonhos, visões, revelações e
arrebatamentos. Mas, ainda assim, advertiu aos colossenses, dizendo:
"Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto
dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado sem motivo algum na sua mente
carnal" (Cl 2:18). Tanto Jesus como os apóstolos advertem a Igreja
repetidamente contra os falsos profetas, os quais ensinam como se fossem
apóstolos de Cristo, mas que não passam de enganadores.
Pois bem, sempre que tal coisa
ocorre, a autoridade das Escrituras é ameaçada. O misticismo, como degeneração
das emoções (não se pode esquecer que também as emoções foram corrompidas pelo
pecado) tende sempre a usurpar, a competir com a autoridade das Escrituras,
chegando mesmo freqüentemente a suplantá-la. Na época dos Reformadores não foi
diferente. Eles combateram grupos místicos por eles chamados de entusiastas12
que reivindicavam autoridade espiritual interior, luz interior, revelações
espirituais adicionais que suplantavam ou mesmo negavam a autoridade das
Escrituras. Esta tem sido igualmente uma das características mais comuns das
seitas modernas, tais como mormonismo, testemunhas de Jeová, adventismo do
sétimo dia, etc. Entre os movimentos pentecostais e carismáticos também não é
incomum a emoção degenerar em emocionalismo, produzindo um misticismo usurpador
da autoridade das Escrituras.
C. A Razão Degenerada em
Racionalismo
A ênfase exagerada na razão
também tende a usurpar a autoridade das Escrituras. O homem, devido a sua
natureza pecaminosa, sempre tem resistido a submeter sua razão à autoridade da
Palavra de Deus. A tendência é sempre tê-la (a razão) como fonte suprema de
autoridade. Isto foi conseqüência da queda. Na verdade, foi também a causa,
tanto da queda de Satanás como de nossos primeiros pais. Ambos caíram por darem
mais crédito às suas conclusões do que à palavra de Deus. Desde então, essa
soberba mental, essa altivez intelectual tem tendido sempre a minar a
autoridade da Palavra de Deus, oral (antes de ser registrada) ou escrita.
Por que o ser humano, tendo
conhecimento de Deus, não o glorifica como Deus nem lhe é grato? O Apóstolo
Paulo explica: porque, suprimindo a verdade de Deus (Rm 1:18), "...se
tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato.
Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos... pois eles mudaram a verdade de
Deus em mentira, adorando e servindo a criatura, em lugar do Criador...’’ (Rm
1:21-22,25).
Esta tem sido, sem dúvida, a
causa de uma infinidade de heresias e erros surgidos no curso da história da
Igreja. A heresia de Marcião, o gnosticismo, o arianismo, o docetismo, o
unitarianismo, e mesmo o arminianismo são todos erros provocados pela
dificuldade do homem em submeter sua razão à revelação bíblica. Todos
preferiram uma explicação racional, lógica, em lugar da explicação bíblica que
lhes parecia inaceitável. Assim, Marcião concebeu dois deuses, um do Antigo e
outro do Novo Testamento. Por isso, também o gnosticismo fez distinção moral
entre matéria e espírito. Já o arianismo originou-se da dificuldade de Ario em
aceitar a eternidade de Cristo. Do mesmo modo, o docetismo surgiu da
dificuldade de alguns em admitir um Cristo verdadeiramente divino-humano. O
unitarianismo, por sua vez, decorre da recusa em aceitar a doutrina bíblica da
Trindade, enquanto que o arminianismo surgiu da dificuldade de Armínio em
conciliar a doutrina da soberania de Deus com a doutrina da responsabilidade
humana (rejeitando a primeira).
A tendência da razão em
usurpar a autoridade das Escrituras tem sido especialmente forte nos últimos
dois séculos. O desenvolvimento científico e tecnológico instigou a soberba
intelectual do homem. Assim, passou-se a acreditar apenas no que possa ser
constatado, comprovado, pela razão e pela lógica. A ciência tornou-se a
autoridade suprema, a única regra de fé e prática. E a Igreja passou a fazer
concessões e mais concessões, na tentativa de harmonizar as Escrituras com a
razão e com a ciência. O relato bíblico da criação foi desacreditado pela
teoria da evolução; os milagres relatados nas Escrituras foram rejeitados como
mitos; e muitos estudiosos das Escrituras passaram a assumir uma postura
crítica, não mais submissa aos seus ensinos. Foi assim que surgiu o método de
interpretação histórico-crítico em substituição ao método histórico-gramatical.
Nele, é a suprema razão humana que determina o que é escriturístico ou mera
tradição posterior, o que é milagre ou mito, o que é verdadeiro ou falso nas
Escrituras.
Mas antes
de se atribuir tanta autoridade à ciência, convém considerar a sua história.
Quão falível e mutável é! A grande maioria dos "fatos" científicos de
dois séculos atrás já foram rejeitados pela própria ciência. Além disso, com
que freqüência meras teorias e hipóteses científicas são tomadas como fatos
científicos comprovados!13
Suprema das Escrituras
Paulo Anglada
A doutrina que me proponho a
considerar neste artigo foi de fundamental importância na Reforma Protestante
do Século XVI. Em contraposição, por um lado, à doutrina católica romana de uma
tradição oral apostólica e, por outro lado, ao misticismo dos assim chamados
entusiastas ou reformadores radicais, os Reformadores defenderam a doutrina da
autoridade suprema das Escrituras. Essa foi, portanto, a sua resposta à
autoridade da tradição eclesiástica e do misticismo pessoal.
A autoridade suprema das
Escrituras também é uma doutrina puritano-presbiteriana. A ela os puritanos
tiveram que apelar freqüentemente na luta que foram obrigados a travar contra
as imposições litúrgicas da Igreja Anglicana.1 A Confissão de Fé de Westminster
professa a referida doutrina em três parágrafos do seu primeiro capítulo. No
quarto parágrafo, ela trata da origem ou fundamento da autoridade das
Escrituras:
A autoridade da Escritura
Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho
de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que
é o seu Autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a Palavra de Deus.
O parágrafo quinto aborda a
questão da certeza ou convicção pessoal da autoridade das Escrituras:
Pelo testemunho da Igreja
podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente apreço pela Escritura
Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, a eficácia da sua doutrina, a
majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu
todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único meio
de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e
completa perfeição são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela
a Palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível
verdade e divina autoridade provém da operação interna do Espírito Santo que,
pela Palavra e com a Palavra, testifica em nossos corações.
O décimo e último parágrafo
desse capítulo confere às Escrituras (a voz do Espírito Santo) a palavra final
para toda e qualquer questão religiosa, reconhecendo-a como supremo tribunal de
recursos em matéria de fé e prática:
O Juiz Supremo, pelo qual
todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas, e por quem serão
examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos
escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares; o Juiz
Supremo, em cuja sentença nos devemos firmar, não pode ser outro senão o Espírito
Santo falando na Escritura.
Em dias como os que estamos
vivendo, em que cresce a impressão de que o evangelicalismo moderno
(particularmente o brasileiro) manifesta profunda crise teológica, eclesiástica
e litúrgica,2 convém considerar novamente essa importante doutrina
reformado-puritana. Convém uma palavra de alerta contra antigas e novas
tendências de usurpar ou limitar a autoridade da Palavra de Deus. Tal é o
propósito
IV. Limitações da
Autoridade das Escrituras
Além das tendências que acabei
de considerar, propensas a usurpar a autoridade das Escrituras, existem outras,
que tendem a limitar a autoridade bíblica, negando-a, subjetivando-a ou
reduzindo o seu escopo. É o que têm feito a teologia liberal, a neo-ortodoxia e
o neo-evangelicalismo, com relação a três dos principais aspectos da doutrina
da autoridade das Escrituras. Estas três concepções de "autoridade"
bíblica precisam ser entendidas. Elas estão sendo bastante divulgadas em nossos
dias, e são, em certo sentido, até mais perigosas do que as tendências
anteriormente mencionadas, por serem mais sutis. Este assunto pode ser melhor
entendido considerando-se os três principais aspectos da doutrina da autoridade
das Escrituras: sua origem (ou base), certeza (ou convicção) e escopo (ou
abrangência).
A. Origem ou Base da
Autoridade das Escrituras
A origem ou base da autoridade
das Escrituras, como já foi mencionado, encontra-se na sua autoria divina. As
Escrituras são autoritativas porque são de origem divina: o Espírito Santo é o
seu autor primário. Para os Reformadores, as Escrituras são autoritativas
porque são a Palavra de Deus inspirada. Por isso são infalíveis, inerrantes,
claras, suficientes, etc.
A teologia liberal
(racionalista) nega a própria base da autoridade da Escritura, negando a sua origem
divina. Para ela, as Escrituras são mero produto do espírito humano,
expressando verdades divinas conforme discernidas pelos seus autores, bem como
erros e falhas características do homem. Sua autoridade, portanto, não é divina
nem inerente, mas humana, devendo ser determinada pelo julgamento da razão
crítica. Eis o que afirmam: "A verdade divina não é encontrada em um livro
antigo, mas na obra contínua do Espírito na comunidade, conforme discernida
pelo julgamento crítico racional."14 De acordo com a teologia liberal,
"nós estamos em uma nova situação histórica, com uma nova consciência da
nossa autonomia e responsabilidade para repensar as coisas por nós mesmos. Não
podemos mais apelar à inquestionável autoridade de um livro inspirado."15
B. Certeza da Autoridade
das Escrituras A certeza ou convicção da autoridade das Escrituras16 provém
do testemunho interno do Espírito Santo. A excelência do seu conteúdo, a
eficácia da sua doutrina e a sua extraordinária unidade são algumas das
características das Escrituras que demonstram a sua autoridade divina. Contudo,
admitimos que "a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade
e divina autoridade provém da operação interna do Espírito Santo, que pela
Palavra e com a Palavra, testifica em nossos corações."17
O testemunho da Igreja com
relação à excelência das Escrituras pode se constituir no meio pelo qual somos
persuadidos da sua autoridade, mas não na base ou fundamento da nossa
persuasão. A nossa persuasão da autoridade da Bíblia dá-se por meio do
testemunho interno do Espírito Santo com relação à sua inspiração. Na concepção
reformada, se alguém crê, de fato, na autoridade suprema das Escrituras como
regra de fé e prática, o faz como resultado da ação do Espírito Santo. É ele, e
só ele, quem pode persuadir alguém da autoridade da Bíblia.
Essa persuasão não significa
de modo algum uma revelação adicional do Espírito. Significa, sim, que a ação
do Espírito na alma de uma pessoa, iluminando seu coração e sua mente em
trevas, regenerando-a, fazendo-a nova criatura, dissipa as trevas espirituais
da sua mente, remove a obscuridade do seu coração, permitindo que reconheça a
autoridade divina das Escrituras. O Apóstolo Paulo trata deste assunto
escrevendo aos coríntios. Ele explica, na sua primeira carta, que, "o
homem natural não aceita as cousas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura;
e não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente" (1 Co
2.14). O homem natural, em estado de pecado, perdeu a sua capacidade original
de compreender as coisas espirituais. Ele não pode, portanto, reconhecer a
autoridade das Escrituras; ele não tem capacidade para isso. Na sua segunda
carta aos coríntios o Apóstolo é ainda mais explícito, ao observar que,
...se o nosso evangelho ainda
está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais o deus
deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não
resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de
Deus... Porque Deus que disse: de trevas resplandecerá luz —, ele mesmo
resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de
Deus na face de Cristo (2 Co 4.3-4,6).
O que Paulo afirma aqui é que
o homem natural, o incrédulo, está cego como resultado da obra do diabo, que o
fez cair. Nesse estado, ele está como um deficiente visual, que não consegue
perceber nem mesmo a luz do sol. Pode-se compreender melhor o testemunho
interno do Espírito com esta ilustração. O testemunho do Espírito não é uma
nova luz no coração, mas a sua ação através da qual ele abre os olhos de um
pecador, permitindo-lhe reconhecer a verdade que lá estava, mas não podia ser
vista por causa da sua cegueira espiritual.
Deve-se ter em mente,
entretanto — e esse é o ponto enfatizado aqui —, que esse testemunho interno do
Espírito Santo diz respeito à certeza do crente com relação à plena autoridade
das Escrituras, e não à própria autoridade inerente das Escrituras. A convicção
de um crente de que as Escrituras têm autoridade é subjetiva, mas a autoridade
das Escrituras é objetiva. Esteja-se ou não convencido da sua autoridade, a
Bíblia é e continua objetivamente autoritativa. A neo-ortodoxia existencialista
confunde estas coisas e defende a subjetividade da própria autoridade da
Bíblia. Para eles, a revelação bíblica só é verdade divina quando fala ao nosso
coração. Como dizem, "as Escrituras não são, mas se tornam a Palavra de
Deus" quando existencializadas.18
B.
Escopo da Autoridade das Escrituras
Essas posições da teologia liberal e da
neo-ortodoxia com relação à origem e à certeza da autoridade das Escrituras são
seríssimas. Contudo, talvez mais séria ainda (por ser mais sutil) é a questão
relacionada ao escopo da autoridade das Escrituras.
Uma nova concepção da
autoridade das Escrituras tem surgido entre os eruditos evangélicos (inclusive
reformados de renome, tais como G. C. Berkouwer19), conhecida como
neo-evangélica. O neo-evangelicalismo limita o escopo (a área) da autoridade
das Escrituras ao seu propósito salvífico. Segundo essa concepção, a autoridade
das Escrituras limita-se à revelação de assuntos diretamente relacionados à
salvação, a assuntos religiosos.20
A doutrina neo-evangélica faz
diferença entre o conteúdo salvífico das Escrituras e o seu contexto salvífico,
reivindicando autoridade e inerrância apenas para o primeiro. Mas tal posição
não reflete nem se coaduna com a posição reformada e protestante histórica.
Para esta, o escopo da autoridade das Escrituras é todo o seu cânon. É verdade
que a Bíblia não se propõe a ser um compêndio científico ou um livro histórico.
Mas, ainda assim, todas as afirmativas nelas contidas, sejam elas de caráter
teológico, prático, histórico ou científico, são inerrantes e autoritativas.21
Os principais problemas
relacionados com a posição neo-evangélica quanto à autoridade das Escrituras
são os seguintes: Primeiro, como distinguir o conteúdo salvífico do seu
contexto salvífico? É impossível. As Escrituras são a Palavra de Deus revelada
na história. Segundo, como delimitar o que está ou não está diretamente
relacionado ao propósito salvífico, se o propósito da obra da redenção não é
meramente salvar o homem, mas restaurar o cosmo? Que porções das Escrituras
ficariam de fora do escopo da salvação? Como Ridderbos admite, "a Bíblia
não é apenas o livro da conversão, mas também o livro da história e o livro da
Criação..."22 Que áreas da vida humana ficariam de fora da obra da
redenção? A arte, a ciência, a história, a ética, a moral? Quem delimitaria as
fronteiras entre o que está ou não incluído no propósito salvífico? Admitir, portanto,
o conceito neo-evangélico de autoridade das Escrituras é cair na cilada liberal
do cânon dentro do cânon, e colocar a razão humana como juiz supremo de fé e
prática, pois neste caso competirá ao homem determinar o que é ou não propósito
salvífico.
Conclusão
Em última instância, a questão da autoridade das Escrituras pode ser resumida na seguinte pergunta: quem tem a última palavra, Deus, falando através das Escrituras, ou o homem, por meio de suas tradições, sentimentos ou razão? A resposta dos Reformadores foi clara. Embora reconhecendo que o propósito especial das Escrituras não é histórico, moral ou científico, mas salvífico, eles não diminuíram a sua autoridade de forma alguma: nem por adições ou suplementos, nem por reduções ou limitações de qualquer natureza. A fé reformado-puritana reconhece a autoridade de todo o conteúdo das Escrituras, e sua plena suficiência e suprema autoridade em matéria de fé e práticas eclesiásticas.
Em última instância, a questão da autoridade das Escrituras pode ser resumida na seguinte pergunta: quem tem a última palavra, Deus, falando através das Escrituras, ou o homem, por meio de suas tradições, sentimentos ou razão? A resposta dos Reformadores foi clara. Embora reconhecendo que o propósito especial das Escrituras não é histórico, moral ou científico, mas salvífico, eles não diminuíram a sua autoridade de forma alguma: nem por adições ou suplementos, nem por reduções ou limitações de qualquer natureza. A fé reformado-puritana reconhece a autoridade de todo o conteúdo das Escrituras, e sua plena suficiência e suprema autoridade em matéria de fé e práticas eclesiásticas.
Tão importante foi a
redescoberta destas doutrinas pelos Reformadores, que pode-se afirmar que, da
aplicação prática das mesmas, decorreu, em grande parte, a profunda reforma
doutrinária, eclesiástica e litúrgica que deu origem às igrejas protestantes.
Todas as doutrinas foram submetidas à autoridade das Escrituras. Todos os elementos
de culto, cerimônias e práticas eclesiásticas foram submetidos ao escrutínio da
Palavra de Deus. A própria vida (trabalho, lazer, educação, casamento, etc.)
foi avaliada pelo ensino suficiente e autoritativo das Escrituras. Muito
entulho doutrinário teve que ser rejeitado. Muitas tradições e práticas
religiosas acumuladas no curso dos séculos foram reprovadas quando submetidas
ao teste da suficiência e da autoridade suprema das Escrituras. E a profunda
reforma religiosa do século XVI foi assim empreendida.
Mas muito tempo já se passou
desde então. O evangelicalismo moderno recebeu, especialmente do século
passado, um legado teológico, eclesiástico e litúrgico que precisa ser
urgentemente submetido ao teste da doutrina reformada da autoridade suprema das
Escrituras. É tempo de reconsiderar as implicações desta doutrina. É tempo de
reavaliar a nossa fé, nossas práticas eclesiásticas e nossas próprias vidas à
luz desta doutrina. Afinal, admitimos que a Igreja reformada deve estar sempre
se reformando — não pela conformação constante às últimas novidades, mas pelo
retorno e conformação contínuos ao ensino das Escrituras.
Sabendo que a nossa natureza
pecaminosa nos impulsiona em direção ao erro e ao pecado, conhecendo o engano e
a corrupção do nosso próprio coração, reconhecendo os dias difíceis pelos quais
passa o evangelicalismo moderno (particularmente no Brasil), e a ojeriza
doutrinária, a exegese superficial e a ignorância histórica que em grande parte
caracterizam o evangelicalismo moderno no nosso país, não temos o direito de
assumir que nossa fé e práticas eclesiásticas sejam corretas, simplesmente por
serem geralmente assim consideradas. É necessário submeter nossa fé e práticas
eclesiásticas à autoridade suprema das Escrituras.
Assim fazendo,
não é improvável que nós, à semelhança dos Reformadores, também tenhamos que
rejeitar considerável entulho teológico, eclesiástico e litúrgico acumulados
nos últimos séculos. Não é improvável que venhamos a nos surpreender, ao
descobrir um evangelicalismo profundamente tradicionalista, subjetivo e
racionalista. Mas não é improvável também que venhamos a presenciar uma nova e
profunda reforma religiosa em nosso país. Que assim seja!
Notas
1 Ver, por exemplo, William Ames, A Fresh Suit against Human Ceremonies in God’s Worship (Rotterdam, 1633); David Calderwood, Against Festival Days, 1618 (Dallas: Naphtali Press, 1996); George Gillespie, Dispute against the English Popish Ceremonies Obtruded on the Church of Scotland (Edinburgh: Robert Ogle and Oliver & Boyd, 1844); e John Owen, "A Discourse concerning Liturgies and their Impositions,"em The Works of John Owen, vol. 15 (Edinburgh: The
Banner of Truth Trust, 1965).
1 Ver, por exemplo, William Ames, A Fresh Suit against Human Ceremonies in God’s Worship (Rotterdam, 1633); David Calderwood, Against Festival Days, 1618 (Dallas: Naphtali Press, 1996); George Gillespie, Dispute against the English Popish Ceremonies Obtruded on the Church of Scotland (Edinburgh: Robert Ogle and Oliver & Boyd, 1844); e John Owen, "A Discourse concerning Liturgies and their Impositions,"
2 Cf. John MacArthur Jr., Com
Vergonha do Evangelho: Quando a Igreja se torna como o Mundo (São José dos
Campos: Editora Fiel, 1997) e Paulo Romeiro, Evangélicos em Crise: Decadência
Doutrinária na Igreja Brasileira (São Paulo: Mundo Cristão, 1995).
3 Ver capítulo sobre a
"Consciência Puritana," em J. I. Packer , Entre os Gigantes de Deus: Uma
Visão Puritana da Vida Cristã (São José dos Campos: Editora Fiel, 1991),
115-132.
4 Sobre o conceito reformado
de inspiração e infalibilidade (inerrância) das Escrituras, ver L. Berkhof,
Introducción a la
Teología Sistemática (Grand Rapids: The Evangelical
Literature League, [1973]), 159-190; A. A. Hodge, Evangelical Theology: A
Course of Popular Lectures (Edinburgh and Pennsylvania: The Banner of Truth
Trust, 1976), 61-83; Loraine Boettner, Studies in Theology (Phillipsburg and
New Jersey: Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1978), 9-49; e J. C.
Ryle, Foundations of Faith: Selections From J. C. Ryle’s Old Paths (South
Plainfield, New Jersey: Bridge Publishing, 1987), 1-39.
5 Cf. também Salmo 119.39, 43,
62, 75, 86, 89, 106, 137, 138, 142, 144, 160, 164, 172; Mateus 24.34; João
17.17; Tiago 1.18; Hebreus 4.12 e 1 Pedro 1.23,25.
6 Lloyd-Jones afirma que essas
expressões são usadas 3.808 vezes no Antigo Testamento; e que os que assim se
expressavam estavam deixando claro que não expunham suas próprias idéias ou imaginações.
D. Martin Lloyd-Jones, Authority (Edinburgh and Pennsylvania: The Banner of
Truth Trust, 1984), 50.
7 Ver também Atos 28.25 e
Hebreus 4.3, 5.6 e 10.15-16.
8 O termo empregado é
gegraptai (gegraptai). O tempo (perfeito) indica uma ação realizada no passado,
cujos resultados permanecem no presente: foi escrito e permanece válido,
falando com autoridade.
9 Outras evidências da
autoridade divina das Escrituras são apresentadas por Lloyd-Jones, Authority,
30-50; e por John A. Witmer, "The Authority of the Bible,"
Bibliotheca Sacra 118:471 (July 1961): 264-27.
10 O Talmud inclui também a
Gemara, comentários rabínicos sobre o Mishnah, escritos entre 200 e 500 AD (C.
L. Feinberg, "Talmude e Midrash," em J. D. Douglas , ed.,
O Novo Dicionário da Bíblia, vol. 3 (São Paulo: Edições Vida Nova, 1979),
1560-61.
11 Conferir também Mt 15.3ss.
12 Berkhof, Introducción a la Teología Sistemática ,
207.
13 Um exemplo bem atual: há
poucos dias atrás, cientistas anunciaram que pesquisas feitas com o DNA dos
fósseis do assim chamado homem de Neanderthal — até então
"inquestionavelmente" considerado um dos antepassados mais recentes
do homem na cadeia evolutiva —, revelam que esses ossos nada têm a ver com a
raça humana. Exemplos como estes repetem-se continuamente, e deveriam
tornar-nos cautelosos em atribuir à ciência autoridade maior do que a da
revelação bíblica.
16 Ensinada no parágrafo V do
capítulo I da Confissão de Fé de Westminster.
17 Ibid.
18 Outros dados sobre a
importância da doutrina reformada da autoridade das Escrituras em relação à
teologia liberal e à neo-ortodoxia podem ser obtidos em Lloyd-Jones, Authority,
30-61; John A. Witmer, "Biblical Authority in Contemporary Theology,"
Bibliotheca Sacra 118:469 (January 1961), 59-67; e Kenneth S. Kantzer,
"Neo-Orthodoxy and the Inspiration of Scripture," Bibliotheca Sacra
116:461 (January 1959), 15-29.
19 Ver G. C. Berkouwer,
Studies in Dogmatics: Holy Scripture (Grand Rapids: Eerdmans, 1975) e Ronald
Gleason, "In Memoriam: Dr. Gerrit Cornelius Berkouwer," Modern
Reformation 5:3 (May/June 1996), 30-32.
20 Alguns eruditos têm
considerado a doutrina reformada tradicional da autoridade das Escrituras
conforme ensinada pelos teólogos de Princeton, tais como Charles Hodge
(1797-1878), Alexander Hodge (1823-1886) e B. B. Warfield (1851-1921), como um
desvio do ensino dos Reformadores e da Confissão de Fé de Westminster. Ver, por
exemplo, Ernest Sandeen, The Roots of Fundamentalism: British and American
Millenarianism, 1800-1930 (Chicago: University of Chicago Press, 1970). Alguns,
como Jack Rogers e Donald McKim, The Authority and Interpretation of the Bible:
A Historical Approach (San Francisco: Harper & Row, 1979), chegam a
defender que a doutrina reformada das Escrituras encontra seus legítimos
representantes em
Abraham Kuyper (1837-1920) e Herman Bavinck (1854-1921), os
quais teriam se antecipado aos esforços de Karl Barth e G. C. Berkouwer no
sentido de restaurar a verdadeira tradição reformada. Outros, entretanto, têm
demonstrado que estas teses não procedem, visto que os teólogos de Princeton
estão em substancial harmonia com outros que os antecederam, e com Kuyper e
Bavinck. Ver Randall H. Balmer, "The Princetonians and Scripture: A
Reconsideration," Westminster Theological Journal 44:2 (1982): 352-365; e
Richard B. Gaffin, Jr., "Old Amsterdam and Inerrancy?," Westminster
Theological Journal 44:2 (1982), 250-289; 45:2 (1983): 219-272.
21 Uma demonstração da posição
reformada e protestante histórica da inerrância das Escrituras em português
pode ser encontrada em
John H. Gerstner , "A Doutrina da Igreja sobre a
Inspiração Bíblica," em James Montgomery Boice , ed., O Alicerce da
Autoridade Bíblica, 2a ed. (São Paulo: Vida Nova, 1989), 25-68.
22 Herman
Ridderbos, Studies in Scripture and its Authority (Grand Rapids: Eerdmans,
1978), 24.
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