A GRAÇA E
O CONHECIMENTO
"Antes
crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A
Ele seja dada a glória, assim agora, como até o dia da eternidade". (2Pe
3.18)
O cristão é
um ser humano em desenvolvimento. Alguém usava uma camiseta onde estava
escrito:
"Tenha
paciência porque ainda estou em construção".
É; estamos
em construção. O crente em nosso Senhor Jesus Cristo tem que agradecer
diariamente a graça de Deus e de Seu Filho, e ir penetrando mais e mais além do
véu do santuário.
Sim. A graça e o conhecimento têm como sua fonte a pessoa de Cristo Jesus.
Pedro, o apóstolo, nos adverte a crescer "na graça e no conhecimento"
do Senhor, e o faz no mesmo espírito que levou Paulo a dizer "seguindo a
verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo" e
"o Senhor vos faça crescer e abundar em amor uns para com os outros e para
com todos."
A experiência da santificação está relacionada ao crescimento cristão, e é,
mesmo, um desafio ao crescimento na sabedoria, no conhecimento, na experiência
e na graça.
A GRAÇA
A
graça de Deus, Seu amor que não merecemos, faz-nos o que somos. Ela é Deus em
operação no nosso ser. É impressionante que todas as religiões começam com o
ser humano buscando seu(s) deus(es). Assim no animismo, no candomblé, no
hinduismo, etc. Mas o evangelho de Cristo começa com Deus buscando a pessoa
humana. Só temos que examinar o testemunho da Sua Palavra:
"Nisto
se manifesta o amor de Deus para conosco: em que Deus enviou seu Filho
unigênito ao mundo, par que por meio dele vivamos. Nisto está o amor: não em
que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou a nós, e enviou seu
Filho como propiciação pelos nossos pecados. Nós amamos, porque Ele nos amou
primeiro".
A graça de
Deus escolheu os patriarcas: Noé, Abraão, Jacó, José, Moisés. Escolheu os
profetas: Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, Amós (7.14,15). Jesus Cristo
escolheu os apóstolos (Mt 10.10; Mc 3.13; Lc 6.13; 9.1; 2Co 12.9); escolheu os
seus santos (Rm 1.7; 1Co 1.2: Ef 1.1,2). A Bíblia é a história da graça de
Deus, e Deus Pai é o Deus de toda graça (1Pe 5.10), como o Espírito Santo é o
Espírito da graça (Zc 12.10), e Jesus Cristo é a Palavra de Deus cheia de
"graça e de verdade"(Jo 1,14).
Mas a graça de Jesus Cristo, na qual somos encorajados a crescer, não é uma
graça barata, graça de liquidação. Não é a pregação do perdão sem
arrependimento, do batismo sem discipulado, da comunhão sem confissão. Porque
graça barata é a graça sem cruz, que dispensa o Calvário e sem Jesus Cristo
ressuscitado!
Não! Pela graça há uma nova relação com Deus, uma nova obediência. E afirmar
Efésios 2.8 ("Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não
vem de vós, é dom de Deus) é sinônimo de confiança no valor da obra salvadora
de Deus.
A graça se reflete em três aspectos: a já mencionada salvação pela graça, a
segurança por meio da graça e a graça como regra de conduta. A graça salvadora
é mais que simples amor porque é amor que liberta, que torna o salvo triunfante
sobre o juízo final (leia Jo 3.18); é o amor sem limites e livre de Deus pelo
perdido. A segurança pela graça significa que Deus guarda os seus (leia Jo
10.27-29; Rm 8.35-39; Jo 6.37,39). Como regra de vida significa que devemos
crescer nela pela transformação segundo a imagem de Cristo, o que é produzido
em nós pelo poder do Espírito Santo (leia 2Co 3.18). E então surge em nossa
vida um novo senso de responsabilidade por nossas atitudes, de propriedade por
nossas ações, de alegria por estar vivo e ativo no reino de Deus; novo sentido
de esperança para o futuro, e, por isso, celebramos a graça, maravilhosa graça,
abundante graça, extraordinária graça que nos dá salvação, vida e alegria!
O
CONHECIMENTO
O
"conhecimento de Cristo" pode ser uma de duas coisas, ou as duas; um
conhecimento acerca de Jesus Cristo (cf. 2Pe 1.5,6), ou/e um conhecimento
pessoal de Cristo, um encontro com Ele como Salvador pessoal, um contato
constante com Ele.
Então, qual o Cristo que você conhece? O Cristo morto da teologia popular
brasileira? Mostrando a uns amigos americanos um templo antigo da Igreja
Majoritária, ao lado do espanto, misto de admiração pelos painéis folheados a
ouro, altares rebuscados, tive um repentino susto ao ver debaixo de um dos
altares um cadáver num caixão. Olhando melhor, observei que era uma imagem em
tamanho natural representando o Cristo defunto tão ao gosto de certa forma de
religiosidade. São expressões de um folheto de cordel:
"Vendo
Jesus Cristo morto
Ao pé da cruz se sentaram
5.000 e 5 chagas
Encontrou no corpo dele.
5.000 e doze espinhos
A Virgem retirou dele.
5.000 gramas de sangue
Fazem cortina pra ele.
Aos mãos
estavam furadas,
Os ossos desconjuntados,
Despido de suas vestes
Os dois pés finos cravados,
O peito rasgado à lança.
Os dois olhos fechados".
Qual o
Cristo que você conhece? O Cristo distante? O Cristo do Corcovado, dos Altos do
Cruzeiro (praticamente toda cidade do interior, e algumas capitais como
Salvador, Rio de Janeiro, Recife têm um morro para onde se vai em romaria,
subindo, por vezes, de joelho a escadaria numa autêntica demonstração de
"salvação pelas obras"). O Cristo metafísico, longe de nós?
Qual o Cristo que você conhece? O Cristo-que-não-inspira-respeito? Das músicas
profanas e piadas pretensamente jocosas?
Qual o Cristo que você conhece? O Cristo docético, pálido, ausente da vida
diária; cuja natureza humana e deformada, ou substituido por um orixá?
Qual o Cristo que você conhece? O Cristo-Oxalá, filho unigênito do Pai Olorum?
O Cristo Senhor de Maitreya do movimento "Nova Era"?
O Cristo-só-homem? Grande filósofo? Grande mestre?
O irmão está pensando, "Pastor, eu sou crente, sou salvo!" Volto a
lhe perguntar, meu irmão, qual o Cristo que você conhece? O Cristo sem poder,
inerte, que nega a palavra profética de que o Espírito do Senhor está sobre
Ele, e O ungiu para anunciar boas novas, proclamar libertação, restauração, por
um fim à opressão, e proclamar o ano das bênçãos, da graça, o ano aceitável do
Senhor (cf. Lc 4.17-21; Is 61.1ss)?
Qual o Cristo que você conhece? O Cristo existencialista de Bultmann? O Cristo
revolucionário, parazelote, de Cullmann, dos teólogos da libertação, das
categorias políticas? Ou o Cristo servo-sofredor dos profetas, o Cristo da
esperança de todo o Novo Testamento?
Num dos seus iluminados livros, o Pr. A. W. Tozer ensina que há graus de conhecimento
das realidades divinas. E, fazendo um paralelo com o templo de Jerusalém,
explica dizendo que o primeiro deles é o grau da razão que se refere ao pátio
do templo, ao ar livre e recebendo a luz natural. Verdade é que tudo era
divino, mas a qualidade do conhecimento se tornava mais sublime à medida que o
adorador deixava o átrio, a parte de fora do templo, e ia se aproximando do
Santo dos Santos onde estava a arca. O segundo grau é o da fé correspondendo ao
lugar Santo. É aquele que penetra na fé da criação divina do Universo, crê na
Trindade Divina, crê que Deus é amor, e que Jesus Cristo morreu por nós,
ressuscitou, e está ao lado do Pai. O mais elevado é o da experiência
espiritual: é o Santo dos Santos, o conhecimento mais puro. Em João 14.21, Jesus
disse,
"Aquele
que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me
ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele."
E Paulo fala
de sua experiência no Espírito com as seguintes expressões:
"É
necessário gloriar-me, embora não convenha; mas passarei a visões e revelações
do Senhor. Conheço um homem em Cristo que há catorze anos (se no corpo não sei,
se fora do corpo não sei; Deus o sabe) foi arrebatado até o terceiro céu. Sim,
conheço o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei: Deus o sabe), que
foi arrebatado ao paraíso, e ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao
homem referir." (2Co 12.1-4)
Essa é a
bem-aventurança maior: entrar pelo véu rasgado no lugar Santíssimo.
Tendo pois,
irmãos, ousadia para entrarmos no santíssimo lugar , pelo sangue de Jesus, pelo
caminho que Ele nos inaugurou, caminho novo e vivo, através do véu, isto é, da
sua carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com
verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo o coração purificado de má
consciência, e o corpo lavado com água limpa, retenhamos inabalável a confissão
da nossa esperança, porque fiel é aquele que fez a promessa." (Hb
10.19-23).
O
CRESCIMENTO
O
alvo do crente em Jesus Cristo é crescer. Crescer na graça (2Pe 3.18), crescer
no conhecimento (Cl 1.10), crescer na fé (1Ts 1.3), crescer na sabedoria (Pv
1.5), crescer em tudo (Ef 4.15).
Em Êxodo 33.13. Moisés faz um pedido ousado a Deus: "rogo-te que agora me
mostres os teus caminhos, para que eu te conheça". O Senhor, então,
assegura que irá com ele (cf. V. 14). No verso 18, ele faz um pedido ainda mais
ousado "Rogo-te que me mostres a tua glória". E, com isso, Moisés nos
ensina que não podemos ficar com menos.
Crescer como cristão, na fé, na graça e no conhecimento é uma construção do
Espírito de Deus. É o Espírito Santo o grande operário de Deus em nosso próprio
espírito.
Ora, as pessoas sensíveis à vida espiritual desejam ser mudadas para melhor.
Pois o evangelho tem uma proposta radical: é preciso morrer! Morrer para o
passado e nascer para uma nova vida:
"Porque morreste, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus":
(Cl 3.3; cf. Rm 6.2,7ss; Cl 2.13; 1Co 15.31,36; Ef 4.24).
Então, virão
os sinais de crescimento: a paz, a alegria, a esperança, a segurança, a
gratidão, o serviço (cf. Rm 14.17; Jo 14.27; Rm 5.5; 1Pe 1.3; 1Jo 5.12,13; Lc
24.53; Rm 12.1).
Por que crescer espiritualmente? Porque nosso Deus o espera. Pelo Espírito,
entramos na nova vida em Cristo; pelo Espírito, vemos em Jesus a revelação de
Deus, e então nos entregamos a Ele, e Seu Espírito toma conta de nós e faz a
obra, "porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo
Espírito Santo que nos foi dado" (Rm 5.5). É preciso crescer espiritualmente
porque nossa utilidade no reino de Deus o exige, decorrendo daí um interesse
profundo na Causa de Cristo, e a participação ativa no reino. É preciso crescer
espiritualmente para evitar a advertência de Paulo em 1Tm 1.5-7.
No entanto, se alguma dificuldade há, ponha-a diante de Deus em oração, e faça
certas perguntas: quem ordena crescer? Não é o pastor, mas o próprio Deus. Em
quem devo crer? Em Jesus Cristo. Mas não pergunte, "como posso crer?"
Pois diante de tantas graças, bênçãos e maravilhas, pergunte "Como poderia
deixar de crer?" E, então, submeta-se!
Pedro termina a carta como a começara (cf. 1.2), e como a vida cristã é vida de
desenvolvimento, crescimento e rumo à maturidade, ao lado da ordem de Pedro
está o encorajamento de Paulo,
"...
esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão
adiante, prossigo para o alvo pelo prêmio da vocação celestial de Deus em
Cristo Jesus" não esquecendo o profeta Oséias: "Conheçamos e
prossigamos em conhecer ao Senhor..." (6. 3).
AUTOR DESCONHECIDO
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