A GRAÇA RESISTÍVEL
Observação:
Este artigo, tem a visão arminiana a respeito da Graça Irresistível, não concordo plenamente no que está escrito nele, contudo ao fazer sua publicação tenho a intenção de produzir em nós uma reflexão a partir de opiniões
contrárias. (Pr. Cornélio)
O título deste estudo poderia ser: Uma
vez salvo, salvo para sempre? Ou: Se o crente cometer apostasia perderá a
salvação? Sei tratar-se de um assunto controvertido. De um lado, os que
seguindo a doutrina do Calvinismo consideram a salvação imperdível. Do outro,
os que alinhados ao ensino do Arminianismo consideram plenamente possível o
cair da graça. Para melhor compreensão, vejamos um resumo dessas doutrinas.
CALVINISMO - Sistema teológico elaborado pelo teólogo francês João Calvino (1509-1564). Os pontos fundamentais do seu ensino são:
(1) Depravação total: Os homens nascem
depravados, não lhes sendo possível, nesse estado, escolher o caminho da
salvação.
(2) Eleição incondicional - Somos
escolhidos por Deus para salvação, independente de qualquer mérito de nossa
parte.
(3) Graça irresistível - Os escolhidos
não resistirão à graça salvadora do Criador, em razão da atuação do Espírito
Santo, convencendo-os do pecado.
(4) Expiação limitada aos eleitos - O
alto preço do resgate, pago por Jesus na cruz, alcançou apenas os eleitos.
(5) Perseverança dos crentes - Nenhum
dos eleitos perderá a salvação; irão perseverar até o fim, pois estão
predestinados ao céu desde a fundação do mundo. Em resumo, o movimento
teológico calvinista defende a absoluta soberania de Deus, e a exclusão do
livre-arbítrio. Deus concede aos eleitos graça eficaz e irresistível, que
permite ao homem continuar perseverante por toda a vida.
ARMINIANISMO - Sistema teológico formulado pelo
teólogo holandês Jacobus Arminius (1560-1609), em oposição à doutrina
Calvinista da predestinação, assim exposto:
1) Livre-arbítrio - Deus concedeu ao homem a capacidade de aceitar
ou recusar a salvação que lhe é oferecida.
2) Eleição condicional - Deus elege ou reprova com base na fé ou
na incredulidade em Jesus Cristo.
3) Expiação ilimitada - Cristo morreu por todos, e não somente
pelos eleitos.
4) Graça resistível - É possível ao homem rejeitar a Graça de Deus
e, em conseqüência, perder a salvação.
5) Decair da Graça - Os salvos podem perder a salvação se não
perseverarem até o fim.
Os defensores da graça irresistível, ou seja, os que tomam partido
no Calvinismo, não admitindo a perda da salvação dos "eleitos" em
nenhuma hipótese, apresentam, dentre outros, os seguintes argumentos bíblicos:
"Eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; ninguém
poderá arrebatá-las da minha mão" (Jo 10.28).
"Quem nos separará do amor de Cristo?..." (Rm 8.35).
"Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de
tropeçar..."(Jd 24).
"E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual fostes
selados para o dia da redenção" (Ef 4.30)
"Portanto, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as
coisas velhas já passaram, tudo se fez novo" (2 Co 5.17).
"Pois [Jesus Cristo] nos elegeu nele antes da fundação do
mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele. Em amor nos
predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo..." (Ef 1.4-5).
"Porque os que dantes conheceu, também os predestinou ...aos
que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também
justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou"(Rm 8.29-30).
Outras referências associadas à eleição e predestinação: Jr
1.5;10.23; Sl 65.4; Jo 6.44; 9.23; 10.13; Ef 1.11-12; 2.10; 2 Tm 1.9; 2 Ts
2.13. 1 Jo 2.18-19.
Os que admitem a perda da salvação do crente, em caso de abandono
da fé, apresentam, dentre outros, os seguintes argumentos bíblicos:
"Se voluntariamente continuarmos no pecado, depois de termos
recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos
pecados, mas certa expectação horrível de juízo e ardor de fogo que há de
devorar os adversários" (Hb 10.26-27).
"Meus irmãos, se algum dentre vós se desviar da verdade, e
alguém o converter, sabei que aquele que fizer converter um pecador do erro do
seu caminho salvará da morte uma alma..." (Tg 5.19-20).
"Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, como o
ramo, e secará; tais ramos são apanhados, lançados no fogo e se queimam"
(Jo 15.6).
"Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos
alguns apostatarão da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas
de demônios" (1 Tm 4.1).
"Agora, contudo, vos reconciliou no corpo de sua carne...se é
que permaneceis fundados e firmes na fé..."(Cl 1.22-230).
"Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande
salvação? ..." (Hb 2.1-3).
LIVRE-ARBÍTRIO
Deus criou o homem com liberdade para tomar decisões, com
liberdade para rejeitar ou aceitar Seu plano de salvação, para crer ou não crer
nEle. Essa liberdade faz parte da condição humana. Caso contrário, seríamos
como marionetes, ou robôs programados pelo Criador. Não seríamos culpados por
nossos atos.
Adão e Eva tiveram a liberdade de decidir; influenciados pelo
diabo, optaram pela desobediência ao Criador. Antes disso, Lúcifer, um anjo de
grande prestígio no céu, também usou de seu livre-arbítrio, desejou ser igual
ao Altíssimo e caiu em rebelião.
Em Deuteronômio 28, Deus coloca diante do seu povo dois caminhos:
(a) "Se obedeceres à voz do Senhor teu Deus...todas as bênçãos virão sobre
ti..." (b) "Mas se não deres ouvidos à voz do Senhor teu Deus...virão
sobre ti todas estas maldições...". Noutras palavras, Deus concede ao seu
povo a liberdade de escolha.
Jesus nos deixou outro exemplo dessa liberdade. Em Mateus 7, Ele
afirma que diante dos pecadores existem dois caminhos: um deles é espaçoso e
conduz à perdição; o outro, estreito, conduz à vida eterna. Disse mais que são
poucos os que percorrem o caminho apertado. Ora, se não prevalecesse a vontade
humana, todos os homens seguiriam o caminho estreito, porque é da vontade de
Deus que todos se salvem.
O cerne da questão está na condição do homem após aceitar Jesus
como seu Senhor e único Salvador. O crente, usando o seu livre-arbítrio, pode
voltar-se para o pecado, perder a fé, perder a graça de Deus e, assim, perder a
salvação? Mais uma pergunta cabe formular: o crente possui livre-arbítrio? Se a
resposta for afirmativa, é evidente que ele poderá usá-lo, e usá-lo para
abandonar a sua fé original e fazer morrer a chama do primeiro amor; se
negativa, teríamos que solicitar respaldo bíblico para tal opinião.
A partir da decisão do primeiro casal no Éden, as evidências
escriturísticas provam que em nenhuma circunstância o ser humano perde o
direito à liberdade de escolha dada por Deus. O argumento de que temos o
Consolador que nos convence do pecado, e portanto não podemos cair, não me
parece suficiente. Vejam: "Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós
um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo" (HB 3.12). Só pode
haver desenlace quando há enlace; só podemos sair de onde entramos;
"apartar-se do Deus vivo" significa quebrar uma aliança existente.
ELEIÇÃO E PREDESTINAÇÃO
No estudo da apostasia pessoal não se pode deixar de comentar a
doutrina dos eleitos e predestinados. No Calvinismo, nada impedirá a salvação
dos escolhidos. No Arminianismo, a eleição e a reprovação é com base na fé ou
incredulidade. Examinemos o seguinte versículo: "Veio [Jesus] para o que
era seu, e os seus não O receberam; mas a todos quantos O receberam deu-lhes o
poder de serem feitos filhos de Deus: aos que crêem no seu nome"(Jo 1.11-12).
Somente seremos adotados como filhos se crermos em Jesus. Logo, os
"eleitos" estão sujeitos a esta condição.
Os "eleitos" de Deus são todos os que, após receber a
Cristo, perseveram na fé obediente. Por isso, Jesus advertiu aos discípulos:
"Aquele que PERSEVERAR até o fim será salvo" (Mt 10.22). Os que
mantiverem a fé perseverante estarão predestinados à vida eterna. Logo, os que
forem negligentes não terão o mesmo destino.
São eleitos os que estiverem unidos a Cristo: "Quem nEle crê,
não é condenado, mas quem não crê já está condenado, porque não crê no nome do
unigênito Filho de Deus" (Jo 3.18). Portanto, o entendimento de uma
eleição por meio de um ato unilateral da parte de Deus fica prejudicado. É da
vontade de Deus que nenhum homem se perca (Jo 6.39) ou caia da graça (Gl 5.4; 2
Pe 3.9). A expressão "cair da graça" nos diz da possibilidade de
alguém perder a salvação.
Se todos os homens são chamados a participarem do plano de
salvação (Jo 3.16), não há como acreditarmos que Deus escolhe alguns e, por
exclusão, condena os demais. Se estivessem previamente escolhidos, não teria
sentido a recomendação para que "todos os homens em todos os lugares se
arrependam" (At 17.30), nem a ordem do "Ide por todo o mundo, e
pregai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16.15).
O ensino calvinista leva ao entendimento de que Deus, ao eleger
seus preferidos, selou por um ato divino o destino dos não eleitos, ou seja, a
morte eterna. Os não escolhidos estariam proibidos de crer em Jesus para serem
salvos. Não consigo entender - ainda que me esforce - a idéia de que Cristo
morreu somente por alguns pecadores. Vejamos: Cristo morreu pelos pecadores (Rm
5.8); Cristo morreu pelos ímpios (Rm 5.6); Cristo morreu para dar salvação aos
que nEle crerem (Jo 3.16, 11.26); Cristo veio para dar vida às ovelhas perdidas
(Mt 15.24; 18.11).
Como vimos, a eleição para a salvação em Cristo é oferecida a
todos (Jo 3.16-17), porque Deus "deseja que todos os homens se salvem, e
venham ao conhecimento da verdade" (1 Tm 2.4), "pois a graça de deus
se manifestou, trazendo salvação a todos os homens" (Tt 2.11). Deus não
deseja salvar apenas uma parte dos homens, mas TODOS os homens.
Se houvesse a dupla predestinação, ou seja, os escolhidos para o
céu, os não escolhidos para a perdição, o inferno não teria sido preparado para
o diabo e seus anjos, como diz Mateus 25.41. Este versículo teria outro
enunciado: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado
desde a fundação do mundo para o diabo e seus anjos, e para todos os não
eleitos". Ora, os homens são jogados no lago de fogo e enxofre em
conseqüência de uma decisão por eles tomada em vida, a decisão (livre-arbítrio)
de não seguir o caminho estreito.
A predestinação e a eleição dizem respeito ao corpo coletivo de
Cristo (a verdadeira igreja), e somente alcançam os que tomam parte neste corpo
mediante a fé viva em Jesus Cristo (At 2.38-41; 16.31). Como está dito à p.
1890 da Bíblia de Estudos Pentecostal, "no tocante à eleição e
predestinação, podemos aplicar a analogia de um grande navio viajando para o
céu. Deus escolhe o navio (a igreja) para ser sua própria nau. Cristo é o
Capitão e Piloto desse navio. Todos os que desejam estar nesse navio eleito,
podem fazê-lo mediante a fé viva em Cristo. Enquanto permanecerem no navio,
acompanhando seu Capitão, estarão entre os eleitos. Caso alguém abandone o
navio e o seu Capitão, deixará de ser um dos eleitos. A predestinação concerne
ao destino do navio e ao que Deus preparou para quem nele permanece. Deus
convida todos a entrar a bordo do navio eleito mediante Jesus Cristo".
Como veremos a seguir, muitas são as advertências para que ninguém saia do
navio; caso alguém não permaneça nele, não chegará ao porto seguro. Vejamos.
A GRAÇA CONDICIONAL
A seguir, alguns textos que falam da PERMANÊNCIA na fé como condição
sine qua non para não perdermos a coroa da vida.
"Eu sou a videira, vós sois os ramos. Se alguém permanece em
mim, e eu nele, esse dá muito fruto...Se alguém não permanecer em mim, será
lançado fora..." (Jo 15.5-6).
Comentário: Nessa alegoria Jesus diz da possibilidade de um crente
abandonar a fé, deixá-LO, e perder a salvação.
"A vós também, que noutro tempo éreis estranhos...agora vos
reconciliou no corpo da sua carne...se é que permaneceis fundados e firmes na
fé, não vos deixando afastar da esperança do evangelho..." (Cl 1.21-23).
Comentário: Paulo fala aos "santos e irmãos em Cristo. A
reconciliação em Cristo depende da permanência na fé.
"Mas o meu justo viverá pela fé. E se ele recuar, a minha
alma não tem prazer nele. Nós, porém, não somos daqueles que retrocedem para a
perdição, mas daqueles que crêem para a conservação da alma" (Hb 10.38-39)
Comentário: Em outras palavras: Se o crente ("meu
justo") me abandonar, estará perdido. A possibilidade de recuo, de deixar,
de abandonar a fé é uma realidade possível. "Daqueles que retrocedem"
é uma palavra de exortação, uma injeção de ânimo para que continuem firmes na
fé, mas fala também da possibilidade de o crente volta ao primitivo estado.
"E odiados de todos sereis por causa do meu nome. Mas aquele que
perseverar até o fim será salvo" (Mt 10.22).
Comentário: A segunda parte poderia ser assim: "Aquele que
não perseverar até o fim NÃO será salvo".
A necessidade de fidelidade e vigilância é realçada na parábola
das Dez Virgens (Mt 25.1-13), onde Cristo demonstra que boa parte dos crentes
não estará preparada na Sua inesperada vinda. Da mesma forma, a parábola do
"Servo Vigilante" (Lc 12.35-48) demonstra a imperiosa necessidade de
o crente não negligenciar na fé, e manter-se espiritualmente pronto para a volta
do Senhor.
"Irmãos, se algum de entre vós se tem desviado da verdade, e
alguém o converter, saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho
um pecador salvará da morte uma alma e cobrirá uma multidão de pecados"
(Tg 5.19-20).
Comentário: A epístola, dentre outros objetivos, destinou-se a
encorajar crentes judeus, exortando-os a se manterem na Verdade que lhes foi
revelada. Como se vê, Tiago admite ser possível alguém, "dentre os
irmãos", abandonar a fé e resistir à graça.
"Os quais, deixando o caminho direito, erraram seguindo o
caminho de Balaão... Portanto se, depois de terem escapado das corrupções do
mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez
envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o
primeiro" (2 Pe 2.15,20-22).
Comentário: Pedro retrata a situação dos falsos mestres que
anteriormente receberam a redenção pelo sangue de Jesus, depois voltaram à
escravidão do pecado e perderam a salvação.
CONCLUSÃO
Ao terminar de fazer o homem à sua imagem e conforme sua
semelhança, Deus declarou que Sua obra era muito boa (Gn 1.31). Adão estava
livre para tomar decisões, até para desobedecer ao Criador, como de fato
desobedeceu (Gn 2.16-17; 3.1-6). Nas palavras do Senhor a Caim (Gn 4.7) nota-se
que a liberdade de decidir continua fazendo parte do ser humano.
A salvação em Cristo é oferecida a todos os homens porque Ele
morreu por todos os pecadores, pelo mundo inteiro, e não apenas pelos eleitos
(2 Co 5.14-15; Hb 2.9; 1 Jo 2.2). A salvação está disponível a todos, mas os interessados deverão buscá-la na cruz, pois é dada somente aos que crêem.
(2 Co 5.14-15; Hb 2.9; 1 Jo 2.2). A salvação está disponível a todos, mas os interessados deverão buscá-la na cruz, pois é dada somente aos que crêem.
Não existe eleição sem Cristo. A condição para sermos eleitos é a
fé obediente em Cristo Jesus. Vejam:
"Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual
nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo,
como também NOS ELEGEU NELE [em Cristo] antes da fundação do mundo, para que
fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em caridade, e nos PREDESTINOU
para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de
sua vontade" (Ef 1.3-5).
AUTOR DESCONHECIDO
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