A Guerra
por Dentro
Tiago 4:1-6
Conforme o
relato bíblico, o mundo começou em paz, e terminará do mesmo jeito. Mas, se
existe uma característica que define a raça humana entre o começo e fim, é a
palavra “CONFLITO”. Desde o momento da primeira briga conjugal, quando Adão
gritou “Foi a mulher que Tu me deste”; desde a rivalidade entre os irmãos
gêmeos, Caim e Abel, que culminou no primeiro assassinato; incluindo guerras
praticamente ininterruptas durante milhares de anos. São conflitos causados
pela natureza humana. Essa natureza faria qualquer coisa para conseguir o que
quer, inclusive eliminar qualquer um que bloqueie seus sonhos e ideais.
É isso que Tiago 4.1-6 nos ensina:
1 De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres
que militam na vossa carne?
2 Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a
lutar e a fazer guerras. Nada tendes, porque não pedis;
3 pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres.
4 Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele,
pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.
5 Ou supondes que em vão afirma a Escritura: É com ciúme que por nós anseia o
Espírito, que ele fez habitar em nós?
6 Antes, ele dá maior graça; pelo que diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá
graça aos humildes.
Infelizmente, algumas pessoas são infiéis a Deus quando flertam com o mundo,
quando paqueram valores terrenos, quando dão a mão para a ambição, quando
abraçam a cobiça. Mas nosso Deus não aceita concorrentes. Sua aliança com Seu
povo exige EXCLUSIVIDADE!
Versículo 4 começa chamando os leitores de “infiéis”. A palavra é “adúlteros”,
uma palavra forte e inesperada, mas que tem raízes fortes no Velho Testamento.
O povo de Israel foi acusado de adultério espiritual pelo fato de ter
abandonado o Deus da aliança. Era uma “esposa” que dividia sua atenção entre
dois amores.
Deus não aceita uma esposa de tempo parcial. Seu senhorio é total. Deus não
quer um pedaço, mas tudo. O amigo do mundo não pode ser amigo de Deus.
No parágrafo que começa no v. 1, Tiago traça para nós o fruto ruim de guerras,
brigas e conflitos até a raiz podre de egoísmo desenfreado, cobiça, inveja,
mundanismo. Ele nos mostra que nossa atitude para com o mundo revela nosso
coração.
A fé verdadeira manifesta-se numa vida transformada, de forma presente e ativa.
Esse texto nos desafia a rejeitar a cultura desse mundo e abraçar os valores de
Deus. Vamos traçar a patologia de conflitos entre nós: A causa, as
conseqüências, e a cura para conflitos humanos . . .
I. A Causa de Conflito Humano: Cobiça (1-2)
O texto começa com uma pergunta retórica que expõe nosso coração, e provoca uma
reflexão mais filosófica. De onde vem as guerras, os conflitos, as conflagrações
entre homens?
Seja uma briga de duas crianças que querem o mesmo brinquedo, seja no serviço,
entre funcionário e patrão, ou entre motoristas no meio do trânsito; sejam
batalhas travadas entre pais e filhos, marido e esposa, ou, entre nações as
guerras e invasões—qual a raiz desses conflitos?
O mundo oferece muitas respostas. Alguns diriam que o problema está no
ambiente. Que temos que modificar o comportamento do ser humano
proporcionando-lhe um ambiente mais ameno.
Outros como Marx diriam que todos os conflitos vêm por causa de opressão
econômica. Talvez Freud diria que conflito é o resultado de inibições sexuais e
repressão religiosa. Mas Deus deixa muito claro que o problema vem de outra
fonte. Vem do coração humano. Vem da cobiça.
Vss 1 e 2 dizem que o conflito humano vem dos prazeres carnais dentro de nós
(1), da inveja que temos. Há três termos nesses versículos que descrevem essa
idéia de cobiça:
1. A palavra “prazeres” é a mesma que nos deu palavras como “hedonismo” ou
“hedonista”.
Identifica pessoas que vivem pelo prazer. Os prazeres em nossos corações
tornam-se ídolos que dominam nosso pensamento, nossos sonhos. Conflitos surgem
quando um interfere com o belo prazer do outro.
2. A palavra “cobiça” representa desejo forte. Normalmente tem uma conotação
negativa, um desejo tão forte que domina toda nossa vida, todo nosso
pensamento. Ficamos com uma obsessão ou fixação por aquilo que desejamos.
Cobiça é um pecado tão malvado quanto o diabo, cuja cobiça custou-lhe o céu. É
um pecado tão velho quanto a raça humana, pois foi no Jardim do Éden que o
primeiro casal, num ambiente perfeito-- em perfeita comunhão com Deus, sem
inflação, sem poluição, sem impostos, sem pedágios, sem IPTU--mesmo assim
queria mais.
“Quanto você precisa para realmente ficar contente?” alguém perguntou certa vez
para o homem mais rico no mundo. “Somente mais um dólar” foi sua resposta.
Uma interpretação meramente superficial dos primeiros 9 dos 10 mandamentos
talvez levaria alguém a pensar que fosse capaz de cumpri-los. “Não furtarás,
não mentirás, não matarás . . .” Mas quando chegamos ao décimo mandamento, Deus
deixa claro que Sua vontade vai foi muito além do superficial. Deus quer nosso
coração. O décimo mandamento diz, “Não cobiçarás.” Esse mandamento expõe nosso
coração como realmente é: sujo, enganoso, cobiçoso, invejoso. Essa é a função
da Lei. A Lei mostra minha incapacidade de obedecer a Deus. Expõe a natureza
humana, e me impulsiona até a Cruz.
Por isso, para viver em paz, preciso deixar que Deus arranque meu velho
coração, que me faz pecar, e que troque-o por outro.
3. A palavra “invejais” (“invejais, e nada podeis obter”) é a mesma usada em
3:14 (inveja amargurada), e vem de uma palavra que fez surgir nossa palavra
“zelo”. A idéia é que temos zelo (ambição), por nós mesmos, e faremos o que
julgamos necessário para conseguir o que queremos, quando queremos e como
queremos.
Cobiça e inveja sempre são pecados cometidos de forma vertical, de baixo para
cima. São pecados de comparação em que olhamos sempre para o que os outros
“acima” de nós têm, e que desejamos. Poucas vezes fazemos o contrário, olhando
para baixo e reconhecendo como somos bem-aventurados. Por isso precisamos
sondar e guardar nosso coração, que é altamente enganoso. Precisamos descobrir
se porventura estamos sendo seduzidos pelas cobiças, pelos desejos, pela
inveja, levando-nos a comprometer valores bíblicos. Quando Deus, em Sua
infinita graça, revela-nos nosso coração, quando percebemos que boa parte da
causa dos conflitos está dentro em mim, então já estamos andando em direção da
cruz de Cristo. Só Ele pode nos libertar de nós mesmos.
II. As Conseqüências do Conflito Humano (2-3)
Há pelo menos duas conseqüências que o texto aponta como resultado da nossa
cobiça
1. Mãos vazias (2,3)
Cobiça nunca é o caminho correto para satisfazer nossos desejos. O caminho mais
garantido para NÃO receber o que tanto deseja é egoísmo, brigas, contendas,
conflitos, cobiça e inveja. Quando crianças brigam por um brinquedo, muitas
vezes ambas acabam perdendo o direito de usá-lo. Quando adultos processam um ao
outro, muitas vezes o único que ganha é o advogado deles! Quando nações se
enfrentam em guerra civil, todos perdem. Pessoas cobiçosas muitas vezes acabam
com as mãos vazias!
Depois das nossas brigas, mesmo quando saímos vitoriosos, o que ganhamos? Valeu
a pena mesmo? Será que valeu ter relacionamento quebrados, uma úlcera criada,
noites sem sono? Será que o caminho de contendas e cobiça trazem algum fruto
bom? Ganhamos a batalha mas perdemos a guerra!
Conflito humano também é caracterizado pela independência de Deus. A pessoa
quer conseguir o que quer do SEU jeito. Manipula, prepara o esquema, orquestra
todos os detalhes. Mas esquece do mais básico: pedir a Deus. “Nada tendes,
porque não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em
vossos prazeres” (4.2,3; veja 1:5)!
E quando pede, é de forma egoísta. Nenhuma oração egoísta pode ser feita “em
nome de Jesus”. Oração “em nome de Jesus” é oração feita conforme Jesus faria.
E Jesus vivia sua vida para servir aos outros, não para satisfazer seus
próprios desejos!
Na igreja, vemos os resultados de conflitos em divisões, facções e irmãos que
nada têm a ver um com o outro. Talvez ganhemos uma discussão, uma posição, uma
opinião, mas perdemos o irmão.
No mundo, um país ganha um pouco mais de território, um pouco mais de dinheiro,
mas a que custo? Quantas pessoas morrem para assegurar esses benefícios?
Quantas mães perdem seus filhos? Quantas mulheres ficam viúvas? Quantas crianças
órfãs? Significa que guerra sempre é errada? Não, há ocasiões em que guerra se
torna necessária para proteger vidas. Mas muitas vezes, sua raiz é cobiça
humana que resulta em mãos e corações vazios.
Isso nos leva para a segunda conseqüência de conflito humano:
2. Morte
Quando a cobiça individual junta-se a outros pecados, o resultado é guerra.
Guerra leva para morte. Morte enche o inferno. E o inimigo fica contente. Sua
rebelião, sua causa, avança. A guerra mais sangrenta, na história, foi a II
Guerra Mundial: 56,4 milhões de pessoas morreram para satisfazer a cobiça de um
grupo de homens que queriam controlar o mundo Para que?
Mas guerra civil é pior ainda. A Rebelião de Taiping na China, matou 20 milhões
de compatriotas! A Guerra Civil dos Estados Unidos foi a mais triste em toda a
sua história.
O DIABO ESTÁ ENCHENDO O INFERNO COM AS ALMAS DE PESSOAS VÍTIMAS DE SUAS
PRÓPRIAS COBIÇAS.
Talvez você pense que sua cobiça nunca matou ninguém. Mas Jesus disse que cada
um que se irar contra seu irmão, já matou-o em seu coração (Mt 5:21,22). A
diferença entre Guerra Mundial e meus conflitos é que eu tenho uma língua e não
uma bomba nuclear como arma principal.
Matamos o caráter de outras pessoas. Matamos sua reputação. Por que? Porque
queremos o que elas tem. Ou porque bloquearam nossos sonhos.
III. A Cura para Conflito Humano (4-6)
A cura para conflito humano tem que ser aplicado onde reside o problema: no
coração. Somente um espírito dependente e humilde, que busca em Deus tudo que
precisa para vida, é capaz de resolver os conflitos humanos.
Tiago aponta as atitudes necessárias para contrariarmos a tendência humana de
cobiçar e brigar:
1. Lealdade (4,5)
Conflitos naturalmente se levantam quando a nossa lealdade fica dividida.
Adúlterio talvez seja a maior ameaça que um casal pode enfrentar. A pior praga
que uma nação pode experimentar é guerra civil. É como um organismo cujo
sistema imunológico começa a atacar seus próprios órgãos até matar o corpo. Uma
casa dividida contra si mesma não pode permanecer.
Por isso, nossa lealdade a Deus, nossa amizade com Ele, toma precedência sobre
tudo. Amizade com o mundo requer inimizade com Deus (vs. 4).
O V. 5 é de difícil interpretação: “Ou supondes que em vão afirma a Escritura:
É com ciúme que por nós anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós?”
À luz do contexto imediato, que fala de adultério espiritual, parece que a
idéia é mais ou menos assim: Deus colocou em nós o Espírito Santo, pelo qual
temos a adoção como filhos de Deus. É um espírito filial, que clama “Abba,
Pai”. É um Espírito de relacionamento, que se entristece quando nós nos
distanciamos de Deus e dos irmãos. É um Espírito que provoca em nós uma
inquietação quando deixamos nosso primeiro amor, e seguimos a outras paixões
que não sejam Deus.
Nesse sentido o Espírito fica com ciúmes do nosso primeiro amor.
2. Humildade/Graça
O parágrafo termina destacando o dom gratuito de Deus para com aqueles que
buscam nEle o que precisam. Não precisamos lutar. Não precisamos manipular. Não
precisamos assassinar o caráter daqueles ao nosso redor. Não precisamos fazer
um show. Não precisamos usar máscara. Precisamos ser humildes. Dependentes.
Precisamos clamar ao Senhor com nossas necessidades. Precisamos pedir “em nome
de Jesus”— conforme Seu desejo, sempre dentro da ética bíblica que exalta o
outro acima de nós mesmos. Precisamos clamar pela graça dEle, seu amor não
merecido.
O filósofo Epicuro disse, “Para fazer um homem alegre, não aumente suas
posses, mas limite seus desejos. A cura para conflito humano está aqui, em
humildade e dependência do Senhor. “Os humildes recebem o que os arrogantes
cobiçam.”
A cura para cobiça e conflitos humanos não é conseguir mais, é desejar
menos; não é achar sua satisfação em coisas, mas no Criador. Não é lutar para
vencer pelo esforço, mas depender para vencer pela graça.
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