ALÉM DE MIM MESMO: A ORAÇÃO DO DISCÍPULO (Mt 6.9-13)
6ª Parte: O pão nosso de cada dia dá-nos hoje - MT
6.11
Introdução:
Temos
estudado, em nossos encontros, a oração do discípulo. Hoje, em nosso sexto
encontro, iremos refletir sobre uma parte desta oração que está diretamente
ligada aos nossos desejos – o pão nosso
de cada dia dá-nos hoje.
Creio que esta parte da oração tem sido muito mal
compreendida devido ao fato de vivermos em uma sociedade onde a fé cristã tem
sido transformada, por algumas supostas igrejas, em mais uma mercadoria de
consumo. Essas “supostas” igrejas oferecem os mais variados produtos de
consumo, prometendo para aqueles que adquirirem tais produtos um mundo melhor.
Diante uma sociedade utilitarista e consumista como a nossa, estas “supostas”
igrejas tem encontrado, do outro lado, consumidores desejando comprar o favor
de Deus para alcançarem a vida que eles julgam serem a melhor para si mesmos, e
por isso essa teologia da prosperidade, onde Deus é visto como um ser poderoso
e servo das nossas vontades tem se proliferado.
Vejamos o que Jesus
nos ensina através desta petição: o pão
nosso de cada dia dá-nos hoje.
1º Lição: Podemos pedir, mas não o que quisermos...
Jesus está nos
ensinando a pedirmos “o pão nosso de cada dia”. Jesus não está nos estimulando
a pedir tudo o que quisermos. Não podemos pedir “o pão nosso de cada dia”
desmembrado do restante da oração.
Para
que eu chegue nesta parte da oração é preciso primeiro passar pelo:
1.
Pai Nosso – É um chamado
a me relacionar com Deus em uma relação profunda ao ponto de invocá-lo como Pai.
2.
Está no céu - reconhecer que
Ele está no céu significa que Ele tem o poder sobre tudo e que está acima de mim.
3.
Santificado seja
Teu nome
– Viver de forma que tudo que eu busco, faço e desejo tem o fim único de
santificar o nome do Pai celestial e não o meu nome.
4.
Venha o Teu
Reino –
É a manifestação de um coração disposto a servir ao Rei. É a declaração do súdito
que está disposto a dar a vida por seu rei.
5.
Seja feita a tua
vontade –
Palavras que só podem ser ditas por aqueles que se rendem inteiramente a Deus e
que desejam viver o sonho de uma comunhão plena com o Pai.
O ensino de Jesus por meio dessa oração serve para todas
as demais passagens a respeito de oração. Jesus nunca intencionou que
entrássemos na presença do Pai para pedirmos o que viesse em nosso coração,
pois Ele sempre soube que do coração do homem procedem os maus desígnios (Mt
15.19).
Jesus não está
nos ensinando a pedir o carro que desejamos, a casa de praia que sonhamos, a
viagem para a Europa que tanto ambicionamos,... Não! Jesus está nos ensinando a
pedir o que precisamos para vivermos como discípulos, pessoas que seguem os
seus passos, que optaram em fazer da vontade do Pai a missão de suas vidas,
assim como Ele o fez. A vontade do Pai deve ser o pão que nos alimenta e que
nos faz continuar lutando por um mundo melhor.
Entretanto existe um espaço em nossa relação com Deus para
pedirmos o que quisermos, para apresentarmos a Deus os desejos de nosso coração
ainda que seja a casa de praia, a viagem para a Europa ou um carro. Deus se
interessa por aquilo que está em nosso coração – Agrada-te do Senhor, e Ele satisfará aos desejos do teu coração (Sl
37.4) – contudo não são essas coisas que Jesus nos ensina a pedir.
Quando um discípulo pede “o pão nosso de cada dia”,
Jesus, espera que ele já tenha entendido que sua vida é para o Pai, que sua existência
só tem sentido quando o nome do Pai é santificado, e que ele deve viver para
construção do Reino do Pai, portanto o pão que ele precisa a cada dia é aquilo
que precisa para realizar a vontade do Pai a cada dia.
O que Jesus
espera de um discípulo é que ele priorize a busca pelo Reino de Deus e a Sua
justiça, e todas as demais coisas Deus acrescentará em sua vida (Mt 6.33).
2º Lição: somos chamados a nos relacionarmos
cotidianamente com Deus.
Somos
tendenciosos a nos lembrarmos de Deus somente quando vivemos grandes crises ou
experimentamos grandes vitórias as quais temos a certeza de que não conseguiríamos
alcança-las a não ser por uma intervenção sobrenatural, então nos lembramos de
Deus. Deus somente é percebido por nós nas fronteiras limitadoras de nossas
vidas.
A palavra “pão” (Grego - Arton) neste texto significa
todo o alimento necessário, mas muitos teólogos dizem que também pode
significar tudo aquilo que necessitamos para sobreviver, não somente o
alimento, mas também a vestimenta, a saúde, a habitação, etc.
Jesus
ao nos ensinar a suplicar “o pão nosso de cada dia” nos faz colocar Deus no
centro de nossas necessidades cotidianas, e dessa forma nos levar a nos
relacionar com Deus todos os dias. A súplica pelo “pão de cada dia” revela a
presença de Deus no que há de mais simples e comum no nosso dia-a-dia.
Nossas
necessidades profissionais, afetivas, físicas, emocionais, tudo importa a Deus.
Ele é o Deus do cotidiano, das pequenas coisas, do pão sobre a mesa e do sol
que se põe ao entardecer. Deus se interessa pelo fio de cabelo que cai e pela
mão que o toca no meio de uma multidão. Deus se interessa por você. Deus
trabalha por você enquanto você vive a correria promovida por este sistema
maligno que domina nosso mundo. Deus se preocupa com as coisas que parecem mais
banais dentro de nossas vontades, se a prioridade do nosso coração é o Seu
Reino. Ex.: Certa vez
decidi tirar um dia de jejum, e fui para um lugar deserto, onde eu sabia que
ninguém me encontraria, com o fim de passar um tempo especial com Deus. Quando
resolvi entregar o jejum, falei com Deus que gostaria muito de encerrar aquele
período de jejum tomando um gostoso sorvete de napolitano. Tomei meu carro e
retornei para casa. Qual não foi a minha surpresa quando meu irmão (Rogério)
abriu a porta e logo foi me dizendo que tinha comprado um sorvete de
napolitano, que seu eu quisesse estava na geladeira. Oh Glória! Deus é
maravilhoso. Vocês não conhecem meu irmão... ele é uma pessoa boa de coração,
mas é igual ao tio Patinhas. Só Deus mesmo para fazer ele comprar um pote de
sorvete.
3º Lição: Devemos orar pelo “pão nosso” e não “pelo
meu pão”.
É uma oração que precisa ser feita com
os olhos bem atentos ao nosso próximo, porque ao fazê-la, nos tornamos mordomos
responsáveis dos bens de Deus. Ela coloca em choque o básico, o “pão de cada
dia”, em meio a tantas “necessidades” criadas pelo espírito consumista. Ela
pede por justiça, que é fruto da conversão do “meu” para o “nosso”, e rompe com
o egoísmo, nos transformando em seres solidários.
Com
ela aprendemos a valorizar o essencial (oramos pelo pão, não pelo caviar),
porque a vida está na relação comunitária, na fidelidade e responsabilidade
para com Deus, dono da prata e do ouro, da comida e da bebida, que nos confiou
os seus bens para cuidar dos seus filhos. É a fé tomando forma nas situações
mais reais da vida.
Precisamos ser sinceros a maioria de
nós não sabe o que é viver na necessidade. A
maioria de nós não sabe nada de pobreza. Nunca duvidamos do aparecimento de
nossa próxima refeição, nem tememos o frio por causa de nossas roupas
esfarrapadas. A ideia de “pão de cada dia” fornecido “neste dia” é estranha a
nós.
Nossa abundância
de boas coisas nos faz deixar de apreciar o cuidado diário de Deus. Tornamo-nos
cristãos mimados. Somos iguais à criança que se queixa por não ter um X-box
(vídeo game) e diz para seu pai: “Todos os meus amigos os têm em seus quartos”,
ela reclama. Mas não percebe que ela tem todas as outras coisas que lhe são
importantes, tem o amor de seus pais, tem roupas, tem alimento, tem saúde, etc...
Nossa abundância,
somada ao consumismo necessário de nossa sociedade, promovido por uma forte
mídia, nos levaram a uma troca de valores – não sabemos mais definir o que é
necessário e o que é supérfluo – pensamos que viver com luxo é uma necessidade.
Quando sentimos desejo de comermos algo, não
aceitamos qualquer coisa, precisamos ir no Outback.
O triste é que quando nos deparamos com
a necessidade de alguém não temos recurso para ajudar, pois usamos tudo para
nosso próprio sustento e prazer, nos esquecemos que oramos pelo PÃO NOSSO, e
que essa oração me torna responsável pelo pão daqueles que me cercam.
Por meio dessa oração percebo que sou parte do corpo e não vivo só, que sou
juntamente com todo corpo de Cristo responsável em santificar o nome de Deus,
demonstrando o amor de Deus e Sua vontade para com todos. Sou chamado para
dividir o pão com meus semelhantes.
Conclusão: Eu gostaria de concluir
levantando algumas perguntas para você refletir.
·
Os
pedidos que você tem feito a Deus dizem respeito ao Reino Dele ou ao seu
próprio reino? Suas orações são feitas a partir do coração de Deus ou do seu
coração?
·
Suas
orações apresentam você como discípulo ou como “senhor” diante de Deus? Quando
você ora você busca Deus para servi-lo ou o busca para que Ele faça suas
vontades?
·
Você
reconhece que Deus tem suprido suas necessidades cotidianas? Você consegue ver
Deus cuidando de você no dia a dia?
·
Você
tem dividido o “pão nosso” com seus semelhantes? Muitas pessoas ganham bem, mas
não compreendem que Deus as abençoa para que elas possam dividir com os
necessitados. Deus se faz amor através de sua doação.
·
Ore
para que Deus te de um coração igual ao Dele
Pr. Cornélio
Póvoa de Oliveira
20/08/2014
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