A
igreja como "sal da terra" e "luz do mundo" no contexto do
caos urbano
I
- INTRODUÇÃO
Lembro-me de uma viagem aérea
junto com minha família, no percurso entre Manaus e São Paulo, num grande
avião, voando a nove mil metros de altura. Saímos de Manaus à tarde, e nos
deleitávamos com a vista maravilhosa da terra; o Rio Negro encontrando-se com o
Rio Solimões e formando o Rio Amazonas,
a floresta imensa encobrindo tudo, impedindo até a vista de pequenas cidades e
a curvatura da terra começando a aparecer no horizonte claro bem adiante.
Como o vôo leva quase quatro
horas, após pouco tempo de vôo a noite começou a chegar.Olhávamos, porém já não
víamos a paisagem abaixo de nós, pois tudo começou a se tornar escuro na
terra.Já não víamos as estradas, nem montes, nem árvores e nem os rios. Parecia
que a viagem tinha perdido aquele encanto inicial, com toda a beleza daquilo
que Deus criou desaparecendo aos nossos olhos.De repente, algo diferente omeçou
a nos chamar a atenção. Muitos pontos de luz começavam a brotar no meio da
escuridão, como grupos de pirilampos piscando nas noites escuras do
interior.Eram pequenas cidades e vilarejos que começavam a acender suas luzes
para nós.
Um aqui, outro acolá e a nossa expectativa
sobre a viagem começou a mudar. Luzes estavam nascendo e nós olhávamos
maravilhados do céu! Como deve ser belo para o céu contemplar o novo nascimento
de almas na terra! Pontos de luz brotando no meio da escuridão e resplandecendo
a luz de Cristo para a terra e para o alto, mostrando que agora existe vida
onde antes só havia morte, mostrando que agora existe luz onde antes só havia
trevas ! "E as trevas não prevalecem sobre a luz..."Luzes surgiam em
todos os cantos; um espaço de trevas, escuridão, de repente um agrupamento de
luzes, mais um espaço escuro e mais luzes. Podíamos contar do alto dezenas de
agrupamentos de luzes no meio daquela escuridão toda.
Deleitávamo-nos ainda com
aquela visão, quando o vôo se aproximou da cidade de São Paulo e os pequenos
agrupamentos de luzes desaparecem, e para nosso espanto, surge diante de nossos
olhos um oceano de luzes. Quilômetros e quilômetros de luzes cintilavam aos
nossos pés. (eis a igreja!) Ficamos extasiados com aquele mar de luzes sobre o
qual começávamos a mergulhar, pois o avião iniciava os procedimentos de
terrizagem.
Enquanto o avião percorria os últimos quilômetros até a cabeceira da pista, tínhamos a impressão que era uma grande seara de luzes e que iríamos colhê-las com as mãos. (lembrei-me do arrebatamento e de Mt 24:31 - "E ele enviará os seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus.")
Enquanto o avião percorria os últimos quilômetros até a cabeceira da pista, tínhamos a impressão que era uma grande seara de luzes e que iríamos colhê-las com as mãos. (lembrei-me do arrebatamento e de Mt 24:31 - "E ele enviará os seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus.")
A luz é verdadeiramente algo
maravilhoso de se contemplar !Pouco tempo depois, após a aterrizagem, saímos do
aeroporto e entramos no trânsito da cidade.A agitação, as buzinas, as freadas,
o ronco dos motores, a fumaça, os faróis, o corre-corre das pessoas numa
competição sem sentido, e já quase não percebíamos a beleza das luzes que do
alto tínhamos observado.Seria assim a vida do cristão ou da igreja do Senhor ?
Bela vista do alto, porém, na agitação, no caos do mundo moderno mistura-se com
ele e não é mais percebida ? A sua luz não é mais percebida e valorizada ?
I - TORNANDO-SE LUZ
"Contemplai-o e sereis
iluminados..." (Salmo 34:5) Em Mateus 5:14, o Senhor Jesus diz acerca
daqueles homens que o seguiam e o ouviam: "Vós sois a luz do mundo".
Comparando com o salmo 34:5, podemos entender o significado daquilo que o
Senhor nos diz. Ele morreu a nossa morte
para que as trevas da morte se extinguisse em nós, para que a sua luz pudesse
nos encher e nos iluminar. Agora somos luz, não seremos mais confundidos quando
estivermos diante das trevas da morte. Não seremos mais confundidos diante dos
que ainda estão em trevas, por que nos tornamos diferentes."Se alguém está
em Cristo é nova criatura..." (II Co 5:17).
Uma das características
marcantes entre o cristão e o não cristão é que somos pessoas diferentes. Temos
luz, não luz própria como algumas celebridades do mundo costumam dizer de si
mesmos, mas refletimos a luz de Cristo em nossas vidas.Somos uma nova criação
de Deus, novos seres, com características radicalmente diferentes do que éramos
antes. Antes éramos trevas e agora somos luz. Andávamos de noite e agora
andamos de dia. Antes não enxergávamos, agora vemos além do véu. Antes éramos
confundidos com qualquer um, pois nas trevas todos parecem iguais, agora os
nossos rostos podem ser vistos, nossas ações podem ser confrontadas e o nosso
caminhar pode ser observado.Quando contemplamos o Senhor Jesus como nosso
salvador e quando entendemos o motivo verdadeiro da sua vinda, da sua morte e
da sua ressurreição, certamente passamos a reconhecer a nossa dependência dele
em tudo o que somos e fazemos.
Estávamos presos no pecado e
como recompensa do pecado iríamos receber a morte. Agora Cristo nos libertou do
poder do pecado e da morte e nos deu vida, vida em abundância."Vós sois a
luz do mundo", somente vós, os que contemplaram a Cristo em seus corações
e o amaram e decidiram fazer a sua vontade.Importa-vos tornar-se luz ?.
Importa-vos nascer de novo ? Importa-vos ser nova criatura ?É importante para o
homem tornar-se luz ? Sim. Nada é mais importante para alguém do que isso. Nas
trevas há inquietação e medo. Há dor e sofrimento. Nas trevas não há esperança,
não há alegria e nem segurança; na luz sim.Na luz há grande esperança e
alegria. Na luz há segurança. Na luz há ciência, entendimento e sabedoria . Na
luz há gozo e júbilo."Se alguém andar de dia não tropeça, porque vê a luz
deste mundo, mas, se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz" (Jo
11:9b e 10) A luz é Jesus ! Olhai para ele !
II - VIVER NA LUZ É UM
PROCESSO
"Mas a vereda do justo é
como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito"
(Pv 4:18) Quando eu nada entendia, andava em trevas. Mas um dia
olhei para algumas pessoas e percebi que havia algo diferente nelas. Lembro-me,
eu era ainda um jovem; porém, apesar de ser ainda jovem, já vivia angustiado
com a vida, com as pressões do dia-a-dia, com o trabalho, a escola, a família e
as dificuldades que todos passam em suas vidas.Estava parado num ponto de
ônibus urbano em São Paulo ,
e enquanto aguardava o meu ônibus chegar , vi chegar em alguns carros, do outro
lado da rua, algumas pessoas que me chamaram a atenção.
Elas estavam felizes, sorriam, conversavam animadamente e traziam nas suas mãos alguns instrumentos musicais e também a Bíblia.Atravessaram a rua, passaram por mim e se dirigiram a uma templo logo adiante. Fiquei observando aquelas pessoas até entrarem pela porta do templo, e nunca me esqueço da forte impressão que elas deixaram
Na verdade, ninguém precisou passar horas pregando o evangelho para mim. Foi a luz que brilhava naquelas pessoas que tocou
Voltava eu de uma viagem a
trabalho, de noite, e faltando ainda aproximadamente 50 quilômetros para
chegar a minha cidade vi um feixe de luz muito forte no céu. Espantado a
princípio, acalmei-me logo ao perceber que alguém manobrava, com movimentos
lentos, debaixo das nuvens, um canhão de luz.Durante o restante da viagem
acompanhei aquela luz movendo-se de um lado para outro até chegar a minha
cidade. Como um luz potente pode ser vista de tão longe !A comunhão com Cristo
pode nos tornar canhões de Luz, assim como ao manter-nos frios e ausentes pode
fazer com que a nossa luz se torne fraca e quase invisível.
A oração, a adoração, a
leitura e a meditação na Palavra é o combustível para que a nossa luz possa
manter-se sempre forte e brilhante.
A prática da Palavra é que
torna a nossa luz vista e sentida pelos que estão nas trevas e pode trazê-los
também para a luz."Mesmo que o caos e a agitação nos pressione, mas se
vivermos uma vida diferente daquilo que vemos no mundo, se vivermos de uma
maneira limpa, humilde, reta, pura e saudável, os que estão em trevas verão a
nossa luz, e ainda que não os notemos ou que não venhamos a pregar-lhes o
evangelho, olharão para nós e perceberão que há algo maravilhoso em nós que
gostariam também de possuir.
III - LUZ E TEMPERO
Nosso Senhor afirmou "Vós
sois a Luz do mundo" (Mt 5: 14), mas também disse antes (Mt 5:13)
"Vós sois o sal da terra".Todos sabemos que o sal serve para temperar
e para conservar. Mas uma característica que marca muito o sal é que ele é
essencialmente diferente daquilo ao qual ele é adicionado.Eu uso o termo
adicionado, porque é assim que nos referimos ao sal. Toda receita que contém
este componente assim se refere: adicione sal em tal medida, ou adicione sal a
gosto, ou adicione uma pitada de sal.Vemos então que quando o sal está
presente, ele altera substancialmente o ítem ao qual ele foi adicionado e passa
a dar sabor e um gosto especial
.Quando o Senhor Jesus diz que "Vós sois
o sal da terra", fica claro que a nossa presença no mundo vai trazer
grande alteração no meio onde vivemos.A nossa luz pode ser notada até sem um
envolvimento maior com as pessoas, porém, acho que para sermos sal precisamos
estar presentes, precisamos ser adicionados, somados e misturados ao meio onde
vivemos e fazer a grande diferença para que a vida tenha um sabor especial para
os que conosco vivem.Ser sal exige uma atuação quase que corpo a corpo com
aqueles que ainda não tem sabor, que são as pessoas que vivem sem direção, na
ignorância e nas trevas.
É necessário condenar o erro e
não participar dele. Firmar posições de retidão e de fidelidade a Deus.
Demonstrar com ações que não pactuamos com as tendências imorais do mundo, com
a mentira e a prostituição tão comuns nas conversas, nos meios de comunicação e
na sociedade.
Ser sal é deixar claro para as
pessoas que nos cercam que pensamos e agimos de forma diferente do mundo. Que
verdadeiramente somos diferentes.Ser sal é agir com humildade, ser amável,
manso e confiável. É demonstrar a alegria da salvação recebida do Senhor Jesus.
É enfrentar as dificuldades em paz, com confiança de que todas as coisas
cooperam para o bem daqueles que amam a Deus.Ser sal é chorar com os que choram
e estender a mão ao nosso próximo na dificuldade.
Existem muitas maneiras de ser sal, mas penso que o princípio é que o sal não salga de longe, não tempera sem o contato e não higieniza se não for aplicado na quantidade necessária.Por isso o cristão para ser sal tem que estar junto, presente, com aquilo que vai ser transformado ou receber sabor. E essa situação exige correr-se um risco.Existe o perigo de não salgar, não temperar e se tornar também como os que não tem sabor. É quando somos sal apenas aparentemente. Temos a aparência do sal mas não somos sal, não somos diferentes verdadeiramente. Quando não passamos pelas transformações trazidas pelo sacrifício de Cristo, quando o nosso interior não foi modificado e o nosso "eu"ainda domina sobre nós, quando nos esquecemos que a nossa vida aqui é efêmera, é passageira, e que devemos pensar nas coisas lá do alto, no nosso futuro com Cristo, podemos nos tornar como os que não têm esperança, enfraquecidos pelos problemas ao seu redor, por andarem apenas pelo que vêem.
Corremos o risco de nos tornar insossos e não cumprimos o nosso papel no mundo. Se isso acontece, então para que serviríamos ? O Senhor Jesus nos diz que quando o sal vier a ser insípido para nada mais presta, senão para ser lançado fora, ser pisado pelos homens; pois como lhe restaurar o sabor ?.Não podemos apenas parecer que somos sal, mas precisamos ser verdadeiramente Sal.O caos, a agitação, as angústias e as tribulações não podem nos afastar do amor de Cristo, a não ser que não tenhamos sido verdadeiramente transformados, que não conhecemos o nosso Senhor, que não tenhamos experiências com Deus e que não confiemos nele.
Quando conhecemos o Senhor e a
sua Palavra, sabemos que nada acontece na vida do cristão por acaso ou
coincidência, pois os passos do homem são dirigidos pelo Senhor (Sl 20:24).
Sabemos que não nos é dado tribulação ou tentação além das nossas forças (II Co
1:8). Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus,
daqueles que são chamados segundo o seu propósito (Rm 8:28). Sabemos que o
Senhor conservará em perfeita paz aquele cujo propósito é firme, porque confia
no Senhor (Is 26:3). Sabemos que o Senhor dá sustento aos que o temem (Sl
111:5). Sabemos que o Senhor é bom, que a sua misericórdia dura para sempre e
de geração a geração sua fidelidade (Sl 100:5).
Enfim, existem tantas
promessas maravilhosas para aqueles que permanecem firmes no Senhor que somente
deixaremos de ser sal e luz no mundo se perdermos o contato com o que Deus é e
com a sua Palavra.O risco existe; quando nos tornamos preguiçosos, indolentes e
rebeldes ou deixamos que o nosso "eu", a nossa carne domine sobre
nós, podemos perder de vista tão belas e maravilhosas bem-aventuranças que o
Senhor dá aos seus filhos e promete aos que são chamados.O risco também é
grande quando ficamos sem viver na prática o significado do que Cristo nos diz
"Vós sois o sal da terra e a Luz do mundo". A Luz deve brilhar e o
sal deve salgar, pois se não for assim a luz é trevas e o sal é algo que não
tempera e portanto não é sal.
Vivamos pois, não por vistas,
para não vivermos em desespero como o mundo, mas por fé, para praticarmos e
aprovarmos as coisas excelentes e nos tornarmos sinceros e inculpáveis para o
dia de Cristo.
PASTOR VALDIR MARFIM
Igreja Batista da Restauração
São José Rio Preto - SP
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