A IGREJA PRIMITIVA
d) Governo Eclesiástico.
A princípio, os seguidores de Jesus não viram a necessidade de
desenvolver um sistema de governo da Igreja. Esperavam que Cristo voltasse em
breve, por isso tratavam os problemas internos à medida que surgiam -
geralmente de um modo muito informal.
Mas o tempo em que Paulo
escreveu suas cartas às igrejas, os cristãos reconheciam a necessidade de
organizar o seu trabalho. O NT não nos dá um quadro pormenorizado deste governo
da igreja primitiva. Evidentemente, um ou mais presbíteros presidiam os
negócios de cada congregação (Rm 12.6-8; 1Ts 5.12; Hb 13.7,17,24), exatamente
como os anciãos faziam nas sinagogas judaicas. Esses anciãos (ou presbíteros)
eram escolhidos pelo ES (At 20.28), mas os apóstolos os nomeavam (At 14.23).
Por conseguinte, o Espírito Santo trabalhava por meio dos apóstolos ordenando
líderes pra o ministério. Alguns ministros chamados evangelistas
parecem ter viajado de uma congregação para outra, como faziam os apóstolos.
Seu título significa "homens que manuseiam o evangelho". Alguns têm
achado que eram todos representantes pessoais dos apóstolos, como Timóteo o foi
de Paulo; outros supõem que obtiveram esse nome por manifestarem um dom
especial de evangelização. Os anciãos assumiam os deveres pastorais normais
entre as visitas desses evangelistas.
Algumas cartas do NT referem-se a bispos na igreja primitiva. Isto é um
bocado confuso, visto que esses "bispos" não formavam uma
ordem superior da liderança eclesiástica como ocorre em algumas igrejas onde o
título é usado hoje. Paulo lembrou aos presbíteros de Éfeso que eles eram
bispos (At 20.28), e parece que ele usa os termos presbítero e bispo
intercambiavelmente (Tt 1.5-9). Tanto os bispos como os presbíteros estavam
encarregados de supervisar uma congregação. Evidentemente, ambos os termos se
referem aos mesmos ministros da igreja primitiva, a saber, os
presbíteros.
Paulo e os demais apóstolos reconheceram que o ES concedia habilidades
especiais de liderança a certas pessoas (1Co 12.28). Assim, quando conferiam um
título oficial a um irmão ou irmã em Cristo, estavam confirmando o que o
Espírito Santo já havia feito.
A igreja primitiva não possuía um centro terrenal de poder. Os cristãos
entendiam que Cristo era o centro de todos os seus poderes (At 20.28). O
ministério significava servir em humildade, em vez de governar de uma posição
elevada (Mt 20.26-28). Ao tempo em
que Paulo escreveu suas epístolas pastorais, os cristãos
reconheciam a importância de preservar os ensinos de Cristo por
intermédio de ministros que se devotavam a estudo especial, "que maneja
bem a palavra da
verdade"
(2Tm 2.15). A igreja primitiva não oferecia poderes mágicos, por meio de
rituais ou de qualquer outro modo. Os cristãos convidavam os incrédulos para
fazer parte de seu grupo, o copo de
Cristo
(Ef 1.23), que seria salvo como um todo. Os apóstolos e os evangelistas
proclamavam que Cristo voltaria para o seu povo, a "noiva" de Cristo
(Ap 21.2; 22.17). Negavam que indivíduos pudessem obter poderes especiais de
Cristo para seus próprios fins egoístas (At 8.9-24; 13.7-12).
e) Padrões de Adoração.
Visto que os cristãos primitivos adoravam juntos, estabeleceram padrões
de adoração que diferiam muito dos cultos da sinagoga. Não temos um quadro
claro da adoração Cristã primitiva até 150 dC, quando Justino Mártir descreveu
os cultos típicos de adoração. Sabemos que a igreja primitiva realizava seus
serviços no domingo, o primeiro dia sa semana. Chamavam-no de "o Dia do
Senhor" porque foi o dia em
que Cristo ressurgiu dos mortos. Os primeiros cristãos
reuniam-se no templo em Jerusalém, nas sinagogas, ou nos lares ( At 2.46;
13.14-16; 20.7-8). Alguns estudiosos crêem que a referência aos ensino de Paulo
na escola de Tirano (At 19.9) indica que os primitivos cristãos às vezes
alugavam prédios de escola ou outras instalações. Não temos prova alguma de que
os cristãos tenham construído instalações especial para seus cultos de adoração
durante mais de um século após o tempo de Cristo. Onde os cristãos eram
perseguidos, reuniam-se em lugares secretos como as catacumbas (túmulos
subterrâneos) de Roma.
Crêem os eruditos que os primeiros cristãos adoravam nas noites de domingo, e
que seu culto girava em torno da Ceia do Senhor. Mas nalgum ponto os cristãos
começavam a manter dois cutos de adoração no domingo, conforme descreve Justino
Mártir - um bem cedo de manhã e outro ao entardecer. As horas eram escolhidas
por questão de segredo e para atender às pessoas trabalhadoras que não podiam
comparecer aos cultos de adoração durante o dia.
-
Ordem do Culto: Geralmente o culto matutino era uma ocasião de
louvor, oração e pregação. O serviço improvisado de adoração dos cristãos no
Dia de Pentecoste sugere um padrão de adoração que podia ter sido geralmente
adotado. Primeiro, Pedro leu as Escrituras. Depois pregou um sermão que aplicou
as Escrituras à situação presente dos adoradores (At 2.14-36). As pessoas que
aceitavam a Cristo eram batizadas, seguindo o exemplo do próprio Senhor.
Os adoradores participavam dos cânticos, dos testemunhos ou de palavras de
exortação (1Co 14.26).
- A Ceia do Senhor: Os primitivos cristãos tomavam a refeição
simbólica da Ceia do Senhor para comemorar a Última Ceia, na qual Jesus e
seus discípulos observaram a tradicional festa judaica da Páscoa. Os temas dos
dois eventos eram os mesmo. Na Páscoa os judeus regozijavam-se porque Deus os
havia libertado de seus inimigos e aguardavam com expectação o futuro como
filhos de Deus. Na Ceia do Senhor, os cristãos celebravam o modo como
Jesus os havia libertado do pecado e expressavam sua esperança pelo dia quando
Cristo voltaria (1Co 11.26). A princípio, a Ceia do Senhor
era uma refeição completa que os cristãos partilhavam em suas casas. Cada
convidado trazia um prato para a mesa comum. A refeição começava com
oração e com o comer de pedacinhos de um único pão que representava o corpo
partido de Cristo. Encerrava-se a refeição com outra oração e a seguir
participavam de uma taça de vinho, que representava o sangue vertido de Cristo.
Algumas pessoas conjeturavam que os cristãos estavam participando de um rito
secreto quando observavam a Ceia do Senhor, e inventaram estranhas histórias a
respeito desses cultos. O imperador Trajano proscreveu essas reuniões secretas
por volta do ano 100 dC. Nesse tempo os cristãos começaram a observar a Ceia do
Senhor durante o culto matutino de adoração, aberto ao público.
- Batismo: O batismo era um acontecimento comum da adoração
cristã no templo de Paulo (Ef 4.5). Contudo, os cristãos não foram os
primeiros a celebrar o batismo. Os judeus batizavam seus convertidos gentios;
algumas seitas judaicas praticavam o batismo como símbolo de purificação, e
João Batista fez dele uma importante parte de seu ministério. O NT não diz se
Jesus batizava regularmente seus convertidos, mas numa ocasião, pelo menos,
antes da prisão de João, ele foi encontrado batizando. Em todo o caso, os
primitivos cristãos eram batizados em nome de Jesus, seguindo o seu próprio
exemplo (Mc 1.10; Gl 3.27).
Parece que os primitivos cristãos interpretavam o significado do batismo de
vários modos - como símbolo da morte de uma pessoa para o pecado (Rm 6.4; Gl
2.12), da purificação de pecados (At 22.16; Ef 5.26), e da nova vida em
Cristo (At 2.41; Rm 6.3). De quando em quando toda a família de um novo
convertido era batizada (At 10.48; 16.33; 1Co 1.16), o que pode significar o
desejo da pessoa de consagrar a Cristo tudo quanto tinha.
- Calendário Eclesiástico: O NT não apresenta evidência alguma de
que a igreja primitiva observava quaisquer dias santos, a não ser sua adoração
no primeiro dia da semana (At 20.7; 1Co 16.2; Ap 1.10). Os cristãos não
observam o domingo como dia de descanso até ao quarto século de nossa era,
quando o imperador Constantino designou-o como um dia santo para todo o Império
Romano. Os primitivos cristãos não confundiam o domingo com o sábado judaico, e
não faziam tentativa alguma para aplicar a ele a legislação referente ao
sábado.
O historiador Eusébio diz-nos que os cristãos celebravam a Páscoa desde os
tempos apostólicos; 1Co 5.6-8 talvez se refira a uma Páscoa cristã na mesma
ocasião da Páscoa judaica. Por volta do ano 120 dC, a igreja de Roma mudou a
celebração para o domingo após a Páscoa judaica enquanto a igreja Ortodoxa
Oriental continuou a celebrá-la na Páscoa Judaica.
f) Conceito do NT sobre a Igreja.
É interessante pesquisar vários conceitos de igreja no NT. A Bíblia
refere-se aos primeiros cristãos como família e templo de Deus, como rebanho e
noiva de Cristo, como sal, como fermento, como pescadores, como baluarte
sustentador da verdade de Deus, de muitas outras maneiras. Pensava-se na igreja
como uma comunidade mundial única de crentes, da qual cada congregação local
era afloramento e amostra. Os primitivos escritores cristãos muitas vezes se
referiam à igreja como o "corpo de Cristo" e o "novo
Israel". Esses dois conceitos revelam muito da compreensão que os
primitivos cristãos tinha da sua missão no mundo.
- O
Corpo de Cristo: Paulo
descreve a igreja como "um só corpo em Cristo" (Rm 12.5) e "seu
corpo" (Ef 1.23). Em outras palavras, a igreja encerra numa comunhão única
de vida divina todos os que são unidos a Cristo pelo ES mediante a fé. Esses
participam da ressurreição (Rm 6.8), e são a um tempo chamados e
capacitados para continuar seu ministério de servir e sofrer para
abençoar a outros (1Co 12.14-26). Estão ligados numa comunidade que personifica
o reino de Deus no mundo.
Pelo fato de estarem ligados a outros cristãos, essas pessoas entendiam que o
que faziam com seus próprios corpos e capacidades era muito importante (Rm
12.1; 1Co 6.13-19; 2Co 5.10). Entendiam que as várias raças e classes
tornam-se uma em Cristo (1Co 12.3; Ef 2.14-22), e deviam aceitar-se
e amar-se uns aos outros de um modo que revelasse tal realidade.
Descrevendo a igreja com o corpo de Cristo, os primeiros cristãos acentuaram
que Cristo era o cabeça da igreja (Ef 5.23). Ele orientava as ações da igreja e
merecia todo o louvor que ela recebia. Todo o poder da igreja para adorar e
servir era dom de Cristo.
- O Novo Israel: Os primitivos cristãos identificavam-se com
Israel, povo escolhido de Deus. Acreditavam que a vinda e o ministério de
Jesus cumpriram a promessa de Deus aos patriarcas (Mt 2.6; Lc 1.68; At 5.31), e
sustentavam que Deus havia estabelecido uma Nova Aliança com os seguidores de
Jesus (2Co 3.6; Hb 7.22, 9.15).
Deus, sustentavam eles, havia estabelecido seu novo Israel na base da salvação
pessoal, e não em linhagem de família. Sua igreja era uma nação
espiritual que transcendia a todas as heranças culturais e nacionais. Quem quer
que depositasse fé na Nova Aliança de Deus, rendesse a vida a Cristo,
tornava-se descendente espiritual de Abraão e, como tal, passava a fazer parte
do "novo Israel" (Mt 8.11; Lc 13.28-30; Rm 4.9-25; Gl 3-4; Hb 11-12).
-Características Comuns: Algumas qualidades comuns emergem das
muitas imagens da igreja que encontramos no NT. Todas elas mostram que a igreja
existe porque Deus trouxe à existência. Cristo comissionou seus seguidores a
levar avante a sua obra, e essa é a razão da existência da igreja.
As várias imagens que o NT apresenta da igreja acentuam que o Espírito Santo a
dota de poder e determina a sua direção. Os membros da igreja participam de uma
tarefa comum e de um destino comum sob a orientação do Espírito.
A igreja é uma entidade viva e ativa. Ela participa dos negócios deste mundo;
demonstra o modo de vida que Deus tenciona para todas as pessoas, e proclamam a
Palavra de Deus para a era presente. A unidade e a pureza espirituais da igreja
estão em nítido contraste com a inimizade e a corrupção do mundo. É
responsabilidade da igreja em todas as congregações particulares mediante as
quais ela se torna visível, praticar a unidade, o amor e cuidado de um
modo que mostre que Cristo vive verdadeiramente naqueles que são membros do seu
corpo, de sorte que a vida deles é a vida de Cristo neles.
AUTOR DESCONHECIDO
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