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terça-feira, 3 de março de 2015

IGREJA 7 - IGREJA MEDIEVAL

A IGREJA MEDIEVAL

A Igreja Católica exerceu uma influência marcante sobre a população medieval, ultrapassando em muito sua função religiosa e espiritual. Sua ação manifestava-se nos setores assistencial, pedagógico, econômico, político e mental, tornando-se o principal centro irradiador de cultura da Idade Média.         
A situação da Igreja partia de uma centralizada e bem organizada estrutura, onde, em sua diocese, o bispo era responsável pela fé, pela liturgia e pela assistência social aos pobres e desvalidos, sobressaindo-se pelo poder e riqueza de sua sede. Era auxiliado pelos  cônegos e pelos curas(encarregados das paróquias), também letrados e versados na Doutrina da Igreja. Bispos, cônegos e curas formavam o clero secular da Igreja(padres que viviam entre os leigos).         
A cristianização do mundo rural foi facilitada pela expansão de mosteiros, abadias e conventos, instituições fundadas por grupos de padres que procuravam o isolamento do mundo para se dedicar a Deus. Os sacerdotes que faziam parte dessas instituições formavam ordens religiosas, constituindo o clero regular da Igreja.  

Os mosteiros           

Os mosteiros se multiplicaram a partir da experiência de São Bento de Núrsia, que fundou, no século VI, o Mosteiro de Monte Cassino, na Itália. A regra monástica de São Bento era “ora et labora”- ore e trabalhe. “O ócio é inimigo da alma. Assim, os irmãos devem estar ocupados, em tempos determinados, no trabalho manual e em horas determinadas também, à leitura divina.” (SÃO BENTO, citado por FROHLICH, R. Curso Básico de História da Igreja. São Paulo, Paulinas, 1987, p.46.)         
Nos mosteiros e nas abadias, tudo era partilhado: a oração, as refeições e o trabalho manual, valorizado e elevado à categoria de oração a serviço de Deus. Os monges trabalhavam nas bibliotecas, nas oficinas e nos campos, onde desenvolveram técnicas avançadas tornando cultiváveis bosques e terrenos baldios, servindo de exemplo aos camponeses.         
Os monges realizaram também vasta obra de ação social,  distribuindo esmolas aos mendigos, hospedagem aos peregrinos e abrigo aos  camponeses fugidos dos domínios. Nas amplas bibliotecas das abadias, conseguiram preservar e transmitir os textos dos autores clássicos da Antiguidade, executando traduções, transcrições e cópias de livros e documentos históricos. As ordens religiosas que mais se espalharam, fundando abadias e conventos por toda a Europa, foram as de São Bento(Beneditinos), de Cluny(Cluniacenses), de São Bruno(Cartuchos),  de Cister(Cistercienses), de São Francisco(Franciscanos) e de São Domingos(Dominicanos).  

A ação econômica e política da Igreja           

Os monarcas francos, através das capitulares(decretos do rei), contribuíram decisivamente para a consolidação da Igreja na Europa. Numa capitular para os territórios saxões, determinava-se:  
Se alguém procura asilo numa Igreja, ninguém deve fazê-lo sair pela força; seja deixado aí até que ele queira sair espontaneamente.
Aquele que penetra numa Igreja com violência e aí comete roubo ou saque ou incendeia a Igreja será punido com a morte.
Aquele que mata um bispo, um padre ou um diácono também será punido com a morte.
Aquele que conforme o costume pagão faz queimar um cadáver e incinerá-lo será punido com a  morte.
Aquele que sacrifica um ser humano ao diabo e o oferece, segundo rito pagão, aos demônios será punido com a morte.
Aquele que fizer voto junto de uma fonte, de uma árvore, de um bosque, ou tiver sacrificado algo à moda dos pagãos(...) pagará multas e, se não o puder, entrará no serviço da Igreja até que pague. (MONUMENTA GERMANIAE HISTÓRICA, Leges, I, 48-50. Citado por FROHLICH, Roland, op. cit., p.56)  
Grande proprietária de terras e de riquezas doadas pelos reis e pelos fiéis, a Igreja manteve forte poder econômico durante a Idade Média. À frente dos domínios eclesiásticos, encontravam-se bispos e cardeais, que agiam como senhores feudais, sem muito espírito cristão.
Obtinha também grandes rendimentos através do dízimo, cujo pagamento obrigatório se generalizou na época carolíngia. Equivalia 1/10 dos frutos da terra, portanto, cristãos e não cristãos estavam sujeitos a ele. A Igreja medieval criou normas econômicas condenando o lucro e os empréstimos de dinheiro a juros. Essas restrições foram incorporadas pelos governantes, como demonstra essa capitular carolíngia de 806:
“Todos os que compram trigo no tempo da colheita ou vinho após a vindima, não por necessidade mas com motivo oculto de cupidez – por exemplo, comprar um “modium” por dois “denarli”, retendo-o até este poder ser vendido por quatro ou seis “denari”, ou mais – estão a fazer aquilo a que chamamos um lucro ilegítimo. Mas se compram por necessidade, para seu consumo ou para distribuir pelos outros, chama-se a isso “negotium.” (MONUMENTA GERMANIAE HISTÓRICA, citado por DUBY, J.Guerreiros e Camponeses. Lisboa, Editorial Estampa, 1980, p.122/123.)         
Ao papa, chefe supremo da Igreja Católica, cabiam as funções de presidir as cerimônias de coroação e sagração dos monarcas medievais. Como representante direto de Deus na terra, o papa se considerava superior aos reis e imperadores da cristandade. “Deus, criador do mundo, pôs no firmamento dois grandes astros para o iluminar: o Sol que preside ao dia, e a Lua que preside à noite. Do mesmo modo, no firmamento da Igreja universal instituiu Ele duas altas dignidades: o Papado, que reina sobre as almas, e a Realeza, que domina os corpos. Mas o primeiro é muito superior à segunda.  (Pronunciamento do papa Inocêncio III. Citado por FREITAS, G., op. cit. p.204.)                  
Essa concepção, a medida em que os reis foram recuperando sua autoridade, no decorrer da Idade Média, trouxe sérios conflitos entre as duas esferas do poder.  

A mentalidade medieval

Transformações na mentalidade da população européia ocorreram lenta e claramente a partir da cristianização do Império Romano. O racionalismo e o humanismo, que caracterizaram a cultura greco- romana, foram substituídos por uma inabalável fé em Deus(o Bem) todo-poderoso, criador do Universo. Somente a fé podia explicar o confuso mundo que cercava os homens, envolvidos com a violência de salteadores e invasores de origens diversas. Era através dela que se conseguia proteção para vencer o Demônio(o Mal) e alcançar a salvação após a morte.         
A existência e o quotidiano do homem medieval eram regulados pela religião. Durante sua vida, recebia os sacramentos: ao nascer, o batismo, ao se casar, o matrimônio, ao morrer, a extrema-unção, e era enterrado no cemitério da Igreja mais próxima. As estações do ano estavam marcadas pelas grandes festas religiosas(Natal, Páscoa, etc) e as semanas, pelos ofícios e missas dos domingos. A Igreja estabeleceu também o tempo político: a Paz de Deus, fixando onde e quando se poderia combater.         
A fé popular revelava-se nas concorridas peregrinações aos lugares sagrados, no brilho das festas religiosas, na arte(pinturas e esculturas) inspirada em temas bíblicos e no culto dos santos, da Virgem e das relíquias que serviam para combater o diabo e os demônios, facilitando a obtenção da salvação. Nos períodos de calamidades e de fome, tão comuns na Idade Média, a ação dos padres e monges, distribuindo esmolas e pão aos pedintes, aumentava a autoridade moral da Igreja.         
Atormentado pelo temor de ser condenado à danação no Inferno, os cristãos submetiam-se às penas e ameaças de caráter religioso impostas pela Igreja, como jejuns, flagelações, peregrinações a lugares longínquos, entrada para o convento, etc. Em caso de falta muito grave, o culpado sofria a pena máxima – a excomunhão – isto é, ficava privado de receber os sacramentos e era evitado como se estivesse com a peste.         
A vida do ser humano encontrava-se, portanto, nas mãos de Deus, porque sua existência devia-se a ele. Assim, a máxima grega “o homem  é a medida de todas as coisas’, transformou-se para o homem medieval em “Deus é a medida de todas as coisas”. A ação cultural e pedagógica da Igreja Na época carolíngia, foram criadas escolas nas paróquias, nas catedrais(igrejas dos bispos) e nos mosteiros. Ministrava-se um ensino imbuído de características religiosas, isto é, a herança cultural greco-romana era transmitida devidamente interpretada e adaptada aos ideais cristãos, revelados pela Bíblia.         
As crianças da área rural, que tinham acesso às escolas das paróquias, aprendiam Gramática(língua latina) e Canto. Nas escolas das dioceses e dos mosteiros, os futuros padres e os jovens nobres estudavam Gramática, Lógica, Retórica, Aritmética, Música, Geometria e Astronomia. A partir do século XIII, a Igreja regulamentou a organização das Universidades, sobressaindo-se as localidades em Paris(Sorbone), Bolonha, Salamanca, Oxford, Cambridge, Salerno, Roma e Coimbra.


AUTOR DESCONHECIDO 

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