A IGREJA MEDIEVAL
A Igreja Católica exerceu uma
influência marcante sobre a população medieval, ultrapassando em muito sua
função religiosa e espiritual. Sua ação manifestava-se nos setores assistencial,
pedagógico, econômico, político e mental, tornando-se o principal centro
irradiador de cultura da Idade Média.
A situação da Igreja partia de
uma centralizada e bem organizada estrutura, onde, em sua diocese, o bispo era
responsável pela fé, pela liturgia e pela assistência social aos pobres e
desvalidos, sobressaindo-se pelo poder e riqueza de sua sede. Era auxiliado
pelos cônegos e pelos curas(encarregados das paróquias), também letrados
e versados na Doutrina da Igreja. Bispos, cônegos e curas formavam o clero
secular da Igreja(padres que viviam entre os leigos).
A cristianização do mundo
rural foi facilitada pela expansão de mosteiros, abadias e conventos,
instituições fundadas por grupos de padres que procuravam o isolamento do mundo
para se dedicar a Deus. Os sacerdotes que faziam parte dessas instituições
formavam ordens religiosas, constituindo o clero regular da Igreja.
Os mosteiros
Os mosteiros se multiplicaram
a partir da experiência de São Bento de Núrsia, que fundou, no século VI, o
Mosteiro de Monte Cassino, na Itália. A regra monástica de São Bento era “ora
et labora”- ore e trabalhe. “O ócio é inimigo da alma. Assim, os irmãos devem
estar ocupados, em tempos determinados, no trabalho manual e em horas
determinadas também, à leitura divina.” (SÃO BENTO, citado por FROHLICH, R.
Curso Básico de História da Igreja. São Paulo, Paulinas, 1987, p.46.)
Nos mosteiros e nas abadias,
tudo era partilhado: a oração, as refeições e o trabalho manual, valorizado e
elevado à categoria de oração a serviço de Deus. Os monges trabalhavam nas
bibliotecas, nas oficinas e nos campos, onde desenvolveram técnicas avançadas
tornando cultiváveis bosques e terrenos baldios, servindo de exemplo aos
camponeses.
Os monges realizaram também
vasta obra de ação social, distribuindo esmolas aos mendigos, hospedagem
aos peregrinos e abrigo aos camponeses fugidos dos domínios. Nas amplas
bibliotecas das abadias, conseguiram preservar e transmitir os textos dos autores
clássicos da Antiguidade, executando traduções, transcrições e cópias de livros
e documentos históricos. As ordens religiosas que mais se espalharam, fundando
abadias e conventos por toda a Europa, foram as de São Bento(Beneditinos), de
Cluny(Cluniacenses), de São Bruno(Cartuchos), de Cister(Cistercienses),
de São Francisco(Franciscanos) e de São Domingos(Dominicanos).
A ação econômica e política da
Igreja
Os monarcas francos, através
das capitulares(decretos do rei), contribuíram decisivamente para a
consolidação da Igreja na Europa. Numa capitular para os territórios saxões,
determinava-se:
Se alguém procura asilo
numa Igreja, ninguém deve fazê-lo sair pela força; seja deixado aí até que ele
queira sair espontaneamente.
Aquele que penetra numa Igreja com violência e aí comete roubo ou saque ou incendeia a Igreja será punido com a morte.
Aquele que mata um bispo, um padre ou um diácono também será punido com a morte.
Aquele que conforme o costume pagão faz queimar um cadáver e incinerá-lo será punido com a morte.
Aquele que sacrifica um ser humano ao diabo e o oferece, segundo rito pagão, aos demônios será punido com a morte.
Aquele que fizer voto junto de uma fonte, de uma árvore, de um bosque, ou tiver sacrificado algo à moda dos pagãos(...) pagará multas e, se não o puder, entrará no serviço da Igreja até que pague. (MONUMENTA GERMANIAE HISTÓRICA, Leges, I, 48-50. Citado por FROHLICH, Roland, op. cit., p.56)
Aquele que penetra numa Igreja com violência e aí comete roubo ou saque ou incendeia a Igreja será punido com a morte.
Aquele que mata um bispo, um padre ou um diácono também será punido com a morte.
Aquele que conforme o costume pagão faz queimar um cadáver e incinerá-lo será punido com a morte.
Aquele que sacrifica um ser humano ao diabo e o oferece, segundo rito pagão, aos demônios será punido com a morte.
Aquele que fizer voto junto de uma fonte, de uma árvore, de um bosque, ou tiver sacrificado algo à moda dos pagãos(...) pagará multas e, se não o puder, entrará no serviço da Igreja até que pague. (MONUMENTA GERMANIAE HISTÓRICA, Leges, I, 48-50. Citado por FROHLICH, Roland, op. cit., p.56)
Grande proprietária de terras
e de riquezas doadas pelos reis e pelos fiéis, a Igreja manteve forte poder
econômico durante a Idade Média. À frente dos domínios eclesiásticos,
encontravam-se bispos e cardeais, que agiam como senhores feudais, sem muito
espírito cristão.
Obtinha também grandes
rendimentos através do dízimo, cujo pagamento obrigatório se generalizou na
época carolíngia. Equivalia 1/10 dos frutos da terra, portanto, cristãos e não
cristãos estavam sujeitos a ele. A Igreja medieval criou normas econômicas
condenando o lucro e os empréstimos de dinheiro a juros. Essas restrições foram
incorporadas pelos governantes, como demonstra essa capitular carolíngia de
806:
“Todos os que compram trigo no
tempo da colheita ou vinho após a vindima, não por necessidade mas com motivo
oculto de cupidez – por exemplo, comprar um “modium” por dois “denarli”,
retendo-o até este poder ser vendido por quatro ou seis “denari”, ou mais –
estão a fazer aquilo a que chamamos um lucro ilegítimo. Mas se compram por
necessidade, para seu consumo ou para distribuir pelos outros, chama-se a isso
“negotium.” (MONUMENTA GERMANIAE HISTÓRICA, citado por DUBY, J.Guerreiros e
Camponeses. Lisboa, Editorial Estampa, 1980, p.122/123.)
Ao papa, chefe supremo da
Igreja Católica, cabiam as funções de presidir as cerimônias de coroação e
sagração dos monarcas medievais. Como representante direto de Deus na terra, o
papa se considerava superior aos reis e imperadores da cristandade. “Deus,
criador do mundo, pôs no firmamento dois grandes astros para o iluminar: o Sol
que preside ao dia, e a Lua que preside à noite. Do mesmo modo, no firmamento
da Igreja universal instituiu Ele duas altas dignidades: o Papado, que reina
sobre as almas, e a Realeza, que domina os corpos. Mas o primeiro é muito
superior à segunda. (Pronunciamento do papa Inocêncio III. Citado por
FREITAS, G., op. cit. p.204.)
Essa concepção, a medida em
que os reis foram recuperando sua autoridade, no decorrer da Idade Média,
trouxe sérios conflitos entre as duas esferas do poder.
A mentalidade medieval
Transformações na mentalidade
da população européia ocorreram lenta e claramente a partir da cristianização
do Império Romano. O racionalismo e o humanismo, que caracterizaram a cultura
greco- romana, foram substituídos por uma inabalável fé em Deus(o Bem) todo-poderoso,
criador do Universo. Somente a fé podia explicar o confuso mundo que cercava os
homens, envolvidos com a violência de salteadores e invasores de origens
diversas. Era através dela que se conseguia proteção para vencer o Demônio(o
Mal) e alcançar a salvação após a morte.
A existência e o quotidiano do
homem medieval eram regulados pela religião. Durante sua vida, recebia os
sacramentos: ao nascer, o batismo, ao se casar, o matrimônio, ao morrer, a
extrema-unção, e era enterrado no cemitério da Igreja mais próxima. As estações
do ano estavam marcadas pelas grandes festas religiosas(Natal, Páscoa, etc) e
as semanas, pelos ofícios e missas dos domingos. A Igreja estabeleceu também o
tempo político: a Paz de Deus, fixando onde e quando se poderia combater.
A fé popular revelava-se nas
concorridas peregrinações aos lugares sagrados, no brilho das festas
religiosas, na arte(pinturas e esculturas) inspirada em temas bíblicos e no
culto dos santos, da Virgem e das relíquias que serviam para combater o diabo e
os demônios, facilitando a obtenção da salvação. Nos períodos de calamidades e
de fome, tão comuns na Idade Média, a ação dos padres e monges, distribuindo
esmolas e pão aos pedintes, aumentava a autoridade moral da Igreja.
Atormentado pelo temor de ser
condenado à danação no Inferno, os cristãos submetiam-se às penas e ameaças de
caráter religioso impostas pela Igreja, como jejuns, flagelações, peregrinações
a lugares longínquos, entrada para o convento, etc. Em caso de falta muito
grave, o culpado sofria a pena máxima – a excomunhão – isto é, ficava privado
de receber os sacramentos e era evitado como se estivesse com a peste.
A vida do ser humano
encontrava-se, portanto, nas mãos de Deus, porque sua existência devia-se a
ele. Assim, a máxima grega “o homem é a medida de todas as coisas’,
transformou-se para o homem medieval em “Deus é a medida de todas as coisas”. A
ação cultural e pedagógica da Igreja Na época carolíngia, foram criadas escolas
nas paróquias, nas catedrais(igrejas dos bispos) e nos mosteiros. Ministrava-se
um ensino imbuído de características religiosas, isto é, a herança cultural
greco-romana era transmitida devidamente interpretada e adaptada aos ideais
cristãos, revelados pela Bíblia.
As crianças da área rural, que
tinham acesso às escolas das paróquias, aprendiam Gramática(língua latina) e
Canto. Nas escolas das dioceses e dos mosteiros, os futuros padres e os jovens
nobres estudavam Gramática, Lógica, Retórica, Aritmética, Música, Geometria e
Astronomia. A partir do século XIII, a Igreja regulamentou a organização das
Universidades, sobressaindo-se as localidades em Paris(Sorbone), Bolonha,
Salamanca, Oxford, Cambridge, Salerno, Roma e Coimbra.
AUTOR DESCONHECIDO
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