APRENDENDO
A ORAR (4): A ORAÇÃO INTERCESSÓRIA DE DANIEL
Dn
9.1-19
Introdução: Nós estamos em nossa série
“Aprendendo a Orar”. Em nossa primeira reflexão aprendemos sobre a oração do
quarto e vimos a importância de nos apresentarmos a Deus sem máscaras e o
conforto de sabermos que Ele sabe o que necessitamos. Em nossa segunda reflexão
aprendemos que todos os serviços ministrados a Cristo, são importantes, mas
todos precisam estar sustentados pela escolha da “boa parte”, que nada mais é
que uma vida de oração, onde nos colocamos aos pés de Jesus para ouvi-lo.
Hoje iremos aprender um pouco
sobre a oração intercessória.
Contudo
gostaria primeiramente de dizer que há uma ideia falsa no cristianismo
contemporâneo de que aqueles que oferecem oração intercessória por outras
pessoas são uma classe especial de super-cristãos, chamados por Deus para o
ministério da intercessão. Nada poderia ser mais falso. A Bíblia deixa bem
claro que todos os Cristãos são chamados para serem intercessores.
No capítulo nove do livro de
Daniel lemos a oração intercessória que ele fez por Israel, e aprendemos que:
1
– Precisamos alinhar nossas orações com o “momento” de Deus na história (vs.
1-2)
“No primeiro ano de Dario, filho de Assuero, da linhagem dos medos...” (v. 1).
A informação “no primeiro ano de
Dario” é importante neste texto, pois indica o “quando” que a intercessão de Daniel
aconteceu, no ano 529 A.C..
A primeira deportação para o cativeiro
babilônico teve início em 598 A.C.. Jerusalém é sitiada e o jovem Joaquim,
Rei de Judá,
rende-se voluntariamente. O Templo
de Jerusalém é
parcialmente saqueado e uma grande parte da nobreza, os oficiais militares e
artífices, inclusive o Rei, são levados para o Exílio em Babilónia. Zedequias, tio do Rei Joaquim, é nomeado por
Nabucodonosor II como rei vassalo.
Precisamente 11 anos depois, em resultado de nova revolta no Reino de Judá,
ocorre a segunda deportação em 587 a.C. e a consequente
destruição de Jerusalém e seu Templo.
Se
tirarmos 598 A.C. – 529 A.C. = 69 anos.
Creio que esta informação é
interessante, pois antes de apresentar a oração de Daniel o escritor se
preocupa em mostrar o momento histórico em que Daniel se encontrava. Os setenta anos estavam para se
completar.
“No
primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, entendi, pelos livros,...” (v. 2) Daniel entendeu através da leitura do livro de Jeremias (Jr 25.11-12) que o tempo de cativeiro
estava terminando, pois Deus havia dito ao profeta que o cativeiro duraria
setenta anos.
Veja as palavras de Daniel no
verso 19 – Ó Senhor, ouve; ó Senhor,
perdoa; ó Senhor, atende-nos e age; não
te retardes, por amor de ti mesmo, ó Deus meu; porque a tua cidade e o teu
povo são chamados pelo teu nome.
Quando Daniel ora, ele não pede
para que Deus adiantasse o fim do cativeiro, para que Deus reduzisse o
sofrimento do povo. Daniel simplesmente pede para que Deus não demorasse nenhum
momento mais do que Ele tinha planejado, que nenhum um dia a mais fosse
acrescentado de sofrimento a Israel, além do que Ele já tinha estabelecido.
Daniel não está tentando mudar o plano de Deus, mas clamando por misericórdia
caso fossem eles ainda merecedores de maior punição.
Muitas de nossas orações são feitas em desalinhamentos com a vontade de
Deus, com o momento de Deus em nossas histórias ou na história daqueles a quem
oramos.
A intercessão eficaz leva em consideração o momento histórico em que se
vive e o momento de Deus, o kairós de Deus. Quando nossa oração está alinhada
com a vontade de Deus e com o momento de Deus ela será respondida
imediatamente.
Por diversas vezes ouvi
testemunhos de pessoas que contaram que oraram 29 anos, 17 anos ou 9 anos pela
conversão de um de seus familiares. Por que oraram por tanto tempo? Será que
Deus não desejava a conversão deles? Será que era preciso primeiro convencer
Deus? Não! Acredito que era porque eles não estavam alinhados com o “momento”
histórico de Deus naquelas vidas.
2
– Precisamos sair da passividade e orarmos com fervor (v. 3)
“Voltei
o meu rosto ao Senhor Deus, para o buscar com oração e súplicas, com jejum,
pano de saco e cinza” (v. 3)
Neste verso temos dois
ensinamentos que gostaria de destacar.
Primeiro
– “Voltei... para o buscar...”. Estas
palavras mostram que Daniel ao tomar conhecimento da realidade de Israel e dos
planos de Deus para Israel, ele toma à atitude de buscar a Deus em favor de
Israel. Ele escolhe a oração.
Hoje a grande maioria das pessoas
possui conhecimento da realidade política e social em que estamos inseridos.
Vivemos em mundo onde as noticias chegam rapidamente através da internet. Somos
informados pelas redes sociais dos acontecimentos pelo mundo quase
instantaneamente, mas a grande maioria dos cristãos, não tomam a iniciativa de
buscar a Deus em oração, mesmo tendo conhecimento de que a vontade de Deus é
que todos os homens cheguem ao pleno conhecimento de Deus, mesmo sabendo que Deus deseja o bem de todos.
Somos na grande maioria
acomodados, talvez porque nos acostumamos com a injustiça e com o mal ao nosso
redor, que não nos sentimos sensibilizados a orar, ou porque não acreditamos
mais no poder da oração. O mal que nos cerca nos levou a uma espiritualidade
passiva, quase morta.
Você já ouviu falar em fumantes passivos, pessoas que fumam sem fumar.
Nós cristãos nos acostumamos com a fumaça dos maus, isto é, de uma
espiritualidade idólatra, morta e vazia; e não percebemos o quanto ela tem
destruído nossas vidas. Assim como os fumantes passivos, nós inspiramos a
incredulidade exalada pela sociedade que nos cerca e corremos o risco de nos
tornamos homens e mulheres “espiritualmente” passivos.
Segundo
– “com oração e súplicas, com jejum, pano de
saco e cinza”. A intercessão ela deve ser feita com fervor, com um zelo
ardente. Creio que se o texto dissesse somente que Daniel buscou a Deus em
oração, seria suficiente para sabermos que ele tinha orado por Israel,
entretanto o autor faz questão de mostrar o quanto ele buscou a Deus.
O que Daniel está dizendo para
nós é que seu coração estava nesta oração, que ele tinha empatia com a dor de
Israel e que não descansaria enquanto não tivesse a resposta do Senhor.
Quando assumimos nos colocar na
brecha por alguém ou por uma nação, precisamos levar isso a sério, precisamos
colocar nosso coração e toda nossa força nesta oração. Precisamos sentir
empatia pela causa que estamos orando. A empatia é a capacidade de compreender o sentimento de outra pessoa
imaginando-se na mesma situação.
Não oramos com fervor a fim de mudarmos Deus, mas movidos pelo amor
somos levados a orar com fervor.
Deus iria libertar Israel mesmo se Daniel não orasse. Deus já tinha dito pelo profeta Jeremias, que
ao completar os setenta anos traria Israel de volta a sua terra, e Deus zela em
cumprir sua Palavra. Contudo Deus misteriosamente chama homens, como nós, como
Daniel, para participar do Seu agir na história da humanidade.
3
– Precisamos nos identificar com o povo de nossa intercessão (vs.4-6)
“4Orei
ao Senhor meu Deus, confessei, e disse: Ah! Senhor... 5temos pecado e cometido
iniquidades, procedemos perversamente, e fomos rebeldes, apartando-nos dos teus
mandamentos e dos teus juízos; 6e não demos ouvidos aos teus servos, os
profetas,...”.
Se vocês conhecem a história de
Daniel sabem que ele era um homem temente a Deus, que guardava seus mandamentos
e por isso era amado pelo Senhor nosso Deus. Entretanto percebemos que Daniel
se inclui no pecado do povo ao orar a Deus. Ele se inclui, não porque ele cometera
os pecados mencionados no texto, mas porque ele se identificava com o povo.
Daniel não se via separado do povo, por causa de sua santidade.
Penso que muitas de nossas
orações são carregadas de preconceitos, de um sentimento de superioridade.
Muitos de nós nos consideramos santos e olhamos para a sociedade e para as
pessoas como se elas fossem sujas, imundas e indignas do amor de Deus. Ao entrarmos na presença de Deus com este
sentimento nossas orações se tornam inaudíveis porque não há amor verdadeiro
nelas.
Ao orarmos por um pecador,
lágrimas deveriam escorrer de nossos olhos, de nossos corações, porque foi por
estas pessoas que Jesus morreu na cruz; foi por elas que ele gritou “Pai está
consumado”; foi por elas que suportou a dor dos pregos; pela prostituta do seu
bairro, pelo drogado que está a espreita de uma esquina para te roubar, pelo
pai-de-santo ou mãe-de-santo que invoca a demônios pensando falar com espírito
desencarnados, pelo seu chefe incrédulo, pelo seu vizinho insuportável,... lágrimas
deveriam escorrer porque um dia eu e você também éramos sujos, imundos!
Entretanto alguém orou por nós, alguém falou do amor de Deus por nós, alguém
nos amou com o amor de Cristo.
Nos identificamos com o outro na intercessão quando assumimos o lugar
do outro e desejamos aquilo que gostaríamos que acontecesse conosco caso estivéssemos
no lugar do outro.
Nossa nova posição em Cristo nos permite olhar para o outro e ver com clareza
aquilo que ele necessita, ainda que ele não saiba. Daniel olha para o povo e percebe que havia
necessidade de confissão, de reconhecimento diante de Deus de seus pecados, por
isso ele passa a confessar humildemente.
4
– Precisamos confiar no caráter de Deus (vs. 4,7,9)
“4Orei
ao Senhor meu Deus, confessei, e disse: Ah! Senhor! Deus grande e temível, que
guardas a aliança e a misericórdia para com os que te amam e guardam os teus
mandamentos... 5A ti, ó Senhor, pertence a justiça... 6Ao Senhor, nosso Deus,
pertence a misericórdia, e o perdão;...”.
Ao orarmos precisamos confiar no
caráter de Deus. As palavras de Daniel referente à pessoa de Deus não são
expressões de alguém que está tentando manipular Deus, mas de alguém que
conhece Deus e que confia em seu caráter.
Muitas orações por aí, são
verdadeiras expressões de pessoas que desejam manipular Deus, usam a Palavra de
Deus com a intenção de aprisionar Deus com suas próprias palavras. Expressões
como “está escrito” vem amarrada a um versículo bíblico com o fim de pressionar
Deus. Por exemplo: “E o meu Deus, segundo
a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas
necessidades” (Fp 4.19). O individuo comprou um bem muito caro, fora das
condições que seu salário pode suprir, e aí, usa estas palavras para obrigar
Deus a mandar dinheiro para sua conta. Esses e muitos outros versos da bíblia
são usados sem levar em consideração o contexto em que foram escritos e sem
considerar o que verdadeiramente eles dizem.
Quando intercedemos não temos que pressionar Deus, mas confiarmos no
caráter de Deus, confiarmos em Sua bondade, misericórdia e fidelidade.
Confiança é um sentimento que
está sustentando na fé e que se desenvolve na intimidade. Precisamos ter fé
porque sem fé é impossível agradar a Deus. É preciso crer na existência de Deus
e confiar Nele plenamente – esse é o campo da fé. Contudo, na medida, que O
conhecemos mais, nossa confiança cresce a cada experiência vivida com Deus –
isso é experimentado na intimidade.
Conclusão:
Ao intercedermos
devemos buscar alinhar nossas orações
com o “momento” de Deus na história – precisamos estar atentos ao mover de
Deus na história –, sair da passividade
– precisamos deixar o comodismo e buscarmos Deus a favor dos homens –, a orarmos com fervor – precisamos
sentir empatia por aqueles por quem oramos –, nos identificando com o povo de nossa intercessão – mais do que
empatia precisamos nos incluir como parte da dor daqueles por quem oramos – e permanecermos confiantes no caráter de
Deus – não oramos com o fim de manipularmos Deus, mas de nos tornarmos
participantes de seu agir na história de alguém ou de uma nação.
Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira
07/05/2015
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