A LEI E OS CONCERTOS
Adão e Eva, ao serem criados,
tinham conhecimento da lei de Deus; estavam familiarizados com os reclamos da
mesma relativamente a si; seus preceitos estavam escritos em seu coração.
Quando o homem caiu pela transgressão, a lei não foi mudada, mas estabelecido
um plano que remediasse a situação trazendo novamente o homem à obediência. Foi
feita a promessa de um Salvador e prescritas ofertas sacrificais que apontavam
ao futuro, para a morte de Cristo como a grande oferta pelo pecado. Mas, se a
lei de Deus nunca houvesse sido transgredida, não teria havido morte, tampouco
haveria necessidade de um Salvador; conseqüentemente não teria havido
necessidade de sacrifícios.
Adão ensinou a seus descendentes
a lei de Deus, e esta foi transmitida de pai a filho através de gerações
sucessivas. Mas apesar das graciosas providências para a redenção do homem,
poucos houve que as aceitaram e lhes prestaram obediência. Pela transgressão o
mundo se envileceu tanto que foi necessário, pelo dilúvio, limpá-lo de suas
corrupções. A lei foi preservada por Noé e sua família, e Noé ensinou a seus
descendentes os Dez Mandamentos. Como os homens de novo se afastassem de Deus,
o Senhor escolheu Abraão, a respeito de quem declarou: "Abraão obedeceu à
Minha voz, e guardou o Meu mandamento, os Meus preceitos, os Meus estatutos, e
as Minhas leis." Gên. 26:5. A ele foi dado o rito da circuncisão, que era
um sinal de que os que o recebiam eram dedicados ao serviço de Deus – garantia
de que permaneceriam separados da idolatria e obedeceriam à lei de Deus. O
fracasso dos descendentes de Abraão para manterem este compromisso, conforme se
revela em sua disposição para formar alianças com os gentios e adotar-lhes os
costumes, foi a causa de sua peregrinação e cativeiro no Egito. Mas, em seu
intercâmbio com os idólatras e forçada submissão aos egípcios, os preceitos
divinos tornaram-se ainda mais corrompidos com os ensinos vis e cruéis do
paganismo. Portanto, quando o Senhor os tirou do Egito, desceu sobre o Sinai,
cercado de glória e rodeado de Seus anjos, e com terrível majestade proferiu
Sua lei aos ouvidos de todo o povo.
Se o homem houvesse guardado a
lei de Deus conforme fora dada a Adão depois de sua queda, preservada por Noé e
observada por Abraão; não teria havido necessidade de se ordenar a circuncisão.
E, se os descendentes de Abraão houvessem guardado o concerto, do qual a
circuncisão era um sinal, nunca teriam sido induzidos à idolatria; tampouco
lhes teria sido necessário sofrer vida de cativeiro no Egito; teriam conservado
na mente a lei de Deus, e não teria havido necessidade de que ela fosse
proclamada no Sinai, nem gravada em tábuas de pedra. E, se o povo houvesse
praticado os princípios dos Dez Mandamentos, não teria havido necessidade das
instruções adicionais dadas a Moisés.
O sistema sacrifical, entregue
a Adão, foi também pervertido por seus descendentes. Superstição, idolatria,
crueldade e licenciosidade, corrompiam o culto simples e significativo que Deus
instituíra. Mediante o prolongado trato com os idólatras, o povo de Israel
misturara com seu culto muitos costumes gentílicos; portanto o Senhor lhes deu
no Sinai instruções definidas com relação aos sacrifícios. Depois de
completar-se o tabernáculo, Ele Se comunicou com Moisés da nuvem de glória em
cima do propiciatório, e deu-lhe instruções completas a respeito do sistema das
ofertas e das formas de culto a serem mantidas no santuário. A lei cerimonial
foi assim dada a Moisés, e por ele escrita em um livro. Mas a lei dos Dez
Mandamentos, proferida do Sinai, foi escrita pelo próprio Deus em tábuas de pedra,
e sagradamente conservada na arca.
Muitos há que procuram
confundir estes dois sistemas, usando os textos que falam da lei cerimonial
para provar que a lei moral foi abolida; mas isto é perversão das Escrituras.
Ampla e clara é a distinção entre os dois sistemas. O cerimonial era
constituído de símbolos que apontavam para Cristo, para o Seu sacrifício e
sacerdócio. A lei ritual, com seus sacrifícios e ordenanças, devia ser cumprida
pelos hebreus até que o tipo encontrasse o antítipo, na morte de Cristo, o
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Então cessariam todas as ofertas
sacrificais. Foi esta a lei que Cristo "tirou do meio de nós, cravando-a
na cruz". Col. 2:14. Mas, com referência à lei dos Dez Mandamentos,
declara o salmista: "Para sempre, ó Senhor, a Tua palavra permanece no
Céu." Sal. 119:89. E Cristo mesmo diz: "Não cuideis que vim destruir
a lei. … Em verdade vos digo" – tornando a asserção tão expressiva quanto
possível – "que até que o céu e a Terra passem, nem um jota ou um til se omitirá
da lei, sem que tudo seja cumprido." Mat. 5:17 e 18. Ele ensina aqui, não
simplesmente o que os reclamos da lei tinham sido, e eram então, mas que tais
reclamos se manterão enquanto durarem os céus e a Terra. A lei de Deus é tão
imutável quanto o Seu trono. Ela manterá suas reivindicações em relação à
humanidade, em todos os tempos.
Com referência à lei
proclamada no Sinai, diz Neemias: "Sobre o monte de Sinai desceste, e
falaste com eles desde os Céus; e destes-lhes juízos retos, e leis verdadeiras,
estatutos e mandamentos bons." Nee. 9:13. E Paulo, "apóstolo dos
gentios", declara: "A lei é santa, e o mandamento santo, justo e
bom." Rom. 7:12. Essa lei não pode ser outra senão o decálogo; pois é a
que diz: "Não cobiçarás." Êxo. 20:17.
Conquanto a morte do Salvador
pusesse termo à lei dos tipos e sombras, não diminuiu no mínimo a obrigação
imposta pela lei moral. Ao contrário, o próprio fato de que foi necessário
Cristo morrer a fim de expiar a transgressão daquela lei, prova ser ela
imutável.
Aqueles que pretendem ter
Cristo vindo a fim de anular a lei de Deus e abolir o Antigo Testamento, falam
da era judaica como sendo era de trevas, e representam a religião dos hebreus
como que consistindo em meras formas e cerimônias. Mas isto é erro. Através de todas
as páginas da história sagrada, nas quais o trato de Deus com Seu povo
escolhido se acha registrado, há indícios frisantes do grande EU SOU. Nunca deu
Ele aos filhos dos homens manifestações mais claras de Seu poder e glória do
que quando foi reconhecido como o único governador de Israel, e deu a lei a Seu
povo. Ali estava um cetro empunhado por mão não humana; e as majestosas saídas
do Rei invisível de Israel eram indescritivelmente grandiosas e terríveis.
Em todas estas revelações da
presença divina, a glória de Deus se manifestava por meio de Cristo. Não
somente por ocasião do advento do Salvador, mas através de todos os séculos
após a queda e promessa de redenção, "Deus estava em Cristo reconciliando
consigo o mundo". II Cor. 5:19. Cristo era o fundamento e centro do
sistema sacrifical, tanto da era patriarcal como da judaica. Desde o pecado de
nossos primeiros pais, não tem havido comunicação direta entre Deus e o homem.
O Pai entregou o mundo nas mãos de Cristo, para que por Sua obra mediadora remisse
o homem, e reivindicasse a autoridade e santidade da lei de Deus. Toda a
comunhão entre o Céu e a raça decaída tem sido por meio de Cristo. Foi o Filho
de Deus que fez a nossos primeiros pais a promessa de redenção. Foi Ele que Se
revelou aos patriarcas. Adão, Noé, Abraão, Isaque, Jacó e Moisés compreenderam
o evangelho. Esperavam a salvação por meio do Substituto e Fiador do homem.
Esses santos homens da antiguidade entretinham comunhão com o Salvador que
viria ao nosso mundo em carne humana; e alguns falaram com Cristo e os anjos
celestiais, face a face.
Cristo não somente foi o guia
dos hebreus no deserto – o Anjo em quem estava o nome de Jeová, e que, velado
na coluna de nuvem, ia diante das hostes – mas foi também Ele que deu a Israel
a lei. Por entre a tremenda glória do Sinai, Cristo declarou aos ouvidos de
todo o povo os dez preceitos da lei de Seu Pai. Foi Ele que deu a Moisés a lei
gravada em tábuas de pedra.
Ainda mais: Cristo é chamado o
Verbo de Deus. João 1:1-3. É assim chamado porque Deus deu Suas revelações ao
homem em todos os tempos por meio de Cristo. Foi o Seu Espírito que inspirou os
profetas. I Ped. 1:10 e 11. Ele lhes foi revelado como o Anjo de Jeová, o
Capitão do exército do Senhor, o Arcanjo Miguel. Foi Cristo que falou a Seu povo
por intermédio dos profetas. Escrevendo à igreja cristã, diz o apóstolo Pedro
que os profetas "profetizaram da graça que vos foi dada, indagando que
tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava,
anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a
glória que se lhes havia de seguir". I Ped. 1:10 e 11. É a voz de Cristo
que nos fala através do Antigo Testamento. "O testemunho de Jesus é o
Espírito de Profecia." Apoc. 19:10.
Em Seus ensinos, enquanto Se achava
pessoalmente entre os homens, Jesus encaminhava a mente do povo para o Antigo
Testamento. Disse Ele aos judeus: "Examinais as Escrituras, porque vós
cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de Mim testificam." João
5:39. Nesse tempo os livros do Antigo Testamento eram a única parte da Bíblia
que existia. Outra vez declarou o Filho de Deus: "Têm Moisés e os
profetas; ouçam-nos." E acrescentou: "Se não ouvem a Moisés e aos
profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite." Luc.
16:29 e 31.
A lei cerimonial foi dada por
Cristo. Mesmo depois que ela não mais devia ser observada, Paulo apresentou-a
aos judeus em sua verdadeira posição e valor, mostrando o seu lugar no plano da
redenção e sua relação para com a obra de Cristo; e o grande apóstolo declara
gloriosa esta lei, digna de seu divino Originador. O serviço solene do
santuário tipificava as grandiosas verdades que seriam reveladas durante
gerações sucessivas. A nuvem de incenso que ascendia com as orações de Israel,
representa a Sua justiça que unicamente pode tornar aceitável a Deus a oração
do pecador; a vítima sangrenta sobre o altar do sacrifício, dava testemunho de
um Redentor vindouro; e do santo dos santos resplandecia o sinal visível da
presença divina. Assim, através de séculos e séculos de trevas e apostasia, a
fé se conservou viva no coração dos homens até chegar o tempo para o advento do
Messias prometido.
Jesus era a luz de Seu povo –
a luz do mundo – antes que viesse à Terra sob a forma humana. O primeiro raio
de luz a penetrar a sombra em que o pecado envolveu o mundo, veio de Cristo. E
dEle tem vindo todo raio da luz celestial que tem incidido sobre os habitantes
da Terra. No plano da redenção, Cristo é o Alfa e o Ômega – o Primeiro e o
Derradeiro.
Desde que o Salvador verteu
Seu sangue para a remissão dos pecados, e subiu ao Céu para "comparecer
por nós perante a face de Deus" (Heb. 9:24), tem estado a fluir luz da
cruz do Calvário e dos lugares santos do santuário celestial. Mas a luz mais
clara que nos é concedida não nos deve levar a desprezar a que nos primeiros
tempos foi recebida mediante os tipos que indicavam o Salvador vindouro. O
evangelho de Cristo esparge luz sobre a economia judaica, e dá significação à
lei cerimonial. Sendo reveladas novas verdades, e sendo a que fora conhecida
desde o princípio trazida para uma luz mais clara, tornam-se manifestos o
caráter e propósitos de Deus em Seu trato com o povo escolhido. Cada novo raio
de luz que recebemos nos dá compreensão mais clara do plano da redenção, que é
a operação da vontade divina na salvação do homem. Vemos nova beleza e força na
Palavra inspirada, e com interesse mais profundo e absorvente estudamos suas
páginas.
Muitos têm a opinião de que
Deus colocou um muro de separação entre os hebreus e o mundo exterior; de que
Seu cuidado e amor, retirados em grande parte do resto da humanidade,
centralizaram-se em
Israel. Mas não era intuito de Deus que Seu povo levantasse
uma parede separatória entre si e seus semelhantes. O coração do Amor infinito
expandia-se a todos os habitantes da Terra. Posto que O houvessem rejeitado,
estava Ele constantemente procurando revelar-Se-lhes, e fazê-los participantes
de Seu amor e graça. Sua bênção foi concedida ao povo escolhido, a fim de que
pudessem abençoar a outros.
Deus chamou Abraão, fê-lo
prosperar e o honrou; e a fidelidade do patriarca foi uma luz para o povo em
todos os países de sua peregrinação. Abraão não se excluiu do povo em redor de
si. Manteve relações amistosas com os reis das nações circunvizinhas, por
alguns dos quais ele era tratado com grande respeito; e sua integridade e
abnegação, seu valor e benevolência, estavam a representar o caráter de Deus.
Na Mesopotâmia, em Canaã, no Egito, e mesmo aos habitantes de Sodoma, o Deus do
Céu foi revelado por meio de Seu representante.
Assim, ao povo do Egito e de
todas as nações ligadas com aquele poderoso reino, Deus Se manifestou por meio
de José. Por que razão quis o Senhor exaltar a José tão grandemente entre os
egípcios? Ele poderia ter provido outro meio para o cumprimento de Seus
propósitos em relação aos filhos de Jacó; mas desejou fazer de José uma luz, e
colocou-o no palácio do rei, a fim de que a iluminação celeste pudesse
estender-se longe e perto. Por sua sabedoria e justiça, pela pureza e benevolência
de sua vida diária, pela sua dedicação aos interesses do povo – e aquele povo
era uma nação de idólatras – José foi um representante de Cristo. Em seu
benfeitor, para quem todo o Egito se voltava com gratidão e louvor, deveria
aquele povo gentio ver o amor do Criador e Redentor deles. Assim também, na
pessoa de Moisés, Deus pôs uma luz ao lado do trono do maior reino da Terra, a
fim de que todos que o quisessem pudessem aprender acerca do Deus verdadeiro e
vivo. E toda essa luz foi dada aos egípcios antes que sobre eles se estendesse
a mão de Deus em juízos.
No livramento de Israel, do
Egito, espalhou-se amplamente o conhecimento do poder de Deus. Tremeu o povo
belicoso da fortaleza de Jericó. "Ouvindo isto", disse Raabe,
"desmaiou o nosso coração, e em ninguém mais há ânimo algum, por causa da
vossa presença; porque o Senhor vosso Deus é Deus em cima nos Céus, e embaixo
na Terra." Jos. 2:11. Séculos após o êxodo, os sacerdotes dos filisteus
lembravam ao seu povo as pragas do Egito, e os advertiam a não resistirem ao
Deus de Israel.
Deus chamou Israel, e o
abençoou e exaltou, não para que pela obediência à Sua lei recebessem eles,
unicamente, o Seu favor, e se tornassem os exclusivos recipientes de Suas
bênçãos, mas a fim de revelar-Se por meio deles a todos os habitantes da Terra.
Foi para a realização deste mesmo propósito que Ele os mandou conservar-se
distintos das nações idólatras em redor deles.
A idolatria e todos os pecados
que seguem em seu cortejo, são aborrecíveis a Deus, e Ele ordenou a Seu povo que
se não misturasse com outras nações, para fazerem "conforme às suas
obras" (Êxo. 23:24), e se esquecerem de Deus. Proibiu-lhes casamento com
idólatras, para que não acontecesse ser seu coração desviado dEle. Era
perfeitamente tão necessário naquele tempo, como o é hoje, que o povo de Deus
fosse puro, incontaminado do mundo. Deviam conservar-se livres de seu espírito,
porque é ele oposto à verdade e à justiça. Mas não era intuito de Deus que Seu
povo, em seu exclusivismo de justiça própria, se subtraísse do mundo, de modo
que nenhuma influência tivesse sobre ele.
Como seu Mestre, os seguidores
de Cristo deveriam em todo o tempo ser a luz do mundo. Disse o Salvador:
"Não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte. Nem se acende a
candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos os
que estão na casa" – isto é, o mundo. E acrescenta: "Assim
resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras
e glorifiquem a vosso Pai, que está nos Céus." Mat. 5:14-16. Isto foi
precisamente o que Enoque, Noé, Abraão, José e Moisés fizeram. É precisamente o
que era intuito de Deus que Seu povo Israel fizesse.
Foi o seu coração mau,
incrédulo, dirigido por Satanás, que os levou a ocultar sua luz, em vez de
espargi-la sobre os povos vizinhos; foi esse mesmo espírito de fanatismo que
fez com que ou seguissem as práticas iníquas dos gentios, ou se encerrassem em
um orgulhoso exclusivismo, como se o amor e cuidado de Deus estivessem somente
sobre eles.
Assim como a Bíblia apresenta
duas leis, uma imutável e eterna, e outra provisória e temporária, assim há
dois concertos. O concerto da graça foi feito primeiramente com o homem no
Éden, quando, depois da queda, foi feita uma promessa divina de que a semente
da mulher feriria a cabeça da serpente. A todos os homens este concerto
oferecia perdão, e a graça auxiliadora de Deus para a futura obediência
mediante a fé em
Cristo. Prometia-lhes também vida eterna sob condição de
fidelidade para com a lei de Deus. Assim receberam os patriarcas a esperança da
salvação.
Este mesmo concerto foi
renovado a Abraão, na promessa: "Em tua semente serão benditas todas as
nações da Terra." Gên. 22:18. Esta promessa apontava para Cristo. Assim
Abraão a compreendeu (Gál. 3:8 e 16), e confiou em Cristo para o perdão dos
pecados. Foi esta fé que lhe foi atribuída como justiça. O concerto com Abraão
mantinha também a autoridade da lei de Deus. O Senhor apareceu a Abraão e
disse: "Eu sou o Deus todo-poderoso, anda em Minha presença e sê perfeito."
Gên. 17:1. O testemunho de Deus concernente a Seu fiel servo foi: "Abraão
obedeceu à Minha voz, e guardou o Meu mandado, os Meus preceitos, os Meus
estatutos, e as Minhas leis." Gên. 26:5. E o Senhor lhe declarou:
"Estabelecerei o Meu concerto entre Mim e ti e a tua semente depois de ti
em suas gerações, por concerto perpétuo, para te ser a ti por Deus, e à tua
semente depois de ti." Gên. 17:7.
Se bem que este concerto
houvesse sido feito com Adão e renovado a Abraão, não poderia ser ratificado
antes da morte de Cristo. Existira pela promessa de Deus desde que se fez a
primeira indicação de redenção; fora aceito pela fé; contudo, ao ser ratificado
por Cristo, é chamado um novo concerto. A lei de Deus foi a base deste
concerto, que era simplesmente uma disposição destinada a levar os homens de
novo à harmonia com a vontade divina, colocando-os onde poderiam obedecer à lei
de Deus.
Outro pacto, chamado nas
Escrituras o "velho" concerto, foi formado entre Deus e Israel no
Sinai, e foi então ratificado pelo sangue de um sacrifício. O concerto
abraâmico foi ratificado pelo sangue de Cristo, e é chamado o
"segundo", ou o "novo" concerto, porque o sangue pelo qual
foi selado foi vertido depois do sangue do primeiro concerto. Que o novo
concerto era válido nos dias de Abraão, evidencia-se do fato de que foi então
confirmado tanto pela promessa como pelo juramento de Deus, "duas coisas
imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta". Heb. 6:18.
Mas, se o concerto abraâmico
continha a promessa da redenção, por que se formou outro concerto no Sinai? –
Em seu cativeiro, o povo em grande parte perdera o conhecimento de Deus e os
princípios do concerto abraâmico. Libertando-os do Egito, Deus procurou
revelar-lhes Seu poder e misericórdia, a fim de que fossem levados a amá-Lo e
confiar nEle. Trouxe-os ao Mar Vermelho – onde, perseguidos pelos egípcios,
parecia impossível escaparem – a fim de que se compenetrassem de seu completo
desamparo, e da necessidade de auxílio divino; e então lhes operou o
livramento. Assim eles se encheram de amor e gratidão para com Deus, e de
confiança em Seu poder para os ajudar. Ele os ligara a Si na qualidade de seu
Libertador do cativeiro temporal.
Havia, porém, uma verdade
ainda maior a ser-lhes gravada na mente. Vivendo em meio de idolatria e
corrupção, não tinham uma concepção verdadeira da santidade de Deus, da
excessiva pecaminosidade de seu próprio coração, de sua completa incapacidade
para, por si mesmos, prestar obediência à lei de Deus, e de sua necessidade de
um Salvador. Tudo isto deveria ser-lhes ensinado.
Deus os levou ao Sinai;
manifestou Sua glória; deu-lhes Sua lei, com promessa de grandes bênçãos sob
condição de obediência: "Se diligentemente ouvirdes a Minha voz, e
guardardes o Meu concerto, então… Me sereis um reino sacerdotal e o povo
santo." Êxo. 19:5 e 6. O povo não compreendia a pecaminosidade de seus
corações, e que sem Cristo lhes era impossível guardar a lei de Deus; e
prontamente entraram em concerto com Deus. Entendendo que eram capazes de
estabelecer sua própria justiça, declararam: "Tudo o que o Senhor tem
falado faremos, e obedeceremos." Êxo. 24:7. Haviam testemunhado a
proclamação da lei, com terrível majestade, e tremeram aterrorizados diante do
monte; e no entanto apenas algumas semanas se passaram antes que violassem seu
concerto com Deus e se curvassem para adorar uma imagem esculpida. Não poderiam
esperar o favor de Deus mediante um concerto que tinham violado; e agora, vendo
sua índole pecaminosa e necessidade de perdão, foram levados a sentir que
necessitavam do Salvador revelado no concerto abraâmico e prefigurado nas
ofertas sacrificais. Agora, pela fé e amor, uniram-se a Deus como seu
Libertador do cativeiro do pecado. Estavam então, preparados para apreciar as
bênçãos do novo concerto.
As condições do "velho
concerto" eram: Obedece e vive – "cumprindo-os [estatutos e juízos] o
homem, viverá por eles" (Ezeq. 20:11; Lev. 18:5); mas "maldito aquele
que não confirmar as palavras desta lei". Deut. 27:26. O "novo
concerto" foi estabelecido com melhores promessas: promessas do perdão dos
pecados, e da graça de Deus para renovar o coração, e levá-lo à harmonia com os
princípios da lei de Deus. "Este é o concerto que farei com a casa de
Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a Minha lei no seu interior, e
a escreverei no seu coração. … Porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca
mais Me lembrarei dos seus pecados." Jer. 31:33 e 34.
A mesma lei que fora gravada
em tábuas de pedra, é escrita pelo Espírito Santo nas tábuas do coração. Em vez
de cuidarmos em estabelecer nossa própria justiça, aceitamos a justiça de
Cristo. Seu sangue expia os nossos pecados. Sua obediência é aceita em nosso
favor. Então o coração renovado pelo Espírito Santo produzirá os "frutos
do Espírito". Mediante a graça de Cristo viveremos em obediência à lei de
Deus, escrita em nosso coração. Tendo o Espírito de Cristo, andaremos como Ele
andou. Pelo profeta Ele declarou a respeito de Si mesmo: "Deleito-Me em
fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a tua lei está dentro do Meu
coração." Sal. 40:8. E, quando esteve entre os homens, disse: "O Pai
não Me tem deixado só, porque Eu faço sempre o que Lhe agrada." João 8:29.
O apóstolo Paulo apresenta
claramente a relação entre a fé e a lei, no novo concerto. Diz ele: "Sendo
pois justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus
Cristo." Rom. 5:1. "Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira
nenhuma, antes estabelecemos a lei." Rom. 3:31. "Porquanto o que era
impossível à lei, visto como estava enferma pela carne" – ou seja, ela não
podia justificar o homem, porque em sua natureza pecaminosa este não a poderia
guardar – "Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado,
pelo pecado condenou o pecado na carne; para que a justiça da lei se cumprisse
em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito." Rom. 8:3
e 4.
A obra de Deus é a mesma em
todos os tempos, embora haja graus diversos de desenvolvimento e diferentes
manifestações de Seu poder, para satisfazerem as necessidades dos homens nas
várias épocas. Começando com a primeira promessa evangélica, e vindo através da
era patriarcal e judaica, e mesmo até ao presente, tem havido um
desenvolvimento gradual dos propósitos de Deus no plano da redenção. O Salvador
tipificado nos ritos e cerimônias da lei judaica, é precisamente o mesmo que se
revela no evangelho. As nuvens que envolviam Sua divina pessoa foram removidas;
o nevoeiro e as sombras desapareceram; e Jesus, o Redentor do mundo, Se acha
revelado. Aquele que do Sinai proclamou a lei e entregou a Moisés os preceitos
da lei ritual, é o mesmo que proferiu o sermão do monte. Os grandes princípios
de amor a Deus, que estabeleceu como fundamento da lei e dos profetas, são
apenas uma repetição do que Ele dissera por meio de Moisés ao povo hebreu:
"Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o
Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu
poder." Deut. 6:4 e 5. "Amarás o teu próximo como a ti mesmo."
Lev. 19:18. O ensinador é o mesmo em ambas as dispensações. As reivindicações
de Deus são as mesmas. Os mesmos são os princípios de Seu governo. Pois tudo
procede dAquele "em quem não há mudança nem sombra de variação". Tia.
1:17.
AUTOR DESCONHECIDO
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