A
Mensagem do Evangelho em Antioquia
Após haverem sido os discípulos expulsos de
Jerusalém pela perseguição, a mensagem do evangelho espalhou-se rapidamente
pelas regiões que ficavam além das fronteiras da Palestina; e muitos grupos pequenos
de crentes se formaram em importantes centros. Alguns dos discípulos
“caminharam até a Fenícia, Chipre e Antioquia, ... anunciando. ... a Palavra ”.
Atos 11:19. Suas atividades estavam circunscritas em geral aos hebreus e judeus
gregos, dos quais se encontravam por esse tempo grandes colônias em quase todas
as cidades do mundo.
Entre os lugares mencionados onde o evangelho fora recebido alegremente, estava
Antioquia, nesse tempo a metrópole da Síria. O extenso comércio deste populoso
centro trazia para a cidade muitas pessoas de várias nacionalidades. Ademais,
Antioquia era conhecida como refúgio favorável para os amantes do sossego e
recreação, por causa de sua saudável localização, das belezas que a
circundavam, da riqueza, cultura e refinamento que ali se encontravam. Nos dias
dos apóstolos, ela se havia tornado uma cidade de luxo e vício.
O evangelho era publicamente ensinado em Antioquia por certos discípulos de
Chipre e Cirene, os quais ali chegaram “anunciando o Senhor Jesus”. “E a mão do
Senhor era com eles”, e seus fervorosos esforços produziam frutos. “E grande
número creu e se converteu ao Senhor.” Atos 11:21.
“E chegou a fama destas coisas aos ouvidos da igreja que estava em Jerusalém; e
enviaram Barnabé a Antioquia.” Atos 11:22. Chegando nesse novo campo de
trabalho, Barnabé viu a obra que tinha já sido realizada pela divina graça, e
“se alegrou, e exortou a todos para que permanecessem no Senhor com propósito
de coração”.
Os trabalhos de Barnabé em Antioquia foram ricamente abençoados, e muitos foram
acrescentados ao número dos crentes ali. Desenvolvendo-se a obra, Barnabé
sentiu a necessidade de auxílio adequado, a fim de assegurar as oportunidades
que pela providência de Deus se lhe deparavam; e foi a Tarso buscar Paulo, que,
depois de sua partida de Jerusalém algum tempo antes, estivera trabalhando nas
regiões “da Síria e da Cilícia”, proclamando “a fé que antes destruía”. Gál.
1:21 e 23. Barnabé teve êxito em encontrar Paulo e em persuadi-lo a voltar em sua
companhia como colega de ministério.
Na populosa cidade de Antioquia, Paulo encontrou um excelente campo de
trabalho. Sua cultura, sabedoria e zelo exerceram uma poderosa influência sobre
os habitantes e as pessoas que freqüentavam aquela cidade de cultura; e ele se
mostrou ser precisamente o auxílio de que Barnabé necessitava. Durante um ano
os dois discípulos trabalharam unidos em um ministério fiel, levando
a muitos o salvador conhecimento de Jesus de Nazaré, o Redentor do mundo.
Foi em Antioquia que os discípulos foram pela primeira vez chamados cristãos.
Este nome foi-lhes dado porque Cristo era o principal tema de sua pregação,
conversação e ensino. Continuamente estavam eles repetindo os incidentes
ocorridos durante os dias de Seu ministério terrestre, quando Seus discípulos
foram abençoados com Sua presença pessoal. Demoravam-se incansavelmente sobre
Seus ensinos e milagres de cura. Com lábios trêmulos e olhos rasos d’água
falavam de Sua agonia no jardim, Sua traição, julgamento e execução, a
paciência e humildade com que havia suportado a afronta e a tortura a Ele
impostas por Seus inimigos e a divina piedade com que tinha orado por Seus
algozes. Sua ressurreição e ascensão e Sua obra no Céu como Mediador do homem
caído eram tópicos sobre os quais se regozijavam em se demorar. Os pagãos bem
podiam chamá-los cristãos, uma vez que pregavam a Cristo e dirigiam suas
orações a Deus por intermédio dEle.
Foi Deus quem lhes deu o nome de cristãos. Este é um nome real, dado a todos os
que se unem a Cristo. Foi referindo-se a este nome que Tiago escreveu mais
tarde: “Não vos oprimem os ricos, e não vos arrastam aos tribunais? Porventura
não blasfemam eles o bom nome que sobre vós foi invocado?” Tia. 2:6 e 7. E
Pedro declarou: “Mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes
glorifique a Deus nesta parte.” “Se pelo nome de Cristo sois vituperados,
bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória de Deus.” I
Ped. 4:16 e 14.
Os crentes de Antioquia compreenderam que Deus estava disposto a operar em suas
vidas “tanto o querer como o efetuar, segundo a Sua boa vontade”. Filip. 2:13.
Vivendo, como viviam, no meio de um povo que parecia pouco apreciar as coisas
de valor eterno, procuraram chamar a atenção dos sinceros de coração e
apresentar positivo testemunho concernente Àquele a quem amavam e serviam. Em
seu humilde ministério, confiavam no poder do Espírito Santo para tornar eficaz
a Palavra da vida. E assim, nos vários passos da vida, davam testemunho diário
de sua fé em Cristo.
O exemplo dos seguidores de Cristo em Antioquia deve ser uma inspiração para
todos os crentes que vivem atualmente nas grandes cidades do mundo. Conquanto
esteja no plano de Deus que obreiros escolhidos, de consagração e talento,
sejam estacionados em importantes centros de população para realizar conferências
públicas, é também Seu propósito que os membros da igreja que vivem nessas
cidades usem os talentos que Deus lhes deu trabalhando em favor das almas.
Ricas bênçãos estão armazenadas para os que se entregam sem reservas ao chamado
de Deus. Ao se empenharem tais obreiros na salvação de almas para Jesus,
verificarão que muitos que jamais teriam sido alcançados de outra forma, estão
prontos a responder ao esforço pessoal inteligente.
A causa de Deus na Terra nestes dias está em necessidade de representantes
vivos da verdade bíblica. Os ministros ordenados sozinhos não são suficientes
para a tarefa de advertir as grandes cidades. Deus está chamando não somente
pastores, mas também médicos, enfermeiros, colportores, obreiros bíblicos e
outros consagrados membros da igreja, possuidores de diferentes talentos, que
tenham o conhecimento da Palavra de Deus e possuam o poder de Sua graça, para
que considerem as necessidades das cidades não advertidas. O tempo está
passando rapidamente, e muito resta a ser feito. Todos os meios devem ser
postos em operação, para que as oportunidades atuais sejam sabiamente
aproveitadas.
Os trabalhos de Paulo em Antioquia, em colaboração com Barnabé,
fortaleceram-lhe a convicção de que o Senhor o havia chamado para uma obra especial
pelos gentios. Por ocasião da conversão de Paulo, o Senhor declarara que ele
devia ser ministro dos gentios “para lhes abrires os olhos”, disse, “e das
trevas os converteres à luz, e do poder de Satanás a Deus; a fim de que recebam
a remissão dos pecados, e sorte entre os santificados pela fé em Mim”. Atos
26:18. O anjo que apareceu a Ananias dissera de Paulo: “Este é para Mim um vaso
escolhido, para levar o Meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de
Israel.” Atos 9:15. E o próprio Paulo, posteriormente em sua experiência
cristã, quando orava no templo de Jerusalém, foi visitado por um anjo do Céu
que lhe ordenou: “Vai, porque hei de enviar-te aos gentios de longe.” Atos
22:21.
Assim o Senhor comissionara Paulo para que penetrasse no largo campo
missionário do mundo gentio. A fim de prepará-lo para esta extensa e difícil
tarefa, Deus o trouxera em íntima comunhão consigo, abrindo-lhe perante a
arrebatada visão aspectos da beleza e glória do Céu. Fora-lhe entregue a missão
de tornar conhecido “o mistério” que esteve oculto “desde tempos eternos” (Rom.
16:25) – “o mistério da Sua vontade” (Efés. 1:9), “o qual noutros séculos não
foi manifestado aos filhos dos homens, como agora tem sido revelado pelo
Espírito aos Seus santos apóstolos e profetas; a saber, que os gentios são
co-herdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo
evangelho; do qual”, declara Paulo, “fui feito ministro. … A mim, o mínimo de
todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio
do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo, e demonstrar a todos qual
seja a dispensação do mistério, que desde séculos esteve oculto em Deus, que
tudo criou; para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja
conhecida dos principados e potestades nos Céus, segundo o eterno propósito que
fez em Cristo Jesus
nosso Senhor”. Efés. 3:5-11.
Abundantemente havia Deus abençoado os labores de Paulo e Barnabé durante o ano
que ficaram com os crentes em
Antioquia. Mas nenhum deles havia sido formalmente ordenado
para o ministério evangélico. Haviam chegado agora em sua experiência cristã a
um ponto em que Deus
estava para confiar-lhes a execução de difícil tarefa missionária, na
prossecução da qual necessitavam de toda a vantagem que pudesse ser obtida
através da igreja.
“E na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber:
Barnabé e Simeão, chamado Níger, e Lúcio cireneu, e Manaém, … e Saulo. E
servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-Me a
Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado.” Atos 13:1 e 2. Antes de
serem enviados como missionários ao mundo pagão, esses apóstolos foram
solenemente consagrados a Deus com jejum e oração e a imposição das mãos. Assim
foram eles autorizados pela igreja, não somente para ensinar a verdade, mas
para realizar o rito do batismo e organizar igrejas, achando-se investidos de
plena autoridade eclesiástica.
A igreja cristã estava a esse tempo entrando numa fase importante. A obra de
proclamar a mensagem evangélica entre os gentios devia agora prosseguir com
vigor; e, em resultado, a igreja se havia de fortalecer por uma grande colheita
de almas. Os apóstolos que tinham sido designados para dirigir essa obra,
estariam expostos a suspeitas, preconceitos e ciúmes. Seus ensinos a respeito
da demolição da “parede de separação que estava no meio” (Efés. 2:14), a qual
por tanto tempo separara o mundo judaico do gentílico, haviam naturalmente de
acarretar-lhes a acusação de heresia; e sua autoridade como ministros do
evangelho seria posta em dúvida por muitos judeus zelosos e crentes. Deus
previu as dificuldades que Seus servos seriam chamados a enfrentar; e para que
Sua obra estivesse acima de acusação, instruiu a igreja, mediante revelação, a
separá-los publicamente para a obra do ministério. Sua ordenação era um
reconhecimento público de sua divina designação para levar aos gentios as boas
novas do evangelho.
Tanto Paulo como Barnabé já haviam recebido sua comissão do próprio Deus, e a
cerimônia da imposição das mãos não ajuntou à mesma nenhuma graça ou virtual
qualificação. Era uma forma reconhecida de designação para um cargo específico,
bem como da autoridade da pessoa no mesmo. Por ela o selo da igreja era
colocado sobre a obra de Deus.
Essa forma era significativa para os judeus. Quando um pai judeu abençoava os
filhos, punha-lhes reverentemente as mãos sobre a cabeça. Quando um animal era
votado ao sacrifício, a mão daquele que se achava revestido da autoridade
sacerdotal colocava-se sobre a cabeça da vítima. E quando os ministros da
igreja de crentes de Antioquia puseram as mãos sobre Paulo e Barnabé, pediam,
por esse gesto, que Deus concedesse Sua bênção aos escolhidos apóstolos, em sua
consagração à obra específica a que haviam sido designados.
Em época posterior, o rito da ordenação mediante a imposição das mãos sofreu
muito abuso; ligava-se a esse ato uma insustentável importância, como se
sobreviesse de vez um poder aos que recebiam essa ordenação, poder que os
habilitasse imediatamente para toda e qualquer obra ministerial. Mas, na
separação desses dois apóstolos, não há registro a indicar que qualquer virtude
fosse comunicada pelo simples ato da imposição das mãos. Há unicamente o
singelo relatório de sua ordenação, e da influência que ela teve em sua obra
futura.
As circunstâncias ligadas à separação de Paulo e Barnabé pelo Espírito Santo,
para um definido ramo de serviço, mostram claramente que Deus opera mediante
designados instrumentos em Sua igreja organizada. Anos atrás, quando o propósito
divino a respeito de Paulo foi primeiramente revelado ao mesmo, pelo próprio
Salvador, Paulo foi imediatamente depois posto em contato com os membros da
recém-organizada igreja de Damasco. Demais, essa igreja não foi por mais tempo
deixada na ignorância quanto à experiência pessoal do fariseu convertido. E
agora, que a divina comissão então dada devia ser mais plenamente levada a
efeito, o Espírito Santo, dando novamente testemunho a respeito de Paulo como
um vaso escolhido para levar o evangelho aos gentios, impôs à igreja a obra de
ordená-lo e a seu companheiro de trabalho. E enquanto os dirigentes da igreja
de Antioquia estavam servindo ao “Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo:
Apartai-Me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado”. Atos 13:2.
Deus fez de Sua igreja na Terra um conduto de luz, e, por intermédio dela
comunica Seus desígnios e Sua vontade. Ele não dá a um de Seus servos uma
experiência independente da experiência da própria igreja, ou a ela contrária.
Nem dá a um homem um conhecimento de Sua vontade para toda a igreja, enquanto
esta – corpo de Cristo – é deixada em trevas. Em Sua providência, Ele coloca Seus
servos em íntima relação com a igreja, a fim de que tenham menos confiança em
si mesmos, e mais em outros a quem Ele está guiando para levarem avante Sua
obra.
Tem havido sempre na igreja os que estão constantemente inclinados à
independência individual. Parecem incapazes de compreender que a independência
de espírito é susceptível de levar o instrumento humano a ter demasiada
confiança em si mesmo e em seu próprio discernimento, de preferência a
respeitar o conselho e estimar altamente a maneira de julgar de seus irmãos,
especialmente os que se acham nos cargos designados por Deus para guia de Seu
povo. Deus investiu Sua igreja de especial autoridade e poder, por cuja
desconsideração e desprezo ninguém se pode justificar; pois aquele que assim
procede, despreza a voz de Deus.
Os que são inclinados a considerar como supremo seu critério individual,
acham-se em grave perigo. É o estudado esforço de Satanás separar a esses dos
que são condutos de luz, e por cujo intermédio Deus tem operado para edificar e
estender Sua obra na Terra. Negligenciar ou desprezar aqueles que Deus designou
para arcar com as responsabilidades da administração ligadas ao progresso da
verdade, é rejeitar o meio ordenado por Ele para auxílio, animação e
fortalecimento de Seu povo. Passar qualquer obreiro na causa do Senhor por alto
a esses, e pensar que a luz não lhe deve vir por nenhum outro instrumento mas
diretamente de Deus, é assumir uma atitude em que está sujeito a ser iludido
pelo inimigo, e vencido. Em Sua sabedoria, o Senhor tem designado que, mediante
a íntima relação mantida por todos os crentes, cristão esteja unido a cristão,
igreja a igreja. Assim estará o instrumento humano habilitado a cooperar com o
divino. Todo o agente estará subordinado ao Espírito Santo, e todos os crentes
unidos num esforço organizado e bem dirigido para dar ao mundo as alegres novas
da graça de Deus.
Paulo considerava a ocasião de sua ordenação formal como assinalando o início
de uma nova e importante época na obra de sua vida. É desse tempo que ele faz
datar, depois, o começo de seu apostolado na igreja cristã.
Enquanto a luz do evangelho brilhava em Antioquia, uma importante obra era
levada a efeito pelos apóstolos que haviam permanecido em Jerusalém. Cada
ano, por ocasião das festas, muitos judeus de todas as terras, vinham a
Jerusalém para adorar no templo. Alguns desses peregrinos eram homens de
fervente piedade, e zelosos estudantes das profecias. Suspiravam pelo advento
do prometido Messias, a esperança de Israel. Enquanto Jerusalém estava cheia
desses estrangeiros, os apóstolos pregavam a Cristo com indômita coragem,
embora soubessem que assim procedendo estariam expondo a vida a constantes
perigos. O Espírito de Deus pôs o selo sobre seus labores; muitos se
converteram à fé; e esses, de volta a seus lares em diferentes partes do mundo,
espalhavam as sementes da verdade através de todas as nações, e entre todas as
classes da sociedade.
Entre os apóstolos que se empenhavam neste trabalho encontravam-se
preeminentemente Pedro, Tiago e João, os quais estavam convictos de que Deus os
havia indicado para pregarem a Cristo entre os seus compatriotas. Sábia e
fielmente eles trabalhavam, testificando do que tinham visto e ouvido, e
apelando para a “mui firme… palavra dos profetas” (II Ped. 1:19), num esforço
de persuadir “a casa de Israel… que a esse Jesus, a quem” os judeus
crucificaram, “Deus O fez Senhor e Cristo”. Atos 2:36.
(não me responsabilizo pela posição e/ou leitura teológica do autor)
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