APOSTILA PANORAMA DO ANTIGO TESTAMENTO
Professor: Cornélio
Póvoa de Oliveira
www.semeandoabiblia.blogspot.com
DATA
|
AULA
|
PANORAMA DO ANTIGO TESTAMENTO
|
1
|
Apresentação
·
Conhecendo os alunos
·
1. Ementa
·
2. Introdução
|
|
2
|
·
3. Problemas de Distanciamento do A.T.
·
4. Panorama Histórico-Literário
|
|
3
|
·
5. Panorama Teológico-Literário
·
6. Panorama Literário
|
|
4
|
·
7. Introdução ao Pentateuco
·
8. O Livro de Gênesis
|
|
5
|
·
8. O Livro de Gênesis
·
9. O Livro de Êxodo
|
|
6
|
·
10. O Livro de Levítico
·
11. O Livro de Números
|
|
7
|
·
12. O Livro de Deuteronômio
|
|
8
|
·
1ª PROVA PANORAMA ANT. TESTAMENTO
|
|
9
|
·
12. O Livro de Deuteronômio
|
|
10
|
·
13. O Livro de Josué
·
14. O Livro de Juízes
|
|
11
|
·
15. O Livro de Rute
·
16. Os Livros de 1 e 2 Samuel
|
|
12
|
·
17. Os Livros de 1 e 2 Reis
·
18. Os Livros de 1 e 2 Crônicas
|
|
13
|
·
19. Os Livros de Esdras e Neemias
·
20. O Livro de Esdras
·
21. O Livro de Neemias
|
|
14
|
·
22. O Livro de Ester
|
|
15
|
·
23. Os Livros Poéticos
·
24. Os Livros de Sabedoria
|
|
16
|
·
2ª PROVA PANORAMA ANT. TESTAMENTO
·
25. Os livros Proféticos
|
|
·
Recuperação
|
||
Bibliografia:
ELLISEN, Stanley A. Conheça Melhor o Antigo Testamento;
Editora Vida, São Paulo, 1993
|
AULA 1
1 - EMENTA
Este curso fará uma introdução ao
Antigo Testamento, contemplando nele três panoramas interligados:
- · panorama histórico;
- panorama teológico;
- panorama literário.
2 - INTRODUÇÃO
Deus se revela na história, não somente
por palavras, mas também e principalmente pelos fatos. Por isso, o discurso de
Deus é:
a) situado e encarnado num tempo e numa sociedade, numa linguagem e numa
cultura.
b) progressivo, isto
é, espalhado no tempo, até encontrar à sua plenitude em Cristo.
c) mantém estritamente unidas história e Palavra,
de modo que a Palavra de Deus faz a história, dirigindo-a e interpretando-a.
Para os cristãos, Cristo é a plenitude
da revelação de Deus; em outras palavras, Cristo é a perfeita manifestação de
Deus e nele, portanto, a revelação encontra seu cumprimento. A leitura cristã
das Escrituras adotou esquemas substancialmente bíblicos para exprimir a
relação entre os dois testamentos, de modo a afirmar que o Novo Testamento
termina o que o Antigo tinha começado. Tais esquemas são:
·
continuidade/descontinuidade
(novidade);
·
preparação/cumprimento;
·
figura/realidade;
·
promessa/realização.
Todavia, não se pode cair no erro de
achar que o Antigo Testamento só tem valor em função do Novo. O Antigo
Testamento vale por si mesmo e é Palavra de Deus tanto quanto o Novo e independente
dele.
=============================================================
AULA 2
3 – PROBLEMAS DE
DISTANCIAMENTO DO A.T.
Na medida que nos distanciamos de uma obra literária, aumentam os
problemas históricos, culturais e lingüísticos que se interpõem entre ela e o
leitor. Com o AT não é diferente, pois existem alguns problemas científicos,
históricos e geográficos que nos distanciam desta obra literária.
3.1 – Alguns Problemas de
Distanciamento
A – Científicos
O homem, através da ciência, dia após dia descobre novas coisas. Essas
descobertas muitas vezes se “contradizem” com o relato bíblico (Josué 10 X
Galileu Galilei), distanciando-a do homem. Estes conflitos entre a Bíblia e a
ciência não deveria existir, pois a Bíblia não é um livro que traga afirmações
científicas, e sim, um livro divino que tenta aproximar o homem de Deus.
B – Históricos
O estudo do AT deve ser feito, levando em consideração as circunstâncias
históricas da época. Isto muitas vezes distancia o homem do AT.. É impossível entender o AT sem se aprofundar
no contexto histórico. O leitor da Bíblia deve adentrar-se nas circunstâncias
sociais, políticas, religiosas e geográficas da época. Só assim, poderá obter
um bom aproveitamento no estudo. O estudo arqueológico é de suma importância
para uma contextualização geográfica.
C – Linguístico
O AT foi escrito em hebraico. Este é um fator que nos distancia, pois o
hebraico é uma língua morta. Precisamos então recorrer a escolas linguísticas
para buscar nelas uma tradução mais precisa.
4 – PANORAMA
HISTÓRICO-LITERÁRIO
O Antigo Testamento levou
aproximadamente mil anos para ser escrito. A cada nova situação histórica, os
fatos do passado eram relidos, reinterpretados, recontados. Por isso, é
necessário recordarmos alguns acontecimentos importantes.
A história do povo de
Israel, retratada no Antigo Testamento, tem entre 1500 e 1600 anos. Vai desde
pouco antes do ano 2000 a.C. até depois do ano de 500 a.C. Essa história começa
a ser relatada no capítulo 12 de Gênesis.
Nos primeiros 11 capítulos
desse livro são relatadas as origens do mundo e da humanidade, desde a criação
até a torre de Babel.
Poderíamos caracterizar os
períodos básicos dos fatos relatados no Antigo Testamento da seguinte maneira:
·
4.1 – Divisões dos períodos baseados
nos acontecimentos
·
4.2 – Divisões Literárias do Antigo
Testamento
4.1
– Divisões dos períodos baseados nos acontecimentos
Divisões dos períodos baseados nos
acontecimentos
|
|
1. Origens
·
Criação
(Gn 1,2)
·
Queda
(Gn 3)
·
Dilúvio
(Gn 6-8)
·
Babel
(Gn 11)
|
6. Juízes
·
(+/-
1396-1050 a.C.)
|
2. Patriarcas
·
Abraão
(2166-1991 a.C.)
·
Isaque
(2066-1886 a.C.)
· Jacó
(2006-1859 a.C.)
·
José
(+/- 1916-1806 a.C.) e seus irmãos.
|
7. Reino unido
·
Saul
(1050-1010 a.C. (incluindo um período de divisão de cerca de 7 anos em que
Davi reinou Hebrom)
·
Davi
(1010-970 a.C.)
·
Salomão
(970-931 a.C.)
|
3. Escravidão
·
(1876-1446
a.C.) - período passado no Egito, incluindo o tempo em que José ainda vivia
(430 anos - Êx 12.40).
|
8. Reino dividido
·
(Israel
e Judá – 931-586 a.C. - incluindo o período em que havia apenas o reino
remanescente de Judá)
·
Reino
do Norte foi deportado para a Assíria (722 a.C.)
·
Reino
remanescente de Judá (até 586 a.C.)
|
4. Êxodo
·
(40
anos, Dt 8.2; 29.5) - Moisés (1526-1406 a.C. - 120 anos, Dt 34.7)
|
9. Cativeiro babilônico
·
1ª.
leva - 605 a.C. (Daniel foi levado)
·
2ª.
leva - 597 a.C. (Ezequiel foi levado)
·
3ª.
leva - 586 a.C. (destruição de Jerusalém e do Templo)
|
5. Conquista
·
Josué
|
10. Retorno
·
Zorobabel (538 a.C.)
·
Esdras (458 a.C.)
·
Neemias (444 a.C.)
|
Divisões
Literárias do Antigo Testamento
|
||
Históricos
|
Poéticos
|
Proféticos
|
Pentateuco
Gênesis
Êxodo
Levítico
Números
Deuteronômio
|
Jó
Salmos
Provérbios
Eclesiastes
Cantares (Cânticos)
|
Profetas Maiores
Isaías
Jeremias
Lamentações
Ezequiel
Daniel
|
Históricos
Josué
Juízes
Rute
1 e 2 Samuel
1 e 2 Reis
1 e 2 Crônicas
Esdras
Neemias
Ester
|
“Qualquer pessoa que tenta
entender o livro dos livros, sem conhecer sua estrutura ou corrente de
eventos maiores, jamais alcançará mais do que uma compreensão fragmentada das
suas grandes verdades.”
Robert Flood
|
Profetas Menores
Oséias
Joel
Amós
Obadias
Jonas
Miquéias
Naum
Habacuque
Sofonias
Ageu
Zacarias
Malaquias
|
Passado
Intelecto
Saga
Prosa
Eventos
|
Presente
Emoções
Sentimentos
Poesia
Experiência
|
Futuro
Vontade
Sermões
Profecia
Expectativa
|
4.3 – Os Primeiros Dezessete
Comecemos em
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Eles constituem evidentemente
uma unidade de cinco partes que os destaca imediatamente como um grupo
separado. Sempre foram conhecidos como os cinco livros de Moisés ou o
Pentateuco.
·
Obs. 1: Quanto
ao número são cinco. Quanto ao caráter são históricos.
A seguir vem
Josué, Juízes, Rute, 1 Samuel, 2 Samuel, 1 Reis, 2 Reis, 1 Crônicas, 2
Crônicas, Esdras, Neemias, Ester. Os livros que vão de Josué a Ester são os
doze que compõem o segundo grande grupo do Antigo Testamento.
·
Obs. 2:
Quanto ao número são doze. Quanto ao caráter são históricos.
4.4 – Os Cincos Centrais
A seguir
encontramos Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão. Estes
cinco livros mencionados agora não são históricos, mas pessoais e empíricos.
Eles tratam em especial dos problemas do coração humano individual. Além disso,
os dezessete precedentes foram escritos em prosa, enquanto estes em forma de
poesia.
·
Obs. 3:
Quanto ao número são cinco. Quanto à natureza, dizem respeito à experiência.
4.5 – Os Últimos Dezessete
Isaías, Jeremias,
Lamentações, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias,
Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. Estes livros juntos
forma o grupo dos livros proféticos. Estes dezessete livros se subdividem,
assim como os históricos. Os primeiros cinco são chamados de “Profetas Maiores”
e os doze remanescentes de “Profetas Menores”.
Interessante notar
que o livro de Lamentações possui um significado posicional, constitui o ponto
central dos profetas “maiores”, isto é, divide Isaías e Jeremias de um lado,
deixando Ezequiel e Daniel do outro. Ele faz uma interseção entre os dois
maiores profetas pré-exílicos e os dois maiores pós-exílicos.
==============================================================
AULA 3
5. PANORAMA
TEOLÓGICO-LITERÁRIO
5.1 -
Muitas teologias no AT
Cada um
dos livros que temos hoje levou muito tempo para chegar à sua forma atual e, na
maior dos casos, não foi obra de uma única pessoa. Por isso, é necessário falar
não de “teologia” do Antigo Testamento, mas de “teologias” do Antigo
Testamento: a teologia da chamada “escola deuteronomista” é diferente da
teologia de um grupo normalmente chamado de “javista”; a teologia de Jó é
totalmente diferente da teologia de Sirácida ou Eclesiástico.
5.2 -
Dois Antigos Testamentos
Um
conjunto de livros que formam o que normalmente chamamos de “Antigo Testamento”
já estava completo antes do ano 200 a.C. Por ter sido escrito em hebraico (uma
mínima parte em aramaico) é chamado de “Bíblia Hebraica” e tem três divisões:
Torah (Lei), Nebiîm (Profetas), Ketubîm (Escritos). É comumente chamado de TaNaK
(palavra formada pela primeira letra do título de cada parte).
Em torno
do ano 180 a.C., foi feita a tradução da Bíblia Hebraica para o grego. Mas esta
não foi somente uma tradução: houve também adaptações e acréscimos, tanto de
partes como de livros inteiros. A tradução grega é conhecida como “Setenta” ou
“Septuaginta” e indicada pelas letras LXX (setenta em algarismos romanos).
Entre a
Bíblia Hebraica e a LXX, portanto, há várias diferenças além da língua: ambiente
histórico, social, político, geográfico; adaptações e acréscimos; livros novos
na LXX (nem todos no cânon de nossas Bíblias); agrupamento e ordem dos livros.
As
bíblias católicas se diferenciam das bíblias protestantes/evangélicas porque,
além dos livros da Bíblia Hebraica, inclui também alguns dos livros novos que
foram acrescentados na LXX. São eles (usando a palavra BESTIM como recurso
mnemônico):
B - Baruc
E - Eclesiástico (Sirácida)
S - Sabedoria
T - Tobias
I - Judite
M - Macabeus (1 e 2)
E ainda,
as partes gregas de Daniel e Ester.
5.3.-
Atual divisão dos livros do AT
Nas
nossas edições da Bíblia, a ordem e o agrupamento dos livros não segue
exatamente a Bíblia Hebraica nem a LXX. Nas bíblias católicas, é possível
distinguir os seguintes grupos:
·
Pentateuco
(= Torah, Lei)
·
Livros históricos
(Obra Histórica Deuteronomista + Obra Histórica do Cronista – na bíblia
católica + Histórias Deuterocanônicas)
·
Livros poéticos
e sapienciais
·
Livros proféticos
A
seguir, uma breve introdução aos principais conjuntos literários. Em razão da
exiguidade de tempo, ficarão de fora desta apresentação: Obra do Cronista
(Esdras, Neemias, 1–2 Crônicas), Histórias Deuterocanônicas (Tobias, Judite,
1–2 Macabeus), Daniel, Baruc, Ester, Cântico dos Cânticos e Salmos.
5.4.-
Torah ou Pentateuco:
Os cinco
primeiros livros da Bíblia, na sua versão atual, apresentam uma história
linear: das origens à entrada na Terra Prometida. Na realidade, são o resultado
da fusão de quatro tradições num conjunto mais ou menos harmonioso. As quatro
tradições (a princípio orais, mas depois com alguns escritos) são:
·
Javista (J): Em Gn 2,4 Deus é chamado de “Javé”,
o que difere de Gn 1. O local sem dúvida é Jerusalém (reino Sul), mas a datação
é discutível: no século X a.C., durante reinado de Salomão, ou no século VII
a.C., sob Josias), ou ainda século VI a.C., mais no fim da monarquia?
·
Eloísta (E): Deus é chamado de “Javé” somente
após Êx 3,14. Antes disso, Deus é chamado de “Elohim”. Entre os séculos IX e
VIII a.C., no reino Norte.
·
Sacerdotal
(P, do alemão, Priestercodex): preocupa-se principalmente com
aspectos rituais.
Durante
o exílio na Babilônia (587-537 a.C.) e pouco depois.
·
Deuteronomista
(D): compôs o
livro do Deuteronômio como introdução para a obra historiográfica que vem a
seguir (Obra Histórica Deuteronomista). Vários estratos redacionais, refletindo
os vários momentos da história de Israel (período assírio, período babilônico,
exílio, período persa)
Cada uma
delas reflete um período histórico e uma ideologia religiosa. Nenhuma delas tem
a intenção de escrever um relato jornalístico, e sim uma teológica
(catequética), desde as origens até as vésperas da entrada na Terra Prometida.
5.5.-
História Deuteronomista
Os
livros que na Bíblia Hebraica são chamados de “Profetas Anteriores” formam uma
obra historiográfica que recolhe material de outros escritos (normalmente,
registros da corte) e também material inédito: a Obra Histórica Deuteronomista
(OHD). Normalmente fala-se de três ou quatro camadas redacionais, amalgamadas
durante cerca de 200 anos (entre 650 e 450 a.C.). A autoria é atribuída à
chamada “escola deuteronomista” ou simplesmente “o deuteronomista”. Este nome é
devido ao fato de o livro do Deuteronômio funcionar como o portal de entrada
para a história narrada a seguir.
Josué,
Juízes, Samuel e Reis narram de modo linear uma história complexa e cheia de
reviravoltas: da conquista da Terra Prometida à perda desta mesma terra.
Quando
começou a ser escrita, durante o reinado do rei Josias (640-609 a.C.), esta
obra historiográfica tinha a finalidade de propagandear e incentivar a reforma
político-religiosa promovida por aquele rei. Mas, com o exílio, o objetivo
mudou. Agora, tratava-se de explicar as razões que levaram YHWH a castigar seu povo e a mandar a catástrofe da deportação: “Por que o
exílio?” A resposta que permeia toda a Obra Histórica Deuteronomista é: “Porque
fomos infiéis à Aliança do Sinai”. Toda a história de Israel (a confederação de
tribos, a monarquia unida, cada um dos reinos irmãos divididos) é narrada na
perspectiva religiosa e tem a finalidade de mostrar que a história vai se
deteriorando sempre mais, até chegar ao limite da infidelidade, não deixando a
YHWH alternativa, exceto mandar a catástrofe
para punir seu povo e, deste modo, purificá-lo:
Deuteronômio
|
Josué
|
Juízes
|
1-2 Samuel + 1-2 Reis
|
A sociedade ideal,
conforme a Lei de
YHWH.
|
O povo fiel, cumpridor da Aliança e
da Lei.
|
Fidelidade e infidelidade se
alternam, num ciclo
contínuo:
(a) pecado;
(b) castigo
(c) arrependimento;
(d)
libertação
|
Infidelidade
institucionalizada: o
primeiro a ser infiel é
o rei.
|
5.6.-
Literatura sapiencial
Os
livros sapiencias propriamente ditos são cinco: Provérbios, Jó, Qohelet
(Eclesiastes), Cântico dos Cânticos e Salmos são livros poéticos. Na bíblia
católica temos também Sirácida ou Eclesiástico e Sabedoria (livros
deuterocanônicos).
A busca
da sabedoria e do sentido da vida não foi um fenômeno exclusivo no povo bíblico
nem por ele iniciado. Antes, trata-se de uma indagação comum presente também
nas culturas vizinhas (Egito, Mesopotâmia, Ugarit). A palavra “sabedoria”
abrange não só os conhecimentos científicos, mas também e principalmente, a
capacidade de encontrar as soluções adequadas para todo tipo de problema:
agricultura, economia, relacionamentos sociais, família etc.
Os
livros sapienciais bíblicos podem ser lidos e interpretados sobre o pano de
fundo da chamada “Teologia da Retribuição”. Trata-se de uma doutrina que pode
ser assim esquematizada.
Justo
sábio bênção ///
Injusto tonto maldição
Em outras palavras, “aqui se faz, aqui
se paga”!
Todavia, os autores bíblicos não são
unânimes sobre a validade desta crença. À pergunta “A Teologia da Retribuição
funciona?”, eis as resposta encontrada nos livros sapienciais bíblicos:
Provérbios e Eclesiástico ou Ben
Sirac:
“SIM”
|
Sabedoria:
“SIM!
Mas só na outra vida!”
|
Jó e Qohélet:
“NÃO!”
|
5.7.-
Literatura Profética
A
palavra profeta vem do grego pro-fetés e significa “alguém que fala no lugar de outro”, o porta-voz. Neste
sentido, vários personagens são eventualmente chamados de profetas ao longo da
Bíblia: Abraão, Moisés, Davi.
Todavia,
o termo é mais propriamente aplicado a homens e mulheres que assumem o papel de
mediadores entre Deus e a raça humana.
O
fenômeno da profecia não é exclusivo de Israel e no mundo antigo, tal como
hoje, é facilmente confundido com a capacidade de enxergar o futuro e prever os
acontecimentos. Mas esta não é a única nem a principal atividade profética. A
nomenclatura na Bíblia Hebraica é fluida e deixa entrever uma evolução no
conceito do que significa agir como mediador: vidente – visionário – homem de
Deus – profeta. Mais ainda, assinala também uma evolução dos meios de
comunicação: visões – êxtase, possessão, transe – palavras, oráculos.
Os
profetas bíblicos, portanto, não devem ser confundidos com adivinhadores do
futuro. Eles não enxergam o futuro, mas sim o presente: observando as
estruturas sociais e o comportamento individual das pessoas, o profeta emite um
juízo, se aquela sociedade/pessoa caminha de acordo com a Lei de YHWH ou não. Em caso afirmativo, aquela sociedade/pessoa pode ter esperança;
em caso negativo... boa coisa não vai dar.
a)
Profetas não-escritores e profetas escritores
Em
termos literários, os profetas podem ser divididos em dois grupos: os profetas
não-escritores e os profetas escritores ou clássicos.
Como o
próprio nome diz, o termo “profetas não-escritores” é aplicado aos
profetas aos quais não foram atribuídos livros na Bíblia. Há uma longa lista de
profetas não-escritores, cuja atividade está principalmente descrita nos livros
de Samuel e Reis. Os mais importantes são Elias e Eliseu; mas há também: Natã,
Gad, Aías de Silo, Miqueias ben Yemla, Hulda (mulher) e vários outros. E, é
claro, o próprio Samuel é qualificado como “último juiz e primeiro profeta”.
Os
profetas escritores ou clássicos constituem o grupo mais famoso, mas não
é o grupo mais numeroso. Na Bíblia Hebraica, são apenas quinze livros
proféticos: os três maiores (Isaías, Jeremias, Ezequiel) e os doze menores
(Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu,
Zacarias, Malaquias). A qualificação “maiores” e “menores” não é devida à
importância nem ao período de atuação desses profetas. É motivada única e
exclusivamente pelo tamanho dos livros e, por isso, deveria ser rejeitada. Em
lugar de “profetas menores”, o mais correto é falar de “o livro dos Doze
Profetas” (tornaremos a isso mais adiante). Ficaram fora da lista acima, Baruc
e Daniel. Baruc é um profeta cujo livro encontra-se somente na LXX e que por
alguns é identificado com seu xará, o Baruc secretário de Jeremias. Quanto a
Daniel, seu livro é um apocalipse e por isso na Bíblia Hebraica está entre os
“escritos”.
Quando
se fala de “literatura profética”, é óbvio que se fala de profetas escritores.
Mas os livros proféticos que temos em nossas bíblias possuem uma história
redacional bastante complexa. Em primeiro lugar, a ordem dos livros não
equivale à ordem cronológica em que os profetas atuaram: Oséias é posterior a
Amós e, no entanto, o livro de Amós está depois do livro de Oséias e de Joel
(cujo período de atividade ainda é causa de polêmica).
Segundo,
há também questões referentes à autoria dos livros proféticos. Malaquias, por
exemplo, é uma palavra que significa “mensageiro de YHWH”, e foi praticamente inventado para atribuir a ele o último livro dos
doze profetas. Mas há trechos em Isaías e em Zacarias (além do próprio
Malaquias) cujos verdadeiros autores são anônimos, sem falar em Jonas que não é
o autor, e sim o protagonista, do livro que leva seu nome.
No que
se refere à mensagem dos profetas, ela está ligada ao período histórico e ao
lugar em que exerceram sua atividade. O marco fundamental é o exílio (587-537
a.C.). Também falaremos sobre isso mais adiante.
b) Três
+ Doze
Em
nossas Bíblias, temos quatro grandes livros proféticos e treze livros menores.
Todavia, expurgando Daniel e Baruc e seguindo a ordem da Bíblia Hebraica, temos
o seguinte conjunto: três + doze. Esta organização é nitidamente artificial e
arranjada. Com efeito, o atual livro de Isaías é composto de três partes,
compostas por autores diferentes, em três circunstâncias históricas e espaciais
diferentes:
maior parte dos capítulos 1–39
|
Isaías de Jerusalém (“o verdadeiro”)
|
Jerusalém, antes do exílio
|
capítulos 40–55
|
autor anônimo chamado de Dêutero (ou
Segundo) Isaías
|
Babilônia, durante o exílio
|
capítulos 56–66 autor(es)
|
autor(es) anônimo(s) chamado(s) de
Trito (ou Terceiro) Isaías
|
Jerusalém, logo após a volta do
exílio
|
Também o livro de Zacarias é formado
por duas (ou três) partes:
capítulos 1–8
|
Mais propriamente proféticos, mas já
beirando a apocalíptica
|
capítulos 9–11 e capítulos 12–14
|
Nitidamente apocalípticos
Mesmo autor ou dois autores anônimos
diferentes?
A princípio, capítulos unidos ao
atual Malaquias?
|
A atual
organização dos livros proféticos é resultado, portanto, de um esforço para
atingir o número de três escritos maiores e doze escritos menores. Os
estudiosos elaboraram várias explicações para mostrar como e porque isso
aconteceu.
Talvez
haja neste arranjo uma referência aos pais do povo de Israel: os TRÊS
patriarcas e as DOZE tribos, cujos epônimos[1]
são os filhos/descendentes de Jacó. Neste caso, o arranjo canônico dos livros
proféticos da Bíblia Hebraica ofereceria já uma chave de leitura para o
conjunto: “É assim que o povo de Israel deveria ser”!
c) A
mensagem dos profetas escritores
A
principal data para compreender a história e a literatura do Antigo Testamento
é 587 a.C.: o ano da destruição de Jerusalém e no qual se marca o início o
exílio na Babilônia. De modo absolutamente sumário, é possível sintetizar a
atividade e a mensagem dos profetas, principalmente os profetas de Judá (reino
Sul), tendo como ponto de referência o período do exílio. Mas é necessário
considerar também os profetas que atuaram em Israel/Efraim (reino Norte), é
claro, antes da queda da Samaria, em 721 a.C.
Israel ou Efraim
(reino
Norte)
|
Judá
(reino
Sul)
|
|||
antes da queda
da Samaria
(722/1
a.C.)
|
antes do exílio
(até
587/6 a.C.)
|
durante o exílio
na Babilônia
(entre
587/6 e 539 a.C.)
|
após o exílio
em Jerusalém
(nos primeiros anos
após
537 a.C.)
|
datação
incerta
|
Amós (± 780)
Oséias
(± 760)
|
Isaías de Jerusalém
(740-701)
Miquéias (727-701)
Sofonias (± 630)
Jeremias (627-586)
Naum (± 612 ?)
Habacuc (± 600)
Ezequiel
(593-587)
|
Ezequiel (587-571)
2Isaías
(550-539)
|
3Isaías (538-510)
Ageu (±520)
Zacarias
1-8 (±520)
|
Malaquias
Zacarias 9-14
Abdias
Joel
Jonas
|
CONVERTAM-SE!
|
CORAGEM!
|
VAMOS
NOS UNIR!
|
6. PANORAMA LITERÁRIO
A Bíblia
é uma verdadeira obra literária e não perde nada para nenhuma obra-prima da
literatura mundial. Muito se poderia dizer sobre as figuras de linguagem, os
artifícios literários, as referências cruzadas e outros aspectos literários do
texto bíblico2. Nestas páginas, vamos nos limitar aos
gêneros literários utilizados pelos autores bíblicos.
6.1.- O
que é um gênero literário?
Desde o
início do século XX, vários exegetas dedicam-se a comparar textos semelhantes
no que se refere à forma, mesmo que o conteúdo apresente diferenças. Esse
minucioso trabalho —que ainda não terminou, porque os gêneros literários são
muitos — permite classificar os textos bíblicos (e extrabíblicos) em grupos,
denominados “gêneros literários”.
Quando
dois ou mais textos possuem características formais semelhantes, é possível
falar de gênero literário. No mundo moderno, temos vários e nem nos damos
conta: convite de casamento, aviso de falecimento, nota fiscal etc.
O
esquema é sempre o mesmo, só mudam os dados específicos. Semelhantemente, os
autores bíblicos usaram esquemas pré-fixados e os adaptaram ou modificaram.
A
seguir, um breve elenco de gêneros literários de particular interesse para o
estudo do Antigo Testamento.
6.2.-
Relatos
a)
Novela
Narrativa
relativamente longa, na qual a história do protagonista tem importância para a
nação. A trama se desenvolve em três tempos:
a) situação de conflito ou de tensão
b) o conflito se complica cada vez mais e
os personagens buscam a solução
c) resolução do conflito e esvaecimento
das complicações
São
novelas bíblicas as histórias de Rute, de José e de Tobias.
b)
Parábola - alegoria - fábula – comparação
Comparação
|
Parábola
|
Alegoria
|
Fábula
|
• pode ser uma única frase
|
• é uma comparação
desenvolvida em forma de história
|
• também é uma
comparação ampliada em história
|
• pode ser uma frase ou uma história
|
• cada imagem mantém seu significado
próprio; o sentido está no todo
|
• seu sentido não está em cada
elemento, e sim no todo
|
• cada elemento perde seu significado
original e torna-se simbólico; ou seja, o sentido está em cada elemento
|
• os personagens são
animais ou plantas com um significado
nitidamente
simbólico
|
• normalmente começa com uma fórmula
de comparação: “é
como”, “é semelhante”
|
• não utiliza a fórmula de comparação
(“como”), e sim a cópula: “é”, “são”
|
||
Pv
10,26; 26,1; Ecl 7,6
|
2Sm
12,1-4
|
Ecl
12,1-7
|
Jz
9,8-15
|
c)
Parábola jurídica
Um
profeta conversa com um rei ou alguém importante e, por meio de uma parábola,
descreve uma situação de conflito. Depois pede que seu interlocutor emita um
juízo. Após dar seu veredicto, o ouvinte recebe a notícia de que o acusado é
ele mesmo. O episódio tem o seguinte esquema:
a) pré-história
b) o profeta vai ao encontro da pessoa
questionada
c) parábola (acusação velada)
d) o profeta pede o veredicto
e) a pessoa questionada emite o veredicto
f) revelação: quem é a pessoa da qual se
fala
g) acusação explícita
h) reações da pessoa questionada
Tiveram
de ouvir uma parábola jurídica: Davi (2Sm 14,5-17), os habitantes de Jerusalém (Is
5,1-7) e vários outros. No NT, cf. Lc 7,36-50 (o fariseu Simão e a pecadora
pública).
d)
Relato de encontro junto ao poço
Para
narrar como os casais de antepassados se conheceram. O poço era um dos poucos
lugares em que homens e mulheres podiam conversar livremente e cada um
aproveitava a ocasião para mostrar suas qualidades de boa dona de casa e de bom
trabalhador. O esquema é sempre adaptado, mas o básico é o seguinte:
a) o homem chega ao poço primeiro
b) a mulher chega para tirar água
c) os dois conversam
d) ele tira a água do poço e oferece a ela
e aos rebanhos
e) ela volta para casa e conta sobre o
encontro
f) ele é convidado para ir à casa dela
g) os dois se casam
Exemplos:
Gn 24 (o servo de Abraão e Rebeca); Gn 29 (Jacó e Raquel); Ex 2,15b-22 (Moisés
e Séfora). Notar que o autor do evangelho de João segue este esquema para
narrar o encontro de Jesus com a samaritana (Jo 4)[2].
6.3.-
Leis
a)
Maldições
Para
punir quem transgride as regras de convivência. Muitas vezes, basta proferir a
maldição, sem dizer explicitamente qual desgraça recairá sobre o culpado, para
evitar que alguém realize determinada ação. Trata-se de uma palavra eficaz, que
realiza o que significa. As maldições têm um
esquema nitidamente litúrgico:
a) “Maldito” + descrição do delito com verbo no particípio (“quem faz x”)
b)
aprovação
da assembleia: “E todo o povo dirá:
‘Amém!’ ”
Várias
leis no Deuteronômio: Dt 27,16-25.
b)
Sentenças de morte
Outra
forma de punir transgressões às regras de convivência é a pena capital. As sentenças de morte são assim formuladas:
a) descrição do delito com verbo no
particípio: “Quem faz x...”
b) pena de morte: “... morrerá de morte
violenta.”
Exemplos
em Ex 21,12.15-17.
c) Leis
categóricas
Regras
de comportamento, sem conotação jurídica, para regular a convivência dos
nômades e das populações das pequenas aldeias. Dividem-se em preceitos (regras
positivas: “faze x”) e proibições (regras negativas: “não faças y”). São regras formuladas na segunda
pessoa e de modo categórico e incondicional. Normalmente, estão agrupadas em
séries.
Exemplos:
Ex 20,1-17; Lv 18.
d) Leis
casuístas
Regras
formuladas na terceira pessoa e são particulares e condicionais: “se x, então y”. Exemplos: Ex 21,2-11.18-37; 22,1-17;
Dt 22,23-27.
6.4.-
Discursos e ensinamentos
a)
Oráculo de salvação
Em uma
situação de crise ou de desgraça, o profeta anuncia que Deus vai abrir uma nova
perspectiva. A estrutura básica é a seguinte:
a) vocativo
b) promessa de salvação (encorajamento)
c) motivação, introduzida pela conjunção “porque”
d) consequências
Vários
exemplos na segunda parte de Isaías: 41,8-12; 44,1-5.
b) Māšāl ou provérbio breve
Trata-se
de um ensinamento formulado em duas ou três linhas (chamadas membros), com
diversas finalidades: formação, sátira, sarcasmo, crítica, ameaça etc. Os
membros do māšāl normalmente seguem um tipo de paralelismo:
·
sinonímico:
quando as frases expressam algo equivalente: Pr 1,8; 4,24; 19,6.
·
antitético:
quando as frases expressam algo antagônico: Pr 10,1.4.12; 11,19.
·
sintético:
quando entre as ideias há uma relação de causa-efeito (Pr 16,7; 16,3) ou quando
a segunda frase esclarece ou dá maior precisão à primeira (Pr 14,27; 16,31).
c) Lista
enciclopédica
Catálogo
de todas as realidades e fenômenos: raças, países, vegetais, animais,
comportamentos e atividades humanas etc. Exemplos: Jó 28; Sb 7,17-20; Eclo
41,17-42,8.
6.5.-
Cânticos e poesias
a)
Cânticos de guerra
Semelhantes
aos gritos de guerra das torcidas de futebol, estes cânticos tinham várias
finalidades:
·
invocar
a força sobre o “nosso” exército: 2Rs 13,17; Js 10,12.
·
amaldiçoar
o exército “deles”: Nm 22–24.
·
empolgar
a tropa para entrar na luta: Jz 5,12.
·
celebrar
a vitória (normalmente entoado por mulheres, com tambores e danças): Ex
15,20-21; 1Sm 18,6-7.
b)
Cânticos de descrição da pessoa amada - wasf
Poemas
que enaltecem os atributos físicos e outras qualidades da pessoa amada. A
descrição é gradativa: começando pela cabeça e vai descendo (Ct 4,1-7), ou
começando pelos pés e vai subindo (Ct 7,2-10).
6.6.-
Salmos
Os poemas do livro dos Salmos podem ser
divididos e agrupados sob várias perspectivas e com vários critérios. Uma
apresentação sumária é a seguinte:
Família
|
Esquema
|
Subgrupos
|
Exemplos
|
A.-
Hinos
|
a) convite ao louvor
b) motivação - “porque”
c)
novo convite ao louvor
|
A1) Hinos a Deus Salvador
A2) Hinos a Deus Criador
A3) Hinos a Deus Rei
A4)
Hinos de Sião
|
145–150
8; 104
96–99
87;
122
|
B.-
Salmos de Súplica
|
a) invocação a Deus
b) desgraça e súplica
c)
final feliz
|
B1) Súplicas individuais
B2)
Súplicas coletivas
|
54–57
53; 58
|
C.- Salmos de Confiança
e de
Ação de Graças
|
a) convite ao louvor
b) descrição da libertação
c)
sacrifício ou oração
|
C1) Confiança individual
C2) Confiança coletivo
C3)
Ação de graças
|
3; 4; 23
115; 129
30;
92; 129
|
D.-
Salmos Litúrgicos
|
D1) Salmos de ingresso
D2) Salmos requisitória
D3)
Salmos de peregrinação
|
15; 24
50
24;
122
|
|
E.-
Salmos Sapienciais
|
E1) Salmos sapienciais
E2)
Salmos alfabéticos
|
91; 127; 128
111;
119
|
|
F.-
Salmos Históricos
|
16;
111
|
||
G.-
Salmos Régios
|
2; 20;
21
|
||
H.-
Salmos de Maldição e Vindita
|
57;
57; 137
|
7 – AS DIVISÕES DO
PENTATEUCO
A Bíblia se abre com o Pentateuco ou os cinco livros de Moisés. O nome
“Pentateuco” (em grego – pente,
cinco; e teuchos, livro) foi tirado
da Septuaginta.
Por muito tempo admitiu-se que seria realmente Moisés o autor de todo o
Pentateuco (Torá). Até que um dia, um leitor levantou a questão de que Moisés
não poderia ter escrito e relatado a sua própria morte. A partir daí começaram
a levantar várias questões e a estudar mais sobre essas questões. Perceberam
então que o Pentateuco é um livro de diferentes tradições, de múltiplas
narrativas com afirmações distintas, de diferentes estilos e linguagem e também
que vários textos foram escritos em uma época muito posterior a vida de Moisés.
Chegamos a conclusão de que Moisés não é o autor do Pentateuco, mas sim um dos
autores desta maravilhosa obra.
Existe uma perfeição espiritual no Pentateuco. Suas cinco partes não só
nos dão uma história sequencial, abrangendo os primeiros 2.500 anos da crônica
humana, mas constituem uma unidade espiritual progressiva.
Observemos em
Gênesis a ruína através do pecado do homem. Em Êxodo temos a redenção mediante o sangue do Cordeiro e o Espírito de poder. Em Levítico temos comunhão baseada na expiação. Em Números encontramos orientação durante a peregrinação, por parte da vontade
dominante de Deus. Em
Deuteronômio aprendemos a respeito da dupla
verdade da instrução renovada e completada, e o povo errante levado ao seu
destino predeterminado. Não é isto realmente “a ordem
da experiência do povo de Deus em todas as épocas”?
7.1 – A Teoria Documental
Esta teoria começou com Artruc, que estudando os três primeiros capítulos
de Gênesis, percebeu que se dá a Deus dois nomes distintos “Elohim” e “Yahweh”,
que aparecem em relatos de estilo literário completamente diferente. Mais
tarde, depois de muitos estudos, alguns estudiosos estendem esse estudo a todo
o Pentateuco e distinguem 4 documentos básicos: Eloísta(E), Javista(J),
Deuteronômico(D) e Sacerdotal(P)[3].
7.2 – Ênfase da
Pessoa de Deus
Gênesis
|
Soberania de Deus sobre a criação, o homem (eleição) e as
nações.
|
Êxodo
|
Poder de Deus para julgar o pecado e redimir seu povo.
|
Levítico
|
Santidade e provisão de Deus para uma vida santa.
|
Números
|
Benevolência e severidade de Deus ao disciplinar seu povo.
|
Deuteronômio
|
Fidelidade de Deus ao cumprir suas promessas.
|
7.3 – Ênfase do
Programa de Deus no Estabelecimento do Seu Reino
Gênesis
|
Necessidade e
preparação do regulamento do reino de Deus.
|
Êxodo
|
Inauguração e
legislação do reino.
|
Levítico
|
Organização
espiritual do reino.
|
Números
|
Organização
política do reino.
|
Deuteronômio
|
Reorganização do
reino para a vida em Canaã.
|
==============================================================
AULA5
8 – O LIVRO DE
GÊNESIS
Além de ser introdutório, o livro
de Gênesis é explicativo. Os outros registros bíblicos estão ligados
inseparavelmente a este, uma vez que ele contém a origem e explicação inicial
de tudo o que se segue.
É importante reconhecer a relação
entre Gênesis e o último livro da Bíblia. Existe uma correspondência entre
eles, que sugere ser ao mesmo tempo uma prova e um produto do fato de que a
Bíblia é uma revelação completada.
Gênesis responde à pergunta:
“Como tudo começou? Apocalipse responde à pergunta: “Como tudo terminará”? Tudo
que fica entre eles é o desenrolar dos acontecimentos de um até o outro.
Note as semelhanças entre Gênesis
e Apocalipse:
·
Temos em ambos um novo começo e uma nova ordem.
·
Observamos em ambos a árvores da vida, o rio, a
caminhada de Deus com o homem.
·
Em ambos os paraísos vemos os mesmos ideais nos
campos moral e espiritual.
Os contrastes entre um livro e
outro:
·
Em Gênesis vemos o primeiro paraíso fechado
(3:23); em Apocalipse vemos o novo paraíso aberto (21:25).
·
Em Gênesis o pecado humano resulta em expulsão
(3:24); em Apocalipse a graça divina produz reintegração (21:24).
·
Em Gênesis lemos sobre a maldição imposta
(3:17); em Apocalipse ela é removida (22:3).
·
Em Gênesis o acesso à árvore da vida é vetado em
Adão (3:24); em Apocalipse vemos o acesso à árvore da vida recuperado, em
Cristo (22:14).
·
Em Gênesis vemos o começo do sofrimento e da
morte (3:16-19); em Apocalipse lemos que “a morte já não existirá, já não
haverá mais luto, nem pranto, nem dor” (21:4).
·
Em Gênesis vemos triunfar a maldade da serpente
(3:13); em Apocalipse contemplamos o triunfo final do Cordeiro (20:10; 22:3).
·
Em Gênesis a caminhada de Deus com o homem é
interrompida (3:8-10); em apocalipse Deus volta a andar com ele (21:3).
8.1 – Título
·
Os hebreus deram-lhe o nome de “Bereshith”
devido à sua primeira frase, “no princípio”.
·
Os tradutores da Septuaginta chamaram-no de
“Gênesis” (Origem) em virtude de relatar a origem do Universo e do homem na
obra criativa de Deus.
8.2 – Autoria
·
Até o século dezessete, as comunidades judaicas
e cristãs atribuíram universalmente a autoria do Pentateuco a Moisés.
·
Depois que Baruch Spinoza insinuou em 1671 a
possibilidade de seu autor ter sido Esdras, muitas teorias apareceram sobre o
assunto. O emprego de diferentes nomes de Deus, estilos literários diversos e a
enumeração de diferentes fases do desenvolvimento do culto têm levado críticos
a supor a existência de vários documentos originais.
8.3 – Data Em Que Foi Escrito
·
1443 a.C. aproximadamente. Data em que Moisés
deu inicio ao livro, possivelmente durante a peregrinação pelo deserto.
8.4 – Cenário Religioso
·
A religião, ou o relacionamento pessoal com
Deus, figura proeminentemente em Gênesis. Antes do dilúvio, o monoteísmo
prevalece quase universalmente. Os castigos divinos, por ocasião do dilúvio e
da torre de Babel, foram motivados pela insolência e rebelião do povo. Na época
de Abraão, a idolatria se tinha alastrado tanto na Caldéia como no Egito. A
idolatria motivou o posterior castigo divino ao Egito.
·
A ação religiosa de Gênesis 1-11 retrata os
inevitáveis resultados do pecado no mundo, subjugando e corrompendo tudo o que
toca. Começando com a independência e desejos egoístas, o pecado sai do coração
e da vontade e atinge o lar, a família, os descendentes e a sociedade em geral.
No dilúvio, Deus teve de quase destruir a raça humana a fim de salvá-la.
·
Na história de Abraão e da sua aliança com Deus,
o programa redentor divino é apresentado como a resposta do Criador ao dilema
do homem no pecado. De um mundo emaranhado em idolatria (Josué 24:2), Deus
selecionou Abraão como um homem de fé a fim de que fosse o recipiente da sua
graça e das suas alianças, sendo que, através delas, o seu programa redentor
seria executado.
8.5 – A Estrutura de Gênesis
Não é difícil perceber que em
Gênesis encontramos duas importantes divisões. Todos os estudiosos da Bíblia
concordam em que o chamado e a resposta de Abrão constituem um desvio na
narrativa e marcam as duas partes principais do livro – a primeira cobrindo os
capítulos um a onze e a segunda, os capítulos doze a cinquenta.
Desse modo, vemos como cada parte é organizada conforme um
plano significativo em quatro partes. Na primeira parte temos quatro eventos em
destaque:
·
A criação – soberania na criação física
·
A queda – soberania na tribulação humana
·
O dilúvio – soberania na retribuição histórica
·
A crise de Babel – soberania na distribuição
racial
Na segunda parte temos quatro personagens em destaque:
·
Abraão – soberania na regeneração e eleição
(chamado sobrenatural)
·
Isaque – soberania na regeneração e eleição
(nascimento sobrenatural)
·
Jacó – soberania na regeneração e cuidado
sobrenatural
·
José – soberania na regeneração e direção
sobrenatural
Ao observar os eventos e personagens básicos de Gênesis,
logo percebemos que a grande lição deste livro é a SOBERANIA DIVINA.
8.6 – Tipos Em
Gênesis
Um tipo pode ser uma pessoa,
objeto, evento, ato ou instituição adaptada divinamente para representar alguma
realidade espiritual ou prefigurar uma pessoa ou verdade a ser revelada mais
tarde.
Alguns tipos simbolizados em
pessoas:
·
Adão – tipo de Cristo.
·
Eva – tipo de Igreja.
·
Caim e Abel – carnal versus espiritual.
·
Enoque – a futura trasladação.
·
Sobrevivente do dilúvio – a Igreja.
·
Ló – tipo do crente mundano.
·
Melquisedeque – tipo de Cristo.
·
Hagar e Sara – lei versus graça.
·
Ismael e Isaque – carne versus espírito.
·
Abraão – o Pai (22 e 24).
·
Isaque – Cristo (22 e 24).
·
Rebeca – a Igreja (24).
·
José – tipo de Cristo.
9 – O LIVRO DE ÊXODO
Aqui vemos a saída de Israel do
Egito – de repente, todo um povo livra-se para sempre das cadeias da servidão
prolongada por gerações, e parte para um novo país e uma nova vida comunitária.
Aqui vemos a entrega da lei e o pronunciamento da aliança mosaica. Aqui
aprendemos sobre a edificação da maravilhosa estrutura simbólica do
tabernáculo. Aqui Moisés cresce diante de nós e parte para a sua gigantesca
tarefa. Aqui aprendemos a respeito da transição dos israelitas, passando de
simples tribos irmãs para uma só nação, divinamente adotada, constituída e
condicionada como tal no Sinai.
O título “Êxodo”, que significa
“saída”, comunica corretamente o tema principal do livro; mas dois outros
assuntos acham-se associados com o êxodo, resultando diretamente dele e
complementando-o: a lei e o tabernáculo. Assim, o livro divide-se naturalmente
em:
1. O
Êxodo: 1-18
2. A
Lei: 19-24
3. O
Tabernáculo: 25-40
Divisões do livro
|
Ensino a cerca de Deus
|
Ensino a cerca de Israel
|
O Êxodo 1-18
|
Vemos o PODER de Deus
|
É levada a LIBERDADE
|
A Lei 19-24
|
Vemos a SANTIDADE de Deus
|
É levada a TEOCRACIA
|
O Tabernáculo 25-40
|
Vemos a SABEDORIA de Deus
|
É levada a ADORAÇÃO
|
·
Liberdade sem lei é abuso.
·
Responsabilidade sem liberdade é escravidão.
·
Liberdade e responsabilidade juntas, sem
privilégio (sem recompensas e castigos) perdem a motivação e seu sentido.
9.1 – Autoria
Como em Gênesis, a autoria de Moisés é confirmada pela
estreita conexão e unidade com os livros restantes do Pentateuco. Neste livro,
entretanto, Moisés coloca-se como o centro de todas as ações (17:14; 24:4;
25:9; 36:1).
9.2 – Título
·
Os hebreus deram-lhe o nome de “We´elleh
Shemoth” devido à sua primeira frase: “São estes os nomes”.
·
Os tradutores da Septuaginta chamaram-no de
“Êxodo” (saída) devido ao fato de seu tema central tratar das ações redentoras
de Deus para com o seu povo.
9.3 – Data Em Que Foi
Escrito
Aproximadamente 1440 a.C., possivelmente na primeira parte
de sua peregrinação com o povo judeu pelo deserto de Cades-Barnéia.
9.4 – Data do Êxodo
Aproximadamente 1445 a.C.
9.5 – O Êxodo e
Israel
Pense no que o êxodo significou
para Israel. São quatro significados básicos.
1. Marcou
o início de uma nova VIDA (12:2).
2. Significou
o começo de uma nova LIBERDADE (13:3).
3. Significou
o início de uma nova COMUNHÃO (12:4).
4. Marcou
o início de uma nova SEGURANÇA (6:7-8).
Tudo isso tem a sua analogia no
evangelho de Cristo. O êxodo de Moisés é de fato um tipo daquele realizado por Cristo a nosso favor, como vemos em 1
Coríntios 5:7-8.
9.6 – O Êxodo e o Egito
Pense no significado do êxodo em
relação ao Egito. Ele simbolizou três coisas.
1. A
idolatria afasta o homem de Deus. O Egito e seus deuses eram fruto do
distanciamento do homem de Deus, que cada vez mais obscurecidos foram criando
seus próprios deuses (Js 24:2, 14, 15; Êx 12:12).
2. A
derrota do Egito demonstra a inutilidade, o pecado e a loucura de tentar
resistir ao Senhor Deus de Israel, o único Deus verdadeiro (5:2).
3. O
Egito é o tipo do “mundo”, no sentido de corrupção moral. O Egito é um tipo do
mundo em sua riqueza material e poder, em sua sabedoria carnal e falsa
religião, em seu príncipe despótico (um tipo de Satanás), em sua organização
sob os princípios de força, exaltação humana, ambição e prazer, em sua
perseguição ao povo de Deus e em sua destruição pelo juízo divino.
9.7 – O Êxodo e Deus
O êxodo foi uma expressão suprema
do poder divino. Dai o seu forte impacto sobre a mente dos hebreus. Para
Israel, o êxodo tornou-se, para sempre, o padrão de medida do poder de Deus na
salvação de Seu povo. No êxodo percebemos:
1. Um maravilhoso juízo – nas pragas
milagrosas, na morte dos primogênitos e na derrota do exército egípcio no mar.
2. Uma maravilha de graça – ao serem
poupadas as casas que receberam a marca do sangue e na libertação dos
israelitas.
3. Uma maravilha de poder – na abertura de
um caminho através do Mar Vermelho.
4. Uma maravilha de orientação – nas
colunas de nuvem e fogo.
5. Uma maravilha de provisão – no
suprimento milagroso de água e alimento no deserto.
6. Uma maravilha de fidelidade – no
cumprimento divino da aliança abrâmica e da nova aliança com a nação no Sinai.
7. Uma maravilha de condescendência – como
visto no tabernáculo, mediante o qual Deus infinito e santo passou a habitar de
maneira especial, entre o Seu povo remido.
9.8 – O Êxodo e o Evangelho
O êxodo sob Moisés é um tipo
ilustrativo do êxodo maior em Cristo.
·
Principais
Semelhanças:
1.
O êxodo trouxe uma emancipação majestosa para
Israel. O evangelho traz libertação da culpa, do castigo e da servidão do
pecado.
2.
O êxodo foi centrado na Páscoa e no cordeiro
sacrificado. O evangelho é centrado na grande páscoa do Calvário e “no Cordeiro
morto desde a fundação do mundo”.
3.
O êxodo foi, desde então, comemorado na festa da
Páscoa. Assim sendo, “Cristo, no Cordeiro pascal, foi imolado. Por isso
celebramos a festa” (1 Co 5:7-8).
·
Principais Contrastes
1. Nos meios – O sangue protetor, no
êxodo, era o de um simples animal. No evangelho, ele é o sangue precioso de
Cristo. No primeiro caso muitos animais são sacrificados, no segundo somente
Cristo Jesus foi sacrificado.
2. Na extensão – O êxodo foi nacional e
portanto limitado. O evangelho é universal.
3. Nos efeitos – O primeiro significava
libertação das algemas físicas; o segundo da servidão espiritual. Uma liberdade
era temporal, a outra, eterna. A primeira abria caminho para uma Canaã terrena,
a outra, para uma celestial.
9.9 – A Razão da Lei
A lei não tinha o propósito de
substituir a base de fé da aliança abrâmica, mas tinha três razões novas:
·
Proporcionar um padrão de justiça.
·
Expor e identificar o pecado.
·
Revelar a santidade divina.
10 – O LIVRO DE LEVÍTICO
10.1 – Título
·
Os hebreus deram-lhe o nome de “Wayyiqra” devido
à sua primeira frase “Chamou o Senhor”, que enfatizava o fato de Deus falar do
santuário. Também referiam-se ao livro como “A Lei dos Sacerdotes”,
·
A septuaginta chamou-o de “Levítico”
(Leuitikon), devido à ênfase dada a esse sacerdócio (apesar de os levitas serem
mencionados apenas em um texto: 25:32-33). Esse era um manual levítico para uso
sacerdotal.
10.2 – Autor
·
A autoria de Moisés é confirmada no próprio
livro pelo fato de o texto declarar cinquenta e seis vezes: “Disse o Senhor a
Moisés”.
10.3 – Data em Que Foi Escrito
·
Aproximadamente 1440 a.C.
10.4 – Propósito do Livro
Levítico foi escrito para mostrar
a Israel como viver em santidade e comunhão com Deus e preparar assim a nação
para a tarefa sublime de levar a redenção de Deus a todas as nações. Acima de
tudo, Israel deve aprender então a respeito da santidade de Deus, que Levítico
revela de três modos:
·
No
sistema sacrificial – insistia que sem derramamento de sangue não há
remissão.
·
Nos
preceitos da lei – insistia no padrão divino para o caráter e a conduta.
·
Nos
castigos atribuídos às transgressões da lei – proclamava severamente a
inflexibilidade da santidade divina.
10.5 – As Duas Partes Principais do Livro
O livro está com certeza divido
em duas partes principais indicadas de maneira indiscutível. A primeira abrange
os capítulos 1 a 17 e a segunda, os capítulos 18 a 26.
Os primeiros 17 capítulos tratam
de regulamentos não-morais, enquanto nos 10 restantes encontramos regulamentos
relativos à moral. A primeira parte está ligada à adoração, a segunda, à
prática. Na primeira parte tudo se relaciona com o tabernáculo. Na segunda,
tudo pertence ao caráter e ao comportamento. A parte um mostra o
caminho para Deus – pelo sacrifício. A parte dois mostra o
andar com Deus – pela santificação.
·
A figura central em Levítico é o Sumo Sacerdote.
·
O capítulo central é o 16 – o dia da expiação
anual.
·
O tema central é a comunhão mediante a
santificação.
·
A lição central é: “Santos sereis, porque eu, o
Senhor vosso Deus, sou santo (19:2).
10.6 – As Festas (cap. 23)
·
A Páscoa (vv.5-14)
·
O Pentecoste (vv. 15-22)
·
O Toque das Trombetas (vv.23-25)
·
O Dia da Expiação (vv.26-32)
·
A Festa dos Tabernáculos (vv. 33-44)
De todas elas, apenas três eram
realmente “festas”: a páscoa, pentecoste (festa das semanas ou festa das
primícias) e tabernáculos (festa da sega). As demais festas são na verdade
“épocas” (datas) que deveriam ser observadas.
Poderíamos acrescentar a esta
lista de festas mais duas épocas:
·
O ano sabático
·
O ano do Jubileu
11 – O LIVRO DE NÚMEROS
11.1 – Título
·
Os hebreus deram-lhe o nome de “Wayyedabber”
(“falou o Senhor”), ou mais frequentemente “Bemidbarth” (“no deserto”), devido
ao seu primeiro versículo.
·
Os tradutores gregos chamaram-no de “Números”
(Arithmoi, de onde vem aritmética – no latim foi traduzido como Numeri), devido
ao censo registrado nos capítulos 1-3 e 26.
11.2 - Autor
·
A autoria de Moisés é confirmada pela estreita
conexão e unidade com os livros restantes do Pentateuco.
11.3 – Data em Que Foi Escrito
·
O livro foi concluído em 1405 a.C.
·
Números começa com a ordem dada pelo Senhor em 1
de maio de 1444 a.C. para se fazer o recenseamento do povo e termina com uma
assembleia às margens do Jordão, pouco antes da morte de Moisés.
11.4 – Breve História do Livro
O registro prende a nossa atenção
ao máximo. Em primeiro lugar é feito o recenseamento, com o objetivo principal
de determinar a força militar de Israel. A seguir, o acampamento é
estrategicamente dividido para facilitar uma mobilidade organizada – um
empreendimento tão vital quanto complexo, envolvendo uma multidão de mais de
dois milhões de pessoas! Os serviços dos levitas ligados ao tabernáculo são
determinados. Todos os preparativos são feitos para que se possa avançar até a
fronteira de Canaã. A marcha inicia-se em estágios divinamente estabelecidos. O
próprio Senhor guia a enorme multidão, mediante uma coluna de nuvem e fogo. A
distância é percorrida Eles chegam a Cades. Canaã está à vista! Acontece então
o problema. Israel deixa de crer e se rebela. O juízo cai sobre eles. Os 40
anos de peregrinação começam; e os milhares que partiram do Egito, com um
brilho de esperança nos olhos, morrem aos poucos, deixando uma trilha de corpos
debaixo da terra dura do deserto. Deus finalmente se aproxima da nova geração
reunida em Cades. É decidido o novo censo. A marcha recomeça, para a planície
de Moabe, nas proximidades de Canaã. Os preparativos finais iniciam-se para que
Israel finalmente possa subir e possuir a terra.
11.5 – A Mensagem Central do Livro
A mensagem central deste livro
está bem declarada no livro de Romanos 11:22 “Considerai, pois, a bondade e a
severidade de Deus”.
O livro trata de duas gerações
diferentes – a primeira que saiu do Egito, mas pereceu no deserto – experimentou a severidade de Deus (o
juízo de Deus); e a segunda que cresceu no deserto, mas entrou na terra prometida
– experimentou a bondade de Deus (a
fidelidade de Deus à Sua promessa).
O apóstolo Paulo diante desta
realidade conclui: “Aquele, pois, que pensa estar em pé, veja que não caia...”.
A primeira tinha visto grandes
milagres executados por Deus através de Moisés e recebera a lei de maneira
também miraculosa. Seus componentes foram, entretanto, destruídos por
desobediência e rebelião. Desta forma aprendemos que milagres não leva o homem
a crer em Deus.
A segunda geração cresceu
conhecendo a lei e recebendo diariamente o maná, e estava familiarizada com o
fato de Deus ter destruído, devido à corrupção, todos os habitantes do lado
leste do Jordão.
Os dois grandes pecados de toda a
assembleia no deserto foram a idolatria e a rebelião.
11.6 – Balaão o Profeta Mercenário (22-25)
Os capítulos 22 a 25 estão
associados à Balaão um estranho feiticeiro-profeta. Estes capítulos parecem um
adendo (acréscimo) ao livro de Números.
Três problemas surgem na pessoa
deste profeta híbrido – seu conhecimento do Deus verdadeiro, seu caráter
enigmático e seu estranho dom profético.
Como justificar seu conhecimento
do Deus verdadeiro? Acreditamos que ele seja uma das muitas evidências de uma
revelação de Deus original e pura que se tornou pervertida e obscurecida com o
passar do tempo, quando a raça humana se dispersou pela terra (Babel).
O que dizer porém do caráter de
Balaão? Ele é um paradoxo vivo – um profeta verdadeiro e falso ao mesmo tempo.
É verdadeiro por conhecer o Deus verdadeiro, ter nEle uma fé real, tratar
realmente com Ele e dEle receber comunicações reais, transmitindo Suas
mensagens igualmente verdadeiras. Todavia, é um falso profeta por recorrer
também a artes mágicas, sendo chamado de adivinho (Js 13:22), e corromper seu
estranho dom profético em troca de proventos materiais. Como explicar essa
mistura de contradições tão profana?
E as profecias de Balaão?
Acreditamos que, embora os demais pronunciamentos e feitos de Balaão estivessem
longe de ser inspirados, suas profecias sobre Israel foram divinamente
inspiradas (Lemos em Nm 23:5 – “Então o Senhor pôs a palavra na boca de
Balaão,...).
Como podia o Espírito Santo
descer sobre um homem de mente dividida como Balaão? Esse é um problema que
muitos enfrentam.
Aprendemos através de Balaão que
Deus usa homens apesar de suas fraquezas.
Não poderíamos deixar de observar
as três referências a Balaão no Novo Testamento:
·
2Pe 2:15 (“o caminho de Balaão”) – a aplicação
de um dom espiritual com fins lucrativos e pessoais.
·
Judas 11 (“o erro de Balaão”) – a ideia secreta
de que a vontade de Deus pode ser evitada sob a capa de um respeito exterior
por Sua palavra. Balaão ouvia Deus, mas seguia seu próprio coração.
·
Ap 2:14 (“a doutrina de Balaão”) – é o conselho
de arruinar com sedução um povo que não podia ser amaldiçoado com autorização.
12. O LIVRO DE DEUTERONÔMIO
12.1 – Título
·
Os hebreus deram-lhe o nome de “Elleh
Haddevarim”, usando as primeiras palavras do livro.
·
A Septuaginta chamou-o de “Deuteronômio”, que
significa “Segunda Lei”.
12.2 – Autor
·
A autoria do livro tem sido dada a Moisés.
Contudo acredita-se que teve alguns apêndices escritos talvez por Josué,
Eleazar ou Samuel, principalmente no que se refere ao último capítulo, à morte
de Moisés.
12.3 – Data em Que Foi Escrito
·
1405 a.C.
12.4 – Objetivo do Livro
O objetivo de Moisés ao escrever
o livro ou ao pronunciar os discursos era o de preparar a nova geração de Israel para viver em Canaã mediante uma
reafirmação da Lei Sinaíta. Uma vez que a lei original era um tanto breve e
direcionada.
12.5 – A Mensagem Central do Livro
A mensagem central do livro é a
fidelidade de Deus. Apesar da murmuração, da infidelidade do povo (bezerro de
ouro), da ingratidão pelo livramento; Deus permaneceu fiel e os levou a terra
prometida como havia prometido.
12.6 – “Shema” de Israel ou “Profissão de Fé” (Dt 6:4-9).
“Ouve, Israel, o Senhor o nosso
Deus é o único Senhor”, seguido da ordem de amar a Deus e ensinar a sua
Palavra, é a doutrina central da teologia hebraica. Apesar de a ênfase ser
geralmente colocada na unidade de Deus, Jesus acentuou a ordem de amar a Deus
(Mt 22:37) e ao próximo.
·
“único” (echad) àA palavra hebraica “um”
(echad) significa uma unidade com possíveis divisões, diferentemente da palavra
“yakeed” que significa “um”, isto é, uma unidade de singularidade absoluta.
·
“nosso Deus” (elohenu) à Elohenu é uma palavra
composta pelo plura “elohim” (deuses) seguido pelo sufixo possessivo da
primeira pessoa do plural (nosso), tornando-se então “Elohenu” (nossos deuses).
O original hebraico aqui é
justamente uma declaração solene de que o Senhor é uma pluralidade numa
unidade.
Essa profissão de fé (Shema) tem
sido a marca autêntica da religião de Israel através da história, embora tenham
deturpado a importância de “um” (echad).
Esta afirmação da unidade de Deus
é igualmente oposta ao unitarismo (Deus é somente uma pessoa: o Pai),
politeísmo (existência de diversos deuses) e panteísmo (O panteísmo é a crença de que absolutamente tudo e
todos compõem um Deus abrangente, e imanente).
12.7 – Quatro Leis Espirituais de Israel (Dt 10:12-13)
A resposta de Moisés para a
pergunta “Que o Senhor requer de ti?” resume a lei e a essência da verdadeira
religião em quatro pontos:
·
Temor e reverência ao Senhor teu Deus.
·
Andar em todos os seus caminhos e amá-lo.
·
Servir ao Senhor com todo o teu coração e toda a
tua alma.
·
Guardar os mandamentos do Senhor (os quais são
“para o teu bem”).
12.8 – Responsabilidade do Líderes Públicos (Dt 16-17)
Nesses dois capítulos, vêem-se
três classes de líderes: juízes, juízes-sacerdotes e reis.
As suas principais
responsabilidades eram aplicar justiça sem parcialidade. Duas salvaguardas eram
exigidas para garantir o julgamento imparcial:
·
Deviam abster-se de receber suborno de qualquer
espécie.
·
Procurar constantemente conselho na Palavra de
Deus.
12.9 – Um Livro de Transição
Deuteronômio é um livro de
transição. Ele evidencia isso de quatro maneiras:
·
Primeira – marca a transição para uma nova
geração (exceção Josué e Calebe).
·
Segunda – marca a transição para uma nova possessão
(Canaã).
·
Terceira – marca a transição para uma nova
experiência (em vez de tendas, uma habitação permanente).
·
Quarta – marca a transição para uma nova
revelação de Deus (a revelação do seu amor – Dt 4:37). Em nenhum dos livros
anteriores se fala do amor de Deus.
12.10 – Sua Estrutura
A estrutura de Deuteronômio é
simples, clara e impressionante. Os onze primeiros capítulos são todos
retrospectivos. Os restantes são prospectivos. Em vista da transição que
enfrenta, o povo deve olhar para trás e depois para frente, refletindo sobre
tudo, como se à vista de Deus.
Eles devem lembrar, refletir e
decidir – assim na primeira parte (1-11), eles fazem uma retrospecção e reflexão; na segunda parte (12-34) temos previsão e admoestação.
13 – O LIVRO DE JOSUÉ
13.1 – Título
·
O nome “Josué”, que se deve à principal figura
do livro, significa “salvação do Senhor”. Os gregos traduziram-no para “Iesous”
ou “Jesus”, como está na Vulgata Latina.
13.2 – Autoria
·
O livro é anônimo e sua autoria tem sido
debatida com veemência, principalmente por aqueles que aplicam a teoria
documentária ao Pentateuco.
·
A maior parte dele pode ter sido escrita pelo
próprio Josué, que conhecia os fatos em primeira mão e era também um escritor
(24:26).
·
Obviamente, um colaborador acrescentou mais
tarde os últimos cinco versículos sobre a morte de Josué e de Eleazar.
13.3 – Data
·
Aproximadamente 1405-1375 a.C.
13.4 – Objetivo do Livro de Josué
O objetivo do
livro de Josué é preservar a história da conquista de Canaã e a divisão da
terra entre as tribos. Enquanto o livro de Números relata o fracasso da
incredulidade, o livro de Josué apresenta claramente a vitória da fé.
A história
revela a fidelidade do Senhor como um Deus observador da aliança (Js 1:2-6).
Demonstra também à posteridade de Israel a grande vitória que o povo pode
alcançar se tão-somente seguir a liderança teocrática do Senhor, em vez de
recorrer à força humana. O tema é risco e vitória da fé.
O livro ainda
contribui ao descrever:
·
Cumprimento da promessa de Deus a Abraão.
·
Travessia do Jordão.
·
Redenção de Raabe, a prostituta.
·
Pecado de Acã.
13.5 – A Estrutura
Josué é um livro de guerra,
conquista e dominação. Vemos Israel subindo, vencendo e se fixando. O relato é
distribuído em três fases, a saber:
·
A entrada na terra (1-5)
·
O domínio da terra (6-12)
·
A ocupação da terra (13-24)
13.6 – Características de Canaã
Verificamos três coisas que se
destacam como características desta terra:
·
Primeira: Canaã era o descanso prometido a Israel. (a caminha pelo deserto seria substituída
pela moradia fixa).
·
Segunda: Canaã era um lugar de fartura. Uma terra que “mana leite e
mel”, “uma terra boa e ampla”.
·
Terceira: Canaã era o lugar do triunfo. Havia inimigos em Canaã?
Certamente, mas já estavam derrotados antes de Israel desferir o primeiro golpe,
pois Deus havia dito que os lançaria fora.
13.7 – Semelhanças Entre o Livro de Josué e Efésios
·
Ambos eram a herança predestinada de um povo
escolhido (1º Abraão/Isaque; 2º Jesus).
·
Ambos começaram com um líder designado por Deus
(1º Josué; 2º Jesus).
·
Ambos eram dons da graça a serem recebidos pela
fé.
·
Ambos são descritos como cenário de conflito. (1º
povo que habitava na terra; 2º conflito espiritual).
14 – O LIVRO DE JUÍZES
14.1 – Título
Evidentemente, o Livro dos Juízes
deve seu nome ao próprio conteúdo, dedicado ao período dos chamados “juízes” de
Israel e a alguns desses juízes em particular.
14.2 – Autor
O livro é anônimo, mas a tradição
judaica o atribui a Samuel por diversas razões. Ele era escritor e educador (1
Samuel 10:25). A ênfase dada à tribo de Benjamim sugere a época do rei Saul,
quando Samuel ainda julgava, antes de o nome da cidade de Jebus ter sido mudado
para “Jerusalém” (Juízes 1:21; 19:10).
14.3 – Cenário Histórico
O livro de Juízes é o único que
registra um longo período, 350 anos da história de Israel em Canaã (1375-1075
a.C). Descreve três guerras civis, sete opressões de cinco inimigos, sete
guerras de libertação, um número de magistraturas judiciais pacíficas e,
finalmente, uma magistratura malsucedida de Sansão, a qual quase terminou com
os filisteus assumindo o controle.
14.4 – Objetivo do Livro de Juízes
O objetivo principal de Juízes é
preservar um registro do caráter de Israel durante o tempo em que este não
tinha um líder nacional, e enfatizar sua necessidade de um rei teocrático. Os
muitos ciclos de fracasso e castigo salientaram repetidamente a verdade
deuteronômica de que o abandono da fé no Senhor traz inevitavelmente o castigo
da servidão e o caos.
Sua ênfase está no significado
espiritual dos eventos escolhidos e não na simples continuidade cronológica.
14.5 – O Significado Geral
Os juízes levantados por Deus
eram lições práticas vivas, através dos quais Deus procurou preservar em Israel
a ideia de que a fé no Senhor, o único Deus verdadeiro, era o caminho exclusivo
para a vitória e o bem-estar. Mas o povo só correspondia na medida em que isso
servia ao propósito egoísta do momento – livrar-se do cativeiro e obter
proveitos materiais.
14.6 – Razões Principais da Apostasia de Israel
Deus talvez conceda muitos
privilégios ao seu povo, mas jamais dá o privilégio de pecar.
·
Fracasso militar na conquista da terra (Jz
1:1-2:9).
·
Fracasso religioso na guarda da lei (Jz
2:9-3:6).
14.7 – Ciclos de Apostasia em Israel
As seis principais apostasias são
assinaladas em cada caso pelas palavras: “Os
filhos de Israel fizeram o que era mau perante o Senhor”. Elas ocorrem no
corpo do livro apenas essas seis vezes, e em cada caso sobrevém o juízo com a
consequente servidão.
·
Apostasia e opressão pela Mesopotâmia (Jz
3:7-11).
o
Livramento por Otniel de Judá.
·
Apostasia e opressão pelos moabitas (Jz 3:12-30).
o
Livramento por Eúde de Benjamim.
·
Apostasia e opressão pelos filisteus (Jz 3:31).
o
Livramento por Sangar de Judá.
·
Apostasia e opressão pelos cananeus (Jz 4-5).
o
Livramento por Débora e Baraque.
·
Apostasia e opressão pelos midianitas (Jz 6-8).
o
Livramento por Gideão.
·
Apostasia e opressão pelo Rei Usurpador
Abimeleque (Jz 9).
o
Livramento por uma mulher anônima.
·
Apostasia e opressão pelos amonitas (Jz 10-12).
o
Livramento por Jefté.
·
Apostasia e opressão pelos filisteus (Jz 13-16).
o
Tentativa de livramento por Sansão, de Dã.
“É possível ter boa moral sem ser
espiritual; e é até possível ser espiritual sem ter boa moral” – as aparências
enganam.
15 – O LIVRO DE RUTE
O Livro de Juízes deixa-nos com a
certeza indiscutível de que a condição geral da época era de deterioração
moral; mas o Livro de Rute focaliza outro aspecto do quadro, mostrando que em
meio à corrupção generalizada havia exemplos de amor nobre, cortesia piedosa e
ideais elevados. Esta história é realmente uma estrela brilhante num céu
escuro, uma rosa se abrindo gloriosamente no deserto árido, uma jóia de grande
pureza faiscando entre ruínas, um sopro de brisa perfumada em meio à
esterilidade circundante.
A história mostra a nobre
dedicação de uma jovem viúva moabita por sua sogra judia, também viúva, e a
recompensa que mais tarde coroou sua devoção e auto-sacrifício.
·
Samuel, provável autor de Juízes, pode também
ter escrito Rute.
·
É muito provável que este pequeno livro tenha
sido escrito durante o reinado de Davi.
·
O nome “Rute” significa “amizade”, uma
característica verdadeira daquela que deu nome ao livro. É um dos seis livros
históricos que levam o nome das principais figuras de ação e vida descritas
neles (Josué, Rute, Samuel, Esdras, Neemias e Ester).
15.2 – Cenário Histórico
·
Data dos acontecimentos – 1340 a.C.
15.3 – Objetivo do Livro de Rute
O objetivo desse livro parece ser
duplo:
·
Retratar o ânimo religioso e o amor virtuoso de
duas mulheres de países diferentes numa época de rivalidade inter-racial,
violência e idolatria. Este amor as leva a transpor todas as dificuldades e
preconceitos.
·
Lembrar a relação genealógica de Davi com Moabe,
talvez durante a estada do salmista com os seus pais moabitas.
15.6 – Contribuições Singulares de Rute
·
Livro que honra as mulheres – somente dois
livros bíblicos recebem o nome de mulheres Rute e Ester.
·
Fé gentia no Antigo Testamento – a declaração de
fé realizada por Rute é um clássico do Antigo Testamento: “o teu povo é o meu
povo, o teu Deus é o meu Deus”. Rute se converte baseada no amor,
diferentemente a Raabe que se converte tomada pelo temor diante os feitos de
Deus.
·
A salvação pode vir de onde menos esperamos.
Deus pode prover salvação para nós por meio daqueles que ao nosso olhar seria
improvável.
15.7 – Rute: Meditação de Israel Para o Pentecoste
Este Livro era lido anualmente
pela nação, em público, quando se reuniam para a festa de verão do Pentecoste.
A colheita lembrava-os da colheita anterior de cevada dada por Deus e da
recompensa do culto do amor que ainda viria. Do mesmo modo que o Pentecoste
comemorava a primeira safra, a leitura de Rute recordava a colheita da
primícias dos gentios. Lembramos, também, que o Pentecoste do Novo Testamento
comemora as primícias da colheita divina na Igreja, sendo gentios muitos desses
novos crentes.
16 – OS LIVROS DE SAMUEL
O Livro de Samuel apresenta-nos a
uma das figuras mais veneráveis da história de Israel e inicia um novo e
comovente capítulo na fascinante narrativa sobre o povo terreno de Deus. O
primeiro Livro de Samuel encabeça o que chamamos de três “livros duplos” do
Antigo Testamento – 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis e 1 e 2 Crônicas. Esses três
livros duplos formam juntos uma seção completa, registrando a ascensão e queda
da monarquia israelita.
Nos manuscritos hebraicos, 1 e 2
Samuel formam apenas um livro, assim como 1 e 2 Reis e 1 e 2 Crônicas. A divisão em dois livros de cada um, como os
temos agora, teve origem com a chamada tradução Septuaginta das escrituras
hebraicas para o grego.
16.1 – Título
Estes livros tomaram esse nome
devido à primeira figura humana de destaque neles, Samuel, palavra que
significa “nome de Deus” ou possivelmente uma abreviatura de “pedido de Deus”.
16.2 – Autoria
Estes livros, como a maioria dos
livros históricos, são anônimos. O profeta Samuel é geralmente considerado o
autor de 1 Samuel 1-24, e Natã e Gade os autores da parte restante dos livros
(2 Samuel). As descrições detalhadas e a minúcia sugerem que os autores foram
testemunhas oculares dos acontecimentos. Segundo observação do próprio Talmude
Hebraico, a declaração de 1 Crônicas 29:29 fornece provavelmente os melhores
indícios de autoria desses livros: são “o livro de Samuel, o vidente”, “o livro
de Natá, o profeta” e “o livro de Gade, o vidente”.
16.3 – Cenário Histórico
·
Datas envolvidas – 1100 a 970 a.C.
aproximadamente.
Os acontecimentos relatados nos
dois livros cobrem o período do nascimento de Samuel até o fim do reinado de
Davi, sendo que o primeiro livro cobre do nascimento de Samuel até a morte do
rei Saul e o segundo livro o reinado do rei Davi.
16.4 – Aspecto Central e Mensagem dos Livros
·
1 Samuel é o livro da transição da teocracia
para a monarquia e também o livro de três homens notáveis – Samuel, o último
dos juízes; Saul, o primeiro dos reis; Davi, o maior dos reis.
·
O livro de 2 Samuel enfatiza que todo pecado, do
rei ou do indivíduo comum, dos homens de posição superior ou inferior, dos
piedosos ou dos incrédulos, produz certamente fruto amargo. Não existe pecado
sem sofrimento.
16.5 – O Que Levou Israel a Desejar Um Rei
·
Primeiro – sua razão externa era a depravação
dos filhos de Samuel.
·
Segundo – o motivo interior era que o povo fosse
como as outras nações.
·
Terceiro – Israel estava rejeitando o modelo
teocrático de governo.
17 – OS LIVROS DE REIS
17.1 – Título
Esse nome foi dado a esses livros
devido às primeiras palavras com que o primeiro deles se inicia, “Wehammelek”
em hebraico “Sendo o rei”.
Os livros tratam do domínio dos
reis dos dois reinos, o de Israel e o de Judá. Os hebreus consideravam-nos como
um livro único, pelo fato de constituírem uma história ininterrupta.
17.2 – Autoria
Apesar de os livros serem
anônimos, são tradicionalmente considerados como tendo sido escritos por
Jeremias, auxiliado pelo seu secretário, Baruque (Jeremias 45). É evidente que
o autor era pelo menos contemporâneo de Jeremias, e a ênfase dos livros sugere
ter sido escrito pelo ponto de vista dos profetas.
Certamente o autor fez uso dos
registros históricos de época, referindo-se muitas vezes a dez ou mais desses
documentos nos dois livros. Possivelmente fez uso dos seguintes materiais:
·
Livro dos Justos (2 Sm 1:18)
·
Livro dos Sucessos de Salomão (1 Reis 11:41)
·
Livro das Crônicas dos Reis de Israel (1 Reis
14:19, mencionado 18 vezes nos dois livros).
·
Livro das Crônicas dos Reis de Judá (1 Reis
14:29, mencionado 15 vezes nos dois livros).
·
Livro de Isaías (2 Reis 18-20 refere-se a Isaías
36-39).
·
Outros.
17.3 – Objetivos Dos Livros de Reis
·
O objetivo literário do autor era completar a
história do reinado de Davi, o qual principia nos livros de Samuel escritos 400
anos antes, aproximadamente. Como o segundo livro de Samuel terminou com Davi
comprando o local do templo, 1 Reis principiou com Salomão preparando a
construção do templo, e 2 Reis continua a história até a destruição do templo,
terminando assim o período.
·
O objetivo religioso é relacionar a história à
observância da aliança. O autor procura enfatizar para a nação, que marchava
para o cativeiro em 586, a conexão inseparável entre a obediência e a bênção, e
entre a desobediência e maldição.
17.4 – Destaques do Primeiro Livro de Reis o Livro da Ruptura
·
Primeira Reis registra a divisão do reino de
Israel em dois reinos (931 a.C. – 1Rs 12), que passaram a ser conhecidos como
Reino de Israel e Judá ou respectivamente Norte e Sul, podendo o reino do norte
ainda ser chamado de Efraim. No reino do norte (Israel), a capital passa a ser
Samaria e no reino do sul (Judá), Jerusalém.
·
Salomão – Foi durante o reinado de Salomão que
Israel experimentou um período de maior prosperidade como reino. Entretanto a
desobediência de Salomão desencadeou na ruptura do reino (1 Rs 11:11-13).
·
Elias e Eliseu, profetas dos milagres (1 Rs 17 –
2 Rs 9)
17.5 – Destaques do Segundo Livro de Reis o Livro da Dispersão
·
No capítulo 17, vemos o reino das dez tribos do
norte (Israel) seguir para o cativeiro na Assíria, do qual nunca mais retornou.
No capítulo 25, vemos Jerusalém saqueada, o templo queimado e o reino do sul
(Judá) seguindo para o cativeiro na Babilônia, do qual apenas um remanescente
voltou.
·
Queda de Samaria (722 a.C. – 2 Rs 17). Após três
anos de cerco, toda a população é deportada para a Assíria, devido a idolatria
de Israel.
·
Reforma de Ezequias em Judá (2 Rs 18-20 e 2 Cr
29-32).
·
Reforma de Josias (2 Rs 22-23 e 2 Cr 34-35).
Esta aconteceu estimulada pela descoberta do “Livro da Lei” que se achava
perdido. Acredita-se que esta reforma foi maior que a de Ezequias, mas já era
tarde demais.
·
Destruição de Jerusalém e do Templo em 586 a.C.
(2 Rs 25 e 2 Cr 36). Babilônia invade o reino de Judá, após este ter recusado
sujeitar-se ao governo babilônico. O povo foi deportado para a Babilônia em
três levas, em 606, 597 e 586, ficando apenas os pobres.
18 – OS LIVROS DE CRÔNICAS
Nove capítulos de listas
genealógicas! Que perda de espaço! Pelo contrário, que cegueira pensar assim!
A preservação do tronco e dos
principais ramos da árvore genealógica de Israel torna-se especialmente vital
depois do exílio babilônico (quando as Crônicas foram escritas).
Essas listas dão a linhagem
sagrada através da qual a promessa foi transmitida durante quase 3.500 anos,
fato este incomparável na história da raça humana.
18.1 – Título
·
“Crônicas” é um nome cristão dado a estes livros
por Jerônimo no quarto século da era cristã. É um título bem escolhido, pois
sugere o propósito de fazer um registro cronológico da história sagrada.
·
Os dois livros, que formam um só volume no cânon
hebraico, têm o nome de “Atos dos Dias” ou “Atos dos Tempos”.
·
Os tradutores gregos denominaram-nos “Paraleipomena”
(coisas esquecidas), considerando-os um suplemento aos livros de Samuel e Reis.
18.2 – Autoria
·
Embora anônimos, esses livros são evidentemente
obra de Esdras, o sacerdote, de acordo com a tradição hebraica. O Talmude diz
ser Esdras. O estilo literário, o ponto de vista sacerdotal e o objetivo claro
são coerentes com outras obras de Esdras.
·
O autor é antes um compilador. Além de usar o
Pentateuco, os livros de Samuel e Reis, faz referência a aproximadamente doze
outros documentos existentes naquela época.
·
Quando os livros de Crônicas foram compilados,
Judá já não era uma monarquia, e sim apenas um pequeno grupo de exilados que
tinham voltado da Babilônia sob vassalagem do império persa.
·
Pode-se afirmar que o livro foi escrito no
período pós-exílio, devido as informações contidas no mesmo.
18.3 – Período de Tempo
·
O livro abrange desde a criação de Adão até
Ciro, da Pérsia (538 a.C.). Podemos dizer que devido as genealogias, abrange
toda a história do Antigo Testamento, desde Adão até os netos de Zorobabel,
Pelatias e Jesaías; portanto o seu alcance cronológico é maior do que qualquer
outro livro da Bíblia.
18.4 – Objetivo dos Livros das Crônicas
Pode-se discernir um objetivo
duplo nesse estudo do período do Antigo Testamento feito por Esdras:
·
O objetivo
histórico dos livros não era continuar a história de Israel a partir do
final de 2 Reis, mas apresentar de maneira sucinta toda a história sob a
perspectiva divina.
o
A ênfase é concentrada mais nos levitas, na
adoração dentro do templo, nas bênçãos dos arrependimentos, na soberania de
Deus para restaurar o povo e cumprir as suas promessas se esse povo se
arrependesse.
·
O fato de estarem colocados no final do cânon
hebraico sugere um objetivo econômico.
Esdras não os colocou no fim por mera modéstia, mas para dar-lhe uma
importância especial. Constituem o único tipo de repetição no Antigo
Testamento, e sintetiza toda a história sagrada para lembrar às gerações futuras
que Deus é a figura central do seu povo. Embora grande parte de Israel
estivesse disperso, o programa divino para o povo permanece intato.
·
O objetivo
central Crônicas é apresentar novamente ao povo da aliança a verdadeira
ênfase da vida nacional de Israel, convencê-los de seu primeiro dever e sua
única e verdadeira segurança, desafiando assim a raça eleita a uma consagração
renovada.
18.5 – Crônicas Em Contraste Com Samuel e Reis
·
Crônicas apresenta o ponto de vista sacerdotal,
em vez do profético. Há muitas referências aos sacerdotes e levitas, enquanto
os ministérios dos grandes profetas Elias e Eliseu são raramente mencionados. O
templo é mais dominante que o trono.
·
Em Crônicas, o enfoque nacional é mais em Judá
do que em Israel. Fala-se pouco sobre o reino do norte, exceto quando
relacionado com Judá.
·
O autor está mais interessado nas reformas do
que em campanhas militares. O enredo é mais eclesiástico do que político.
·
Em Crônica não foi enfatizada a idolatria, mas
sim a indiferença espiritual.
18.6 – A Importância do Templo
·
Em qualquer parte de Crônicas, o templo é
enfatizado como o centro fundamental da verdadeira vida nacional, mesmo quando
ele não é citado, fica claro que a ênfase está sempre na religião por ele
representada.
·
O templo se torna a “chave” unificadora de todo
povo de Israel.
·
Antes de Neemias ser enviado para reconstruir a
cidade, Esdras e Zorobabel já tinham sido enviados, e com um grupo
“remanescente”, iniciado a reconstrução do Templo. (Aprendemos através disso
que toda reconstrução começa a partir do nosso relacionamento com Deus).
18.7 – Perigo da Prosperidade
Os livros de Crônicas enfatizam o
perigo de deixar Deus de lado em época de prosperidade ou poder. Observa-se tal
coisa no declínio de Roboão (2 Cr 12:1); Asa (2 Cr 16:1-2); Josafá (2 Cr 18:1);
Jeorão (2 Cr 21:3-4); Amazias (2 Cr 25:11-14); Uzias (2 Cr 26:16) e Ezequias (2
Cr 32:23-25). Prosperidade e poder são bênçãos divinas, mas há o perigo de os
agraciados por elas se afastarem de Deus.
19 – OS LIVROS DE ESDRAS E NEEMIAS
19.1 – Título
·
Os livros de Esdras e de Neemias eram
considerados um só livro nos tempos antigos, conforme registro do Talmude, de
Josefo e de Jerônimo.
·
A Septuaginta
também os considerava um livro único.
·
A Vulgata
Latina dividiu-os em dois livros, denominados Esdras (Esdras “A”), e
Neemias (Esdras “B”).
·
A Bíblia evangélica e a hebraica moderna
dividem-nos em dois, denominando-os Esdras e Neemias em homenagem às suas
figuras humanas principais.
19.2 – Autor ou Compilador
·
Esdras, o sacerdote, é geralmente considerado o
autor ou compilador dos quatro livros históricos desse período: 1 e 2 Crônicas,
Esdras e Neemias. Quanto a Neemias, é provável que Esdras usasse as memórias de
Neemias, porquanto Neemias fala na primeira pessoa de vez em quando.
·
Alguns estudiosos consideram que Neemias
escreveu seu próprio livro, tendo Esdras como compilador de algumas partes.
19.3 – Data
·
Aproximadamente 430-425 a.C.
·
Como os ministérios de Esdras e de Neemias
tiveram lugar durante o reinado de Artaxerxes I (465-424 a.C.), é provável que
os livros tivessem sido completados perto do fim do período, depois de
Malaquias, último profeta, ter pronunciado a sentença do Senhor e feito o
devido registro.
19.4 – Período de Tempo Envolvido Em Esdras e Em Neemias
·
(538-430 a.C.)
·
Essa história cobre um período de mais de 100
anos, desde a volta de Zorobabel, construtor do templo (537 a.C.), até o último
retorno de Neemias, construtor dos muros (depois de 432 a.C.). Na realidade,
foram quatro turmas que voltaram do cativeiro:
o
A de Zorobabel – 537 a.C.
o
A de Esdras – 457 a.C.
o
A de 1ª Neemias – 444 a.C.
o
A de 2ª Neemias – 432 a.C.
20 – O LIVRO DE ESDRAS
O assunto abordado por este livro
é um dos mais importantes na história judaica: a volta do remanescente. Este
fato aconteceu por volta do ano 536 a.C., isto é, no final dos setenta anos de
escravidão à Babilônia.
Tanto o exílio como a volta foram
previstos muito antes do início do exílio (Jr. 25:11, 12 e 29:10,11).
20.1 – Objetivo do Livro
·
Era documentar a volta do povo que vinha
reconstruir o templo na ocasião certo em que o Senhor, por intermédio de
Jeremias, havia dito que aconteceria (Jr 29:10 e Ed 1:1).
20.2 – Esdras o Livro da Restauração
Esdras é o livro da restauração
do templo, o que significa a restauração da vida espiritual. Para que essa
restauração se tornasse possível foi necessário alguns passos;
1. A
volta à terra (1 e 2) – de volta à base certa.
2. A
reconstrução do altar (3:1-6) – renovação da dedicação.
3. O
começo do novo templo (3:8-13) – serviço e testemunho.
4. O
encontro dos “adversários” (4) – a fé sendo provada.
5. A
exortação pelos profetas (5:1-6:14) – necessidade da Palavra de Deus.
6. O
templo é completado (6:15-22) – a fé vitoriosa.
21 – O LIVRO DE NEEMIAS
Neemias é um livro precioso
quanto às lições espirituais por ele ensinadas. Ele narra como os muros de
Jerusalém foram reconstruídos pelo remanescente que voltou sob o comando de
Neemias e como o povo foi instruído de novo na lei que Deus havia dado à Sua
nação muito antes através de Moisés.
21.1 – Objetivo Espiritual do Livro
A mensagem espiritual do livro é:
·
“Não há vitória sem trabalho e sem luta. Não há
oportunidade sem oposição. Não há “porta aberta” à nossa frente sem que haja
muitos “adversários” para impedir a entrada.
·
Todas as vezes que os santos dizem:
“Levantemo-nos e construamos”, o inimigo exclama: “Levantemo-nos e impeçamos”.
·
Não há triunfo sem dificuldades. Não há vitória
sem vigilância. Há uma cruz no caminho de cada coroa digna de se usar.
·
Neemias jamais permitiu que a presunção
substituísse a precaução. Neemias encontrou equilíbrio entre oração e trabalho.
Ele acrescentou vigilância a oração e luta ao trabalho. Para ele fé não era
sinônimo de arrogância.
21.2 – Neemias o Livro da Reconstrução
O objetivo especial de Neemias
era a reconstrução dos muros da cidade.
Sem os muros não haveria
segurança na cidade, não haveria boa política na cidade, não haveria como ter
comércio na cidade, em fim não haveria como a cidade existir.
22 – O LIVRO DE ESTER
O Livro de Ester concentra-se
naqueles que ficaram na terra do cativeiro (um número bem maior). Ele descreve
eventos que ocorreram em Susã, a principal capital persa, e cobre um período de
cerca de doze anos.
Ester é um livro de crise.
Trata-se de um drama – não uma ficção, mas um fato genuíno.
22.1 – Título
·
O título é devido à figura central do livro
“Ester” (estrela) era o seu nome persa, e “Hadassah” (murta – espécie de
planta) era o seu nome judeu.
·
Este é um dos dois livros do Antigo Testamento
que levam o nome de uma mulher (Ruth e Ester).
22.2 – Autor
·
Desde os tempos antigos, Mordecai tem sido
considerado o autor provável; entretanto, Esdras e Neemias também têm sido
sugeridos como possíveis autores.
22.3 – Data
·
460 a.C., aproximadamente
·
Deve ter sido escrito logo após a morte de
Assuero (Xerxes forma Grega do seu nome), em 465 a.C., quando os seus
relatórios foram completados no livro da história dos reis (Ester 10:2).
22.4 - Período de Tempo
Envolvido
·
483-473 a.C.
·
Em 483, a rainha Vasti foi deposta (terceiro ano
de Assuero).
·
Em 479, a rainha Ester foi coroada (sétimo ano
de Assuero).
·
Em 473, houve o livramento dos judeus do Purim
(décimo terceiro ano de Assuero).
22.5 – Objetivos do Livro
·
O objetivo
histórico deste livro foi evidentemente encorajar os judeus dispersos por
todo o império com a história do contínuo interesse e presença do Senhor, mesmo
que ele não fosse visto e os judeus estivessem longe do templo de Deus em
Jerusalém. Apesar de o nome do Senhor não ser mencionado, sua divina direção
faz-se presente em todo o livro.
·
Houve também o objetivo religioso de dar uma explicação autêntica da origem da
festa judaica do Purim, uma festa especialmente cara aos judeus da dispersão.
23 – INTRODUÇÃO AOS LIVROS POÉTICOS
A poesia hebraica tem uma
característica própria que precisa ser bem entendida.
Esses livros descrevem
verdadeiras experiências humanas e tratam de problemas profundos, revelando
grandes realidades. De certa forma podemos dizer que os cinco livros tratam do
coração humano.
·
No livro de Jó, vemos a morte da vida
auto-suficiente. O homem que a princípio é considerado o melhor homem da terra
(1:8) no final acha-se prostrado diante de Deus, exclamando: “Por isso me
abomino, e me arrependo no pó e na cinza” (42:6).
·
A seguir, nos salmos, vemos a nova vida em Deus,
manifestando-se no louvor (adoração) e na oração (súplica e intercessão), na
fé, na esperança, no amor, na alegria, nas mais diversas formas conhecidas por
um coração justo.
·
Em Provérbios, entramos na escola de Deus,
aprendendo uma sabedoria celestial, mas prática para a vida na terra.
·
Em Eclesiastes aprendemos a não colocar nosso
sentimento em nada sob o sol, mas, sim, a fazer com que nosso tesouro permaneça
no céu.
·
Cantares encerra a sequencia, mostrando de
maneira simbólica a agradável intimidade da comunhão com Cristo em toda a
plenitude de Seu amor.
23.1 – Ideias Principais de Cada Livro
·
Jó – a bênção por meio do sofrimento.
·
Salmos – o louvor por meio da oração.
·
Provérbios – a prudência por meio do preceito.
·
Eclesiastes – a verdade por meio da vaidade.
·
Cantares de Salomão – a bem-aventurança por meio
da união.
23.2 – Definição da Área Poética
·
Poema é uma composição literária, geralmente em
forma de versos, que expressa uma ideia ou um sentimento.
·
Os hebreus identificavam três grandes livros
poéticos: Jó, Salmos e Provérbios.
·
Na classificação da Vulgata estão também
incluídos os livros didáticos Eclesiastes e Cantares. Desta forma temos cinco
livros poéticos.
·
Esses cinco foram mais tarde divididos em dois
grupos:
o
Três livros de sabedoria: Jó, Provérbios e Eclesiastes.
o
Dois livros Hínicos:
Salmos e Cantares de Salomão.
23.3 – Características da Poesia
·
Rima – é
o dispositivo literário de sons harmoniosos, desenvolvendo o ritmo pela
ocorrência regular de terminações sonoras semelhantes.
·
Ritmo – é
a regularidade do movimento em composição literária, desenvolvida pela
recorrência da batida, pausa ou acento. Esse ritmo, ou métrica, é determinado
pela frequência dos acentos, sejam eles regulares ou irregulares.
·
Expressão
Figurativa – a linguagem figurativa é a terceira característica importante
da poesia. Faz analogias ou
comparações por figuras de pensamento. Encontramos nos textos símile, metáfora, personificação, apóstrofe,
hipérbole, etc.
23.4 – Características da Poesia Hebraica – “Paralelismo”
·
A
Essência do Paralelismo – Enfatiza mais o “ritmo da ideia” do que o “ritmo
do som”, pois a mente oriental está mais interessada no conteúdo da ideia do
que nos meros artifícios literários. Essa característica é chamada
“paralelismo”: a primeira linha do poema é paralela ou equilibrada com a
segunda ou com as linhas seguintes, em uma das diversas maneiras. Tal coisa
pode ser feita em dístico (estrofes de dois versos), trísticos (três versos) ou
em estrofes de quatro versos, e até mesmo de cinco.
·
A
Vantagem do Paralelismo Hebraico – Além
de desafiar o leitor a fazer o relacionamento de ideias, essa
característica da poesia hebraica apresenta vantagem especial na tradução. O
efeito rítmico e o movimento não se perdem quando traduzidos para outro idioma,
como frequentemente acontece na tradução de características apenas mecânicas.
·
Tipos de
paralelismo hebraico:
o
Sinônimo: a segunda linha repete o reproduz a
primeira em palavras semelhante. Ex.: Salmo 19:1
o
Antitético: a segunda linha expressa ideia
oposta à da primeira, fazendo o contraste. Ex.: Salmo 1:6
o
Sintético: A segunda linha completa ou amplifica
a primeira. Ex.: Salmo 19:7
o
Analítico: A segunda linha apresenta uma
consequência da primeira. Ex.: Salmo 23:1
o
Climático: A segunda linha repete a primeira e a
conduz ao clímax. Ex.: Salmo 29:1
o
Emblemático: A segunda linha ilustra a figura
apresentada na primeira. Ex.: Salmo 103:11
o
Quiasmo: A segunda linha repete a primeira, mas
em ordem invertida. Ex.: Salmo 51:1
23.5 – Classes Características da Poesia Hebraica
·
Drama
Poético – Uma série de cenas apresentadas principalmente em formato de
verso. Ex.: O livro de Jó.
·
Versos
Líricos Poéticos – Preparados para ser cantados ou salmodiados, mediando
entre a “descrição” da epopeia e a “apresentação” do drama.
·
Didática
Poética – Verso poético destinado a ensinar.
o
1. Didática
Prática – O Livro de Provérbios.
o
2. Didática
Filosófica – O Livro de Eclesiastes.
·
Idílios
Poéticos – Cenas campestres ou pastoris em forma de verso. Ex.: Cantares de Salomão.
·
Elegias
Poéticas – Versos expressando pesar ou lamentação. Ex.: O Livro de
Lamentações de Jeremias.
24 – INTRODUÇÃO AOS LIVROS DE SABEDORIA
24.1 – Caráter da Literatura de Sabedoria
·
Tinham
Como Objetivo Uma Sabedoria Prática Para a Vida – O interesse dos sábios de
Israel era mais pela sabedoria prática do que pela filosófica. Interessavam-se
mais pela ética ou aplicação da verdade divina à experiência humana.
24.2 – Livros Bíblicos da Literatura de Sabedoria
·
Jó – Sabedoria
para entender as provações da vida.
·
Provérbios
– Sabedoria para crescimento e disciplina na vida.
·
Eclesiastes
– Sabedoria para encontrar o verdadeiro significado da vida.
25 – OS LIVROS PROFÉTICOS
Os Livros Proféticos apresentam
um tipo especial de literatura bíblica escrita para objetivos específicos na
história posterior de Israel.
Os profetas de Israel foram
chamados individualmente e ungidos por Deus para o serviço de “emergência”, em
contraste com o serviço regular dos sacerdotes, anciãos e reis. Além de serem
denominados “profetas” (hebraico nabi),
também recebiam o nome de “videntes” (roeh
ou chozeh), “sentinelas” (tsaphah) ou “pastores” (raah). Esses termos indicam suas funções
ao serem chamados por Deus para interpretar e anunciar a palavra específica do
Senhor para seu povo.
25.1 – Divisões dos Livros
·
Os livros proféticos são um conjunto de
dezessete livros que se dividem em dois grupos:
o
Profetas maiores – cinco livros.
o
Profetas menores – doze livros.
·
Os doze livros dos profetas maiores podem ser
divididos em:
o
Pré-exílicos – nove livros (Oséias a Sofonias).
O reino dravídico ainda se acha na terra prometida.
o
Pós-exílicos – três livros (Ageu, Zacarias e
Malaquias). Só o “remanescente” pós-exílicos está de volta na terra da
Palestina.
25.2 – Destaques dos Livros
·
Isaías – O
futuro Messias é visto como o Salvador que sofre e como o último soberano que
reina no império mundial.
·
Jeremias
– Temos a demanda completa do Senhor contra Israel. Ele é o “Renovo” justo
de Davi e o restaurador final do povo julgado e disperso.
·
Ezequiel –
O Messias é visto como o Pastor-Rei perfeito, em cujo reino glorioso o
templo ideal do futuro será erigido.
·
Daniel – Apresenta
a cronologia mais especifica dos tempos e eventos em sua ordem sucessiva, vemos
o Messias “eliminado”, sem trono e sem reino, todavia apresentando-se
finalmente como Imperador universal sobre as ruínas do fracassado sistema
gentio mundial.
·
Os doze
profetas menores – Estes ampliam vários aspectos das profecias, contudo não
determinam a forma principal da profecia messiânica. Eles adaptam-se à
estrutura geral já apresentada para nós em Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel.
Profetas do reino do Norte
(Israel)
|
Jonas
|
862 (até talvez 830 a.C.)
|
Amós
|
787
|
|
Oséias
|
785-725
|
|
Profetas do reino do Sul (Judá)
|
Obadias
|
887
|
Joel
|
800
|
|
Isaías
|
760-698 (Israel vai para
cativeiro assírio – 721 a.C.)
|
|
Miquéias
|
750-710
|
|
Naum
|
713
|
|
Habacuque
|
626
|
|
Sofonias
|
630
|
|
Jeremias
|
629-588
|
|
Lamentações
|
(Judá vai para o cativeiro –
587 a.C.)
|
|
Profetas durante e depois do
exílio
|
Ezequiel
|
595-574
|
Daniel
|
607-534
|
|
Ageu
|
520
|
|
Zacarias
|
520-518
|
|
Malaquias
|
397
|
Bibliografia:
ELLISEN, Stanley A. Conheça
Melhor o Antigo Testamento; Editora Vida, São Paulo, 1993.
BAXTER, J. Sidlow. Examinai
as Escrituras; Editora Vida Nova, São Paulo, 1992.
[1] Epônimo
- é o nome de uma personalidade
histórica ou lendária que dá, ou empresta, esse seu nome a alguma coisa, um
lugar, época, tribo, dinastia, etc..
[2] Não se desespere: Jesus não se casou
com a samaritana. Aliás, o Jesus de verdade nunca nem se encontrou com
samaritana nenhuma junto a poço nenhum. Trata-se de um relato simbólico: a
mulher é a figura da Samaria, antiga capital do reino do norte. Jo 4 quer
mostrar que os samaritanos têm uma atitude bem diferente dos judeus: os judeus
rejeitam o evangelho de Jesus, os samaritanos o acolhem. Este acolhimento do
evangelho é narrado de modo figurado e, para isso, o autor do Quarto Evangelho
usa o gênero do encontro junto ao poço: a cidade da Samaria acolheu o evangelho,
isto é, “casou-se” com Jesus.
[3]
Consultar capítulo 5.3 de nosso estudo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário