A Minhoca
Conta uma
velha lenda que há muitos e muitos anos, em uma vasta planície do Quênia,
próximo ao coração da África, os animais se reuniram em uma clareira junto ao
Rio Impumelelo, para descobrirem qual
deles era o mais importante dentre todos. Era uma escolha difícil. O mais
importante não seria apenas o mais forte, o mais formoso ou o mais esperto, mas
aquele que, por sua tarefa natural, fosse imprescindível para todos os outros,
e que sobre os seus ombros e o desempenho de seu trabalho pesasse o futuro de
toda a bicharada.
Assim começou
o grande concurso. Os animais mais formosos foram logo tomando à frente dos
outros, para desfilarem diante do júri. Da mesma forma os mais robustos abriram
espaços entre a platéia e se colocaram em posição de destaque. Os pequenos e
feios, coitados, foram tomando os lugares de trás. No mundo animal, quando se
trata de força e coragem, vem-nos logo à mente o leão. O búfalo, o rinoceronte
e o elefante também são muito fortes. Se, no entanto, falamos de beleza, a águia
é a rainha; a girafa é muito elegante; a gazela é distintamente formosa e não é
à toa que os homens costumam chamar as mulheres excepcionalmente belas de
panteras. Em inteligência, a abelha é uma matemática quando constrói seus
favos; o joão-de-barro é engenheiro construtor e o papagaio imita até a voz do
homem!
O concurso
prosseguia e a decisão era difícil, conforme já frisamos, pois que a beleza, a
força e a esperteza não são necessariamente importantes para o reino animal, ao
contrário do que se possa supor precipitadamente. "O concurso pretende
estabelecer dentre todos os animais aquele a quem a mãe natureza confiou uma
tarefa verdadeiramente extraordinária, importante para todo o reino
animal", disse um dos jurados, esclarecendo o público e os participantes.
Dito isto, o leão, que tanto rugia para chamar a atenção dos demais, ficou em
silêncio, tanto quanto os demais que haviam se aproximado pretensiosamente do
palanque. Foi assim que nossa amiga dona Minhoca, que havia se colocado entre
os últimos dos últimos, teve o seu nome lembrado (e com muita justiça, diga-se
de passagem). Embora seja ela um dos mais desprezados seres, sem nenhuma beleza
aparente, foi a ela que a mãe natureza confiou uma missão absolutamente
fundamental para todo o reino: é a responsável por cavar inúmeros túneis na
terra, os quais levam o ar atmosférico e minerais até as raízes de todas as
plantas, fazendo-as crescerem fortes e saudáveis. Ainda que D. Minhoca não
tenha ouvidos, olhos ou nariz, e apenas uma boca, sua importância é
infinitamente superior à força do leão, à beleza da águia ou à inteligência da
abelha.
Veja, caro
leitor, como nem sempre os critérios humanos de julgamento dão importância ao
que realmente é importante. Não foi assim que desprezaram ao nosso Senhor Jesus?
Está escrito na Bíblia: "...não tinha formosura nem beleza; e quando
olhávamos para ele, nenhuma beleza víamos, para que o desejássemos. Era
desprezado, e rejeitado dos homens; homem de dores, e experimentado nos
sofrimentos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e
não fizemos dele caso algum. Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas
enfermidades, e carregou com as nossas dores; e nós o reputávamos por aflito,
ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas
transgressões, e esmagado por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos
traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós
andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo seu caminho; mas o
Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós. Ele foi oprimido e
afligido, mas não abriu a boca; como um cordeiro que é levado ao matadouro, e
como a ovelha que é muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a
boca." (Isaías 53.2-7). Foi o próprio Senhor Jesus quem nos ensinou,
dizendo: "Aquele que entre vós todos é o menor, esse é grande."
(Lucas 9.49).
(não me responsabilizo pela posição e/ou leitura teológica do autor)
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