SOLUS CHRISTUS
Por
volta do ano 300 d.C. a igreja apostólica sofreu um desvio em suas doutrinas,
devido à oficialização do Cristianismo como religião do Império Romano, pelo imperador
Constantino. Pessoas foram obrigadas à aceitarem o evangelho e este caminho
levou a igreja a um desvio das doutrinas dos apóstolos, acrescentando à obra da
salvação realizada por Cristo na cruz a venda de indulgências (documentos que concediam o perdão divino) e atos de penitências (um sacramento cujo objetivo é mitigar – tornar mais suave
- a culpa do pecador). A
salvação deixou de ser obra exclusiva de Deus tendo a participação dos homens.
Esse ensino é totalmente contrário à bíblia.
No dia 31 de outubro, celebraremos os 500
anos da Reforma Protestante. Neste dia, no ano de 1517, o monge Martinho Lutero
expunha nas portas da Igreja de Wittenberg, na Alemanha, as 95 teses contra a
venda de indulgências.
A
Reforma do século XVI marca a volta da igreja às Escrituras Sagradas, um retorno
às doutrinas apostólicas, uma vez que a igreja cristã havia se desviado da
verdade bíblica.
O lema (princípio) da Reforma é Igreja Reformada sempre reformando. Isso significa que a igreja deve sempre examinar se sua
fé e sua prática estão de acordo com as Escrituras.
Acredito que a Igreja
não deve voltar as Escrituras somente para se examinar, mas também na busca de
responder as novas perguntas feitas pela sociedade contemporânea.
Os reformadores nos
deixaram cinco filtros que nos conduzem de volta as verdades das doutrinas dos
apóstolos, chamados CINCO SOLAS (sola Fide, sola Scriptura, solus Christus, sola
Gratia e soli Deo Glória) .
Estas “Solas” são as lentes para nos avaliarmos e respondermos
as perguntas feitas pelo mundo pós-moderno.
As
Cinco Solas definem os princípios fundamentais da Reforma Protestante,
elas sintetizam os credos teológicos dos reformadores.
Hoje
nós iremos refletir na “Solus Christus” ou “Somente Cristo”.
Nessa mensagem quero me deter a
responder uma única pergunta: O que significa a afirmação “Somente Cristo”? Temos
três respostas para esta pergunta:
1 – Reafirmação que Jesus é o único mediador
entre Deus e os homens;
·
Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e
os homens: o homem Cristo Jesus,
o qual se entregou a si mesmo como resgate por todos. (1 Timóteo 2:5,6a)
o qual se entregou a si mesmo como resgate por todos. (1 Timóteo 2:5,6a)
·
Respondeu Jesus: "Eu sou o caminho, a
verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim. (João 14:6)
2 – Reafirmação que Jesus é suficiente para nossa salvação;
·
8Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo
morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores. 9Como agora fomos
justificados por seu sangue, muito mais ainda seremos salvos da ira de Deus por
meio dele! 10Se quando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados com ele
mediante a morte de seu Filho, quanto mais agora, tendo sido reconciliados,
seremos salvos por sua vida! (Romanos 5:8-10)
3 – Reafirmação que Jesus é o único objeto de
nossa fé e amor.
1.3 - Jesus é o único
objeto de nossa fé e amor
Somente Cristo é um
grito necessário para que não esqueçamos que Cristo e somente Cristo é o objeto
de nossa fé e amor.
Diante uma cultura
pluralista e relativista devemos reconhecer que seremos tentados a diminuir o
valor de Cristo em nossa fé.
A
pluralidade em si não é problema, como disse Jonas Madureira devemos celebrar a
pluralidade, pois Deus fez o mundo plural, diversas cores, pessoas diferentes,
espécies de animais diferentes.
A
pluralidade como um modo de vida, é uma visão de mundo construída sobre a base
do relativismo, onde todas “as verdades” são aceitas e não conflitantes. No
relativismo não existe uma verdade absoluta. (Imagine você na praça de alimentação..).
Essa
afirmação “Somente Cristo” é nos dia de hoje politicamente incorreta e
agressiva; vai contra a visão pluralista e relativista. Afirmações
exclusivistas como essa faz com que nós cristãos sejamos rejeitados pela
sociedade.
VÍDEO (2m10s): Mariana Sousa –
campanha “Tudo começa pelo respeito”. Discurso do mundo pós-moderno
Os bombardeios
constantes de que todos os caminhos levam a Deus, de que todas as “verdades”
devem ser respeitadas, de que para uma boa convivência precisamos aceitar a
“verdade do outro” e não defendermos uma verdade absoluta; de que ao invés de
gastarmos energia defendendo nossa fé, devemos gastar energia fazendo o bem; esse
discurso poderá nos levar a um desvio da prioridade e da centralidade de nossa
fé. Cristo deixará aos poucos de ser o alvo do nosso amor e a razão maior de
nossas ações. Para comprovar o que estou afirmando quero convidá-los a olharmos
a história da igreja de Éfeso, no livro de Apocalipse 2:1-7.
1Ao anjo da igreja em
Éfeso escreva: Estas são as palavras daquele que tem as sete estrelas em sua
mão direita e anda entre os sete candelabros de ouro.
2Conheço as suas
obras, o seu trabalho árduo e a sua perseverança. Sei que você não pode tolerar
homens maus, que pôs à prova os que dizem ser apóstolos, mas não são, e
descobriu que eles eram impostores.
3Você tem perseverado
e suportado sofrimentos por causa do meu nome, e não tem desfalecido.
4Contra você, porém,
tenho isto: você abandonou o seu primeiro amor.
5Lembre-se de onde
caiu! Arrependa-se e pratique as obras que praticava no princípio. Se não se
arrepender, virei a você e tirarei o seu candelabro do seu lugar.
6Mas há uma coisa a
seu favor: você odeia as práticas dos nicolaítas, como eu também as odeio.
7Aquele que tem
ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor darei o direito de
comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus.
Apocalipse 2.1-7
Éfeso era a principal cidade situada na região da Ásia
Menor. Uma cidade pluralista, pois através de seu porto recebia diariamente vários
visitantes das mais diversas regiões. Éfeso era uma cidade em contato com as
diversas culturas de seu tempo. A cidade foi fundada, pelos gregos 1.000 a.C.,
mais tarde foi conquistada por Ciro, rei Persa, onde recebeu influência da
cultura persa e foi reconquistada pelos gregos com Alexandre, o grande. Possuía um teatro para 25 mil
pessoas, o que demonstra sua força cultural. Nela
se destacavam iniciativas culturais como escolas filosóficas; escola de magos e
muitas manifestações religiosas. No
aspecto religioso havia um grande templo a deusa Ártemis ou Diana que
movimentava o comércio da cidade e também guardavam o culto ao imperador romano.
É no meio deste contexto pluralista e relativista que a
Igreja de Éfeso tentava sobreviver. Essa luta intensa da Igreja de Éfeso pela
sobrevivência era assistida por Jesus, conforme lemos no texto de Apocalipse.
Eu quero, com vocês, destacar algumas observações de Jesus a respeito dessa
igreja.
Ap 2.2a -
“Conheço as suas obras, o seu trabalho árduo e a sua perseverança”.
Essas palavras
expressam que a Igreja de Éfeso era uma igreja que possuía uma orthopraxia inquestionável.
·
orthopraxia (ὀρθοπραξία)
= "ação correta" à de
orthos "certo ou reto", e práxis "prática ou ação".
Eles utilizavam de
maneira correta suas redes sociais, alcançavam muitas vidas através do projeto
Mateus, assistiam muitas famílias através do ministério social, sustentavam
muitas obras missionárias, todos dizimavam fielmente. Seus membros eram
profissionais que possuíam uma ética cristã firme, não se deixavam se
corromper. Uma igreja que vivia os ensinamentos de Jesus, comprometidos com sua
igreja local.
“Trabalho árduo” (kópon, no grego kopon que significa “labor até a
exaustão”).
Essa
era uma igreja ativa, dinâmica, cheia de programações. Uma igreja relevante à
sociedade de Éfeso por causa de suas ações, na tentativa de apresentar a
verdade absoluta – SOMENTE CRISTO.
Ap 2.2b -
“... Sei que você não pode tolerar homens maus, que pôs à prova os que dizem
ser apóstolos, mas não são, e descobriu que eles eram impostores”.
Percebemos
nestas palavras que a Igreja de Éfeso também era orthodoxa.
· Orthodoxa (όρθοδόξα) = opinião correta à de
orthos "certo ou reto", e doxa[1]
"opinião ou crença".
O conceito é usado para designar o apego
ou à adesão para com certas crenças ou teorias.
Eles não toleravam
pessoas más (pessoas com pensamentos diferentes, propósitos diferentes –
possivelmente se refere aos nicolaítas) das verdades ensinadas pelos apóstolos.
Eles sabiam que estas pessoas eram perigosas, pois poderiam desviar muitas
pessoas da fé verdadeira. Estas
pessoas, más, para referendarem sua autoridade se diziam apóstolos. Parece com
o que vivemos hoje, não é verdade?
Penso que essa é a
igreja dos sonhos de todos os pastores, uma igreja praticante das boas obras,
comprometida com os trabalhos da igreja e zelosa com o ensino, que não se deixava
levar por ensinos estranhos, que não ficava navegando em sites pastorais
perigosos, que não permitiam ser poluídos pelas propostas da sociedade pluralista
em que viviam.
Ap 2.3 - Você
tem perseverado e suportado sofrimentos por causa do meu nome, e não tem
desfalecido.
Uma igreja com essa
característica, em meio a uma cultura pluralista e relativista, só poderia ser
perseguida.
O sofrimento era
experimentado das mais diversas formas:
·
No campo emocional – (eram motivos de
zombarias, sofriam rejeições por conta de sua fé, etc.).
·
No campo familiar – (educar seus
filhos nas verdades cristãs exigiam sacrifícios e perseverança).
·
No campo profissional - (não conseguiam
fechar negócios, pois não aceitavam dar um jeitinho, não se corrompiam, não
roubavam César nem a Deus).
·
No campo social - (ficavam proibidos
de frequentarem os shoppings da cidade, os teatros, não eram convidados para as
festas, não eram bem vistos pela sociedade de Éfeso).
·
No físico - (Quando João,
autor deste livro, recebe estas revelações, o imperador Domiciano torturava e
matava muitos cristãos).
Jesus os elogiou
porque eles se mantiveram firmes na fé que abraçaram. Eles perseveraram na
crença SOMENTE CRISTO. Estes crentes pareciam perfeitos; só que não!
Ap 2.4 - Contra
você, porém, tenho isto: você abandonou o seu primeiro amor.
A igreja de Éfeso e
seus membros nos advertem que podemos viver uma prática cristã correta e sermos
zelosos com a teologia, com os ensinos das escrituras, mas Jesus Cristo não ser
o verdadeiro alvo do nosso amor.
Corremos o risco com o tempo de amarmos mais a nossa fé do
que o próprio Jesus; amamos nossas crenças sem termos uma fé relacional com
Jesus.
Corremos o risco de amarmos mais o que fazemos por Jesus do que o próprio
Jesus. Corremos o risco de amarmos mais o “nome de Jesus” do que o próprio
Jesus.
Podemos nos tornar como Marta – amarmos mais o servir do
que ficar aos pés de Jesus; ou como o jovem rico – obedecermos todos os
mandamentos, mas amarmos mais o que temos do que a Jesus.
Podemos orar,
dizimar, participar dos cultos frequentemente, mas não termos mais amor em
nossos corações por Jesus.
34Ao ouvirem dizer que
Jesus havia deixado os saduceus sem resposta, os fariseus se reuniram.
35Um deles, perito na
lei, o pôs à prova com esta pergunta:
36"Mestre, qual é
o maior mandamento da Lei? "
37Respondeu Jesus:
" ‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de
todo o seu entendimento’.
38Este é o primeiro e
maior mandamento.
Mateus 22.34-38
Jesus citou para ao
perito da lei Dt 6.4-5, e afirmou que esse é o PRIMEIRO e MAIOR mandamento:
amar a Deus de todo o seu coração,
de toda a sua alma e de todo o seu entendimento .
O que Deus realmente deseja de todos nós é que o amemos,
somente O amemos.
Você realmente ama a
Jesus? O que te move a estudar a Palavra é o amor a Jesus ou o amor pelo
conhecimento? O que te move a fazer boas obras é o amor a Jesus ou o prazer de
ver alguém feliz?
Somente Cristo é tornar Jesus o alvo único do seu amor.
Ap 2.5a - Lembre-se de onde caiu! Arrependa-se e pratique as obras
que praticava no princípio.
As palavras “lembre-se de
onde caiu e arrependa-se” estão indicando que devemos voltar onde caímos, onde
deixamos de praticar as primeiras obras.
A palavra arrependimento (metanóia à meta
= além de + nous = mente [além da mente]) significa
mudança de mente, de atitude; isto quer dizer que precisamos voltar onde caímos
e tomarmos uma nova postura, voltarmos a prática de nossas primeiras obras - a
prática da oração, da devocional – da postura que tínhamos no início de nossa
conversão, um coração aberto para aprender de Jesus, um coração sedento por
Jesus e por sua Palavra. Metanóia neste contexto é mais que uma mudança de
mente... é mudança na alma.
Ap 2.5b -
Se não se arrepender, virei a você e tirarei o seu candelabro do seu lugar.
O candelabro fala da missão, da Igreja, de ser luz para o
mundo. O texto não está dizendo que você irá perder a salvação, mas que perderá
o sentido de sua existência.
Aquele que não se arrepende, que não
coloca Jesus como o objeto maior e primeiro do seu amor, tudo o que faz não tem
eco na eternidade, é vazio de significância, até mesmo aquilo que parece bom
aos nossos olhos.
Ap 2.6 - Mas há uma
coisa a seu favor: você odeia as práticas dos nicolaítas, como eu também as
odeio.
Este
verso parece perdido do verso anterior, mas ele está totalmente preso a ideia
da remoção do candelabro.
Quem
são os nicolaítas? Os nicolaítas[2]
combinaram filosofia grega, mitologia e elementos do judaísmo ao cristianismo. A
bíblia nos ensina que Jesus nos libertou de toda lei na cruz. Isso é verdade!
Entretanto os nicolaítas erravam ao afirmarem que, uma vez que Jesus os
libertará de toda lei, eram livres para viverem da forma que desejassem, na
prática da idolatria e da imoralidade, associando-se com as imundícias de uma
sociedade pagã e corrupta, pois todo mal residia na carne e essa no entender
deles não participaria da redenção.
Os nicolaítas recebiam este nome porque
eram seguidores de Nicolau – segundo a tradição cristã – um dos sete homens escolhidos
para a diaconia na Igreja de Jerusalém (At
6.3-5).
Nicolau era um homem cheio do Espírito Santo, décadas depois
se desviou, pois o amor por Jesus se esfriou, possivelmente diante o desejo de
viver uma espiritualidade “politicamente correta” aos seus dias, que lhe
permitisse conviver em paz com a cultura pluralista e relativista de Éfeso, que
lhe permitisse realizar bons negócios com os comerciantes de Éfeso e manter uma
vida economicamente bem-sucedida. Nicolau possivelmente relativizou as verdades bíblicas e seu candelabro
foi removido. Seu nome foi apagado da história, sua missão foi transferida a
outro, assim como a igreja de Éfeso. A cidade foi destruída em 263 pelos godos, uma tribo germânica
Ap 2.7 - Aquele que
tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor darei o direito
de comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus.
Como se encontra sua paixão por Jesus? Ele te conhece, sabe
onde está seu coração. Somente Cristo hoje, é um convite para você restaurar
sua vida. Se você tem amado mais o trabalho que faz por Jesus, do que o próprio
Jesus; se tem amado mais sua família do que o próprio Jesus; se tem amado mais
estudar Jesus do que se relacionar com ele; toma a decisão de voltar as
primeiras obras... de colocar Jesus em primeiro lugar em sua vida.
A Reforma Protestante foi um movimento que levou a igreja a
colocar sua fé e amor unicamente em Jesus. Hoje é a oportunidade para você dar
inicio a uma reforma em sua vida, recolocando sua fé e amor unicamente em Jesus
e dizer como os reformadores “SOMENTE CRISTO”.
Pr. Cornélio Póvoa de
Oliveira
10/10/2017
[1]
A
palavra doxa ganhou novo sentido nos séculos III a.e.C. e I
a.e.C quando os “setenta” sábios em Alexandria traduziram
as escrituras hebraicas para o grego. Nessa tradução das Escrituras, chamada Septuaginta, a palavra
hebraica para glória (kabot) foi traduzida para o grego como doxa.
[2]
Irineu e Tertuliano fazem
citação de que o apóstolo Nicolau tornou-se líder de uma seita gnóstica
antinomiana. Parece terem participado de festas idólatras, incorporando
imoralidade e sensualidade em suas práticas (CHAMPLIN, Russel Norman. Novo Testamento Interpretado. Sociedade
Religiosa A Voz Bíblica)
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