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terça-feira, 31 de outubro de 2017

SERMÕES 12 - SOLUS CHRISTUS (Somente Cristo)

 SOLUS CHRISTUS

Por volta do ano 300 d.C. a igreja apostólica sofreu um desvio em suas doutrinas, devido à oficialização do Cristianismo como religião do Império Romano, pelo imperador Constantino. Pessoas foram obrigadas à aceitarem o evangelho e este caminho levou a igreja a um desvio das doutrinas dos apóstolos, acrescentando à obra da salvação realizada por Cristo na cruz a venda de indulgências (documentos que concediam o perdão divino) e atos de penitências (um sacramento cujo objetivo é mitigar – tornar mais suave - a culpa do pecador). A salvação deixou de ser obra exclusiva de Deus tendo a participação dos homens. Esse ensino é totalmente contrário à bíblia.
No dia 31 de outubro, celebraremos os 500 anos da Reforma Protestante. Neste dia, no ano de 1517, o monge Martinho Lutero expunha nas portas da Igreja de Wittenberg, na Alemanha, as 95 teses contra a venda de indulgências.
A Reforma do século XVI marca a volta da igreja às Escrituras Sagradas, um retorno às doutrinas apostólicas, uma vez que a igreja cristã havia se desviado da verdade bíblica.
O lema (princípio) da Reforma é Igreja Reformada sempre reformando. Isso significa que a igreja deve sempre examinar se sua fé e sua prática estão de acordo com as Escrituras.

Acredito que a Igreja não deve voltar as Escrituras somente para se examinar, mas também na busca de responder as novas perguntas feitas pela sociedade contemporânea.
Os reformadores nos deixaram cinco filtros que nos conduzem de volta as verdades das doutrinas dos apóstolos, chamados CINCO SOLAS (sola Fide, sola Scriptura, solus Christus, sola Gratia e soli Deo Glória) .
Estas “Solas” são as lentes para nos avaliarmos e respondermos as perguntas feitas pelo mundo pós-moderno.
A palavra "sola" (origem do Latim) significa "somente" em português.
As Cinco Solas definem os princípios fundamentais da Reforma Protestante, elas sintetizam os credos teológicos dos reformadores.
Hoje nós iremos refletir na “Solus Christus” ou “Somente Cristo”.
Nessa mensagem quero me deter a responder uma única pergunta: O que significa a afirmação “Somente Cristo”? Temos três respostas para esta pergunta:
1 – Reafirmação que Jesus é o único mediador entre Deus e os homens;
·      Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus,
o qual se entregou a si mesmo como resgate por todos.
(1 Timóteo 2:5,6a)
·      Respondeu Jesus: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim. (João 14:6)
2 – Reafirmação que Jesus é suficiente para nossa salvação;
·      8Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores. 9Como agora fomos justificados por seu sangue, muito mais ainda seremos salvos da ira de Deus por meio dele! 10Se quando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados com ele mediante a morte de seu Filho, quanto mais agora, tendo sido reconciliados, seremos salvos por sua vida! (Romanos 5:8-10)
3 – Reafirmação que Jesus é o único objeto de nossa fé e amor.

1.3 - Jesus é o único objeto de nossa fé e amor
Somente Cristo é um grito necessário para que não esqueçamos que Cristo e somente Cristo é o objeto de nossa fé e amor.
Diante uma cultura pluralista e relativista devemos reconhecer que seremos tentados a diminuir o valor de Cristo em nossa fé.
A pluralidade em si não é problema, como disse Jonas Madureira devemos celebrar a pluralidade, pois Deus fez o mundo plural, diversas cores, pessoas diferentes, espécies de animais diferentes.
A pluralidade como um modo de vida, é uma visão de mundo construída sobre a base do relativismo, onde todas “as verdades” são aceitas e não conflitantes. No relativismo não existe uma verdade absoluta. (Imagine você na praça de alimentação..).
Essa afirmação “Somente Cristo” é nos dia de hoje politicamente incorreta e agressiva; vai contra a visão pluralista e relativista. Afirmações exclusivistas como essa faz com que nós cristãos sejamos rejeitados pela sociedade.

VÍDEO (2m10s): Mariana Sousa – campanha “Tudo começa pelo respeito”. Discurso do mundo pós-moderno

Os bombardeios constantes de que todos os caminhos levam a Deus, de que todas as “verdades” devem ser respeitadas, de que para uma boa convivência precisamos aceitar a “verdade do outro” e não defendermos uma verdade absoluta; de que ao invés de gastarmos energia defendendo nossa fé, devemos gastar energia fazendo o bem; esse discurso poderá nos levar a um desvio da prioridade e da centralidade de nossa fé. Cristo deixará aos poucos de ser o alvo do nosso amor e a razão maior de nossas ações. Para comprovar o que estou afirmando quero convidá-los a olharmos a história da igreja de Éfeso, no livro de Apocalipse 2:1-7.

1Ao anjo da igreja em Éfeso escreva: Estas são as palavras daquele que tem as sete estrelas em sua mão direita e anda entre os sete candelabros de ouro.
2Conheço as suas obras, o seu trabalho árduo e a sua perseverança. Sei que você não pode tolerar homens maus, que pôs à prova os que dizem ser apóstolos, mas não são, e descobriu que eles eram impostores.
3Você tem perseverado e suportado sofrimentos por causa do meu nome, e não tem desfalecido.
4Contra você, porém, tenho isto: você abandonou o seu primeiro amor.
5Lembre-se de onde caiu! Arrependa-se e pratique as obras que praticava no princípio. Se não se arrepender, virei a você e tirarei o seu candelabro do seu lugar.
6Mas há uma coisa a seu favor: você odeia as práticas dos nicolaítas, como eu também as odeio.
7Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor darei o direito de comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus.
Apocalipse 2.1-7

Éfeso era a principal cidade situada na região da Ásia Menor. Uma cidade pluralista, pois através de seu porto recebia diariamente vários visitantes das mais diversas regiões. Éfeso era uma cidade em contato com as diversas culturas de seu tempo. A cidade foi fundada, pelos gregos 1.000 a.C., mais tarde foi conquistada por Ciro, rei Persa, onde recebeu influência da cultura persa e foi reconquistada pelos gregos com Alexandre, o grande. Possuía um teatro para 25 mil pessoas, o que demonstra sua força cultural. Nela se destacavam iniciativas culturais como escolas filosóficas; escola de magos e muitas manifestações religiosas. No aspecto religioso havia um grande templo a deusa Ártemis ou Diana que movimentava o comércio da cidade e também guardavam o culto ao imperador romano.
É no meio deste contexto pluralista e relativista que a Igreja de Éfeso tentava sobreviver. Essa luta intensa da Igreja de Éfeso pela sobrevivência era assistida por Jesus, conforme lemos no texto de Apocalipse. Eu quero, com vocês, destacar algumas observações de Jesus a respeito dessa igreja.

Ap 2.2a - “Conheço as suas obras, o seu trabalho árduo e a sua perseverança”.
Essas palavras expressam que a Igreja de Éfeso era uma igreja que possuía uma orthopraxia inquestionável.
·      orthopraxia (ὀρθοπραξία) = "ação correta" à de orthos "certo ou reto", e práxis "prática ou ação".
Eles utilizavam de maneira correta suas redes sociais, alcançavam muitas vidas através do projeto Mateus, assistiam muitas famílias através do ministério social, sustentavam muitas obras missionárias, todos dizimavam fielmente. Seus membros eram profissionais que possuíam uma ética cristã firme, não se deixavam se corromper. Uma igreja que vivia os ensinamentos de Jesus, comprometidos com sua igreja local.
“Trabalho árduo” (kópon, no grego kopon que significa “labor até a exaustão”).
            Essa era uma igreja ativa, dinâmica, cheia de programações. Uma igreja relevante à sociedade de Éfeso por causa de suas ações, na tentativa de apresentar a verdade absoluta – SOMENTE CRISTO.

Ap 2.2b - “... Sei que você não pode tolerar homens maus, que pôs à prova os que dizem ser apóstolos, mas não são, e descobriu que eles eram impostores”.
            Percebemos nestas palavras que a Igreja de Éfeso também era orthodoxa.
·      Orthodoxa (όρθοδόξα) = opinião correta à de orthos "certo ou reto", e doxa[1] "opinião ou crença".
O conceito é usado para designar o apego ou à adesão para com certas crenças ou teorias.
Eles não toleravam pessoas más (pessoas com pensamentos diferentes, propósitos diferentes – possivelmente se refere aos nicolaítas) das verdades ensinadas pelos apóstolos. Eles sabiam que estas pessoas eram perigosas, pois poderiam desviar muitas pessoas da fé verdadeira. Estas pessoas, más, para referendarem sua autoridade se diziam apóstolos. Parece com o que vivemos hoje, não é verdade?
Penso que essa é a igreja dos sonhos de todos os pastores, uma igreja praticante das boas obras, comprometida com os trabalhos da igreja e zelosa com o ensino, que não se deixava levar por ensinos estranhos, que não ficava navegando em sites pastorais perigosos, que não permitiam ser poluídos pelas propostas da sociedade pluralista em que viviam.

Ap 2.3 - Você tem perseverado e suportado sofrimentos por causa do meu nome, e não tem desfalecido.
Uma igreja com essa característica, em meio a uma cultura pluralista e relativista, só poderia ser perseguida.
O sofrimento era experimentado das mais diversas formas:
·      No campo emocional – (eram motivos de zombarias, sofriam rejeições por conta de sua fé, etc.).
·      No campo familiar – (educar seus filhos nas verdades cristãs exigiam sacrifícios e perseverança).
·      No campo profissional - (não conseguiam fechar negócios, pois não aceitavam dar um jeitinho, não se corrompiam, não roubavam César nem a Deus).
·      No campo social - (ficavam proibidos de frequentarem os shoppings da cidade, os teatros, não eram convidados para as festas, não eram bem vistos pela sociedade de Éfeso).
·      No físico - (Quando João, autor deste livro, recebe estas revelações, o imperador Domiciano torturava e matava muitos cristãos).
Jesus os elogiou porque eles se mantiveram firmes na fé que abraçaram. Eles perseveraram na crença SOMENTE CRISTO. Estes crentes pareciam perfeitos; só que não!

Ap 2.4 - Contra você, porém, tenho isto: você abandonou o seu primeiro amor.
A igreja de Éfeso e seus membros nos advertem que podemos viver uma prática cristã correta e sermos zelosos com a teologia, com os ensinos das escrituras, mas Jesus Cristo não ser o verdadeiro alvo do nosso amor.
Corremos o risco com o tempo de amarmos mais a nossa fé do que o próprio Jesus; amamos nossas crenças sem termos uma fé relacional com Jesus. Corremos o risco de amarmos mais o que fazemos por Jesus do que o próprio Jesus. Corremos o risco de amarmos mais o “nome de Jesus” do que o próprio Jesus.
Podemos nos tornar como Marta – amarmos mais o servir do que ficar aos pés de Jesus; ou como o jovem rico – obedecermos todos os mandamentos, mas amarmos mais o que temos do que a Jesus.
Podemos orar, dizimar, participar dos cultos frequentemente, mas não termos mais amor em nossos corações por Jesus.
           
34Ao ouvirem dizer que Jesus havia deixado os saduceus sem resposta, os fariseus se reuniram.
35Um deles, perito na lei, o pôs à prova com esta pergunta:
36"Mestre, qual é o maior mandamento da Lei? "
37Respondeu Jesus: " ‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento’.
38Este é o primeiro e maior mandamento.
Mateus 22.34-38

Jesus citou para ao perito da lei Dt 6.4-5, e afirmou que esse é o PRIMEIRO e MAIOR mandamento: amar a Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento .
O que Deus realmente deseja de todos nós é que o amemos, somente O amemos.
Você realmente ama a Jesus? O que te move a estudar a Palavra é o amor a Jesus ou o amor pelo conhecimento? O que te move a fazer boas obras é o amor a Jesus ou o prazer de ver alguém feliz?
Somente Cristo é tornar Jesus o alvo único do seu amor.

Ap 2.5a - Lembre-se de onde caiu! Arrependa-se e pratique as obras que praticava no princípio.
As palavras “lembre-se de onde caiu e arrependa-se” estão indicando que devemos voltar onde caímos, onde deixamos de praticar as primeiras obras.
A palavra arrependimento (metanóia à meta = além de + nous = mente [além da mente]) significa mudança de mente, de atitude; isto quer dizer que precisamos voltar onde caímos e tomarmos uma nova postura, voltarmos a prática de nossas primeiras obras - a prática da oração, da devocional – da postura que tínhamos no início de nossa conversão, um coração aberto para aprender de Jesus, um coração sedento por Jesus e por sua Palavra. Metanóia neste contexto é mais que uma mudança de mente... é mudança na alma.

Ap 2.5b - Se não se arrepender, virei a você e tirarei o seu candelabro do seu lugar.
            O candelabro fala da missão, da Igreja, de ser luz para o mundo. O texto não está dizendo que você irá perder a salvação, mas que perderá o sentido de sua existência.
            Aquele que não se arrepende, que não coloca Jesus como o objeto maior e primeiro do seu amor, tudo o que faz não tem eco na eternidade, é vazio de significância, até mesmo aquilo que parece bom aos nossos olhos.

Ap 2.6 - Mas há uma coisa a seu favor: você odeia as práticas dos nicolaítas, como eu também as odeio.
            Este verso parece perdido do verso anterior, mas ele está totalmente preso a ideia da remoção do candelabro.
Quem são os nicolaítas? Os nicolaítas[2] combinaram filosofia grega, mitologia e elementos do judaísmo ao cristianismo. A bíblia nos ensina que Jesus nos libertou de toda lei na cruz. Isso é verdade! Entretanto os nicolaítas erravam ao afirmarem que, uma vez que Jesus os libertará de toda lei, eram livres para viverem da forma que desejassem, na prática da idolatria e da imoralidade, associando-se com as imundícias de uma sociedade pagã e corrupta, pois todo mal residia na carne e essa no entender deles não participaria da redenção.
Os nicolaítas recebiam este nome porque eram seguidores de Nicolau – segundo a tradição cristã – um dos sete homens escolhidos para a diaconia na Igreja de Jerusalém (At 6.3-5).
Nicolau era um homem cheio do Espírito Santo, décadas depois se desviou, pois o amor por Jesus se esfriou, possivelmente diante o desejo de viver uma espiritualidade “politicamente correta” aos seus dias, que lhe permitisse conviver em paz com a cultura pluralista e relativista de Éfeso, que lhe permitisse realizar bons negócios com os comerciantes de Éfeso e manter uma vida economicamente bem-sucedida. Nicolau possivelmente relativizou as verdades bíblicas e seu candelabro foi removido. Seu nome foi apagado da história, sua missão foi transferida a outro, assim como a igreja de Éfeso. A cidade foi destruída em 263 pelos godos, uma tribo germânica

Ap 2.7 - Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor darei o direito de comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus.
Como se encontra sua paixão por Jesus? Ele te conhece, sabe onde está seu coração. Somente Cristo hoje, é um convite para você restaurar sua vida. Se você tem amado mais o trabalho que faz por Jesus, do que o próprio Jesus; se tem amado mais sua família do que o próprio Jesus; se tem amado mais estudar Jesus do que se relacionar com ele; toma a decisão de voltar as primeiras obras... de colocar Jesus em primeiro lugar em sua vida.
A Reforma Protestante foi um movimento que levou a igreja a colocar sua fé e amor unicamente em Jesus. Hoje é a oportunidade para você dar inicio a uma reforma em sua vida, recolocando sua fé e amor unicamente em Jesus e dizer como os reformadores “SOMENTE CRISTO”.


Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira
10/10/2017




[1] A palavra doxa ganhou novo sentido nos séculos III a.e.C. e I a.e.C quando os “setenta” sábios em Alexandria traduziram as escrituras hebraicas para o grego. Nessa tradução das Escrituras, chamada Septuaginta, a palavra hebraica para glória (kabot) foi traduzida para o grego como doxa.

[2] Irineu e Tertuliano fazem citação de que o apóstolo Nicolau tornou-se líder de uma seita gnóstica antinomiana. Parece terem participado de festas idólatras, incorporando imoralidade e sensualidade em suas práticas (CHAMPLIN, Russel Norman. Novo Testamento Interpretado. Sociedade Religiosa A Voz Bíblica)

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