A
PALAVRA QUE SARA
Daí graças ao Senhor, porque Ele é
bom; porque a sua benignidade dura para sempre; pois ele satisfaz a alma
sedenta, e enche de bens a alma faminta. Tirou-os das trevas e da sombra da
morte, e quebrou-lhes as prisões. Enviou a sua palavra, e os sarou, e os livrou
da destruição. Quem é sábio observe essas coisas, e considere atentamente as
benignidades do Senhor." ( Sl 107. 1,9,14,20,43 )
Seja na área das ciências biológicas ou das
ciências humanas; seja na Teologia ou na Medicina, para bem conduzir o rumo das
coisas, torna-se necessária uma compreensão da natureza humana. É evidente que
a antropologia contemporânea reserva-se o direito de guardar traços??? das
culturas passadas. No entanto, como divergiam essas culturas! ... Sumérios, Caldeus,
Assírios e Babilônios, ou seja, os povos mesopotâmicos, viam a natureza humana
como algo essencialmente inferior. Marduque, seu deus principal, reinava sobre
pequenos deuses que podiam favorecer ou complicar miseravelmente a vida dos
pobres seres humanos. Havia um fatalismo nessas culturas mesopotâmicas que era
desumanizador a todas dominando.
Os gregos olhavam o ser humano com otimismo.
No portal do oráculo de Delfos, havia uma inscrição que dizia "Conhece-te
a ti mesmo", expressão que, na verdade, queria dizer o seguinte:
"Você é apenas um ser humano, um mero homem, nada mais que isso. Você
precisa se conhecer". Harold Ellens enfatiza que esse é excelente lembrete
para terapeutas, psicólogos, psiquiatras e médicos cristãos, para quem trabalha
com o ser humano na mente, no espírito ou no corpo de um modo geral, pois, se
enfrentarmos com honestidade e com o coração aberto nossas próprias realidades,
já estaremos no meio da jornada para lidar com ela construtiva e positivamente.
Mas uma coisa é ser simplesmente humano, como
queria o Oráculo de Delfos; outra é ser compassivamente humano. E o conceito
grego do ser humano evoluiu dessa ansiedade original e humilhante, para a
segurança do humanismo de Sócrates. Para os gregos, ser humano era, acima de tudo,
ser o palco de uma tremenda luta entre a mente e a carne, entre a psychê e a
sarx que deveria ser submetida ao domínio do espírito.
E os hebreus? Que disseram sobre isso? O
conceito do ser humano entre os hebreus é muito simples. Simples, porém majestosamente
monumental, porque tinham uma visão unitária da pessoa humana, quer dizer, não
há divisão do homem em corpo, alma e espírito. O ser humano é um todo; a visão
hebréia do ser humano é circular, sistêmica. O ser humano é cooperador de Deus
num mundo que é de Deus, razão porque não há separação entre o secular e o
sagrado. E, realmente, o sacerdote entre os hebreus era o homem de religião a
quem se recorria, até, em assuntos de saúde. Em Levítico, livro de regulamentos
rituais, culturais, civis e religiosos, encontramos : "Quando o homem
tiver na pele da sua carne inchação, ou pústula, ou mancha lustrosa, e esta se
tornar na sua pele como praga de lepra, então será levado a Arão, o sacerdote,
ou a um dos seus filhos, os sacerdotes"
(Lv 13.2 ) e daí em diante, vem toda uma
prescrição sobre esse assunto. Isso aconteceu há quase 4.000 anos.
Mas essas antropologias persistem hoje ainda
nas mentes de homens e mulheres da Medicina e da Teologia, e moldam a nossa
vida, e nossa visão do ser humano como paciente, ou aquele a quem ministramos
na igreja.
UM TOQUE HUMANO
A Bíblia Sagrada apresenta um conceito de "ser pessoa" iluminado e modificado pelo pensamento divino. Sem esse conceito, torna-se muito difícil cultivar o caráter relacional do ser humano. Diz Gênesis 1.26, 27 que o ser humano foi criado à imagem moral e semelhança espiritual do Ser Divino. E essa é a diferença estabelecida entre os peixes do mar, as aves do céu, os répteis, e os animais ditos inferiores. Por natureza, pertencemos a essa ordem, pois somos marcados pelos mesmos elementos naturais: sais minerais, proteínas, ácidos, elementos físicos e substâncias químicas, e, por isso, nos identificamos substancialmente com esses animais que devemos subjugar (segundo a ordem do Criador), e, mesmo, com o solo do qual, em sua linguagem metáforica e gráfica, fomos retirados. Uma filigrana lingüística é que, em hebraico, "ser humano", "humanidade" se diz adam; "barro, argila, solo" é adamah (forma feminina de adam), jogo de palavras que seria como se disséssemos "do humus foi o homem tirado".
A Bíblia Sagrada apresenta um conceito de "ser pessoa" iluminado e modificado pelo pensamento divino. Sem esse conceito, torna-se muito difícil cultivar o caráter relacional do ser humano. Diz Gênesis 1.26, 27 que o ser humano foi criado à imagem moral e semelhança espiritual do Ser Divino. E essa é a diferença estabelecida entre os peixes do mar, as aves do céu, os répteis, e os animais ditos inferiores. Por natureza, pertencemos a essa ordem, pois somos marcados pelos mesmos elementos naturais: sais minerais, proteínas, ácidos, elementos físicos e substâncias químicas, e, por isso, nos identificamos substancialmente com esses animais que devemos subjugar (segundo a ordem do Criador), e, mesmo, com o solo do qual, em sua linguagem metáforica e gráfica, fomos retirados. Uma filigrana lingüística é que, em hebraico, "ser humano", "humanidade" se diz adam; "barro, argila, solo" é adamah (forma feminina de adam), jogo de palavras que seria como se disséssemos "do humus foi o homem tirado".
Pois bem, esse ser humano feito à imagem de
Deus (o apóstolo Paulo diz que "poemas de Deus somos nós", Ef 2. 10),
tem uma vocação que determina o seu caráter, e uma posição diante do Criador: é
administrador, gerente, fiel depositário do patrimônio divino na Terra (Sl
24.1; Gn 1. 26, 28; 2.15). É sua vocação, é nossa vocação!
Esse ser humano, que a Escritura chama adam,
foi criado macho e fêmea, varão e varoa, homem e mulher com suas
peculiaridades, e particularidades, e idiossincrasias, e funções próprias,
diferenças próprias, das quais dá conta e busca resolver os problemas a própria
Medicina em suas especialidades
Há diferenças na ordem natural entre o homem
e a mulher: a sexualidade, e é por isso que logo depois da Escritura Sagrada
dizer que Deus criou o adam (o ser humano, a humanidade), diz que essa
humanidade foi criada de duas maneiras: ish e ishah. E esse ish e essa ishah,
esse homem e essa mulher são atraídos um pelo outro pelo amor hormonal,
visceral, biológico que os gregos chamam de eros. Boa palavra para designar a
atração sexual, e que só pode ser de um homem por uma mulher, ou de uma mulher
por um homem; nunca (e a Bíblia a isso chama de "perversão") de um
homem por um homem, de uma mulher por outra mulher, de adulto por criança, ou
de um ser humano por um animal.
Por outro lado, esses dois seres (ish e
ishah) têm outra qualidade que é a complementariedade. São diferentes em
sexualidade, em funcionalidade, não em competição, mas complementam-se o homem
e a mulher, o ish e a ishah da história bíblica para que, unindo-se os dois,
forme-se o adam, e o ser humano físico, emocional e espiritual seja
restabelecido.
Apesar de diferentes, são iguais em ordem
natural e destino sobrenatural, têm idêntica vocação e idêntica satisfação:
complementam-se tanto que homem e mulher se procuram e aceitam-se como a parte
que falta no outro.
O ser humano não é, como quer o pensamento
materialista, apenas matéria em movimento. Ou como disse Emerson, "um ser
em ruínas", ou Jonathan Swift, autor das Aventuras de Gulliver, "o
homem é a espécie de verme mais perniciosa e degradante que a natureza jamais
permitiu que rastejasse na face da terra", ou, ainda, Martin Heidegger, o
filósofo alemão: "um-ser-para-a-morte, cuja marcha final é o Nada, onde
não se reconhece Deus, onde não se reconhece descanso, nem salvação. Nada.
Nada".
Rollo May salienta que as características do
homem moderno são o senso de vazio, tremendo vazio dentro de si; a solidão,
imensa solidão tão escura quanto a noite; e essa ansiedade que machuca, corrói
as entranhas do coração. E não é revelador que a Bíblia tem para cada uma
destas características respostas diretas? Diretas e eternas? Por exemplo: para
o sentimento de vazio do ser humano, encontramos nas Sagradas Letras esta
palavra de São Paulo que diz "Nele [ em Cristo] habita corporalmente toda
a plenitude da divindade, e tendes a vossa plenitude nele, que é a cabeça de
todo principado e potestade" (Cl 2.9,10; cf. Jo 1.16; Ef 3.17-19).
Encontramos, ainda, na Escritura que, com respeito ao problema tão sério da
solidão, a Bíblia diz: "Deus faz que o solitário viva em família" (Sl
68. 6a). E no que toca à ansiedade, quem toma a palavra é São Pedro ao dizer
"Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo
vos exalte; lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado
de vós" (1Pe 5. 6,7; cf. Sl 37.5;
55.22; Mt 6.25, 26).
O CUIDADO
Durante muito tempo, o cuidado de pessoas ansiosas e desesperadas era considerado responsabilidade dos homens da religião. E, na verdade, uma "abordagem clínica" em países do Primeiro Mundo inclui a presença de um capelão preparado, não só em Psicologia Pastoral , mas, também, com estágio supervisionado em hospitais, clínicas e casas de saúde. E a idéia básica é a restauração do bem-estar físico pelo médico, e da plenitude do ser pela reconstrução psicoterapêutica da personalidade. Isso quer dizer que médicos e pastores são agentes da esperança. O pastor precisa ter uma visão clínica daquele que sofre ou convalesce; mas o médico precisa ter uma visão pastoral do seu paciente. Quantos problemas de ordem psicossomática em vez de um placebo, poderiam ter recebido o cuidado pastoral, a atenção espiritual, o aconselhamento, a confissão e o perdão! E é nessa linha que Tiago vai escrever: "Está aflito alguém entre nós? Ore... Está doente algum do vós? Chame os anciões [os pastores] da igreja, e estes orem sobre ele, ungindo-o com óleo [era um tratamento, uma terapia da época] em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados". E ele continua "Confessai, portanto os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados" (Tg 5.13a, 14-16). Vejam se não há aqui todo um somatismo de problemas interiores, mentais, emocionais, jogados para fora do corpo! Sem dúvida, como já foi dito, a Medicina estava ligada ao sacerdócio:
Durante muito tempo, o cuidado de pessoas ansiosas e desesperadas era considerado responsabilidade dos homens da religião. E, na verdade, uma "abordagem clínica" em países do Primeiro Mundo inclui a presença de um capelão preparado, não só em Psicologia Pastoral , mas, também, com estágio supervisionado em hospitais, clínicas e casas de saúde. E a idéia básica é a restauração do bem-estar físico pelo médico, e da plenitude do ser pela reconstrução psicoterapêutica da personalidade. Isso quer dizer que médicos e pastores são agentes da esperança. O pastor precisa ter uma visão clínica daquele que sofre ou convalesce; mas o médico precisa ter uma visão pastoral do seu paciente. Quantos problemas de ordem psicossomática em vez de um placebo, poderiam ter recebido o cuidado pastoral, a atenção espiritual, o aconselhamento, a confissão e o perdão! E é nessa linha que Tiago vai escrever: "Está aflito alguém entre nós? Ore... Está doente algum do vós? Chame os anciões [os pastores] da igreja, e estes orem sobre ele, ungindo-o com óleo [era um tratamento, uma terapia da época] em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados". E ele continua "Confessai, portanto os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados" (Tg 5.13a, 14-16). Vejam se não há aqui todo um somatismo de problemas interiores, mentais, emocionais, jogados para fora do corpo! Sem dúvida, como já foi dito, a Medicina estava ligada ao sacerdócio:
" Quando um homem tiver na pele da sua
carne inchação, ou pústula, ou mancha lustrosa, e esta se tornar na sua pele
como praga de lepra, então será levado a Arão o sacerdote, ou a um de seus
filhos, os sacerdotes, e o sacerdote examinará a praga na pele da carne. Se o
pelo na praga se tiver tornado branco, e a praga parecer mais profunda que a
pele, é praga de lepra; o sacerdote, verificando isto, o declarará imundo. Mas,
se a mancha lustrosa na sua pele for branca, e não parecer mais profunda que a
pele, e o pelo não se tiver tornado branco, o sacerdote encerrará por sete dias
aquele que tem a praga. Ao sétimo dia o sacerdote o examinará; se a praga, na
sua opinião, tiver parado e não se tiver estendido na pele, o sacerdote o
encerrará por outros sete dias. Ao sétimo dia o sacerdote o examinará outra
vez: se a praga tiver escurecido, não se estendido na pele, o sacerdote o
declarará limpo; é uma pústula. O homem lavará as suas vestes, e será
limpo" (Lv 13.2-6; cf. Lv 12.6,7)
. E até mesmo a genética era regulada pelos
sacerdotes. Vejam que curiosidade da Palavra de Deus, isso há quanto tempo
antes de Cristo foi escrito?!
"Nenhum de vós se chegará àquela que lhe
é próxima por sangue, para descobrir a sua nudez. Eu sou o Senhor. A nudez de
tua irmã por parte de pai ou por parte de mãe, quer nascida em casa ou fora de
casa, não a descobrirás. Nem tampouco descobrirás a nudez da filha de teu
filho, ou da filha de tua filha; porque é tua nudez. A nudez da filha da mulher
de teu pai, gerada de teu pai, a qual é tua irmã, não a descobrirás. Não
descobrirás a nudez da irmã de teu pai; ela é parenta chegada de teu pai. Não
descobrirás a nudez da irmã de tua mãe, pois ela é parenta chegada de tua
mãe" (Lv 18.6, 9, 10-13).
"Descobrir a nudez" é um eufemismo
semitico para designar relações sexuais. Toda essa regulação visava a evitar
problemas na geração de filhos. Sim, e havia, até, normas especiais (numa era
précientifica?!) Para prevenção de doenças infecto-contagiosas conforme podemos
ler no livro de Números, capítulo 5. É impressionante que quase há 4.000 anos o
hebreu no deserto, na caminhada do Egito para Canaã, fosse instruído na Palavra
de Deus a fazer uma coisa que parece medicina sanitária dos dias de hoje?!
"Entre os teus utensílios terás uma pá [e aqui a explicação: todo hebreu,
homem ou mulher tinha que ter uma pequena pá consigo] e quando te assentares lá
fora [fora do acampamento num lugar reservado, cf. Dt 23.12], então com ela
cavarás e, virando-te, cobrirás o teu excremento" (Dt 23. 12, 13; cf. Nm
5.2, 3; 19.11, 16). Isso é medicina sanitária há 4.000 anos?!
O tema do sofrimento ou da enfermidade é sempre
abordado com receio, com escrúpulos ou com respeito. Mas são problemas tocados
de perto seja por quem lida com a enfermidade mental, ou com a espiritual. O
homem é um todo: o corpo influi no espírito, o espírito influi no corpo. Daí
essas enfermidades psicossomáticas a que nos referimos.
Mas a doença é uma revelação. Revelação de
nossa finitude, de nossa fragilidade, de nossa condição de ser vivo. É
revelação de um mistério que abrigamos dentro de nós: o mistério da dor. Há
aliás, na Bíblia, todo um livro sobre a dor física e existencial de um homem,
que é o Livro de Jó. E é desse livro e desse homem que tiramos estas
expressões:
"Por que não morri ao nascer? Por que
não expirei ao vir à luz? Por que me receberam os joelhos? E por que os seios,
para que eu mamasse? Pois agora estaria deitado e quieto: teria dormido e
estaria em repouso, ou, como aborto oculto, eu não teria existido, como as
crianças que nunca viram a luz. Não tenho repouso, nem sossego, nem descanso;
mas vem a perturbação" (Jó 3.11-13, 16, 26),
porque Jó estava falando dessa dor tão grande
que sentia no seu corpo. Há uma descrição da sua enfermidade que diz:
"Os meus parentes se afastam, e os meus
conhecidos se esquecem de mim. Os meus domésticos e as minhas servas me têm por
estranho; vim a ser um estrangeiro aos seus olhos. Chamo ao meu criado, e ele
não me responde; tenho que suplicar-lhe com a minha boca. O meu hálito é
intolerável à minha mulher; sou repugnante aos filhos de minha mãe. Até os
pequeninos me desprezam; quando me levanto, falam contra mim. Todos os meus
amigos íntimos me abominan, e até os que eu amava se tornaram contra mim. Os
meus ossos se apegam à minha pele e à minha carne, e só escapei com a pele dos
meus dentes" (Jó 19.14-20).
Mas é, também, um livro sobre a fé, porque no
final, depois de falar de sofrimento, ele fala de fé, e diz: "Com os
ouvidos eu ouvira falar de ti; mas agora te vêem os meus olhos" (Jó 42.5).
Essa é a razão porque, junto ao que sofre, temos que pensar no Cristo
crucificado, no Cristo do Calvário, no Cristo de Quem foi dito setecentos anos
antes que viesse ao mundo:
"Era desprezado, e rejeitado dos homens;
homem de dores, e experimentado nos sofrimentos; e como um de quem os homens
escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum.
Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou com as
nossas dores; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas
ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das
nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas
pisaduras fomos sarados" (Is 53.3-5).
SHALOM = SAÚDE TOTAL
O problema é olhar o paciente, e vê-lo só como um corpo doente, um corpo sofrido, e não lembrar o seu espírito talvez mais doente que o seu corpo. É evidente que o paciente não é um eletrodoméstico que vai à oficina de reparos, não é um objeto. É uma pessoa que, atingida por uma disfunção do corpo ou da mente, muda seu comportamento, e, até mesmo, sua vida de si própria, de seu presente ou de seu futuro. Ele se desequilibra, ele se atormenta, tem sérias crises de comunicação consigo próprio, com o mundo que o cerca, porque ele não tem liberdade, está fora do lar. Tem conflitos de comunicação com a família, com as práticas religiosas, com Deus, até.
O problema é olhar o paciente, e vê-lo só como um corpo doente, um corpo sofrido, e não lembrar o seu espírito talvez mais doente que o seu corpo. É evidente que o paciente não é um eletrodoméstico que vai à oficina de reparos, não é um objeto. É uma pessoa que, atingida por uma disfunção do corpo ou da mente, muda seu comportamento, e, até mesmo, sua vida de si própria, de seu presente ou de seu futuro. Ele se desequilibra, ele se atormenta, tem sérias crises de comunicação consigo próprio, com o mundo que o cerca, porque ele não tem liberdade, está fora do lar. Tem conflitos de comunicação com a família, com as práticas religiosas, com Deus, até.
Na verdade, o que buscamos para o enfermo,
para o hospitalizado, é aquilo que os profetas do povo de Israel apregoavam: o
shalom, a paz integral, a integridade, a inteireza, a plenitude, a restauração,
o bem-estar total. Platão, nos seus Diálogos deixou claro:
"Assim como você não deveria tentar
curar... a cabeça sem o corpo, da mesma forma não deveria tentar curar o corpo
sem curar a alma... porque uma parte nunca pode estar bem a menos que o todo
esteja bem... Por isso, se quiser que a cabeça e o corpo estejam bem, você deve
começar cuidando a alma."
E nessa linha, Carl Jung, Erich Fromm, Viktor
Frankl, Rollo May, e outros tantos sustentam que problemas religiosos devem ser
vistos como sintomas de problemas psicológicos mais profundos. Há problemas
psicológicos enraizados na patologia espiritual. O Pastor Dr. Wayne Oates,
professor de Psicologia Pastoral no Seminário Batista de Louisville, nos EUA,
escreveu, entre as mais de quarenta obras que assinou, uma muito interessante
intitulada, Quando a Religião Fica Doente (When Religions Gets Sick), onde
aborda essas manifestações patológicas, enfermiças de expressão religiosa.
Talvez possamos, até, em certos casos parodiar e dizer "Quando o Doente
Fica Religioso", tão doente que agora se apega aos céus, produto dessa
ansiedade incontida, e maior que o espírito, o coração e a fé de quem a
manifesta. Mas a única maneira construtiva de lidar com essa ansiedade
existencial é uma vida religiosa autêntica que torne possível a imagem de Deus
dentro da pessoa.
O renovado interesse pela saúde e cura totais
por parte das igrejas evangélicas tem raízes na herança bíblica. Porque Jesus é
chamado "O Grande Médico", porque Jesus é chamado "Médico dos
médicos" desde os primeiros dias da era cristã. E o pastor é um profissional
da escuta, é o profissional do ouvido-amigo, o conselheiro. Por essa razão,
temos que ver alguns princípios para a saúde total, a saúde do corpo e do
espírito:
Saúde é mais que a ausência de doença: é a
presença de "bem-estar de alto nível". É o shalom bíblico, a
integridade da pessoa humana. E bem-estar de alto nível é inteireza, é
plenitude em várias dimensões que são interdependentes da pessoa: a dimensão
física, a dimensão psicológica, a dimensão interpessoal, a dimensão ambiental,
a dimensão institucional e a dimensão espiritual. "Deus criou o corpo
humano com capacidade para se recuperar de uma doença: é um processo lento,
natural, que obedece ao plano de Deus". Deus está nesse processo efetuando
a cura: pastores não fazem milagres. Mas Deus em sua soberania faz milagres
através da força total interior de cada indivíduo, força física e não-física.
Enquanto o médico examina, diagnostica, e prescreve o tratamento, o pastor tem
a responsabilidade de liberar essas energias para ajudar o paciente a se recuperar.
O médico facilita a recuperação dando ajuda ao corpo do paciente, mas o pastor
a facilita ajudando esse paciente a dispor dos poderes do espírito. Daí a
energia total no processo da recuperação.
A PALAVRA QUE SARA
Não é fácil, não pode ser fácil estar enfermo, porque isso significa grandes perdas. O paciente perde espaço: seu mundo se reduz a um quarto; sua mobilidade é exígua, ao máximo vai ao corredor, e quantas vezes com toda uma parafernália de tubos e drenos. Ele perde o controle sobre os que invadem seu espaço. Perde o controle do tempo. Perde o controle do próprio corpo. Perde o contato com outras pessoas, e tem, por essa razão, crises de solidão, crises de isolamento, e de desamparo. E esse é o motivo porque as igrejas buscam ministrar, servir, atender espiritualmente a esses solitários, isolados e desamparados. É o que o Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC) chama de "Vocação Terapêutica da Igreja." Ministrar e servir ao enfermo, e à família do enfermo, e dizer-lhe que "Deus é o nosso refúgio e fortaleza, e socorro bem presente na angústia; aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus" (Sl 46. 10a) e também "O Senhor o sustentará no leito da enfermidade; tu lhe amaciarás a cama na sua doença" ( Sl 41.3; cf. Sl 3.5; 4.8).
Não é fácil, não pode ser fácil estar enfermo, porque isso significa grandes perdas. O paciente perde espaço: seu mundo se reduz a um quarto; sua mobilidade é exígua, ao máximo vai ao corredor, e quantas vezes com toda uma parafernália de tubos e drenos. Ele perde o controle sobre os que invadem seu espaço. Perde o controle do tempo. Perde o controle do próprio corpo. Perde o contato com outras pessoas, e tem, por essa razão, crises de solidão, crises de isolamento, e de desamparo. E esse é o motivo porque as igrejas buscam ministrar, servir, atender espiritualmente a esses solitários, isolados e desamparados. É o que o Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC) chama de "Vocação Terapêutica da Igreja." Ministrar e servir ao enfermo, e à família do enfermo, e dizer-lhe que "Deus é o nosso refúgio e fortaleza, e socorro bem presente na angústia; aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus" (Sl 46. 10a) e também "O Senhor o sustentará no leito da enfermidade; tu lhe amaciarás a cama na sua doença" ( Sl 41.3; cf. Sl 3.5; 4.8).
O Dr. Flamínio Fávero, professor emérito da
Faculdade de medicina da USP, e evangélico, em seu trabalho Humanização da
Medicina, publicado na obra coletiva A Palavra que Sara que dá o título a este
trabalho, lembra que a Medicina visa ao homem, lembra que o médico é objeto de
amor e de ódio, e cita uma trova vinda da Escola Médica de Salerno, na Itália:
É julgado anjo, demo ou suprema divindade!
Anjo, se acode, logo que é chamado
E forte, enfrenta a dura enfermidade!
Se o doente melhora, tão amado
Não é o próprio Deus na Eternidade!
Mas, quando a conta manda do trabalho,
Nem mesmo Satanás é tão bandalho."
E ensina que "a verdadeira medicina não tem pátria, não tem inimigos, não tem prevenções raciais, religiosas e outras que sejam, porque ela deve ser, como o evangelho, manifestação e reflexo da sua fonte de origem: Deus.
Sim; há algo no ser humano que a biologia e a
química não podem explicar. Talvez, por isso, São Paulo diz que "somos
poemas de Deus" , e Davi exclama, "pouco abaixo de Deus fizeste [o
ser humano], de glória e de honra o coroaste" . Tem, no entanto, o ser
humano a tendência de viver em níveis baixos e degradados. Mas algo traz à sua
mente que não foi criado para o lixo, mas para as estrelas, para os céus, para
o infinito. E daí caminhamos para a Suprema Terapia, a Grande Cura que é a
ressurreição final dos corpos, a Gloriosa Restauração dos corpos, sem que haja
mais sofrimento, pavor ou gemido, ou, na linguagem da Bíblia: "Ele
enxugará de seus olhos toda lágrima; e não haverá mais morte, nem haverá mais
pranto, nem lamento, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas"
(Ap 21.4).
INTERCESSÕES
Huub Oosterhuis
Por todos os que são crucificados,
Como teu Filho
Por todos os homens abandonados,
Nós te rogamos.
Por todos os que não podem mais
Suportar a situação em que se acham,
Por todos os que vivem no sofrimento,
Não percebendo o seu sentido, nem seu fim,
Nós te rogamos, Senhor.
Por todos os que se revoltam,
Que não sabem mais irradiar, nem agir.
Por todos os implacáveis e rancorosos,
Os arrogantes e os cínicos;
Torna-os, Senhor, mais indulgentes,
Abre de novo seus olhos
Para a bondade possível entre os homens,
Para que vejam tua criação
E o futuro que lhes reservas.
Por todos os que são acusados,
Que vivem oprimidos pela perseguição e calúnia.
Por todos os que, por sua dureza
Para com os outros,
Perderam a confiança em si mesmos.
Por todos os que não encontram compreensão,
Nem uma palavra sequer de lenitivo,
Que não encontram alguém que os queira aceitar.
Por todos os que são inibidos ou ansiosos,
Por todos os angustiados e tensos,
Por todos os que são vítimas
De chantagem ou corrupção,
Por todos os que são obrigados
A viver na injustiça,
Presos nas engrenagens de um sistema inumano,
Sem dele poderem sair,
Nós te rogamos, Senhor.
Por todos os que mergulham no desânimo,
Vendo o mal espalhado no mundo.
Por todos os otimistas,
Por todos os corajosos
E por todos que sabem ser amigos,
Para que permaneçam firmes na hora da provação
E que seu apoio nunca nos falte.
Oremos por todos aqueles
Que não tem beleza nem encanto,
Atraindo os olhares.
Por todos os que não são semelhantes aos outros,
Os mongolóides e excepcionais,
Os instáveis e mutilados,
Os doentes incuráveis.
Pedimos, Senhor, que nos ajude a descobrir
O sentido da sua presença neste mundo.
AUTOR DESCONHECIDO
(Não nos responsabilizamos pelo conteúdo teológico deste material)
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