A persuasão e o evangelho
Na ocasião quando o apóstolo Paulo apresentou o evangelho de Cristo
ao Rei Herodes Agripa II, a memorável resposta de Agripa foi: “Por pouco
me persuades a me fazer cristão” (Atos 26:28). É difícil saber com
certeza se o rei era sincero ao fazer esta declaração. Ele pode ter sido
sarcástico.
Em
ambos os casos, sua observação sobre quase ser persuadido a se tornar um
cristão sugere algumas linhas de pensamento interessantes.
Para
começar, ser um cristão exige tornar-se conscientemente um deles. Ninguém
jamais, inconscientemente (ou mesmo subconscientemente) sofreu a transformação
envolvida em se tornar um cristão, de tal modo que ele acordasse um dia para a
percepção de que tinha evoluído, por bem ou por mal, num discípulo de Cristo.
Ao contrário, toda pessoa que jamais se tornou um cristão decidiu ser tal
coisa; ele fez algumas coisas definidas que são exigidas. O evangelho é uma
mensagem que precisa ser obedecida (Atos 6:7; 2 Tessalonicenses 1:8; Hebreus
5:9; 1 Pedro 4:17, etc).
Em
alguns círculos tem-se a impressão de que se pensa que se tornar um cristão é,
principalmente, se não totalmente, uma experiência emocional. A verdade é,
contudo, que se tornar um cristão resulta de uma conversão do intelecto e da
vontade, tão bem como das emoções. Para a mudança da posição de não ser cristão
para a posição de ser um deles, precisa-se aprender verdades particulares e
exercitar sua vocação para responder a essas verdades de modos que são
especificados no próprio evangelho (Marcos 16:16; Atos 3:19; Romanos 10:9-10).
Ninguém jamais se tornou cristão sem um ato de vontade.
“Persuasão” é o movimento da vontade por razões
irresistíveis dadas. E desde que se tornar um cristão envolve um ato de
vontade, não pode haver real conversão a Cristo sem esta coisa chamada
“persuasão”. A uma pessoa devem ser dadas razões suficientes para fazer as
coisas que têm que ser feitas, ou então ela não fará o que deve para obedecer
ao evangelho. Evidentemente, Agripa supunha que Paulo tinha dado razões “quase”
suficientes para mover sua vontade a obedecer a Cristo. Aqueles que também
escolheram tornar-se cristãos diriam que Agripa subestimou o peso das razões
que lhe foram dadas. De qualquer modo, parece que Agripa entendeu, até certo ponto,
que se tornar um cristão exige ser persuadido a agir nessa direção.
As
Escrituras enfatizam consistentemente que tanto crença no evangelho como
obediência a ele brotam da evidência que o evangelho é verdadeiro. João disse, “Estes,
porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de
Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (João 20:31). E
Paulo escreveu que para ser salvo é necessário chegar ao “pleno
conhecimento da verdade” (1 Timóteo 2:4; veja 2 Timóteo 2:25). Não se
obedece ao evangelho a menos que se tenha sido persuadido que ele é verdadeiro
e persuadido a agir na base de sua crença. Convicções sobre o evangelho e a
conduta que se origina destas convicções são sempre resultado de persuasão
(Romanos 10:14-17).
É
admirável, quando se pensa nisso, que Deus tenha escolhido depender de
persuasão, em vez de correção, para trazer homens e mulheres de volta a si. Ele
se revela a nós através do meio da linguagem, palavras que podem ser entendidas
e trabalhadas (Efésios 3:3-4). E Paulo falou com gratidão pela vontade de
alguns de serem mudados pelo evangelho: “Outra razão ainda temos nós
para, incessantemente, dar graças a Deus: é que, tendo vós recebido a palavra
que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como palavra de homens, e
sim, como, em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está operando
eficazmente em vós, os que credes” (1 Tessalonicenses 2:13).
Os
apóstolos de Cristo não eram apenas comunicadores e persuasores; eles eram
comunicadores com a autoridade das palavras pelas quais Deus busca persuadir a
humanidade. Paulo escreveu: “Ora, tudo provém de Deus que nos reconciliou
consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, a
saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando
aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação”
(2 Coríntios 5:18-19).
Através
das palavras dos apóstolos, então, o propósito de Deus é persuadir-nos a
aceitar a reconciliação com ele, através de Jesus Cristo. Falando de si mesmo e
dos seus companheiros apóstolos, Paulo disse: “De sorte que somos
embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em
nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus” (2
Coríntios 5:20). Deus nos dá razões para escolher aceitar reconciliação no
evangelho de seu filho. Mas tome boa nota: o céu será povoado pelos
inteiramente, e não pelos quase persuadidos!
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