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terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

SERMÕES 61 - SANTIDADE COMO ENCONTRO COM O OUTRO


SANTIDADE COMO ENCONTRO COM O OUTRO

A teologia nos apresenta dois tipos de santidade:

1 – SANTIDADE POSICIONAL (santidade como posição)
O povo de Deus é santo. A igreja é santa, porque Deus a santificou em Cristo Jesus. Essa é uma posição em que todo aquele que crê em Jesus está. Nessa santidade não temos parte alguma no processo. Fomos revestidos por essa santidade sem que a merecêssemos, sem que nada fizéssemos para tê-la.
11 Assim foram alguns de vocês. Mas vocês foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus. (1 Coríntios 6.11)
A santidade posicional trata daquilo que somos EM Cristo e como nos encontramos EM Cristo.


2 – SANTIDADE CONDICIONAL (santidade como condição)
Trata-se da qualidade de vida. Não estamos falando de um status relacional, mas de um viver ético e moral que precisa ser vivido por todos aqueles que tiveram um encontro com Cristo. Todo aquele que nasceu de novo, não pode mais viver na velha vida. 
Aquele que foi recebido como filho do Deus Vivo precisa viver como filho de Deus. Viver como filho de Deus deve ser uma resposta natural dada diante o encontro com o amor de Deus. Nessa santidade existe um engajamento de nossa parte. Devemos viver na condição de filhos de Deus, na condição de refletirmos a imagem de Cristo e a santidade do Pai.
O apóstolo Paulo ensina essa verdade em sua segunda epistola aos Coríntios.
1 Amados, visto que temos essas promessas, purifiquemo-nos de tudo o que contamina o corpo e o espírito, aperfeiçoando (ἐpitelšw) a santidade no temor de Deus. (2 Coríntios 7.1)
O termo aperfeiçoando (ἐpitelšw, epiteleō à epi = intenso; teleō = completar) nos aponta que a santidade precisa ser vivida com intenso desejo de completá-la. Isso nos diz que ela já foi realizada em nós, mas ainda temos a necessidade de continuarmos vivendo-a intensamente.
O autor de Hebreus também nos ensina essa mesma verdade.
14 Esforcem-se (diōkete) para viver em paz com todos e para serem santos; sem santidade ninguém verá o Senhor. (Hebreus 12.14)
diōkete, diokete à seguir, perseguir (presente ativo imperativo). O que o autor de Hebreu está dizendo é que devemos perseguir a paz com toda nossa energia, da mesma forma devemos buscar a santidade, com toda energia.
A santidade condicional trata do modo que devemos viver hoje como filhos de Deus em meio à corrupção da humanidade. Ela trata do modo como me relaciono com o outro.
Quando olho para a Bíblia de capa a capa vejo que o projeto de Deus é fazer de todos os homens e mulheres um só povo, é fazer com que todos os seres humanos se encontrem em Cristo e por meio de Cristo possam viver uma comunidade de amor, e é neste sentido que Deus nos chama a vivermos a santidade. Portanto podemos dizer que:

3 – SANTIDADE É UM ENCONTRO COM O OUTRO
14 Esforcem-se para viver em paz com todos e para serem santos; sem santidade ninguém verá o Senhor. 15 Cuidem que ninguém se exclua da graça de Deus. Que nenhuma raiz de amargura brote e cause perturbação, contaminando a muitos. 16 Não haja nenhum imoral ou profano, como Esaú, que por uma única refeição vendeu os seus direitos de herança como filho mais velho. 17 Como vocês sabem, posteriormente, quando quis herdar a bênção, foi rejeitado; e não teve como alterar a sua decisão, embora buscasse a bênção com lágrimas. (Hebreus 12.14-17)
Essas palavras do autor de Hebreus nos apresenta um mistério glorioso. A santidade promove o encontro entre nós seres humanos e também um encontro com Deus.
O autor de Hebreus nos chama para um esforço diligente em busca da paz e da santidade. A paz e a santidade são colocadas como dois lados da mesma moeda. Para que haja paz entre nós é preciso haver santidade no viver. Se nos esforçamos para viver em paz entre nós promoveremos a santidade como consequência desse viver.
A santidade não está relacionada com o isolamento, pelo contrário a santidade divina só pode ser vivida e experimentada nas relações humanas.
Preste atenção na construção dos versos deste texto que lemos:
14 Esforcem-se para viver em paz com todos e para serem santos – o texto está tratando de relações humanas. O texto nos chama para vivermos em paz e em santidade uns com os outros.
15 Cuidem que ninguém se exclua da graça de Deus – o texto está tratando de relações humanas. O texto nos convoca a supervisionarmos uns aos outros a fim de não permitirmos que ninguém venha se excluir ou se afastar da graça de Deus.
16 Não haja nenhum imoral (pornôs) ou profano (bebēlos)o texto mais uma vez trata de relacionamentos humanos. Ele está se referindo a forma como podemos viver com o outro. O nosso proceder para com o outro pode ser imoral e profano.

3.1 – Existe uma ação progressiva para o encontro com o outro
O texto está em uma ação progressiva para que haja um outramento, isto é, um encontro com o outro, um encontro que me torne um com o outro.
14 Esforcem-se para viver em paz com todos e para serem santos; sem santidade ninguém verá o Senhor. (Hebreus 12.14)
A primeira ação para que haja um outramento, um encontro do meu “eu” com o “outro” se inicia a partir de um esforço meu. Eu preciso ir em direção ao outro – “esforcem-se”. Se eu não me esforçar para viver em paz com todos em uma relação santa, o resultado é que não verei a Deus.
Deus se encontra dentro de nossas relações santas. Deus se faz presente por meio do outro. Deus se revela por meio do corpo de Cristo, da unidade experimentada por este corpo.
Se você não se misturar nessa vida santa, com os santos, você não verá a santidade de Deus. É preciso mergulhar EM Cristo e viver a comunhão promovida pelo Espírito Santo de Deus.
Sou chamado a me esforçar nessa direção, a fazer de tudo para promover a paz entre mim e o outro; e promovo a paz quando busco viver em santidade, quando me direciono ao outro a partir dos princípios e valores de Deus.
15 Cuidem (επισκοποῦντες) que ninguém se exclua da graça de Deus. Que nenhuma raiz de amargura brote e cause perturbação, contaminando a muitos. (Hebreus 12.15)
A segunda ação para que haja um outramento, um encontro do meu “eu” com o “outro” é uma ação de cuidado. Somos chamados a cuidarmos uns dos outros. A vivermos de forma que ninguém se sinta ferido a ponto de deixar a comunhão.
A palavra cuidado é episkopountes (επισκοποῦντες) de “episcopal” ou “bispo” que significa supervisionar. Não estamos falando de um cuidado com o fim de acusar, de humilhar, de apontar o dedo na ferida, mas de um cuidado pastoral, de um cuidado visando que o outro não se afaste da graça de Deus, é de um viver atento para não promover a saída de um irmão da comunhão dos irmãos. É um cuidado com nosso falar, proceder, com o fim de não ferir, não causar raiz de amargura, não promover perturbação na igreja e dessa forma ferir a muitos.
Se por alguma razão pessoas entre nós estão afastadas da comunhão por sua causa, por um desentendimento, por uma palavra áspera, por qualquer que for o motivo, busque essa pessoa, peça perdão, busque a reconciliação com ela, pois a santidade é experimentada no encontro com o outro. Santidade é vivenciada na comunhão, por isso se esforce faça tudo que depender de você para que haja paz, vá em direção essa pessoa. Se você está aqui hoje e anda se distanciando dos irmãos por alguma razão, perdoe e busque se acertar com seu irmão, pois você é chamado para viver a santidade em comunhão com o outro. Não deixem que a raiz de amargura tome conta de seu coração. Dessa forma você não verá a santidade de Deus. Você não conseguirá ver a beleza de Cristo existente na vida da sua comunidade, não enxergará a glória de Deus através da vida de seu irmão, não contemplará a pureza de Cristo manifesta num ato de bondade do outro que está ao seu lado.
16 Não haja nenhum imoral ou profano, como Esaú, que por uma única refeição vendeu os seus direitos de herança como filho mais velho. 17 Como vocês sabem, posteriormente, quando quis herdar a bênção, foi rejeitado; e não teve como alterar a sua decisão, embora buscasse a bênção com lágrimas. (Hebreus 12.16-17)
A terceira ação não fira o corpo de Cristo, não pratique atos imorais ou profanos contra os membros de Cristo. Não abra mão do prazer de viver uma relação saudável com Cristo através do outro, através do seu irmão, da sua irmã por um prato de lentilha, por um momento de prazer passageiro.
Não faça como Esaú que não deu o valor devido à bênção de ser o primogênito. Não despreze sua relação com Deus e com seu próximo por causa de sexo, dinheiro, status, um reconhecimento do seu amigo, do agrado ao seu chefe; pois a confiança da sua esposa, do seu marido talvez nunca mais seja conquistada. A confiança de seu filho talvez não seja mais conquistada. A confiança de seu patrão talvez não seja mais conquistada.
Esaú viveu a vida carregando a culpa de um dia ter trocado a bênção da primogenitura por um prato de lentilhas. Esaú se arrependeu diz o texto, mas não pode mais reconquistar a bênção, pois já tinha sido dada a Jacó, seu irmão.
Não viva na imoralidade, não profane a santidade que Cristo colocou sobre você para que não viva sob o peso da culpa.
Se você já caiu na imoralidade, já profanou a aliança com seu cônjuge, já perdeu a confiança de seu filho, de seu chefe, saiba que Deus está de braços abertos para recomeçar uma nova história com você. Se você carrega um sentimento de culpa se lança no amor de Cristo Jesus e aceite o perdão de Deus e recomece sua caminhada.  Peça perdão a Deus, peça perdão a quem feriu e viva a partir de agora num esforço contínuo para manter a paz e a santidade com todos, pois só assim você conseguirá ver a santidade de Deus.


Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira
16/02/2019



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