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quinta-feira, 25 de julho de 2019

SERMÕES 93 - DE ABRÃO À ABRAÃO


DE ABRÃO A ABRAÃO

Deus tem se revelado a humanidade desde a criação do mundo. No Éden achamos diálogos de encontros de Deus com Adão e Eva. Nos primeiros onze capítulos, do Livro de Gênesis, encontramos um resumo genealógico, com algumas pitadas de história, que nos revelam a intervenção de Deus na história da humanidade. Estes primeiros capítulos do livro de Gênesis tem por objetivo nos conduzir até um homem chamado Abrão.
A partir de Abrão a história começa a ser contada com maior riqueza de detalhes. Isto se deve porque Deus escolhe Abrão para iniciar seu projeto de salvação da humanidade e de todo o cosmo; projeto este que já havia sido planejado pela Trindade Santíssima antes da fundação do mundo.
É inegável que os fundamentos da fé dos hebreus têm sua origem na revelação que Deus entregou a Abrão e que mais tarde veio a ser chamado Abraão. Da mesma forma é inegável que as expressões de nossa fé cristã são o cumprimento das promessas de Deus reveladas aos hebreus.
Portanto iremos olhar para Abrão, a quem Deus chama para dar início ao projeto de salvação, tentando compreender o agir de Deus através Da história de Abrão e depois verificarmos como isso se aplica a nós hoje.


1 – O SURGIMENTO DE ABRÃO E SUA BÊNÇÃO NA HISTÓRIA
Abrão é citado pela primeira vez no livro de Gênesis, no capítulo 11, onde juntamente com seu pai parte da cidade de Ur dos caldeus, situada ao sul da Mesopotâmia, para Canaã.
31 Terá tomou seu filho Abrão, seu neto Ló, filho de Harã, e sua nora Sarai, mulher de seu filho Abrão, e juntos partiram de Ur dos caldeus para Canaã. Mas, ao chegarem a Harã, estabeleceram-se ali. (Gênesis 11.31)
Segundo o texto eles acabaram se fixando na cidade de Harã, uma importante cidade que havia na Síria – atualmente sudeste da Turquia. O nome Harã na língua assíria significa “estrada principal” ou “rota principal”.
Quando Abrão se encontrava em Harã, Deus lhe apareceu, conforme lemos em Gênesis doze, e lhe faz uma promessa.
1 Então o Senhor disse a Abrão: "Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei. 2 "Farei de você um grande povo, e o abençoarei. Tornarei famoso o seu nome, e você será uma bênção. 3 Abençoarei os que o abençoarem, e amaldiçoarei os que o amaldiçoarem; e por meio de você todos os povos da terra serão abençoados". 4 Partiu Abrão, como lhe ordenara o Senhor, e Ló foi com ele. Abrão tinha setenta e cinco anos quando saiu de Harã. (Gênesis 12.1-4)
Abrão se torna um dos personagens mais importantes de toda história humana, não somente dos hebreus, mas de todas as nações por causa dessa intervenção de Deus em sua vida. Deus aparece a Abrão e lhe faz uma promessa que o transforma no precursor de um novo modelo religioso, o monoteísmo. Abrão se torna também o patriarca do povo Hebreu.
A promessa aqui em Gênesis doze é centrada em Abrão. Deus prometeu que faria dele um grande povo, que tornaria seu nome famoso e que a Sua bênção estaria sobre ele. Deus diz também que abençoaria e amaldiçoaria os povos a partir de suas relações com ele, Abrão. Portanto este se torna o centro canalizador da bênção de Deus.
Contudo Deus não estava satisfeito que a história de Abrão terminasse como um “pai exaltado” ou um “grande pai”, Deus queria transformar Abrão em Abraão.

2 – O SURGIMENTO DE ABRAÃO E SUA BÊNÇÃO NA HISTÓRIA
1 Quando Abrão estava com noventa e nove anos de idade o Senhor lhe apareceu e disse: "Eu sou o Deus Todo-poderoso; ande segundo a minha vontade e seja íntegro. 2 Estabelecerei a minha aliança entre mim e você e multiplicarei muitíssimo a sua descendência". 3 Abrão prostrou-se, rosto em terra, e Deus lhe disse: 4 "De minha parte, esta é a minha aliança com você. Você será o pai de muitas nações. 5 Não será mais chamado Abrão; seu nome será Abraão, porque eu o constituí pai de muitas nações. 6 Eu o tornarei extremamente prolífero (fértil); de você farei nações e de você procederão reis. 7 Estabelecerei a minha aliança como aliança eterna entre mim e você e os seus futuros descendentes, para ser o seu Deus e o Deus dos seus descendentes. (Gênesis 17.1-7)
Nestes versos Deus revela uma nova fase de seu projeto redentor. Abrão não seria mais um “pai ilustre” ou um “grande pai”, conforme descreve seu nome. Abrão seria agora conhecido como Abraão que significa “pai de muitos”.
Em outras palavras Abraão não seria mais o único homem ilustre e exaltado, mas o pai de muitos homens ilustres e exaltados.
Enquanto em Abrão a bênção de Deus era centrada somente em sua pessoa, e caberia a ele compartilhar as bênçãos recebidas por Deus com os demais povos, com as demais famílias da terra; em Abraão a bênção não é mais centrada nele. A aliança feita por Deus com Abraão se estende a todos seus descendentes. Podemos afirmar que esta aliança se estende a todos os povos, a todos os seres humanos, pois os filhos de Abraão não são os que são gerados pela carne, mas os que procedem da promessa, como Isaque.
A promessa dada por Deus para Abraão foi cumprida em Cristo Jesus; o descendente direto de Abraão que tornou possível que Abraão se tornasse o pai de muitos e pai de muitas nações. O apóstolo Paulo diz que Abraão é o pai de todos que creem (Romanos 4.11).

3 – O RESULTADO DA BÊNÇÃO DE ABRÃO
O resultado da bênção de Deus sobre Abrão é que este prosperou e adquiriu muitos bens. Durante sua peregrinação a mão de Deus foi com ele. Mesmo diante as muitas dificuldades ele prosperou. Enfrentou uma seca que o fez descer para o Egito. No Egito Sara, sua esposa é tomada pelo Faraó e Deus precisou intervir. Abrão enfrentou divergências entre seus pastores e os pastores de seu sobrinho Ló, que o fizeram se separar. Mesmo tendo vencido todas estas dificuldades e prosperado em meio a elas o nome Abrão se tornou esquecido na história, embora Abrão signifique “pai exaltado”, “pai grande”, “pai ilustre”, este nome não ecoou até nossos dias, e muito menos para a eternidade.
Sempre que falamos de Abrão e seus atos, o chamamos de Abraão, independente de que momento estamos tratando de sua história. Falamos do nascimento de Abraão e não do nascimento de Abrão.

4 – O RESULTADO DA BÊNÇÃO DE ABRAÃO
O resultado da benção de Deus sobre Abraão é que seu nome se tornou maior que o nome Abrão. Isso se deve porque não somos lembrados pelas bênçãos que recebemos, mas pelas bênçãos que compartilhamos. Não somos lembrados pelos bens adquiridos, mas pelo bem que fazemos ao próximo.
O nome Abraão não se tornou grande por causa de suas conquistas, por causa de seus muitos bens. Abraão não foi um grande militar, como Alexandre o grande, nem um grande escritor, inventor ou rei; mas sua fé o tornou grande.
Abraão se engradeceu porque foi pai de muitos, não reteve a bênção para si, como um lago que não tem onde escoar a água, pelo contrário, viveu como uma represa que está sempre transbordando água e levando vida por onde sua água passa. 

5 – COMO SURGEM OS “ABRÃOS” EM NOSSOS DIAS?
Os “abrãos” surgem no momento em que um ser humano se conscientiza de que o Deus a quem Jesus chama de Pai é real. O surgimento de “abrãos” se dá quando Deus deixa de ser um ser etéreo e impessoal e se torna um ser pessoal e comunicável na pessoa do Filho, Jesus Cristo.  Este momento acontece na vida de uma pessoa pela graça de Deus. Os “abrãos” surgem da graça de Deus.
Quem era Abrão? Tudo que sabemos que ele era filho de Terá, que habitava na cidade de Ur dos Caldeus, descendente de Sem, filho de Noé.
Que feito notório ele fez para Deus o escolher? Nenhum. Quando Deus o chamou nem seu nome ele honrava, pois não tinha filho algum. Abrão não tinha feito nada que justificasse a escolha de Deus por ele em detrimentos de seus contemporâneos.
Caio Fábio em uma de suas mensagens levantou a seguinte pergunta: “Por que Deus não escolheu o rei babilônico chamado Hamarubi no lugar de Abrão?”. Ele também era da região de Ur dos Caldeus, nasceu no ano 1810 a.C. e escreveu o Código de Hamurabi.  Códigos jurídicos, muito significativos e humanos. Ele tinha um império, era inteligente, por que Deus não o escolheu? Não sei! Deus escolheu Abrão porque Ele é soberano.
Abrão possivelmente era idólatra como seu povo e como seu pai Terá. Alguns defendem que Abrão não era idólatra. Estes se apoiam nos contos de um livro chamado “O Livro dos Jubileus”, considerado como uma obra apócrifa entre os judeus e cristãos. “Diz o livro que Abraão, já aos catorze anos de idade, quando ainda residia em Ur dos caldeus com sua família, teria começado a compreender que os homens da terra haviam se corrompido com a idolatria adorando as imagens de escultura. Então Abraão não aceitou mais adorar ídolos com o seu pai Tera e começou a orar a Deus, pedindo-lhe que conservasse a sua alma pura do erro dos filhos dos homens e também a de seus descendentes”.
Tenha sido Abrão idólatra ou não, isto não o torna merecedor do chamado de Deus. Apenas mostra que por alguma razão Deus em algum momento o iluminou para realizar seu propósito, e assim é em nossas vidas.
Os “abrãos” nascem pela graça de Deus. Isso é soberania de Deus. Ninguém chega a Deus por seus próprios esforços. Primeiramente é Deus que nos escolhe, e fomos todos escolhidos por Ele em Cristo Jesus, antes da fundação do mundo.
Quando a mente humana é despertada pelo Espírito Santo de que Jesus Cristo é o Filho de Deus, e a consciência humana se abre para esta realidade de que Deus está acessível ao homem, surge então à possibilidade do nascimento de um “abrão” dentro da história da redenção humana. Assim eu e você nascemos em Cristo Jesus.
Em algum momento de nossa história fomos iluminados, despertados para a realidade da existência de um Deus pessoal e acessível a nós, por meio de Jesus Cristo. Abraçamos essa verdade e pela fé recebemos de Deus a vida eterna.
Se você crê em Deus e no sacrifício de Jesus é porque a graça de Deus já te tocou. Se você está ouvindo essa mensagem é porque a graça de Deus já está em ação em você. Isso é ação do Espírito Santo em sua vida e na minha vida.
O que aprendemos com Abrão é que Deus é soberano e interfere na história humana com o fim de resgatar o universo criado por Ele. Deus interfere na história escolhendo algumas pessoas quando quer e quantas desejar para que sua vontade prevaleça.
Precisamos parar de viver no radicalismo do calvinismo ou do arminismo. Seus escritos teológicos são bons e relevantes, entretanto não são maiores do que a Bíblia. Precisamos ter apenas a Bíblia como nossa única regra de fé e prática. Precisamos deixar que o Espírito de Deus nos conduza na revelação de sua própria palavra.
Até o arrependimento, a mudança de mente que ocorre em nós com relação ao que somos e quem é Deus, é graça de Deus. Só nos arrependemos porque fomos tocados pelo Espírito Santo. Tudo provem da graça de Deus. Mistério puro. Nossas vidas são subprodutos da graça de Deus. Não temos que explicar a graça, apenas acolhê-la pela fé e com o coração cheio de gratidão.

6 – COMO SURGEM OS “ABRAÃOS” EM NOSSOS DIAS?
Os “abraãos” são os “abrãos” que responderam ao toque da graça de Deus, que aceitaram caminhar rendidos ao senhorio de Jesus Cristo, a quem o Pai entregou toda a autoridade.
Do chamado de Gênesis 12 ao novo encontro com Deus, o qual Abrão se tornou Abraão, em Gênesis 17, passaram-se vinte e quatro anos.
Neste período de vinte e quatro anos, Abrão viveu muitas experiências ao lado de Deus, onde sua fé foi amadurecendo, seu conhecimento do Deus Criador foi aumentando e sua confiança no caráter de Deus foi sendo desenvolvido.
Vejamos algumas características necessárias para que possamos nos tornar “abraãos”.
1.      Obediência – Deus disse para Abrão sair de sua terra. Ele obedeceu (Gn 12.1). Não existe discípulo se não houver obediência. Você pode conhecer muito sobre Jesus, pode conhecer profundamente a Bíblia, mas se você não O obedecer não será seu discípulo.
Se você não sair da sua estagnação espiritual, da sua comodidade mental e material você não irá se mover em direção ao novo de Deus para você. Não irá experimentar o extraordinário com Deus. Não irá viver aventuras que te tornem maduros na fé e que produza em você maior confiança no caráter de Deus.
Cristãos bem sucedidos ouvem e obedecem a Palavra de Deus. Cristãos maus sucedidos ouvem, mas não obedecem a Palavra de Deus. Preferem ser guiados pelo que acham e não pelo que as Escrituras dizem a eles.
Muitas pessoas estão estagnadas na vida espiritual, porque não ousam dar o primeiro passo. Passam a vida tentando viver de certezas. Abrão não sabia para onde ir, mas andou em direção a uma terra qualquer. Ao tomar posição Deus lhe disse para onde ir. Abrão saiu sem saber para onde ir, apenas confiou em Deus e sua jornada o levou a se tornar Abraão.
2.      Disposição em compartilhar a bênção – Deus disse para Abrão que o tornaria grande, que o exaltaria, mas que ele deveria ser bênção para todas as famílias da terra, para todos os povos (Gn 12.3). Deus nos abençoa para que possamos abençoar. Deus nos chama para sermos abençoadores e não abençoados. Contudo muitos só querem ser “abrão”, não querem se tornar “abraão”. Querem ser exaltados, querem ser grandes, querem ser abençoados, mas não desejam se tornarem pais de muitos, não desejam ser abençoadores.
Abrão foi generoso com Ló seu sobrinho, deu o dízimo de tudo que possuía ao rei de Salém e sacerdote Melquisedeque. 
Deus não concede bênçãos em Cristo Jesus para nos tornar grandes como um fim em nós mesmos, mas para que Seu nome seja engradecido através de nossas boas obras. Deus nos abençoa para que sejamos abençoadores. Deus quer transformar “abrãos” em “abraãos”. Ele quer te abençoar para que você abençoe sua família, sua igreja, seus vizinhos, seus amigos e a todos que puder alcançar.
3.      Conservação da Graça de Deus (Gn 12.7 e 8) – Construir altares para Deus na caminhada significa fincar na memória pontos de encontros com Deus. Um lugar de socorro onde possamos recorrer quando precisarmos fortalecer a nossa fé. Esses pontos servem para conservar a graça de Deus em nossas vidas.
A graça de Deus se mantém viva em nós quando fixamos marcos em nossa caminha com Deus. Esses marcos não nos deixam esquecer o que ouvimos e vivenciamos com Deus. Eles nos ajudam a continuar caminhando, mesmo quando estamos inseguros.
Construir altares é construir um lugar sagrado que sempre nos reconecta com Deus. Este lugar sagrado pode ser uma memória, um sonho que Deus plantou em seu coração, uma palavra dada por Deus a você, um fato vivido por você com Deus, algo que situa sua fé, que te mova em direção a Deus novamente na hora da fraqueza.
Eu tenho alguns marcos em minha vida. O mais forte para mim foi uma experiência que vivi na rodoviária de São Paulo. Esses marcos me dão consciência de minha existência, de meu propósito e de onde estou na minha história com Deus.
Não podemos viver sem marcos, sem ritos que nos trazem de volta a caminhada com Deus.

Foi nessa jornada de obediência a Deus, compartilhando as bênçãos recebidas e conservando a graça de Deus em sua consciência é que Abrão se tornou Abraão.

REFLEXÃO FINAL:
Talvez você hoje se identificou como um “abrão”. Você é um alguém que a graça de Deus tocou. Você ouviu a voz de Deus, você ouviu o chamado de Jesus, mas você ainda não se tornou um “abraão”.
Você é abençoado, mas ainda não se tornou um abençoador. Você é “pai exaltado”, mas não um “pai de muitos”. Sua vida não produziu vidas como a de Cristo, não gerou discípulos para Cristo. Não lhe faltam bens, mas você tem dificuldade em ser generoso. Você é abençoado intelectualmente, abençoado com dons, mas é uma vida sem frutos. A benção chega em você e fica estancada.
Você quer ser um “abraão”? Abraão é um abençoador. A bênção de Deus passa por ele e prossegue abençoando todos ao seu redor.
Deus quer que nossas vidas se tornem uteis. Deus deseja que o glorifiquemos. Glorificar a Deus é tornar a santidade de Deus vista através de nós; é fazer com que a glória de Deus seja vista. A gloria de Deus é a expressão visível de sua santidade.
Enquanto eu desejar apenas bênçãos, continuarei vivendo na inutilidade, não serei sal e luz para o mundo. Não seja um “abrão” somente, seja um “Abraão”.
Deus deseja que você tenha uma significação maior e mais elevada do que este mundo pode oferecer a você. Deus deseja que você não construa um nome ilustre para si mesmo, que sua vida não seja um fim em si mesmo, mas que ela transborde para todos que entrarem em contato com você, que seu nome seja grande pelas realizações em prol dos outros e não de você mesmo.


Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira
007/07/2019


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