DE ABRÃO A ABRAÃO
Deus tem se
revelado a humanidade desde a criação do mundo. No Éden achamos diálogos de
encontros de Deus com Adão e Eva. Nos primeiros onze capítulos, do Livro de
Gênesis, encontramos um resumo genealógico, com algumas pitadas de história,
que nos revelam a intervenção de Deus na história da humanidade. Estes
primeiros capítulos do livro de Gênesis tem por objetivo nos conduzir até um
homem chamado Abrão.
A partir de Abrão a história começa a ser contada com maior riqueza de
detalhes. Isto se deve porque Deus escolhe Abrão para iniciar seu projeto de salvação da humanidade e de
todo o cosmo; projeto este que já havia sido planejado pela Trindade Santíssima
antes da fundação do mundo.
É inegável que
os fundamentos da fé dos hebreus têm sua origem na revelação que Deus entregou
a Abrão e que
mais tarde veio a ser chamado Abraão. Da mesma forma é inegável que as
expressões de nossa fé cristã são o cumprimento das promessas de Deus reveladas
aos hebreus.
Portanto iremos
olhar para Abrão,
a quem Deus chama para dar início ao projeto de salvação, tentando compreender
o agir de Deus através Da história de Abrão e depois verificarmos como isso se aplica
a nós hoje.
1 – O SURGIMENTO DE ABRÃO E SUA BÊNÇÃO NA
HISTÓRIA
Abrão é citado pela primeira vez no livro de Gênesis, no
capítulo 11, onde juntamente com seu pai parte da cidade de Ur dos caldeus,
situada ao sul da Mesopotâmia, para Canaã.
31 Terá
tomou seu filho Abrão, seu neto Ló, filho de
Harã, e sua nora Sarai, mulher de seu filho Abrão, e juntos partiram de Ur dos caldeus para Canaã. Mas, ao
chegarem a Harã, estabeleceram-se ali. (Gênesis 11.31)
Segundo o texto eles acabaram se
fixando na cidade de Harã, uma importante
cidade que havia na Síria
– atualmente sudeste da Turquia. O nome Harã na língua assíria significa
“estrada principal” ou “rota principal”.
Quando Abrão se encontrava
em Harã, Deus lhe apareceu, conforme lemos em Gênesis doze, e lhe faz uma promessa.
1 Então o Senhor disse a Abrão: "Saia da sua terra, do
meio dos seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe
mostrarei. 2 "Farei de você um grande povo, e o abençoarei. Tornarei famoso o seu nome, e você será uma bênção. 3 Abençoarei os que o abençoarem, e amaldiçoarei os
que o amaldiçoarem; e por meio de você todos os povos da terra serão abençoados". 4 Partiu Abrão, como lhe
ordenara o Senhor, e Ló foi com ele. Abrão tinha setenta e cinco anos quando
saiu de Harã. (Gênesis 12.1-4)
Abrão se torna um dos personagens mais importantes de toda
história humana, não somente dos hebreus, mas de todas as nações por causa
dessa intervenção de Deus em sua vida. Deus aparece a Abrão e lhe faz uma promessa que o
transforma no precursor de um novo modelo religioso, o monoteísmo. Abrão se torna
também o patriarca do povo Hebreu.
A promessa aqui em
Gênesis doze é centrada em Abrão. Deus
prometeu que faria dele um grande povo, que tornaria seu nome famoso e que a
Sua bênção estaria sobre ele. Deus diz também que abençoaria e amaldiçoaria os
povos a partir de suas relações com ele, Abrão. Portanto este se torna o centro
canalizador da bênção de Deus.
Contudo Deus não estava satisfeito que a história de Abrão terminasse
como um “pai exaltado” ou um “grande pai”, Deus queria transformar Abrão em Abraão.
2 – O SURGIMENTO DE ABRAÃO E SUA BÊNÇÃO NA
HISTÓRIA
1 Quando Abrão estava com noventa e nove anos de idade o Senhor
lhe apareceu e disse: "Eu sou o Deus Todo-poderoso; ande segundo a minha
vontade e seja íntegro. 2 Estabelecerei a minha
aliança entre mim e você e multiplicarei muitíssimo a sua descendência". 3 Abrão prostrou-se, rosto em terra, e Deus lhe
disse: 4 "De minha parte,
esta é a minha aliança com você. Você será o pai de muitas nações. 5 Não será mais chamado Abrão; seu nome será Abraão,
porque eu o constituí pai de muitas nações.
6 Eu o tornarei extremamente prolífero (fértil);
de você farei nações e de você procederão reis. 7 Estabelecerei a minha aliança como aliança eterna entre mim e você e os seus futuros
descendentes, para ser o seu
Deus e o Deus dos seus descendentes. (Gênesis 17.1-7)
Nestes versos Deus revela uma nova fase
de seu projeto redentor. Abrão não seria mais um “pai ilustre” ou um
“grande pai”, conforme descreve seu nome. Abrão
seria agora conhecido como Abraão que significa “pai de muitos”.
Em
outras palavras Abraão não seria mais o único homem ilustre e exaltado, mas o pai
de muitos homens ilustres e exaltados.
Enquanto em Abrão a bênção de Deus era centrada somente
em sua pessoa, e caberia a ele compartilhar as bênçãos recebidas por Deus com
os demais povos, com as demais famílias da terra; em Abraão a bênção não é mais
centrada nele. A aliança feita por Deus com Abraão se estende a todos seus
descendentes. Podemos afirmar que esta aliança se estende a todos os povos, a
todos os seres humanos, pois os filhos de Abraão não são os que são gerados
pela carne, mas os que procedem da promessa, como Isaque.
A promessa dada por Deus para Abraão foi
cumprida em Cristo Jesus; o descendente direto de Abraão que tornou possível
que Abraão se tornasse o pai de muitos e pai de muitas nações. O
apóstolo Paulo diz que Abraão é o pai de todos que creem (Romanos 4.11).
3 – O
RESULTADO DA BÊNÇÃO DE ABRÃO
O resultado da bênção
de Deus sobre Abrão é que este prosperou
e adquiriu muitos bens. Durante sua peregrinação a mão de Deus foi com ele. Mesmo
diante as muitas dificuldades ele prosperou. Enfrentou
uma seca que o fez descer para o Egito. No Egito Sara, sua esposa é tomada pelo
Faraó e Deus precisou intervir. Abrão enfrentou divergências entre seus pastores e os
pastores de seu sobrinho Ló, que o fizeram se separar. Mesmo tendo vencido
todas estas dificuldades e prosperado em meio a elas o nome Abrão se tornou
esquecido na história, embora Abrão signifique “pai exaltado”, “pai grande”, “pai ilustre”,
este nome não ecoou até nossos dias, e muito menos para a eternidade.
Sempre que falamos de
Abrão e seus atos, o
chamamos de Abraão, independente de que momento estamos tratando de sua
história. Falamos do nascimento de Abraão e não do
nascimento de Abrão.
4 – O
RESULTADO DA BÊNÇÃO DE ABRAÃO
O resultado da benção
de Deus sobre Abraão é que seu nome se tornou maior que o nome Abrão. Isso se
deve porque não somos lembrados pelas bênçãos que recebemos, mas pelas bênçãos
que compartilhamos. Não somos lembrados pelos bens adquiridos, mas pelo bem que
fazemos ao próximo.
O nome Abraão não se tornou grande por causa de suas
conquistas, por causa de seus muitos bens. Abraão não foi um grande militar,
como Alexandre o grande, nem um grande escritor, inventor ou rei; mas sua fé o
tornou grande.
Abraão se engradeceu porque foi pai de muitos, não reteve a
bênção para si, como um lago que não tem onde escoar a água, pelo contrário,
viveu como uma represa que está sempre transbordando água e levando vida por
onde sua água passa.
5 – COMO
SURGEM OS “ABRÃOS” EM NOSSOS DIAS?
Os “abrãos”
surgem no momento em que um ser humano se conscientiza de que o Deus a quem
Jesus chama de Pai é real. O surgimento de “abrãos” se dá
quando Deus deixa de ser um ser etéreo e impessoal e se torna um ser pessoal e
comunicável na pessoa do Filho, Jesus Cristo. Este momento acontece na vida de uma pessoa pela
graça de Deus. Os “abrãos” surgem da
graça de Deus.
Quem era Abrão?
Tudo que sabemos que ele era filho de Terá, que habitava na cidade de Ur dos
Caldeus, descendente de Sem, filho de Noé.
Que feito notório ele fez para Deus o
escolher? Nenhum. Quando Deus o chamou nem seu nome ele honrava, pois não tinha
filho algum. Abrão não tinha feito nada que justificasse a escolha de Deus
por ele em detrimentos de seus contemporâneos.
Caio Fábio em uma de suas mensagens levantou a seguinte
pergunta: “Por que Deus não escolheu o rei babilônico chamado Hamarubi no lugar
de Abrão?”. Ele também era da região de Ur dos Caldeus, nasceu no ano 1810 a.C.
e escreveu o Código de Hamurabi. Códigos
jurídicos, muito significativos e humanos. Ele tinha um império, era
inteligente, por que Deus não o escolheu? Não sei! Deus escolheu
Abrão porque Ele é soberano.
Abrão
possivelmente era idólatra como seu povo e como seu pai Terá. Alguns defendem
que Abrão não era idólatra. Estes se apoiam nos contos de um livro chamado
“O Livro dos Jubileus”, considerado
como uma obra apócrifa entre os judeus e cristãos. “Diz o livro
que Abraão, já aos catorze anos de idade, quando ainda residia em Ur dos
caldeus com sua família, teria começado a compreender que os homens da terra
haviam se corrompido com a idolatria adorando
as imagens de escultura. Então Abraão não aceitou mais adorar ídolos com o seu
pai Tera e começou a orar a Deus, pedindo-lhe que conservasse a sua alma pura
do erro dos filhos dos homens e também a de seus descendentes”.
Tenha sido Abrão
idólatra ou não, isto não o torna merecedor do chamado de Deus. Apenas mostra
que por alguma razão Deus em algum momento o iluminou para realizar seu
propósito, e assim é em nossas vidas.
Os “abrãos” nascem pela graça de Deus. Isso é soberania de Deus.
Ninguém chega a Deus por seus próprios esforços. Primeiramente é Deus que nos
escolhe, e fomos todos escolhidos por Ele em Cristo Jesus, antes da fundação do
mundo.
Quando a mente
humana é despertada pelo Espírito Santo de que Jesus Cristo é o Filho de Deus,
e a consciência humana se abre para esta realidade de que Deus está acessível
ao homem, surge então à possibilidade do nascimento de um “abrão” dentro da
história da redenção humana. Assim eu e você nascemos em Cristo Jesus.
Em algum momento de nossa história fomos iluminados,
despertados para a realidade da existência de um Deus pessoal e acessível a
nós, por meio de Jesus Cristo. Abraçamos essa verdade e pela fé recebemos de
Deus a vida eterna.
Se você crê em
Deus e no sacrifício de Jesus é porque a graça de Deus já te tocou. Se você
está ouvindo essa mensagem é porque a graça de Deus já está em ação em você.
Isso é ação do Espírito Santo em sua vida e na minha vida.
O que aprendemos com Abrão é que Deus é soberano e
interfere na história humana com o fim de resgatar o universo criado por Ele.
Deus interfere na história escolhendo algumas pessoas quando quer e quantas
desejar para que sua vontade prevaleça.
Precisamos parar
de viver no radicalismo do calvinismo ou do arminismo. Seus escritos teológicos
são bons e relevantes, entretanto não são maiores do que a Bíblia. Precisamos
ter apenas a Bíblia como nossa única regra de fé e prática. Precisamos deixar
que o Espírito de Deus nos conduza na revelação de sua própria palavra.
Até o arrependimento, a mudança de mente que ocorre em
nós com relação ao que somos e quem é Deus, é graça de Deus. Só nos
arrependemos porque fomos tocados pelo Espírito Santo. Tudo provem da graça de
Deus. Mistério puro.
Nossas vidas são subprodutos
da graça de Deus. Não temos que explicar a graça, apenas acolhê-la pela fé e
com o coração cheio de gratidão.
6 – COMO
SURGEM OS “ABRAÃOS” EM NOSSOS DIAS?
Os “abraãos” são
os “abrãos”
que responderam ao toque da graça de Deus, que aceitaram caminhar rendidos ao
senhorio de Jesus Cristo, a quem o Pai entregou toda a autoridade.
Do chamado de Gênesis 12 ao novo encontro com Deus, o
qual Abrão se tornou Abraão, em Gênesis 17, passaram-se vinte e
quatro anos.
Neste período de
vinte e quatro anos, Abrão
viveu muitas experiências ao lado de Deus, onde sua fé foi amadurecendo, seu
conhecimento do Deus Criador foi aumentando e sua confiança no caráter de Deus
foi sendo desenvolvido.
Vejamos algumas
características necessárias para que possamos nos tornar “abraãos”.
1. Obediência – Deus disse para Abrão sair de sua terra. Ele obedeceu (Gn 12.1). Não existe discípulo se não houver obediência.
Você pode conhecer muito sobre Jesus, pode conhecer profundamente a Bíblia, mas
se você não O obedecer não será seu discípulo.
Se você não sair da sua estagnação
espiritual, da sua comodidade mental e material você não irá se mover em
direção ao novo de Deus para você. Não irá experimentar o extraordinário com
Deus. Não irá viver aventuras que te tornem maduros na fé e que produza em você
maior confiança no caráter de Deus.
Cristãos
bem sucedidos ouvem e obedecem a Palavra de Deus. Cristãos maus sucedidos
ouvem, mas não obedecem a Palavra de Deus. Preferem ser guiados pelo que acham
e não pelo que as Escrituras dizem a eles.
Muitas pessoas estão estagnadas na vida
espiritual, porque não ousam dar o primeiro passo. Passam a vida tentando viver
de certezas.
Abrão não
sabia para onde ir, mas andou em direção a uma terra qualquer. Ao tomar posição
Deus lhe disse para onde ir. Abrão saiu sem saber para onde ir, apenas confiou em Deus e
sua jornada o levou a se tornar Abraão.
2. Disposição em
compartilhar a bênção – Deus disse para Abrão que o tornaria
grande, que o exaltaria, mas que ele deveria ser bênção para todas as famílias
da terra, para todos os povos (Gn 12.3). Deus nos
abençoa para que possamos abençoar. Deus nos chama para sermos abençoadores e
não abençoados. Contudo
muitos só querem ser “abrão”,
não querem se tornar “abraão”. Querem ser exaltados, querem ser grandes,
querem ser abençoados, mas não desejam se tornarem pais de muitos, não desejam
ser abençoadores.
Abrão
foi generoso com Ló seu sobrinho, deu o dízimo de tudo que possuía ao rei de
Salém e sacerdote Melquisedeque.
Deus não concede bênçãos em Cristo
Jesus para nos tornar grandes como um fim em nós mesmos, mas para que Seu nome
seja engradecido através de nossas boas obras. Deus nos abençoa para que
sejamos abençoadores. Deus quer transformar “abrãos” em “abraãos”. Ele quer te
abençoar para que você abençoe sua família, sua igreja, seus vizinhos, seus
amigos e a todos que puder alcançar.
3. Conservação da
Graça de Deus (Gn
12.7 e 8) – Construir altares para Deus na caminhada
significa fincar na memória pontos de encontros com Deus. Um lugar de
socorro onde possamos recorrer quando precisarmos fortalecer a nossa fé. Esses
pontos servem para conservar a graça de Deus em nossas vidas.
A graça de Deus se mantém viva em nós
quando fixamos marcos em nossa caminha com Deus. Esses marcos não nos deixam
esquecer o que ouvimos e vivenciamos com Deus. Eles nos ajudam a continuar
caminhando, mesmo quando estamos inseguros.
Construir
altares é construir um lugar sagrado que sempre nos reconecta com Deus. Este
lugar sagrado pode ser uma memória, um sonho que Deus plantou em seu coração,
uma palavra dada por Deus a você, um fato vivido por você com Deus, algo que
situa sua fé, que te mova em direção a Deus novamente na hora da fraqueza.
Eu
tenho alguns marcos em minha vida. O mais forte para mim foi uma experiência
que vivi na rodoviária de São Paulo. Esses marcos me dão consciência de minha
existência, de meu propósito e de onde estou na minha história com Deus.
Não
podemos viver sem marcos, sem ritos que nos trazem de volta a caminhada com
Deus.
Foi nessa
jornada de obediência a Deus, compartilhando as bênçãos recebidas e conservando
a graça de Deus em sua consciência é que Abrão se tornou Abraão.
REFLEXÃO FINAL:
Talvez você hoje
se identificou como um “abrão”.
Você é um alguém que a graça de Deus tocou. Você ouviu a voz de Deus, você
ouviu o chamado de Jesus, mas você ainda não se tornou um “abraão”.
Você é
abençoado, mas ainda não se tornou um abençoador. Você é “pai exaltado”, mas
não um “pai de muitos”. Sua vida não produziu vidas como a de Cristo, não gerou
discípulos para Cristo. Não lhe faltam bens, mas você tem dificuldade em ser
generoso. Você é abençoado intelectualmente, abençoado com dons, mas é uma vida
sem frutos. A benção chega em você e fica estancada.
Você quer ser um
“abraão”? Abraão é um abençoador. A bênção de Deus passa por ele e prossegue
abençoando todos ao seu redor.
Deus quer que
nossas vidas se tornem uteis. Deus deseja que o glorifiquemos. Glorificar a
Deus é tornar a santidade de Deus vista através de nós; é fazer com que a
glória de Deus seja vista. A gloria de Deus é a expressão visível de sua
santidade.
Enquanto eu
desejar apenas bênçãos, continuarei vivendo na inutilidade, não serei sal e luz
para o mundo. Não seja um “abrão” somente, seja um “Abraão”.
Deus deseja que
você tenha uma significação maior e mais elevada do que este mundo pode
oferecer a você. Deus deseja que você não construa um nome ilustre para si
mesmo, que sua vida não seja um fim em si mesmo, mas que ela transborde para
todos que entrarem em contato com você, que seu nome seja grande pelas
realizações em prol dos outros e não de você mesmo.
Pr. Cornélio
Póvoa de Oliveira
007/07/2019
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