HUMANOS COMO CRISTO (terceira parte):
RECONHECENDO SUA HUMANIDADE
Neste mês de
outubro estamos olhando para a humanidade de Jesus com o fim de aprendermos a
viver nossa humanidade como Ele a viveu. Em nosso último encontro afirmamos que
Jesus foi 100% homem. Hoje veremos Jesus manifestando sentimentos e fraquezas
pertencentes a nós seres humanos, contudo Ele não pecou, quebrando a máxima de
que “errar é humano”. Uma das características que permitiu Jesus ser um ser
humano perfeito foi a sua capacidade de reconhecer sua humanidade. Ele a reconheceu...
1 – DIANTE O LUTO
13 Ouvindo o que
havia ocorrido, Jesus
retirou-se de barco em particular para um lugar deserto. As multidões, ao
ouvirem falar disso, saíram das cidades e o seguiram a pé. (Mateus 14.13)
Jesus ouviu algo
que o fez se retirar para um barco. O que ele ouviu? Ele tinha acabado de
receber a notícia de que seu primo João Batista havia sido decapitado por
Herodes. Jesus não participou do sepultamento. Ele não teve a oportunidade de
se despedir de João Batista.
Qualquer um de
nós ao recebermos a notícia da morte de um parente, de um amigo, de um colega
de trabalho, imediatamente é tomado por uma dor no coração, parece que algo foi
arrancado de nós, nos sentimos impotentes, incapazes de mudar a situação, e
então só nos resta chorar e pedir a Deus consolo.
Como você acha
que Jesus se sentiu diante a morte de seu primo? Jesus precisou se retirar para
um lugar deserto e por isso tomou um barco para se distanciar da multidão que o
seguia. Jesus precisou de um tempo para si mesmo. Ele precisava passar pelo
luto.
Jesus reconheceu
sua própria humanidade diante a morte de João Batista. Possivelmente seu desejo
era ressuscitar João Batista. Ele poderia fazê-lo, diferentemente de nós que
não temos poder algum, mas isto significaria abrir mão de sua humanidade. Jesus
assumiu essa dor do luto, pois sabia que essa era a vontade de Deus para a vida
de João Batista. Era necessário que João Batista saísse de cena e ele crescesse
se tornando o ator principal da história da humanidade.
Precisamos
aprender com Jesus que é necessário enfrentarmos o luto, encararmos o que nos
faz sofrer. O fato de sermos cristãos, de crermos em Deus não nos isenta da dor
do luto. O luto pode ser causado pela perda de seu emprego, do seu ministério, do
seu casamento, do seu filho, da sua filha, da sua saúde, do seu pet, da sua
casa ou pela perda de alguém importante para você. Várias são as causas que
podem causar em você um sentimento de perda, de impotência, de agonia, de
depressão. Ser cristão não significa viver no paraíso neste mundo presente.
Muitas pessoas
pensam que por ser cristão não podem reconhecer sua humanidade, não podem
reconhecer suas fraquezas, suas dores, suas agonias. Jesus não tentou afogar
sua dor, não tentou fingir que não estava doendo. A negação da dor, não tira a
dor; somente nos torna mentirosos.
No Getsêmani,
Jesus pediu para Pedro, João e Thiago, orarem com ele. Jesus não escondeu seus
sentimentos, não ficou negando sua dor. Não é assim que lidamos com a dor, com
a depressão, com o sofrimento. Pelo contrário precisamos reconhecer nossa
humanidade, precisamos buscar ajuda e se necessário ajuda de profissionais,
pois estes foram dados por Deus para o nosso próprio bem. Jesus reconheceu sua
humanidade...
2 – AO BUSCAR FICAR A SÓS NO BARCO
13 Ouvindo o que havia ocorrido,
Jesus retirou-se de barco em particular para um lugar deserto. As multidões, ao ouvirem falar
disso, saíram das cidades e o seguiram a pé. (Mateus
14.13)
Jesus precisou
ir para o barco, para um lugar onde pudesse ficar a sós. Precisamos compreender
que às vezes precisamos nos retirar, sair de cena, com o fim de ficarmos a sós.
Jesus venceu o
luto como homem. Ele não ressuscitou João Batista, mas aceitou a morte de seu
amigo. Jesus precisou sepultar a morte de João Batista em seu coração. Jesus
não ficou se culpando pela morte de João Batista. “Há! Ele morreu para que eu
crescesse. Sou culpado de sua morte”. Não! Ele compreendeu que aquilo fazia
parte do plano de Deus. Mas ele precisava lidar com a dor da perda.
O que aconteceu
no barco, eu não sei. Mas, sei que o barco foi necessário para o
restabelecimento emocional de Jesus. Não acredito que Jesus chorou. Mas
acredito que ele teve um diálogo gostoso com o Pai a respeito de sua dor. Precisamos
muitas vezes de um barco em nossas vidas, de um lugar para ficarmos a sós com
Deus.
Essa não foi a
única vez que Jesus se retirou para o barco. Quando se sentia pressionado pela
multidão, pelas muitas vozes, também se retirava para o barco, conforme lemos
em Marcos 3.8,9.
8 Quando ouviram a respeito de
tudo o que ele estava fazendo, muitas pessoas procedentes da Judéia, de
Jerusalém, da Iduméia e das regiões do outro lado do Jordão e dos arredores de
Tiro e de Sidom foram atrás dele. 9 Por causa da multidão, ele disse aos discípulos que lhe preparassem um
pequeno barco, para evitar que o comprimissem.
(Marcos 3.8,9)
Às vezes
precisamos nos afastar da multidão (trabalho, cobranças, das pressões do
dia-a-dia) para assumirmos o controle novamente de nossas vidas.
Algumas pessoas
estão vivendo enfermas porque nunca sepultaram suas perdas, seus traumas, suas
dores. Nunca reconheceram sua humanidade. Nunca respeitaram a si mesmas como
seres humanos, não se reconhecem como seres impotentes e incapazes de mudar a
história. Vivem se martirizando, se culpando, ao invés de entregarem seus
mortos a Deus e confiarem na graça de Deus.
Você precisa ir para o barco, ir para um lugar onde possa ter um a sós
com Deus e entregar toda sua dor a Ele, ou para fugir de toda pressão que te
destrói emocionalmente, que te consume por dentro e muitas vezes fisicamente
também.
Você precisa
respeitar seu luto, sua dor, seu tempo de cura. Você não poder curar outros se
primeiramente não se permitir ser curado. Você não pode ajudar outros a
enterrarem seus sofrimentos, enquanto as suas feridas continuam abertas e sangrando.
Você precisa se tratar para depois ajudar outros a se tratarem.
O barco é estratégico para Jesus, pois era o lugar onde
ele poderia permanecer no controle de si mesmo. Era o lugar onde ele poderia
dar a si mesmo o tempo necessário para restabelecer suas forças e permitir
ouvir a voz do Consolador. Se Jesus permanecesse no meio da multidão,
certamente seria arrastado por ela, sem poder proporcionar a si mesmo o tempo
que necessitava para restabelecer sua saúde emocional.
“Você está
nervoso? Vá pescar! Está estressado? Vá acampar!”. Você precisa dar um tempo
para você, dar uma pausa em suas atividades para deixar que o Espírito de Deus
te conduza a cura. Jesus
reconheceu sua humanidade...
3 – RETORNANDO A MULTIDÃO
14 Quando Jesus
saiu do barco e viu tão grande multidão, teve compaixão deles e curou os
seus doentes. (Mateus 14.14)
Retornar a
multidão neste contexto significa que Jesus retornou a vida, ao ministério, as
atividades de sua missão.
Uma vez que
Jesus reconheceu sua humanidade diante do luto não negando sua dor; ele respeitou
sua humanidade buscando ficar a sós com o Pai, onde não precisou reprimir sua
dor, suas emoções, pelo contrário, ele pôde expressá-la no meio do mar, longe
da multidão. Contudo o luto, a dor, o sofrimento não poderia ser vencido
definitivamente se Jesus não retornasse para a multidão, ao seu ministério, a
vida propriamente dita.
Existe um tempo
determinado para você ficar a sós, para curar sua alma, para ouvir a voz de
Deus e reorganizar sua estrada; mas é preciso retornar a vida, voltar à estrada.
A cura só se dará definitivamente quando você retornar do luto para a vida.
Eu não sei qual
o seu tempo para a cura. Sei que cada um de nós tem seu próprio ritmo e tempo
para a cura, mas você precisa discernir este tempo, pois do contrário você
ficará alisando sua dor, sua doença e ao invés de ser curado, se tornará ainda
mais doente.
Jesus retornou
para a multidão, retornou para seu ministério, retornou para sua missão. Ele
foi para o barco com um peso no coração. Mas ao retornar do barco, ele estava
cheio do Espírito de Deus e pronto para dar continuidade ao seu ministério.
Jesus não
poderia ter atendido a multidão, curado os enfermos se não tivesse ido para o
barco. Mas a multidão não seria curada se Jesus não retornasse do barco.
Algumas pessoas doentes adoecem ainda mais ao entrarem no barco, porque ao
pausarem a vida, ao dar um tempo para ficar com Deus a sós, se esquecem de que
precisam voltar à vida. Não entendem que
existe tempo para todas as coisas. Você não pode ficar vivendo no luto por toda
sua vida. Você não pode dormir abraçado ao medo do fracasso, do futuro por
todos os seus dias.
Quanto tempo
Jesus permaneceu no barco? Não sei. Tudo que posso afirmar é que foram algumas
horas. Ele não permaneceu um dia no barco. Logo que saiu do barco teve
compaixão da multidão e curou seus enfermos e logo escureceu e seus discípulos
pediram para ele despedir a multidão.
Pessoas que não
voltam para a vida, que não querem descer do barco, são pessoas que não sabem
pelo que vivem. Jesus sabia claramente a razão do seu viver e porque se tornou
um ser humano. Ele sentiu a perda de João Batista, mas sabia que no tempo certo
ele devolveria a vida a João Batista e a todos que nele crer.
Jesus não podia
ressuscitar João Batista, mas através de seu ministério podia dar vida a muitos
que O buscavam. Ele preferiu ao invés de chorar por aquele que já não estava
mais ao seu alcance, ajudar os que podiam ser por ele alcançados, e se alegrar
com os que agora se alegravam.
Se você sabe
quem é em Jesus Cristo, desça do barco, retome a vida, volta para a estrada,
pois existem muitas pessoas doentes da alma, do espírito, do físico precisando
de você. Jesus quer te usar para curar vidas, para restaurar famílias, para
salvar o perdido, para edificar esta igreja. Você foi chamado para se engajar
neste trabalho. Não fique remoendo seu luto por muito tempo, não fique no barco
além do necessário, volte para a multidão, para a vida, para o trabalho, pois
desta forma sua cura se completará, e você encontrará alegria no sorriso
daquele que foi ajudado.
REFLEXÃO FINAL:
Deixe o Espírito
de Deus te conduzir e derramar em seu coração compaixão como ele fez no coração
de Jesus por aquela multidão.
Não sei em que
estágio você está em sua vida. Talvez você esteja no luto, lidando com a dor de
um casamento que fracassou, com a perda do seu emprego, com a falência da sua
empresa, com a traição de sua esposa, do seu marido, com a descoberta que sua
filha dorme na cama de outro homem, que seu filho foi violentado na infância,
que a pessoa que você ama está com câncer. Não negue a dor, se é tempo de
chorar, chore! Não tente ser um super-humano, pois o próprio Senhor Jesus
reconheceu sua humanidade e lidou com ela respeitando seus limites, sem negar
suas dores e fraquezas. Faça como Jesus, vá para o barquinho. Pare tudo! Pare e
fique quieto a sós com Deus.
Se você já está
no barco, já está a sós com Deus, abra seu coração, abra seus ouvidos para
ouvir o que Ele tem a dizer. As palavras de Deus são remédios para os que estão
abatidos.
19 Na sua aflição, clamaram ao
Senhor, e ele os salvou da tribulação em que se encontravam. 20 Ele enviou a sua palavra e os curou, e os livrou da
morte. (Salmos 107.19,20)
Se você já ouviu
a voz de Deus, já se sente renovado por seu abraço, desce do barco e abraça os
que precisam de abraço, dê uma palavra de amor aos que estão sofrendo. Ainda
que João Batista continuasse morto, Jesus saiu do barco e distribuiu vida a
todos que se encontravam na praia. Ainda que teu casamento tenha fracassado,
ainda que seu negócio tenha falido, ainda que o câncer destruiu os teus sonhos,
ainda é possível ver a beleza da vida quando se ouve a voz de Deus.
Entregue o que
já passou a Deus, entregue os que já foram a Deus, entregue os sonhos não
realizados a Deus, entregue sua história a Deus e recomece a viver o novo com
Deus. A morte não determina o fim de uma vida, mas oportuniza o recomeço de uma
nova vida.
Jesus saiu do
barco e curou os doentes porque ele estava resolvido consigo mesmo. Ele ouviu a
voz do Pai e sabia que seu trabalho não seria em vão. Chegaria o dia em que ele
abraçaria novamente João Batista, mas agora era o tempo dele ajudar os que
estavam na praia.
Hoje é o tempo
de você se levantar e ajudar os que estão na sua praia, os que correm ao seu
lado, os que andam ao seu redor, os que estão vivos na sua casa precisando de
sua vida e de seu sorriso. Deus te abençoe!
Pr. Cornélio
Póvoa de Oliveira
20/10/2019
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