DESEJOS, IMPULSOS DA VIDA
Gostaria
hoje de falar sobre desejos. Todo ser humano tem desejos. Alguns desejos são
conscientes e podemos identificá-los facilmente, outros desejos estão em nosso
inconsciente. Muitas vezes estes desejos do inconsciente estão governando
nossas vidas e só os percebemos quando somos confrontados, colocados na parede.
Por exemplo: Uma pessoa diz que tem o desejo de cuidar da saúde, fazer
ginástica, correr, mas todos os dias quando chega em casa logo deita no sofá e
se entrega a preguiça. De fato o verdadeiro desejo dessa pessoa não é cuidar da
saúde, e sim, viver na preguiça. Este é
o desejo que ela não expressa, mas que domina seu inconsciente.
Os
desejos fazem parte de nossa essência, pois são eles que nos empurram e nos
motivam a viver. Uma pessoa sem desejo algum é uma pessoa morta emocionalmente
e espiritualmente. O desejo de realizar algo ou de conquistar algo, da a nós um
propósito para continuarmos firmes na vida e não entregues ao acaso. Se os nossos desejos são o que impulsionam
nossas vidas, precisamos avaliar e compreender nossos desejos a luz da Palavra
de Deus. A primeira lição
bíblica que eu gostaria de destacar sobre os desejos é que...
1 – NOSSOS DESEJOS
DETERMINAM A DIREÇÃO DE NOSSAS VIDAS
16 Eis que alguém se aproximou de Jesus e
lhe perguntou: "Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna?" 17 Respondeu-lhe Jesus: "Por que você me pergunta
sobre o que é bom? Há somente um que é bom. Se você quer entrar na vida,
obedeça aos mandamentos". 18 "Quais?",
perguntou ele. Jesus respondeu: "‘Não matarás, não adulterarás, não
furtarás, não darás falso testemunho, 19 honra teu pai e tua mãe’ e
‘amarás o teu próximo como a ti mesmo’". 20 Disse-lhe o jovem:
"A tudo isso tenho obedecido. O que me falta ainda?" 21 Jesus respondeu: "Se você quer ser perfeito,
vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no
céu. Depois, venha e siga-me". 22 Ouvindo isso, o jovem
afastou-se triste, porque tinha muitas riquezas. (Mateus
19.16-22)
Esta
história da Bíblia nos fala de desejos. Um jovem rico desejava ter a vida
eterna e se aproximou de Jesus para lhe perguntar o que deveria fazer para
obtê-la.
Jesus
diz ao jovem rico que deveria obedecer aos mandamentos de Deus, dados por
Moisés. O jovem acreditando que já os cumpria diz a Jesus: “a tudo isso tenho
obedecido”. Entretanto a pergunta que ele faz a Jesus - “O que me falta ainda?”
- mostra que ele não se sentia seguro quanto a sua salvação. Essa insegurança se deve a dois fatores:
·
Primeiro fator: A obediência aos mandamentos não
assegura que uma pessoa é suficientemente justa para entrar no céu,
pelo contrário, a lei apontava para ele o desejo de seu coração em infringi-la.
A lei dizia para ele, assim como diz a todos nós, que existe em nós um desejo mal,
um desejo de ir contra os princípios de Deus.
·
Segundo fator: Somos incapazes de obedecer aos
mandamentos de Deus plenamente. O jovem rico acreditava que estava
obedecendo aos mandamentos de Deus, mas já falhava no primeiro mandamento, pois
amava mais ao dinheiro do que a Deus.
Mas
nessa história nos é apresentado um segundo desejo, um desejo que estava no
inconsciente desse jovem, o desejo pela riqueza, que só aparece quando Jesus o
confronta a dar o que tinha aos pobres e então segui-lo. O relato da história
nos mostra que este desejo inconsciente era o desejo que realmente impulsionava
a vida desse jovem. As palavras de Jesus o confrontou e trouxeram a luz o
desejo que estava escondido em seu inconsciente. A história termina de forma
triste, pois o jovem optou em se afastar de Jesus, o que nos mostra que o
desejo pela riqueza era maior e mais forte do que o desejo de entrar no céu.
Seu desejo pela riqueza determinou a direção de sua vida e seu futuro. A segunda lição bíblica que eu
gostaria de destacar sobre os desejos é que...
2 – PRECISAMOS AVALIAR E
PRIORIZAR CORRETAMENTE NOSSOS DESEJOS
Se
os nossos desejos como vimos podem determinar a direção de nossas vidas e
interferirem em nosso futuro eterno, precisamos avaliá-los e priorizá-los
corretamente.
O
jovem rico não soube avaliar e priorizar seus desejos corretamente. Ele
priorizou a riqueza (o que é passageiro) ao invés de ter priorizado a vida
eterna. Muitos hoje cometem o mesmo erro priorizando uma vida confortável,
abrem mão de uma vida irrepreensível, honesta e de uma ética intocável para
obterem lucros, e assim poderem desfrutar dos prazeres oferecidos aos que tem
dinheiro. Não percebem que ao abrirem mão dos valores e princípios de Deus condenam
a si mesmos a morte eterna.
Portanto
é preciso avaliar cuidadosamente cada um de nossos desejos e priorizarmos o que
de fato é prioridade. Podemos classificar nossos desejos da seguinte forma:
Desejos carnais, desejos espirituais e desejos legítimos.
·
Desejos carnais
– são frutos da nossa natureza caída.
·
Desejos espirituais
– são promovidos em nós pelo Espírito Santo de Deus.
·
Desejos legítimos
– são intrínsecos ao nosso ser, fazem parte de nossa constituição humana
(comer, dormir, descansar, busca por segurança, bem-estar, etc.).
Os
desejos carnais estão em conflitos com os desejos espirituais, conforme lemos
em...
17 Pois a carne deseja o que é
contrário ao Espírito; e o Espírito, o que é contrário à carne. Eles estão em
conflito um com o outro, de modo que vocês não fazem o que desejam. (Gálatas 5.17)
Os
desejos carnais são frutos de nossa natureza caída e nos levam a práticas
pecaminosas que Paulo chama de obras da carne.
19 Ora, as obras da carne são
manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem; 20 idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira,
egoísmo, dissensões, facções 21
e inveja; embriaguez, orgias e coisas
semelhantes. Eu os advirto, como antes já os adverti, que os que praticam essas
coisas não herdarão o Reino de Deus. (Gálatas 5.19-21)
Paulo
afirma que os desejos carnais nos distanciam do Reino de Deus e nos condenam a
morte eterna. Contudo os que pertencem a Cristo, isto é, que se renderam ao seu
Senhorio, já não são dominados por esses desejos da carne, conforme descreve o
apóstolo Paulo.
24 Os que pertencem a Cristo Jesus
crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos. (Gálatas 5.24)
Os
que pertencem a Cristo, que crucificaram a carne são tomados por novos desejos,
novas paixões, passam a ter prazer maior não mais nas coisas temporais, mas no
que os conecta com a eternidade, com o próprio Deus. São possuídos pelos desejos
espirituais, desejos que brotam diretamente do coração de Deus e que produzem
neles a manifestação do fruto do Espírito, que são descritos pelo apóstolo
Paulo.
22 Mas o fruto do Espírito é amor,
alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, (Gálatas 5.22)
Devemos
sempre priorizar os desejos espirituais, os desejos que nascem do coração de
Deus, pois fomos criados para sua glória e somente quando vivemos para a glória
de Deus alcançamos o sentimento de realização. Sentimento este que nos dá a
sensação de que a vida é bela, é boa, de que ela tem sentido. Os desejos
produzidos pelo Espírito de Deus em nós nos impulsionam a uma vida plena. Talvez você esteja se
perguntando: “Como posso distinguir se o desejo de meu coração provém de Deus?”.
3 – OS DESEJOS DE DEUS
NOS IMPULSIONAM PARA FORA DE NÓS
Os
desejos de Deus são expressões de seu amor, por isso sempre que são promovidos
em nós nos impulsionam para fora de nós. O amor é um sentimento que nos lança
para fora de nós mesmos. A Bíblia nos apresenta essa verdade de capa a capa.
28 Um dos mestres da lei
aproximou-se e os ouviu discutindo. Notando que Jesus lhes dera uma boa
resposta, perguntou-lhe: "De todos os mandamentos, qual é o mais
importante?" 29 Respondeu Jesus:
"O mais importante é este: ‘Ouve, ó Israel, o Senhor, o nosso Deus, o
Senhor é o único Senhor. 30 Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de
toda a sua alma, de todo o seu entendimento e de todas as suas forças’. 31 O
segundo é este: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’. Não existe mandamento
maior do que estes". (Marcos 12.28-31)
Jesus
ao ser questionado por um dos mestres da lei sobre qual era o mandamento mais
importante, ele afirmou que o mandamento mais importante era amar a Deus e amar
ao seu próximo. Em outras palavras Jesus está dizendo que precisamos em
primeiro lugar nos lançarmos pleno para Deus, este é um movimento para fora de
nós; e em segundo lugar nos lançarmos para o nosso próximo. Novamente Jesus
pede para fazermos um movimento para fora de nós em direção ao nosso próximo,
assim como nos lançamos constantemente para nós mesmos em amor.
O
amor não é estático, sem movimento, imóvel, pelo contrário o amor é dinâmico,
ativo, por isso que não se ama somente de palavras, pois o amor produz ação em
direção ao outro, o amor nos lança para fora de nós mesmos.
Deus
é amor, Ele é a expressão maior de amor, e foi o amor de Deus que o levou a
desejar trazer a existência o que não existia. Deus nos criou por desejar
compartilhar seu amor conosco, sua vida conosco.
Todo
desejo que nos impulsiona para nós mesmos desconsiderando o próximo não provém
de Deus. Todo desejo que nos lança para dentro de nós, que nos faz ver o mundo
a partir de nós, de nossas necessidades pessoais, é desejo egoísta produzido
por um amor distorcido, desconfigurado como consequência da queda do ser humano
no Éden.
Por
outro lado todo desejo que nos impulsiona para fora de nós, para o outro,
provém de Deus. Todo desejo despertado em nós que nos faz ver o mundo além de
nós é certamente promovido pelo Espírito de Deus.
Não
estou dizendo que todo desejo pessoal que temos é mal ou errado. Desejar ter um
carro, uma casa, um emprego, se casar, fazer sexo com sua esposa e outros
tantos desejos não são mal em si mesmo, não são errados. Esses desejos fazem
parte dos desejos legítimos. Eles só se tornam mal quando eu desejo tais coisas
à custa do meu próximo ou quando me torno escravo de um deles, isto é, quando passo a ser dominado por este desejo.
Um
desejo alcançado à custa da vida de outro produz a destruição de todos nós e
não somente daquele diretamente prejudicado. Isso se deve porque fomos criados interligados,
interdependentes uns dos outros, com o fim de nos completarmos, nos edificarmos
e nos amarmos. Fomos criados por Deus com o fim de vivermos em unidade, somos
todos um, gerados de Adão e Eva, feitos do barro. Estamos todos conectados
neste movimento cósmico da vida produzida por Deus. Nossas vidas não estão
separadas e desconectadas do universo. Quando produzimos divisão e
distanciamento do outro, destruímos a nós mesmos, pois destruímos a unidade
existente no princípio da criação e que foi restaurada por Cristo na cruz e
restauração esta que será manifestada em sua segunda vinda. Quando nos ferimos
replicamos isso neste movimento cósmico da vida produzida por Deus. A vitima de
hoje possivelmente será o opressor de amanhã. O opressor de hoje possivelmente
será a vitima de amanhã.
Só
conseguiremos quebrar este movimento de replicação do mal, de destruição, de
amargura, de violência quando em primeiro lugar desejarmos o Deus que na cruz
morreu por nós e a ele nos entregarmos de todo nosso coração e em segundo lugar
desejarmos amar o nosso próximo como amamos a nós mesmos.
Cada
indivíduo que descobre Deus e se rende a sua sabedoria é mais um indivíduo
impulsionado para fora de si mesmo. É mais um indivíduo desejoso de ver a vida
de Deus fluindo de si para fora, em um movimento de si para Deus e de si para o
próximo. Minha oração é que você faça parte destes indivíduos chamados por Deus
para fora e que juntos consigamos viver o chamado de Deus neste movimento que
nos impulsiona a sairmos de dentro de nós para fora, para Deus e para o outro.
REFLEXÃO FINAL
1. Você é capaz de discernir qual desejo
determina a direção de sua vida no dia-a-dia? (o que te move a
trabalhar, a ir à igreja, a fazer as coisas triviais da vida)
2. Você tem avaliado seus desejos para
saber se eles são carnais ou espirituais? Você tem priorizado os desejos
espirituais em sua vida?
3. Seus desejos tem lançado você para fora
de si mesmo? Seus desejos são expressões de amor?
Pr.
Cornélio Póvoa de Oliveira
02/02/2020
Nenhum comentário:
Postar um comentário