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segunda-feira, 1 de junho de 2020

SERMÕES 133 - ENCORAJAI-VOS UNS AOS OUTROS EM TEMPO DE PANDEMIA


ESPIRITUALIDADE CENTRADA NO OUTRO:
ENCORAJAI-VOS UNS AOS OUTROS EM TEMPO DE PANDEMIA

11 Por isso, exortem-se (parakaleite - παρακαλεῖτε) e edifiquem-se uns aos outros, como de fato vocês estão fazendo. (1 Tessalonicenses 5.11)
O apóstolo Paulo em sua primeira epístola aos irmãos de Tessalônica orienta-os que continuassem se exortando e edificando-se uns aos outros, como eles já vinham fazendo.
A palavra exortar do grego “parakaleo - παρακαλεω” é formada pela preposição “para” mais o verbo “Kaleo - chamar” significando “chamar de lado”. Ela é usada com o sentido de encorajar, animar, consolar, mostrar o caminho correto. Parakaleo ocorre quando você chama uma pessoa de lado para ajudá-la. Paulo está orientando os irmãos a fazerem isso uns aos outros.
Acredito que essa orientação de Paulo é muito pertinente a nós hoje que vivemos em tempo de pandemia. A prorrogação da quarentena anunciada pelo governador Dória algumas semanas atrás só confirmou que estamos diante uma realidade assustadora e inusitada a todos nós. Acredito que a humanidade nunca viveu algo semelhante a essa experiência. Cidades sendo fechadas, fronteiras fechadas, praias proibidas e igrejas fechadas.
Todos os dias o número de mortos pelo coronavírus vem aumentando, apesar de todos os esforços dos governos. Recentemente os jornais anunciavam que os países que começaram a flexibilizar a quarentena, numa tentativa de voltarem a normalidade da vida, tiveram um aumento de mortes e de pessoas contagiadas pelo coronavírus. Ainda não temos uma vacina para por fim a essa epidemia, mas acredito que em breve, com a graça de Deus teremos.
O coronavírus tem causado estragos não só na saúde de muitos, mas também na economia de muitas nações, e claro, com isso levando muitas famílias a falência, a perda total de seus rendimentos. O coronavírus também tem causado estragos na vida emocional de muitas pessoas devido a diversos fatores: pela perda de parentes, de seus negócios, de seus empregos e da própria esperança, pois muitas dessas pessoas que vivenciaram essas diversas perdas se encontram agora desmotivadas a continuarem vivendo e lutando diante um futuro incerto e inseguro como o que tem sido apresentado até este momento.
A pergunta é: “Como nós podemos nos encorajar uns aos outros diante este quadro de epidemia avassalador?” Acredito que a resposta para esta pergunta se encontra no próprio contexto e experiência vivida pela igreja de Tessalônica. Vejamos o contexto em que viviam os irmãos da igreja de Tessalônica.


1 – O CONTEXTO DE TESSALÔNICA
Tessalônica era uma cidade portuária e um entroncamento de importantes vias do Império Romano. Consequentemente era também um importante centro comercial por onde circulavam pessoas de diferentes origens. Para sua colonização os romanos levaram para a cidade pessoas das mais diversas origens como: ítalos, sírios, egípcios e judeus com o fim de desenvolverem a cidade.
Tessalônica tinha um governo próprio e desfrutava do status de cidade livre. Em troca, porém, devia provar fidelidade ao imperador romano. Portanto anunciar a Cristo como Senhor em Tessalônica era tido como um ato de infidelidade ao imperador romano.
A fundação da comunidade cristã se deu por volta do ano 50 d.C. através do ministério de Paulo e Silas. Neste tempo Tessalônica já era a cidade mais importante da província da Macedônia e sede do procônsul (governador) romano.
Paulo pregou por três sábados consecutivos na sinagoga (Atos 17.1,2) da cidade. Alguns judeus foram persuadidos por Paulo e se uniram a ele. Contudo parece que sua pregação encontrou maior acolhida entre os gregos.
A comunidade se firmou vivendo na fé e no amor e mantendo viva a esperança, embora se encontrasse num ambiente hostil. O risco era de que muitos viessem a se afastar em consequência da pressão exercida pelos grupos judaizantes e por grupos sociais que preferiam não dar espaço a eventuais suspeitas com relação à sua fidelidade a Roma.
Paulo e Silas foram forçados a deixar a cidade às pressas em razão das denúncias contra a sua atuação (At 17.6-10). Ciente destas dificuldades, Paulo, passado algum tempo, enviou Timóteo para ter notícias sobre os tessalonicenses e para encorajá-los (1 Ts 3.1-5). Ao regressar, Timóteo trouxe boas notícias a respeito da perseverança e fidelidade da pequena comunidade. Porém algumas dúvidas perturbavam seus membros. Os tessalonicenses desejavam saber o que aconteceria com aqueles que já tinham morrido quando Cristo voltasse (1 Ts 4.13-18). Possivelmente muitos deles morreram como mártires.
Além disso, havia uma inquietação quanto à expectativa escatológica, alguns deles já não produziam mais nada, não trabalhavam por causa da expectativa de que Jesus voltasse naqueles dias, e estes ociosos membros da comunidade local acabaram por se tornarem pesados para os demais irmãos e por isso se tornaram alvos da repreensão de Paulo.
Assim como os tessalonicenses, penso que hoje também vivemos dias de ansiedade pela volta de Jesus. O coronavírus e a inusitada ocorrência que ele trouxe tem promovido uma preocupação no meio cristão com relação à volta de Jesus. Muitos estão se perguntando: “Será que Jesus já está voltando nesses dias?” Recentemente falei sobre isso em uma de nossas mensagens e também em nosso programa semanal de quarta “conectar”.
Os cristãos de Tessalônica também estavam preocupados com suas vidas, pois experimentavam perseguições fortíssimas da sociedade tessalônica. Muitos deles perdiam a vida por causa de sua fé. Outros perdiam seus negócios, seus empregos, suas famílias, pois estes passavam a serem rejeitados pela sociedade de seus dias. Ainda outros choravam pelos parentes que foram mortos pela perseguição. Por razões diferentes viveram experiências semelhantes a que vivemos hoje com o coronavírus: Incertezas com relação ao futuro, insegurança quanto à vida presente, profunda tristeza com a morte de parentes, amigos e também um profundo desânimo por ver seus negócios falindo e nada poderem fazer. Diante disso afirmo novamente que as palavras do apóstolo Paulo se faz relevante para os nossos dias atuais. Portanto vamos olhar com mais atenção o que Paulo está nos ensinando.

2 – A NOSSA VIDA ESTÁ EM CRISTO
11 Por isso (Dio - Διὸ), exortem-se e edifiquem-se uns aos outros, como de fato vocês estão fazendo. (1 Tessalonicenses 5.11)
O verso onze começa com a palavra “Por isso ou Portanto” que é uma conjunção coordenativa conclusiva. O que significa que o verso onze é uma conclusão dos versos anteriores, mais precisamente dos versos nove e dez.
9 Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para recebermos a salvação por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. 10 Ele morreu por nós para que, quer estejamos acordados quer dormindo, vivamos unidos a ele. (1 Tessalonicenses 5.9,10)
Os irmãos de Tessalônica pareciam compreender que morrer antes de Jesus voltar era de certa forma desvantajoso em relação aos que estivessem vivos. Alguns pareciam demonstrar um certo medo de serem pegos de surpresa por Jesus quando este viesse novamente em glória.
Paulo diante disso busca confortá-los, encorajá-los afirmando que eles não haviam sido destinados para a ira, mas pelo contrário, para receberem a salvação por meio de Jesus Cristo. De forma que quer estivessem acordados ou dormindo (mortos) eles já estavam unidos a Jesus Cristo. Isto significa dizer que quer você esteja vivo ou morto quando Jesus voltar, você já está unido a Ele. Você e eu fomos destinados em Jesus à salvação, isto significa que fomos destinados em Jesus à vida eterna, a uma vida eternamente de paz, de alegria, de justiça, de saúde plena, de vigor pleno, de abraços pleno, de amor pleno e de plena comunhão com Deus.
Portanto você não deve viver com medo da volta de Jesus, se ela ocorrerá nesses dias quando você ainda estiver vivo ou se ocorrerá daqui a alguns anos quando você não mais estiver presente neste mundo. Os que morreram ou que vierem a morrer em Cristo antes de sua volta já estão unidos a Ele, uma vez que já estavam unidos a Ele em quanto ainda estavam vivos. Logo aqueles que amamos e que partiram desta vida, seja por causa do coronavírus ou por outra razão qualquer, mas que partiram escorados, alicerçados em sua fé na pessoa de Jesus Cristo estão com Ele na glória.
Quanto a nós que estamos vivos e que vivemos em Cristo estamos igualmente unidos a Jesus. A morte nos separa do corpo físico em que habitamos hoje, mas não nos separa de Jesus Cristo. Nada mais pode nos separar de Jesus Cristo. O próprio apóstolo Paulo afirma esta verdade ao escrever aos irmãos de Roma.
37 Mas, em todas estas coisas somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. 38 Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, 39 nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. (Romanos 8.37-39).
Esta é a certeza que todos nós cristãos precisamos ter em nossas mentes e corações, principalmente neste tempo de coronavírus. Somos mais que vencedores em Cristo Jesus!
O que o apóstolo Paulo está dizendo é que não importa os infortúnios que a vida aqui possa nos causar, eles não tem o poder de nos separar do amor de Jesus Cristo. Não importa as ações que anjos ou demônios realizem neste mundo presente, elas não podem nos separar do amor de Deus. Eles podem causar terremotos, epidemias, a falência de nossos negócios e até mesmo realizarem coisas extraordinárias como a que estamos vivendo, mas nada que façam pode nos separar do amor de Deus em Cristo Jesus.
Não importa se no final desta epidemia estaremos vivos ou dormindo, pois a realidade é que em Cristo estamos vivos para sempre. Por isso Paulo diz “quer estejamos acordados quer dormindo, vivamos para Cristo”.
No fim de tudo não importa se viveremos na prosperidade ou na pobreza, assim como não importa se morreremos na prosperidade ou na pobreza, mas o que importa é que vivamos e morramos em Cristo, porque os que viverem e morrerem Nele estarão unidos a Ele para todo o sempre. Essa certeza é também a esperança que deve nos mover todos os dias. Essa mesma certeza e esperança nós devemos trazer a memória de nossos irmãos, e dessa forma nos encorajarmos uns aos outros, em meio a todas as adversidades causadas pelo coronavírus em nossos dias.

REFLEXÃO FINAL
Concluo essa reflexão lembrando a você que os irmãos de Tessalônica enfrentavam dificuldades parecidas com as que enfrentamos hoje, devido ao coronavírus, com relação ao amanhã. Eles não tinham certeza se estariam vivos no outro dia devido às perseguições. Viviam com o medo de serem mortos ou de que alguém próximo a eles viesse a morrer. Eles não tinham certeza se teriam o que comer, pois a sociedade os rejeitavam e não queriam fazer negócios com eles; não tinham certeza se teriam onde morar, pois poderiam ser expulsos da cidade como foram Paulo e Silas. Entretanto Paulo os encorajou lembrando-os de que não importava se viveriam ou se morreriam neste tempo presente, mas que se mantivessem firmes na fé em Cristo Jesus, pois vivos ou mortos estariam para sempre com Ele em Seu Reino.
Assim como os irmãos de Tessalônica talvez você esteja precisando de encorajamento hoje. Assim como eles você pode estar enfrentando dificuldades com relação ao amanhã. Está com medo de que o coronavírus possa levá-lo a morte, ou alguém de sua casa possa vir a morrer. Possivelmente você esteja preocupado se terá como pagar as contas de amanhã ou como comprar alimento para sua família. Talvez até mesmo com medo de não ter onde morar.
A verdade é que neste momento de epidemia todo mundo está precisando de encorajamento. Todos nós precisamos que alguém nos chame de lado em um determinado momento e nos encoraje a continuarmos caminhando com fé no amanhã prometido por Deus.
É isso que pretendo fazer neste momento, chamar você de lado, e no nome de Jesus encorajá-lo. Chegue mais perto, abra bem seus ouvidos, pois quero falar com você!
A vida é curta e passageira. Portanto viva sua vida com temor a Deus. Viva submisso a Jesus Cristo, o Filho de Deus, pois só Nele você tem vida eterna. Viva cada dia como se fosse o último dia de sua vida. Aproveite o hoje para amar os que estão próximos e também distantes como se fosse a sua última oportunidade. Seja generoso com as pessoas. Divida o que você pode dividir. Não viva ociosamente. Trate todas as pessoas com respeito. Não desperdice seu tempo com informações irrelevantes e inúteis. Não se torne pesado para os de sua casa e seus irmãos na fé, pelo contrário seja alguém proativo. Viva todos os dias pronto para responder a Deus a respeito de todos os seus atos e escolhas diárias. Viva com responsabilidade e não use da fé para viver de forma inconsequente. A fé não te dá o direito de ser tolo e arrogante. A fé não te faz imune aos sofrimentos, as doenças, as crises e nem as epidemias deste mundo. Mas a fé em Jesus te capacita a enfrentar os sofrimentos, as doenças, as crises e epidemias com lucidez e coragem que só pode ter quem crê na existência de um Deus Soberano e Criador de todas as coisas.
Por fim quero dizer novamente: viva cada dia como se fosse o último dia de sua vida, mas viva com a certeza de que não será, pois em Cristo a morte já não existe mais. Portanto viva sonhando e construindo um amanhã melhor para todos, até que nos encontremos com Jesus quer estejamos acordados ou dormindo.


Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira
31/05/2020

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