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segunda-feira, 15 de junho de 2020

SERMÕES 135 - JESUS DIANTE A TEMPESTADE


NOS PASSOS DE JESUS EM TEMPO DE PANDEMIA:
JESUS DIANTE A TEMPESTADE

A pandemia tem gerado sobre a maioria das pessoas medo. Esse medo se manifesta das mais diversas formas. Medo de morrer. Medo de se relacionar com outras pessoas. Medo de perder todos os bens que foram conquistados ao longo da vida. Muitos, neste momento, ainda estão vivendo na fase do medo. Entretanto muitos outros já superaram o medo, porque a pandemia já destruiu suas vidas e agora estes estão tentando encontrar forças para reconstruí-la.
A pandemia é como uma forte tempestade que nos alcançou transformando toda a realidade ao nosso redor. Ela provocou um caos em nosso mundo econômico, social e político. A pandemia assim como uma tempestade veio destruindo tudo que construímos como sociedade. Quando colocamos uma lupa percebemos que esta tempestade destruiu muitas famílias. Muitos casamentos terminaram em divórcios neste período de confinamento devido à pandemia. Pais perderam filhos nesta tempestade. Filhos perderam seus pais. Famílias perderam suas casas, seus empregos, seus negócios.

Entretanto não devemos olhar para a pandemia somente com um olhar negativo, pois toda tempestade exige de nós mudanças, que podem vir a ser benéficas para nossas vidas. Por exemplo: Muitas pessoas pelas mais diversas razões neste tempo de pandemia passaram a buscar mais a Deus. Muitas famílias ressuscitaram os cultos domésticos. Muitos pais tiveram a oportunidade de conversar com seus filhos e passaram tempos preciosos ao lado deles.
A pandemia, assim como uma tempestade tem exigido de nós ações para conter seus fortes ventos carregados de águas, nos tirando de uma comodidade e nos tornando mais participativos na vida. Podemos não ter o controle sobre a tempestade, mas podemos diminuir seus efeitos sobre nós. Podemos não ter controle sobre o vírus desta pandemia, mas podemos diminuir seus efeitos sobre nós. Somos responsáveis não somente por nossa pessoa, mas por todas as demais pessoas neste planeta. Portanto precisamos cuidar de nossa saúde seguindo as recomendações do Ministério de Saúde, e assim colaborarmos para que outros não adoeçam.
Esta tempestade epidêmica também fez renascer o sentimento de solidariedade, em meio ao egoísmo tão crescente em nossa sociedade capitalista. Temos assistido empresas privadas abrindo mão de seus lucros para proverem máscaras, cestas básicas e outros tipos de ajuda à população mais carente de nosso país. Também temos visto igrejas mais atuantes no pastoreio e cuidado de seus membros, do que quando se reuniam presencialmente.
A pandemia, assim como uma tempestade, veio destruindo muitas coisas, mas também trouxe a possibilidade de iniciarmos algo novo e melhor em todas as dimensões de nossas vidas. Podemos ser melhor como igreja. Podemos ser melhor como pais, filhos, amigos e irmãos. Podemos iniciar um novo projeto para nossa carreira profissional. É tempo de sonharmos novos sonhos e descobrirmos novas portas. Deus te deu a vida. Sua vida está sob a sua responsabilidade. Cabe a você decidir se a tempestade é o fim ou o inicio de uma nova jornada.
Diante disso quero convidar você a refletir como Jesus lidou com a tempestade. Convido você a ler comigo o Evangelho de Marcos 4.35-41.
35 Naquele dia, ao anoitecer, disse ele aos seus discípulos: "Vamos atravessar para o outro lado". 36 Deixando a multidão, eles o levaram no barco, assim como estava. Outros barcos também o acompanhavam. 37 Levantou-se um forte vendaval, e as ondas se lançavam sobre o barco, de forma que este foi se enchendo de água. 38 Jesus estava na popa, dormindo com a cabeça sobre um travesseiro. Os discípulos o acordaram e clamaram: "Mestre, não te importas que morramos?" 39 Ele se levantou, repreendeu o vento e disse ao mar: "Aquiete-se! Acalme-se!" O vento se aquietou, e fez-se completa bonança. 40 Então perguntou aos seus discípulos: "Por que vocês estão com tanto medo? Ainda não têm fé?" 41 Eles estavam apavorados e perguntavam uns aos outros: "Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?" (Marcos 4.35-41)
Vamos analisar o texto verso a verso. A primeira conclusão que podemos extrair do texto, baseados nos versos trinta e cinco e trinta e seis, é que não havia sinal de que uma tempestade estava por vir.

1 – NÃO HAVIA SINAL DE QUE UMA TEMPESTADE ESTAVA POR VIR
35 Naquele dia, ao anoitecer, disse ele aos seus discípulos: "Vamos atravessar para o outro lado". 36 Deixando a multidão, eles o levaram no barco, assim como estava. Outros barcos também o acompanhavam. (Marcos 4.35,36)
Jesus estava em um barco, a beira-mar, ensinando a respeito do Reino de Deus, a uma multidão que se encontrava na beira da praia.
O tempo foi passando e diz o texto que ao anoitecer Jesus chamou seus discípulos para irem para o outro lado do mar da Galiléia. Certamente Jesus os chamou porque não havia sinal algum de que uma tempestade estava por vir. A multidão continuava ali ouvindo a Jesus porque certamente não estava ventando e nem chovendo naquele momento. Tudo estava muito calmo.
Seus discípulos prontamente entraram no barco e iniciaram a navegação para o outro lado do mar. Os discípulos de Jesus eram pescadores, homens acostumados ao mar e não viram nenhum perigo em atravessarem para o outro lado porque não havia sinal nenhum de que uma tempestade estava por vir. Eles estavam seguros que podiam navegar.
Acredito que assim estava a vida de quase todas as pessoas antes da pandemia, antes que esta tempestade chamada covid-19 surgisse. Tudo estava muito calmo. De certa forma, ainda que enfrentássemos algumas dificuldades, tínhamos a sensação de que estávamos no controle de nossas vidas. Muitos de nós já estávamos acomodados em nossa forma de ser e viver. Sentíamos seguros dentro do barquinho que construímos para navegarmos no mar da vida.
Contudo diz o verso trinta e sete que uma tempestade surgiu.

2 – UMA TEMPESTADE SURGIU
37 Levantou-se um forte vendaval, e as ondas se lançavam sobre o barco, de forma que este foi se enchendo de água. (Marcos 4.37)
A calmaria se transformou em uma grande tempestade abalando todas as convicções e fazendo desmoronar toda confiança que os discípulos possuíam em si ou no barco. Eles foram pegos de surpresa pelos fortes ventos que surgiram do nada. Eles não possuíam os recursos tecnológicos que temos hoje na meteorologia para nos prevenirmos de uma tempestade, e agora eles estavam vendo o barco afundar. Por mais que tentassem perceberam que não tinham mais o controle sobre a situação e suas vidas estavam correndo perigo.
Da mesma forma nós fomos pegos de surpresa por esta tempestade epidêmica chamada de covid-19. Sei que alguns culpam a China por esconder a verdade a respeito deste vírus. Acreditam que a China tenha segundas intenções na propagação desta epidemia. Mas não quero me deter nestas questões políticas. A verdade é que a grande maioria da população brasileira e do mundo foram pegas de surpresa por esta tempestade. O mal não manda aviso prévio. O mal chega de surpresa com o fim de esmiuçar nossa fé, nossas convicções, nossa espiritualidade e nossa alma.
Diante a realidade da água que está entrando no barquinho que construímos para navegarmos no mar da vida, nossas convicções a respeito da vida e nossa confiança em Deus estão sendo colocadas a prova neste momento de pandemia.
No mesmo tempo em que os discípulos estavam apavorados e desorientados, vendo suas convicções e confiança em Deus se mostrarem nulas diante a realidade da tempestade, Jesus dormia, conforme lemos no verso trinta e oito.

3 – JESUS DORMIA
38 Jesus estava na popa, dormindo com a cabeça sobre um travesseiro. (Marcos 4.38a)
Quando Jesus partiu com os discípulos para a outra margem tudo estava calmo. O balanço do barco era suave e propicio para dormir. Acredito que dois motivos levaram Jesus a dormir enquanto se dirigiam para o outro lado do mar.
·        Primeiro motivo: O cansaço – Jesus tinha passado horas no barco ensinando a uma multidão. Ele estava cansado mentalmente e fisicamente. Nem mesmo com o inicio da tempestade Jesus acordou. Ele precisou ser acordado por seus discípulos. Certamente o cansaço deve ter sido a razão pela qual Jesus pediu aos seus discípulos que o levasse a outra margem do mar. Jesus buscava se afastar um pouco da multidão e recobrar forças.
·        Segundo motivo: Confiava no amor do Pai – Jesus dormiu no barco e descansou. Ele se entregou completamente ao sono porque sabia que o Pai permanecia acordado por ele. Jesus dormiu porque assumiu a forma humana, mas sabia que o Pai estaria sempre acordado cuidando de sua vida. Ele tinha certeza plena que não corria risco algum, pois sua vida estava segura nas mãos do Pai.
Enquanto Jesus descansava confiante no amor do Pai, seus discípulos percebendo que nada podiam fazer para mudar aquela situação de tempestade em que se encontravam decidiram assumir a responsabilidade de suas vidas, conforme lemos no verso trinta e oito.

4 – ASSUMINDO A RESPONSABILIDADE DE NOSSAS VIDAS
38b Os discípulos o acordaram e clamaram: "Mestre, não te importas que morramos?" (Marcos 4.38b)
Quando falo de assumir a responsabilidade de nossas vidas, estou falando de assumirmos a responsabilidade de nossas decisões e de nossa própria história.
Os discípulos perceberam que não podiam fugir ou se esconder da responsabilidade que tinham em relação a suas vidas. Eles estavam diante uma encruzilhada. Podiam esperar que o mar os engolisse ou acordar Jesus. O futuro deles seria determinado por essa escolha.
Muitas pessoas preferem fugir ou se esconder da responsabilidade que possuem sobre suas decisões. Simplesmente não decidem nada, mas quando não decidem nada, fazem a pior das escolhas, pois não decidir nada é escolher não viver. Não decidir nada aqui é deixar-se ser engolido pelo mar. É ignorar a inteligência e a capacidade de realizar coisas que Deus entregou a todo ser humano.
Por outro lado existem pessoas que confiam o destino de suas vidas inteiramente em suas mãos. Estas pessoas não creem no determinismo e nem na intervenção divina no mundo dos homens. Pessoas assim acordariam Jesus e diriam a ele: “Mestre procura alguma coisa para se segurar, pois vamos afundar”. Estas pessoas ainda que possam crer em Deus, para elas, Ele nada significa.
Existem também pessoas que acreditam que tudo já está determinado. Deus criou o mundo e determinou todos os acontecimentos deste mundo. Cada chuva, trovoada, seca, queimada, tudo que nos acontece já estava determinado para acontecer. Inclusive cada pessoa que Jesus salvaria na cruz, já havia sido escolhida por Deus antes da fundação do mundo. Aqueles que creem dessa forma não creem em um Deus misericordioso, capaz de mudar a história e o destino de pessoas por compaixão. Elas não são capazes de entender o Deus que poupou a cidade de Nínive. Deus enviou Jonas para pregar a Nínive que iria destruí-los por causa de sua maldade, mas Deus mudou seu decreto por compaixão ao ver que toda cidade havia se arrependido. Não são capazes de entender o Deus do rei Ezequias que determinou sua morte, mas ao ouvir a sua oração teve misericórdia e lhe concedeu mais quinze anos de vida.
Mas existe outra opção para compreendermos Deus e nossa relação de responsabilidade com a vida que Ele nos deu. Penso ser essa a opção apresentada neste texto. Os discípulos acordaram Jesus, pois criam que ele poderia intervir na história naquele momento e por isso lhe perguntaram: “Mestre, não te importas que morramos?”.
É dessa forma que creio na vida. Creio que somos responsáveis por nossas escolhas e respondemos por elas. Deus nos deu a vida e junto com ela a liberdade para vivê-la. Mas junto com a liberdade vem à responsabilidade. Me torno responsável por cada decisão que tomo. Elas afetam minha vida e de todos que me cercam. Assim acontece com a decisão de usarmos uma máscara de proteção contra o vírus covid-19. Contudo creio que Deus intervém na minha história e na sua história. Creio que Ele não nos abandonou neste oceano da vida à mercê dos ventos e tempestades. Ele está no barco conosco. É por isso que eu oro. Oro para que Ele me dê sabedoria para fazer as escolhas certas, porque não acredito que eu não tenha responsabilidade em minhas escolhas, porque não acredito que elas já estão determinadas. Eu oro porque acredito que Ele possa intervir quando já não posso mudar a minha história ou quando faço escolhas erradas. Oro porque acredito em um Deus que navega comigo na vida, me orientando diante as tomadas de decisões, não decidindo por mim, mas participando comigo das decisões e que se compadece de mim, ao me ver aflito lhe pedindo socorro.
Os discípulos com medo de perderem a vida acordaram Jesus e ele se levantou diz o texto. Jesus se levantou.

5 – JESUS SE LEVANTOU
39 Ele se levantou, repreendeu o vento e disse ao mar: "Aquiete-se! Acalme-se!" O vento se aquietou, e fez-se completa bonança. (Marcos 4.39)
A tempestade pode ser as tragédias naturais que nos alcançam e que estão fora de nosso controle. A qualquer momento podemos ser atingidos por algum tipo de tempestade. Essa verdade nos mostra que não temos controle absoluto sobre nossas vidas.
A tempestade pode vir pelo mal causado pelos homens e pelos seus governos. Sabemos que os homens estão sob o domínio do pecado e o maligno utiliza disso para manipulá-los; por isso, a corrupção, a ganância, a prostituição, a imoralidade, a idolatria e a blasfêmia são facilmente encontradas nas instituições humanas. Diante disso as instituições humanas podem facilmente se voltar contra nós a qualquer momento. 
A tempestade representa estas forças que regem sobre nós e das quais não temos poder algum sobre elas e que podem até mesmo tirar nossas vidas. Contudo existe um espaço neste oceano da vida que nos pertence e que nos torna responsáveis pelo curso de nossa embarcação. Independente de todas as circunstâncias ao nosso redor, independente de quais oceanos temos navegado, Jesus está no barco conosco, e se você clamar por Ele, Ele se levantará e fará com que o barco de sua vida chegue no porto celestial seguro.
Jesus tem controle sobre todo universo, sobre cada planeta, estrela, sobre os ventos, mares, montanhas, sobre toda natureza. Jesus pode acalmar as tempestades externas e internas que nos geram medo. Ele pode por fim a tempestade que está sobre você agora. Ele pode por fim a pandemia. Mas a pergunta de Jesus aos seus discípulos continua ecoando a nós hoje. Por que vocês estão com tanto medo?


6 – POR QUE ESTÃO COM TANTO MEDO?
40 Então perguntou aos seus discípulos: "Por que vocês estão com tanto medo? Ainda não têm fé?" 41 Eles estavam apavorados e perguntavam uns aos outros: "Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?" (Marcos 4.35-41)
A pergunta de Jesus “por que vocês estão com tanto medo?” é respondida pelo próprio Jesus através de outra pergunta, feita de forma retórica, que não precisava ser respondida, pois a realidade de que se encontravam apavorados e perguntando uns aos outros: “Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?”, mostra que de fato naquele momento eles não sabiam quem verdadeiramente era o mestre a quem estavam seguindo, por isso mesmo a fé deles não tinha consistência, densidade suficiente para poderem descansar em meio à tempestade.
O texto nos afirma que mesmo eles tendo buscado pela intervenção de Jesus, eles não sabiam de fato quem era Jesus. As perguntas levantadas por Jesus nos dizem que eles não deveriam ter sentido medo da tempestade e nem de suas consequências, isto é, eles não deveriam ter tido medo de que o barco viesse afundar e eles viessem a morrer. Assim como nós não devemos ter medo da epidemia e nem de suas consequências.
Por que eles não deveriam ter medo e por que nós não devemos ter medo? Porque embora sejamos responsáveis por nossas decisões e iremos responder por elas, e, embora estejamos sujeitos a sermos pegos de surpresas por tempestades, existe uma história maior que está sendo escrita sobre a nossa história. Enquanto estamos escrevendo nossa história, Deus está escrevendo a história da redenção humana e de toda sua criação sobre a nossa. De alguma forma a história da redenção escrita por Deus se sobrepões sobre a nossa, de forma que ao perdermos a linha de nossa história, somos capturados em Jesus para dentro da história da redenção escrita por Deus.  Portanto não temos o que temer, pois Jesus nos conduzirá ao porto celestial com segurança.

REFLEXÃO FINAL
Eu quero concluir essa mensagem lembrando a você que quando Jesus foi tomado pelo cansaço depois de um longo período servindo a multidão através do ensino, Ele dormiu.
Talvez diante esta pandemia, mesmo confinado em sua casa, você esteja cansado. Cansado do confinamento, das tarefas domésticas, de ouvir notícias desanimadoras. Ou quem sabe você esteja cansado porque seu trabalho neste período de confinamento se intensificou, ou por alguma outra razão você agora se encontra cansado ou cansada fisicamente e mentalmente.
Assim como Jesus a primeira coisa que você deve fazer é descansar. Vai dormir um pouco. Dormir pode ser simplesmente se desligar por um período dos noticiários, das redes sociais e dos grupos de whatsapp. Dormir pode ser mandar a neura embora e relaxar um pouco com relação às tarefas domésticas. Dormir pode ser adiar um pouco as decisões que pretende tomar.
Jesus dormiu e continuou dormindo enquanto a tempestade agia contra o barco, porque Ele sabia que sua história estava atrelada a história que o Pai estava escrevendo. Jesus dormiu porque confiava no amor do Pai por Ele. Jesus sabia que enquanto ele dormia o Pai o vigiava.
Dormir e pegar no sono como Jesus fez naquele barco, só é possível para nós que cremos em um Deus que se faz presente em nossa história enquanto a escrevemos e que cremos que sobre a nossa história Ele escreve uma história maior e mais bela que redime a nossa própria história. Portanto durma em paz, porque enquanto você está escrevendo sua história neste oceano da vida, ainda que sujeito a tempestades e trovoadas, Deus está incluindo sua história, na história de Jesus. E a partir da cruz, a morte e a ressurreição de Jesus, assim como todas as vitórias de Jesus são agora a sua história. Deus te abençoe!


Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira
14/06/2020

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