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segunda-feira, 29 de junho de 2020

SERMÕES 137 - JESUS DIANTE O GETSÊMANI


NOS PASSOS DE JESUS EM TEMPO DE PANDEMIA:
JESUS DIANTE O GETSÊMANI

INTRODUÇÃO: Informações sobre o Getsêmani
Após ter celebrado a última Páscoa e instituído a Ceia do Senhor, a Bíblia diz que Jesus foi para o Monte das Oliveiras acompanhado de seus discípulos.
Os quatro Evangelhos - Mateus, Marcos, Lucas e João - registram em detalhes tudo o que aconteceu com Jesus no Getsêmani. Aquele jardim foi o local onde ocorreram os últimos eventos que precederam a prisão de Jesus. No Getsêmani Jesus orou ao Pai, exortou seus discípulos, teve sua traição consumada por Judas, curou Malco o soldado romano que teve sua orelha cortada por Pedro e se entregou, sem lutar, de forma voluntariosa aos soldados que foram lá para prendê-lo.
Os relatos evangélicos nos revela que o Getsêmani era um jardim que ficava no sopé, parte inferior do Monte das Oliveiras onde havia uma prensa para extrair azeite, e, é esse o significado do nome Getsêmani “prensa de azeite”. Este local ficava fora das muralhas de Jerusalém, a leste da cidade, no caminho para Betânia.
Neste lugar Jesus faz a oração mais difícil e certamente a mais dolorida de sua vida, conforme podemos ler em Mateus 26.36-44.

36 Então Jesus foi com seus discípulos para um lugar chamado Getsêmani e disse-lhes: "Sentem-se aqui enquanto vou ali orar". 37 Levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. 38 Disse-lhes então: "A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem comigo". 39 Indo um pouco mais adiante, prostrou-se com o rosto em terra e orou: "Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres". 40 Então, voltou aos seus discípulos e os encontrou dormindo. "Vocês não puderam vigiar comigo nem por uma hora?", perguntou ele a Pedro. 41 "Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca". 42 E retirou-se outra vez para orar: "Meu Pai, se não for possível afastar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade". 43 Quando voltou, de novo os encontrou dormindo, porque seus olhos estavam pesados. 44 Então os deixou novamente e orou pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras. (Mateus 26.36-44)

1 – A ANGÚSTIA DE JESUS
A oração de Jesus nos revela que ele se encontrava em agonia profunda. A pressão psicológica era tão grande que um raro fenômeno aconteceu, Jesus suou sangue. Este fenômeno é chamado de Hematidrose, é descrito somente no Evangelho de Lucas 22.44. Lucas sendo médico não deixaria um acontecimento tão impressionante ser esquecido.
A Hematidrose é um fenômeno raríssimo ocorre apenas quando uma pessoa sofre um grande stress emocional. Ela é causada pelo rompimento das finíssimas veias capilares que estão sob as glândulas sudoríparas. Quando o suor começa a escorrer por causa do stress emocional, ele se anexa ao sangue que vasou das veias capilares rompidas formando a hematidrose – a transpiração de sangue. Este raro fenômeno tem sido mais comum em nossos dias devido ao stress cada vez maior que nossa sociedade impõe sobre as pessoas.
O próprio Senhor Jesus disse que sua alma estava numa profunda tristeza, numa tristeza mortal. Certamente esta foi à causa que o levou a transpirar sangue. A pergunta que devemos fazer é: O que levou Jesus a este stress emocional?
Sem dúvida foi o cálice que estava para beber. Jesus por três vezes pediu ao Pai que se fosse possível afastasse dele aquele cálice. Mas o que seria o cálice referido por Jesus?
O cálice mencionado por Jesus e que ele estava próximo a “beber” se referia a todo sofrimento que iria passar por causa da cruz. Mas não se referia ao sofrimento físico contemplado pelos homens antes de sua morte e que foram muito intensos. O cálice se referia, sim, a toda dor que Jesus experimentou entre a sua morte e a sua ressurreição que olhos humanos não puderam ver.
O que deixava Jesus horrorizado a ponto de pedir: “Pai, se possível, passe de mim este cálice!”, era a expectativa de ter de suportar todo o peso da ira de Deus ao carregar o pecado da humanidade sobre si. Aquele que nunca pecou se fez pecado por nós (2 Coríntios 5.21).
O caráter santo e justo de Deus exige o castigo pela iniquidade. Dessa forma, Jesus teria de enfrentar a morte sabendo que estaria completamente abandonado da presença misericordiosa e amorosa do Pai. Todo o cálice da maldição divina por causa do pecado estava prestes a ser derramado sobre Ele na cruz do Calvário. Ali Ele haveria de experimentar todo o horror do inferno para redimir a humanidade.
Na cruz, Jesus não gritou: “Meu Deus está doendo!”; nem mesmo disse: “Pai, eu não quero morrer, me tira daqui!”; mas seu grito foi: “Meu Deus, meu Deus! Por que me abandonastes?” (Mateus 27.46). Esse grito de angustia revela o extremo amargor do cálice que lhe foi dado a tomar.

2 – GETSÊMANI LUGAR DO DESENCONTRO: Lugar de Luta
No Getsêmani Jesus precisou escolher entre permanecer conectado com o Pai desfrutando de sua comunhão plena, mas isto significaria nossa morte eterna; ou morrer a nossa morte e receber toda ira do Pai sobre si, sofrendo a pior de todas as dores, a dor da ausência do Pai por causa do nosso pecado. Essa foi à causa verdadeira da agonia de Jesus no Getsêmani e não a dor física.
O Getsêmani foi o lugar do desencontro da vontade de Deus Pai e da vontade de Jesus. O Getsêmani é por isso um lugar de luta, onde o espírito de Jesus desejava fazer a vontade do Pai, mas sua alma lutava ferozmente contra essa vontade, pois ela não desejava abrir mão da comunhão do Pai, não desejava se ausentar nem por um minuto do amor do Pai.
Por isso podemos dizer que o Getsêmani é aquele momento crucial de nossas vidas, aquele ponto da nossa história onde precisamos tomar uma decisão com extrema cautela, com profundo discernimento, porque esta decisão irá determinar o rumo de nossa história, com consequências profundas e que muito provavelmente não teremos mais como voltar atrás, seja qual for à decisão que tomarmos, a partir daquele momento, teremos que caminhar em frente e prosseguir.
O Getsêmani é por isso um lugar de luta, onde o espírito e a alma lutam como lutavam os gladiadores na arena de Roma. O lugar onde você precisa decidir qual vontade determinará seu caminho, a vontade de Deus ou a sua vontade? A qual vontade você irá se render? Sua escolha apontará de fato quem é o senhor de sua vida.
Se bem que para muitas pessoas suas vontades na verdade não são suas, são as vontades de seus pais, de seus pastores, de seus gurus espirituais, dos influenciadores virtuais ou da cultura imposta por nossa sociedade. Muitas pessoas são prisioneiras de outras, algumas pelo medo psicológico e outras pela incapacidade de discernirem os caminhos, assim deixam que outros escolham por elas. Estas pessoas precisam orar para que Deus as liberte dessas correntes e elas possam assumir o protagonismo de suas vidas.

3 – VOCÊ JÁ ESTEVE OU ESTÁ AGORA NO GETSÊMANI?
Muitas vezes nos encontramos no Getsêmani, talvez você esteja agora no Getsêmani. Sua vontade e a vontade de Deus estão desencontradas. Seu espírito e sua alma estão em luta e sua oração consiste em um intenso clamor para que Deus passe de você este cálice. Você deseja que este sofrimento instalado na sua alma acabe logo.
Talvez você esteja no Getsêmani porque seu casamento se tornou indesejável para você, porque sua filha engravidou do namorado e você quer mandá-la embora, porque seu filho ou sua filha saíram do armário e você sente vergonha deles, porque você foi violentada fisicamente ou sexualmente por alguém da sua família e não consegue perdoá-lo, porque você foi traído por seu cônjuge, porque seu patrão te mandou embora quando você esperava uma promoção. Você esta no Getsêmani por que precisa tomar uma decisão crucial. Qual o próximo passo a ser dado?
Quando nos encontramos neste lugar de luta não só oramos para que se for possível Deus passe de nós o cálice da dor, como também, temos uma tendência muito grande de orarmos a Deus e dizermos a Ele: “faça a Tua vontade”. Ao dizermos isso, de fato o que estamos fazendo na grande maioria das vezes é jogando para Deus a responsabilidade da escolha. Entretanto não foi isso que Jesus fez no Getsêmani.
Quando Jesus disse “faça a Tua vontade” ele não estava jogando para Deus a responsabilidade da escolha naquele momento decisivo de sua vida, de sua história. Jesus escolheu fazer a vontade do Pai, pois sabia que essa era a melhor escolha e que podia confiar no amor do Pai, ainda que por um momento tivesse que suportar sua comunhão com o Pai rompida por causa de nossos pecados. Jesus não foi para a cruz contrariado, emburrado e nem arrastado. Ele escolheu ir por amor ao Pai e por amor a você.
Quando estamos no Getsêmani, neste lugar de luta entre nosso espírito e nossa psique, as muitas vozes nos confundem. Entramos em agonia profunda. Queremos tomar a decisão correta, mas são tantas as implicações que muitas vezes não conseguimos discernir qual o caminho correto. Não conseguimos discernir qual é a voz de Deus e qual é a nossa voz.
Eu diria que a voz de Deus é a voz de nossa consciência, pois a voz de nossa consciência é aquela voz que surge no nosso espírito e que é influenciada pelo Espírito de Deus. Enquanto a nossa voz brota de nossa alma, de nossa psique, de nossas emoções, e, é construída pela cultura que nos cerca, pela religião que seguimos, pela mídia, pelos amigos e família.
A voz da consciência sempre nos conduzirá a tomarmos decisões baseadas na lei do amor, lei esta que governa toda Bíblia, porque Deus é amor, e não na lei fria e rígida que religiosos extraem da Bíblia, de maneira errada, por falta muitas vezes de compreensão da mesma.

4 – A IGREJA DE CRISTO SE ENCONTRA HOJE NO GETSÊMANI
Talvez você esteja se perguntando: Pastor, o que isto tem a ver com a pandemia? Penso que isto tem tudo a ver com a pandemia, pois a pandemia nos trouxe ao Getsêmani, a este lugar de luta, onde temos que tomar uma decisão crucial como igreja.
A pandemia nos obrigou a lidarmos com uma realidade que já conhecíamos, mas que ignorávamos, pois todos nós estávamos acomodados com a maneira de sermos igreja, acredito que principalmente nós pastores.
Neste tempo de confinamento Jesus tem mostrado a todos nós que igreja não precisa de templos para ser atuante, para ser viva. Aliás, Deus nunca quis construir templos em toda história humana. Ele foi contra a construção do Templo em Israel, e só aceitou que fosse construído pela insistência do rei Davi a quem muito amava. Dizer que Deus deseja construir templos é coisa de homens e não de Deus.
Deus nos fez seu templo! Deus destruiu as estruturas religiosas em Cristo, pois fim ao sistema hierárquico sacerdotal. Quando o sangue de Cristo foi derramado na cruz, Deus rasgou o véu que fazia separação entre nós e Ele; e passou a morar em cada ser humano que professa Jesus Cristo como Senhor e Salvador de suas vidas.
Com isso não estou dizendo que é errado ter templos. Mas construir templos não é projeto de Deus. Nunca foi. Os templos têm suas vantagens, afinal nos permite propagar ensinos a muitas pessoas ao mesmo tempo. Entretanto também têm suas desvantagens, pois eles acabaram aprisionando a essência do que nos faz ser igreja: a liberdade de servirmos a Deus sem dependência de qualquer outro sacerdote.
Jesus nos deu uma missão...
19 Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, 20 ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos". (Mateus 28.19,20)
 A missão que foi dada a igreja de Cristo, a mim e a você, foi institucionalizada pelo imperador Constantino. Há anos que a tarefa de fazer discípulos foi transferida para a igreja institucional. Ainda hoje as pessoas não se veem como responsáveis nesta tarefa, elas procuram trazer as pessoas para o templo a fim de que sejam discipuladas pelo pastor ou pelo professor da EBD. Não era isso que Jesus tinha em mente!
Da mesma forma há anos que o privilégio de batizar e celebrar a Ceia se tornou prerrogativa exclusiva do pastor, como se este fosse o novo sumo sacerdote da era pós Cristo. Onde Jesus ou os apóstolos declararam tal prerrogativa aos pastores? Os cristãos da igreja primitiva celebravam a Ceia do Senhor em todos seus encontros de casa em casa e muitas vezes o faziam sem a presença dos apóstolos ou outros oficiais. Paulo foi batizado por um discípulo chamado Ananias e que depois nem aparece mais nas histórias bíblicas.
A Igreja era dinâmica, era um organismo vivo, que na medida em que as pessoas se deslocavam iam pregando o Evangelho umas as outras, batizando os que se convertiam e ensinando a respeito da comunhão e do partir do pão uns aos outros. Não existiam missionários terceirizados, todo mundo era missionário, todos estavam na missão.
Jesus tem mostrado a todos nós neste tempo de pandemia que sua igreja não está atrelada as hierarquias eclesiásticas para existir e nem presa a estruturas físicas para cumprir sua missão.
Não estou querendo polemizar. Não quero inventar nada de novo. Contudo estamos agora no Getsêmani. Podemos ser protagonistas de um momento crucial na história da igreja. Precisamos responder que tipo de igreja nós desejamos ser? Continuaremos sendo a continuidade da igreja de Constantino que institucionalizou a missão da Igreja ou seremos uma igreja viva, onde todos serão treinados e livres para realizar a missão dada por nosso Senhor Jesus Cristo?

CONCLUSÃO
Eu sonho que possamos viver a igreja estabelecida por Cristo e não por Constantino. Eu sonho que possamos com responsabilidade vivermos a liberdade conquistada por Cristo na cruz. Sonho que sejamos uma igreja onde todos os membros sejam de fato sacerdotes de Cristo. Sonho que você possa batizar as pessoas que levou para Cristo. Nada te impede de fazê-lo. Sonho que você possa discipular as pessoas que ganhou para Cristo. Sonho que você possa oficializar a Ceia em sua casa com sua família neste tempo de confinamento e mesmo fora do confinamento. Nesta semana reúna todos que moram com você, prepare o pão e o suco de uva, ensine a eles o porquê celebramos a Ceia do Senhor. Ensine a eles o significado do pão e do cálice. Como e beba com os de sua casa e quando puder coma com aqueles que você tem discipulado. Seja você o oficiante de sua casa.
Diante disso não celebraremos a Ceia no próximo domingo. É a hora de você assumir o sacerdócio que Jesus te deu, a responsabilidade que ele outorgou sobre você. É hora de você ser protagonista na história.
Quando voltarmos a nos reunir presencialmente, e no tempo devido, voltaremos a celebrarmos a Ceia juntos, mas não quero que você se torne prisioneiro da instituição. Não existe nada de diferente entre mim e você aos olhos de Deus, a não ser nossa função dentro do Corpo de Cristo. É meu dever como pastor lhe ensinar a verdade. Por isso, peço a você não se deixe ser prisioneiro de nenhuma instituição, somente de Cristo Jesus.
Estamos diante o Getsêmani, neste lugar de luta entre a vontade de Deus e dos homens. Minha oração é para que possamos ser avivados e renovados pelo poder do Espírito Santo de Deus e reencontrarmos com responsabilidade a liberdade conquistada por Jesus na cruz. Deus te abençoe!



Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira
28/06/2020

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