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terça-feira, 5 de janeiro de 2021

SERMÕES 162 - ENXERGANDO ZAQUEU

 

ENXERGANDO ZAQUEU

 

No início de 2020, mais precisamente no primeiro domingo do mês de março, nós lançamos o tema do ano “Trabalhando Com Deus”. Eu sonhava que ao longo de 2020 nós pudéssemos trabalhar com Deus levando seu amor aos cidadãos itapeviense. Era nosso desejo no aniversário de nossa igreja comemorá-lo, não desfrutando de um dia em uma chácara jogando bola e comendo churrasco, mas abençoando alguma instituição de nossa cidade presencialmente e financeiramente. De fato nós desejávamos com isso tornar visível o amor de Deus por nossa cidade e em especial por aqueles que têm buscado servi-la através de alguma instituição e também por aqueles que têm sido servidos por esta instituição.

Contudo na metade do mês de março de 2020 fomos todos pegos de surpresa por uma pandemia. Passamos a viver de máscaras, as fábricas, comércios, escolas e igrejas tiveram que ser fechadas. Aglomerações se tornaram proibidas e nossas atividades foram suspensas com o fim de preservarmos as vidas de nossos irmãos e familiares.

Em meio à pandemia pude ver “grandes coisas acontecendo”. Durante o tempo que nossa igreja esteve fechada a fidelidade do povo de Deus se mostrou firme, mesmo distante dos cultos presenciais a família PIB de Itapevi, continuo servindo a Deus com seus dízimos e ofertas. Durante o ano que passou várias famílias foram assistidas através do ministério de Ação Social. Todos os meses foram entregues aproximadamente setenta cestas básicas e no natal pudemos entregar além das cestas básicas, cestas de natal. Durante a pandemia entregamos em parceria com a Igreja Batista Memorial de São Paulo máscaras de plástico para proteção facial aos trabalhadores da saúde, nossos jovens distribuíram bolos para os profissionais de saúde, conseguimos manter o envio de ajuda aos nossos missionários. Em todo o tempo nossa igreja esteve trabalhando com Deus.

Grandes coisas fez o Senhor através de nossas vidas, de sua vida que contribuiu durante este ano de 2020 com seu dízimo, com sua oferta, com cestas básicas, com máscaras, com seu tempo e com sua confiança em nossa igreja para que pudéssemos realizar juntos estas ações em prol de vidas.

Contudo neste ano de 2020 nós servimos e mostramos o amor de Deus de uma maneira diferente. Porque não dizer de uma forma mais distante, mais precavida, pois manter a distância entre nós se fez necessário. Separados por uma máscara, impedidos de nos abraçarmos, servimos muitas vezes sem nos olharmos atentamente.

Acredito que 2021 será diferente! Com certeza com o início da vacinação poderemos voltar a nos abraçar, tirar a máscara e olharmos nos olhos uns dos outros. Acredito que 2021 será o ano em que poderemos servir e mostrar o amor de Deus de uma maneira ainda mais próxima, mais humana, mais calorosa.

Eu vivo a esperança de que neste ano de 2021 possamos trabalhar com Deus como Jesus trabalhou, enxergando o outro. Quero convidá-lo a ler comigo o Evangelho de Lucas 19.1-10. Neste texto veremos que Jesus enxergou Zaqueu.

1 Jesus entrou em Jericó, e atravessava a cidade. 2 Havia ali um homem rico chamado Zaqueu, chefe dos publicanos. 3 Ele queria ver quem era Jesus, mas, sendo de pequena estatura, não o conseguia, por causa da multidão. 4 Assim, correu adiante e subiu numa figueira brava para vê-lo, pois Jesus ia passar por ali. 5 Quando Jesus chegou àquele lugar, olhou para cima e lhe disse: "Zaqueu, desça depressa. Quero ficar em sua casa hoje". 6 Então ele desceu rapidamente e o recebeu com alegria. 7 Todo o povo viu isso e começou a se queixar: "Ele se hospedou na casa de um ‘pecador’". 8 Mas Zaqueu levantou-se e disse ao Senhor: "Olha, Senhor! Estou dando a metade dos meus bens aos pobres; e se de alguém extorqui alguma coisa, devolverei quatro vezes mais". 9 Jesus lhe disse: "Hoje houve salvação nesta casa! Porque este homem também é filho de Abraão. 10 Pois o Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido". (Lucas 19.1-10)

Existem muitas maneiras de vermos uma pessoa. A forma como a descrevemos para outros demonstra como nós a enxergamos. O texto nos apresenta duas formas como podemos enxergar as pessoas. A primeira forma:

 

1 – ENXERGÁ-LAS POR SUA POSIÇÃO SOCIAL

2 Havia ali um homem rico chamado Zaqueu, chefe dos publicanos. (Lucas 19.2)

Para muitos Zaqueu era apenas um homem rico e chefe dos publicanos. Os publicanos eram funcionários públicos que trabalhavam na coleta de impostos para Roma e por isso eram vistos por seus irmãos judeus como pecadores. Muitos destes coletores eram corruptos. Não se sabe ao certo se Zaqueu também era corrupto.  

O Império Romano oprimia os judeus e por isso um judeu que trabalhasse para eles era rejeitado e odiado por seus compatriotas independente dele ser corrupto ou não.

Quando Jesus decide sentar a mesa de Zaqueu, o povo se queixa porque só conseguem enxergar Zaqueu através de sua posição social, do que ele representa dentro do sistema econômico de seus dias.

Muitos hoje vivem olhando para as pessoas e enxergando-as somente pelo que elas representam dentro do sistema econômico e social estabelecido em nossos dias. São incapazes de amá-las, de sentar a mesa com elas porque só conseguem enxergá-las por aquilo que elas alcançaram socialmente ou por aquilo que elas representam socialmente, politicamente e ideologicamente.

Algumas pessoas declaram outras inimigas sem dar a elas uma oportunidade de se apresentarem e se mostrarem. Julgam elas como inimiga a partir de sua posição econômica, política, religiosa e algumas vezes até esportiva.

Infelizmente muitos cristãos ainda estão presos a este olhar preconceituoso e dessa forma empurram as pessoas para a morte quando deveriam atraí-las para a vida, para Jesus que é a própria vida.

Todo ser humano precisa ser enxergado como ser humano que é! Um ser que possui uma alma, que tem sentimentos e que expressa à glória de Deus, independente de sua posição social, do status social que ocupa. Outra forma de enxergarmos as pessoas é:

 

2 – ENXERGÁ-LAS POR SUA APARÊNCIA FÍSICA          

3... [...], sendo de pequena estatura... (Lucas 19.3)

O texto nos diz que Zaqueu era de pequena estatura. É muito comum pessoas classificarem outras por sua aparência física. Muitos apelidos são estabelecidos pela aparência física, por exemplo: Magrão, Cabeção, Orelhudo, Tampinha, Gordinho, Quatro olhos, etc.

Pessoas são rejeitas profissionalmente não por sua falta de competência, mas por sua aparência. Algumas por serem gordinhas e outras por não corresponderem ao padrão de beleza imposta pela sociedade de nossos dias.

Muitas pessoas sofrem bullying por causa de sua condição física. Se tornam motivo de zoação de seus colegas de trabalho ou de escola nas redes sociais. Muitas delas já se suicidaram por se sentirem humilhadas por causa de sua aparência. Não faça bullying, não zombe das pessoas por causa de suas características físicas. Ao apelidar alguém por causa de sua aparência ou zombar dela você pode estar matando uma pessoa, ainda que não fisicamente, mas pode estar causando sua morte emocional, psicológica, destruindo a possibilidade dessa pessoa ser feliz consigo mesma. Isso é pecado!

Recentemente temos visto o movimento “Vidas negras importam”. Este é um movimento contra o racismo, contra o julgamento que se faz as pessoas por causa de sua aparência física, neste caso, por causa da cor de sua pele. A prática do racismo é pecado.

Todo ser humano precisa ser enxergado como ser humano que é! Um ser que possui uma alma, que tem sentimentos e que expressa à glória de Deus, independente de sua aparência física.

O texto nos mostra que Jesus olhou para Zaqueu e enxergou o ser humano Zaqueu. Assim como Jesus precisamos olhar para as pessoas e antes de qualquer coisa enxergá-las como ser humano.

 

3 – ENXERGÁ-LAS COMO SER HUMANO

O que significa enxergá-las como ser humano? O verso três de nosso texto diz:

3a Ele (Zaqueu) queria ver quem era Jesus,... (Lucas 19.3a)

Todo ser humano possui um pouco de curiosidade. Possivelmente Zaqueu queria ver Jesus pela curiosidade de saber quem era aquele homem que todos falavam e apontavam como um grande profeta ou como o provável Messias.

Zaqueu era um judeu e como todo judeu vivia a expectativa da vinda do Messias. Ao saber que Jesus estava passando perto de sua casa ele decide ir vê-lo.

Não podemos negar também que todo ser humano possui dentro de si um anseio pela eternidade e um desejo de se encontrar existencialmente. Este anseio foi colocado pelo próprio Deus em nós e por isso todos nós temos um grande vazio dentro de nós. Este vazio é do tamanho de Deus e só pode ser preenchido por Deus. Muitos buscam preencher este vazio com riquezas, drogas, sexo e alguns até criam deuses para si, mas nada pode preencher este vazio, a não ser o próprio Deus. Algumas pessoas tentam viver negando este vazio ou negando a existência da vida eterna, mas nada pode calar o anseio pela eternidade. Pessoas que negam o anseio pela eternidade vivem todo sua vida sem conhecer a verdadeira paz, pois só encontramos o sentido de nossa existência quando preenchemos o vazio de nossa alma com Deus.

Zaqueu queria ver Jesus! Acredito que um pouco pela curiosidade e por isso subiu na árvore, mas certamente a maior motivação era o desejo de saber se ele era de fato o Messias. Poderia ele libertar Israel e me libertar também? Zaqueu foi surpreendido por Jesus.

5 Quando Jesus chegou àquele lugar, olhou para cima e lhe disse: "Zaqueu, desça depressa. Quero ficar em sua casa hoje". (Lucas 19.5)

Quando Jesus chegou onde estava Zaqueu, ele olhou para cima, isto é, ele olhou para Zaqueu que estava na árvore. Acredito que os olhos de Jesus foram ao alcance dos olhos de Zaqueu.

Jesus enxergou o Zaqueu ser humano que estava em busca de paz, de acolhimento, de alguém que o amasse e se interessasse por ele. Jesus não olhou para o status social, a posição social que Zaqueu ocupava dentro do sistema econômico de seus dias, não olhou para a aparência daquele pequeno homem. Jesus olhou nos olhos de Zaqueu e viu um ser humano em busca de paz e de aceitação. Alguém aprisionado pelo sentimento de rejeição e que se escondia na busca de riquezas, buscando sentindo para sua própria existência.

Zaqueu era rejeitado por todos por ser publicano, mas Jesus o acolhe ao dizer “Quero ficar em sua casa hoje”. Não era Zaqueu que estava acolhendo Jesus, era Jesus que estava acolhendo aquele ser humano desprezado por seus compatriotas.

As pessoas ficaram perplexas ao ouvirem Jesus dizer que ia ficar na casa de Zaqueu, um publicano, um pecador. Essa perplexidade se dá porque as pessoas viviam num movimento de continuidade de uma cultura estabelecida. Os publicanos eram pecadores porque simplesmente eram publicanos e isto já estava estabelecido na sociedade. A perplexidade daquelas pessoas era fruto de um preconceito, de conceitos estabelecidos sem um exame crítico, sem uma busca de conhecer realmente quem era o ser humano Zaqueu.

Jesus estava em outro movimento, num movimento de libertação, de acolhimento, de salvação do ser humano. Se Jesus passasse direto sem olhar para cima, sem olhar para Zaqueu, possivelmente Zaqueu continuaria sendo um homem dominado pelo sentimento de rejeição e não conseguiria se ver acolhido por Deus. O vazio existencial causado pelo anseio da eternidade em sua alma continuaria existindo em seu coração. Muito possivelmente, pelo que nos indica o texto, Zaqueu tentou preencher este vazio acumulando para si riquezas. Mas ao ser acolhido por Jesus, o Deus que se fez homem, Zaqueu foi inundado de paz e sua vida ganhou uma nova perspectiva, conforme lemos no verso oito.

8 Mas Zaqueu levantou-se e disse ao Senhor: "Olha, Senhor! Estou dando a metade dos meus bens aos pobres; e se de alguém extorqui alguma coisa, devolverei quatro vezes mais". (Lucas 19.8)

Pessoas que se encontram com Jesus são tomadas pelo sentimento de paz e consequentemente libertadas do vazio existencial e do anseio pela eternidade, pois Jesus é o Deus que preenche este vazio. Jesus é o único Deus que pode preencher este vazio.

Liberto do sentimento de vazio existencial e do anseio pela eternidade, Zaqueu já não vê necessidade em tanta riqueza. O mundo presente e os valores deste mundo já não determinam mais quem Zaqueu é, agora ele sabe que é amado por Deus e isto se torna suficiente para ele, por isso ele se dispõe a ajudar os pobres, abrindo mão de seus próprios bens.

Como disse Jesus: “Hoje houve salvação nessa casa”. Zaqueu encontrou salvação em Jesus apenas por ter sido acolhido e amado por ele.

 

REFLEXÃO FINAL

Quero concluir dizendo que enxergar o ser humano Zaqueu para nós hoje, significa olhar para as pessoas sem rótulos, sem preconceitos, sem animosidade; pelo contrário olharmos para elas abertos para alcançarmos o coração delas, para ouvirmos a suas histórias e para acolhê-las como são e como estiverem.

Nós precisamos olhar para o outro em busca do ser humano, sem julgá-las. Precisamos entrar neste movimento de Jesus para libertar, salvar e acolher todas as pessoas.

Neste ano de 2021 maridos olhem para suas esposas e mostrem a elas seu amor através de palavras e de ações. O amor pode ser expresso através de ações pequenas como ajuda-la nas tarefas de casa.

Mulheres olhem para seus maridos e demonstrarem seu respeito e admiração por eles.

Pais olhem para seus filhos e ouça o que eles têm a dizer. Aprenda a conversar com seus filhos olhando para eles.

Filhos olhem para seus pais e ouça o que eles têm a dizer. Desliguem o celular, o Playstation ou a TV e olhem para seus pais.

É preciso olhar nos olhos do outro para descobrir o ser humano existente no outro. Muitos casais não se conhecem. Muitos pais e filhos não se conhecem. Muitas pessoas apesarem de viverem na mesma casa não se conhecem porque não olham para o outro.

Jesus olhou para Zaqueu e viu um ser humano que precisava de acolhimento. Faça como Jesus olhe para as pessoas que fazem parte de sua vida, veja o ser humano que elas são e acolha cada uma delas. Comece olhando para as pessoas que moram com você, depois olhe para aquelas que trabalham com você, depois para as que estudam com você, depois as que você vê semanalmente, mensalmente até fechar o ciclo de todas as pessoas. Tome a decisão neste novo ano de olhar para as pessoas como Jesus olhou para Zaqueu.

                                               

Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira

03/01/2021

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