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terça-feira, 8 de junho de 2021

SERMÕES 122 - O CRISTÃO E A POLÍTICA

 O CRISTÃO E A POLÍTICA

Série: Juntos Podemos Mais

 

Estamos iniciando uma nova série “Juntos Podemos Mais”. Queremos mostrar que ao vivermos a unidade do Corpo de Cristo, ao agirmos juntos, nós podemos influenciar mais nossa sociedade do que quando agimos individualmente ou solitariamente como igreja.

O tema de nossa mensagem de hoje é “O Cristão e a Política”. Não iremos tratar de partidos políticos, não iremos discutir qual ideologia partidária é a melhor. Nós, eu e o Pr. Décio buscaremos apresentar princípios que precisamos considerar como cidadãos do Reino de Deus e ao mesmo tempo cidadãos de nossa pátria terrena.

Sei que tratar deste assunto não é algo fácil principalmente dentro do contexto em que vivemos atualmente. Manifestações, protestos e discussões acirradas estão em alta por todo o mundo. No Brasil a polarização política tem crescido nos espaços públicos, invadido as redes sociais e fazendo com que muitas pessoas se sintam obrigadas a optarem por um posicionamento, mesmo que não saibam muito bem o que cada uma dessas ideologias partidárias propõe.

Atualmente nós cristãos não temos como fugir ou nos isentarmos mais da vida política. Primeiro porque a internet através das redes sociais nos coloca todos os dias no meio dessa discussão. Segundo porque nos tornamos alvos do assédio de muitos políticos. Temos uma representatividade muito grande em nosso país. Atualmente a população brasileira é composta de 32% de evangélicos. Este é um número muito expressivo. O que nos fez alvos dos políticos interessados em votos. Terceiro que essa alta representatividade nos tornou responsáveis pelo destino de nosso país. Não dá mais para fechar os olhos e fazer de conta que não somos responsáveis pela vida pública em que estamos inseridos.

Embora sejamos cidadãos do Reino Celestial é neste mundo físico, é nessa pátria terrena que precisamos viver os valores do Reino de Deus até que Jesus venha novamente e estabeleça Seu reino.

A forma como evangelizamos, o alcance de nossa evangelização, o discipulado que fazemos, a forma como plantamos igrejas, tudo passa por esse tema que estamos tratando hoje “política”. A política de uma nação afeta diretamente a vida da igreja. Diante esta realidade precisamos saber lidar com a política.

Quero começar mostrando através da Bíblia o quanto uma decisão política pode afetar as nossas vidas como cristãos. Para isso vou mostrar como a política afetou a vida de Daniel, na Babilônia, condenando-o a morte. Vejamos a influência do poder político sobre nós cristão.

 

1 – A INFLUÊNCIA DO PODER POLÍTICO SOBRE NÓS CRISTÃOS

1 Dario achou por bem nomear cento e vinte sátrapas para governarem todo o reino; 2 e colocou três supervisores sobre eles, um dos quais era Daniel. Os sátrapas tinham que prestar contas a eles para que o rei não sofresse nenhuma perda. [...] 7 Todos os supervisores reais, os prefeitos, os sátrapas, os conselheiros e os governadores concordaram em que o rei deve emitir um decreto ordenando que todo aquele que orar a qualquer deus ou a qualquer homem nos próximos trinta dias, exceto a ti, ó rei, seja atirado na cova dos leões. (Daniel 6.1,2,7)

Este texto é a demonstração clara de como a política pode ser exercida de forma errada. A palavra “política” se refere à arte de negociar para o bem comum de todos. Fazer política é dialogar com outras partes com o fim de satisfazer e alcançar o melhor beneficio possível para ambas às partes. Quando a política é exercida com o fim de satisfazer e beneficiar somente um lado ou um grupo de pessoas, temos o que chamamos de politicagem. Politicagem é a política exercida de forma errada, negativa, buscando interesses pessoais ou somente de um grupo.

O texto que lemos nos diz que o rei Dario achou por bem nomear cento e vinte sátrapas (governadores) para governarem todo o reino e colocou três supervisores sobre eles, um dos quais era Daniel.

Os outros dois supervisores reais, sabendo que Daniel orava todos os dias ao Deus de Abraão, usaram da política para levar o rei a emitir um decreto ordenando que todo aquele que orasse a qualquer deus nos próximos trinta dias fosse lançado na cova dos leões. Essa era uma condenação à morte.

O que vemos neste texto é uma politicagem, um uso errado da política. Homens revestidos de autoridade para governarem usando do poder de forma escusa, para alcançarem interesses pessoais. Eles usaram o poder que lhes foi conferido, fazendo um conchavo político para atingir Daniel, pois tinham inveja de sua amizade com o rei Dario. Estes homens usaram a maquina Estatal, os órgãos públicos, o parlamento para proibir a adoração ao Deus de Abraão e dessa forma eliminarem a vida de Daniel.

Daniel foi proibido de orar e cultuar a Deus através de um decreto político. Você percebe como a política é importante e como pode afetar nossas vidas. Uma caneta e um papel ganham a força de uma lei quando, politicamente é aprovada.

Hoje também nossos políticos podem aprovar leis nos impedindo de nos reunirmos para adorar ao nosso Deus, o Deus de Daniel. A aprovação de uma lei, promovendo a alteração de nossa Constituição pelos congressistas, pelos nossos deputados pode nos tornar transgressores da lei de um dia para o outro, assim como aconteceu com Daniel. Por ele não ter deixado de orar e adorar ao nosso Deus foi lançado na cova dos leões como um transgressor da lei.

Sabemos que Deus interveio na vida de Daniel, livrando-o da morte. Seus colegas de parlamento conseguiram lança-lo na cova dos leões, mas Deus fechou a boca dos leões e Daniel saiu ileso, vivo para a Glória do nosso Deus, mas poderia não ter terminado assim essa história. No Império Romano muitos cristãos morreram nas garras dos leões.

Por isso é importante que você participe da vida política de nosso país. Por isso é importante que você saiba em quem está votando. Qual a ideologia que move seu candidato para o exercício político? Qual a cosmovisão do seu candidato? Você pode estar votando na pessoa que irá te lançar na cova dos leões.

 

2 – POLÍTICA E RELIGIÃO SE MISTURAM SIM!

Quero agora mostrar que política e religião se misturam sim! Existe um ditado popular que afirma que “política e religião não se misturam”, mas isso não é verdade. Sei que muitos irão me condenar por essa afirmação. Contudo quero deixar claro que estou falando da perspectiva cristã.

Atualmente diante os muitos escândalos de políticos que se dizem cristãos, e somando a isso, o conservadorismo agressivo por boa parte de políticos que se dizem cristãos, fez com que esse ditado popular “política e religião não se misturam” se tornasse uma afirmação de que o exercício da política precisa estar separado da fé.

Entretanto um crente em Jesus Cristo é crente em Jesus Cristo em todo tempo, em todo lugar, em todas as dimensões de sua vida. Não existe como um cristão tirar Deus de sua vida quando vai trabalhar, ou estudar, ou namorar. Da mesma forma não se tem como tirar Deus quando ele vai fazer política. Não existe a possibilidade de um cristão dialogar com outros em busca de um bem comum abandonando os valores e princípios do Reino de Deus.

Um cristão que exerce o ministério político tem que praticar a política baseado nos valores e princípios do Reino de Deus. Ele não pode deixar sua fé enquanto exerce seus deveres como político. Neste sentido a religião e a política se misturam.

José no Egito, Josias em Jerusalém, Daniel na Babilônia, Neemias em Jerusalém, todos estes foram grandes líderes políticos porque praticaram a política em concordância com a fé que possuíam. Eles exerceram a autoridade política submissos aos princípios e valores do Reino de Deus. Eles são exemplos de que é possível ser cristão e político ao mesmo tempo.

Embora não separamos o exercício político de nossa fé, não podemos misturar o que é de César com o que é de Deus. Não podemos dar a César o que pertence a Deus e nem a Deus o que pertence a César, conforme nos ensinou Jesus ao ser indagado pelos fariseus e herodianos se deveriam pagar os impostos cobrados pelo Império Romano (Mateus 22.21).

21 [...] E ele lhes disse: "Então, dêem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". (Mateus 22.21)

Jesus estava ensinando aqui duas lições ao mesmo tempo. A primeira lição é que era lícito pagar os impostos ao imperador. A segunda lição é que a honra divina devia ser dada exclusivamente a Deus, o único Deus, o Deus de Israel. Portanto era lícito que os tributos terrenos fossem pagos regularmente ao Império Romano, como também era lícito tributar a Deus todo louvor, honra, glória e ações de graça. A resposta de Jesus legitimou o governo de César que regulava a sociedade humana de seus dias e reprovou ao mesmo tempo qualquer apropriação indevida da glória de Deus.

Por isso não usamos o momento de culto para propagandas políticas ou comícios, ainda que sejam de irmãos nossos, de nossa comunidade, pois o espaço de tempo separado para o culto a Deus é para prestarmos adoração exclusiva ao nosso Deus e não devemos dividir este momento com as coisas que pertencem a César, ao homem.

Nesse diálogo político Jesus fez política tendo os valores e princípio do Reino de Deus como base para sua resposta. Jesus não separou a política da religião. Jesus não separou a política de sua cosmovisão. Entretanto Ele limitou o espaço da política, do Estado ou de César em nossas vidas – a César o que é de César.

Assim como Jesus, nós não podemos fazer política separada de nossa cosmovisão cristã, de nossa fé no Deus Vivo e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Mas precisamos sempre nos lembrar de que existe um limite do poder do Estado sobre nós. Estamos sujeitos às autoridades humanas enquanto estas não exigirem de nós posições e ações contrárias aos princípios e valores de Deus. Deus é o Senhor maior de nossas vidas. A Ele prestamos toda honra e glória. A Ele nos submetemos acima de qualquer governo, autoridade, ideologia política ou partidária.

 

3 – COMO NÓS CRISTÃOS DEVEMOS PARTICIPAR DA POLÍTICA?

Agora iremos responder a pergunta: “Como nós cristãos devemos participar da política?”

Para responder a esta pergunta quero primeiro convidá-los a leitura de Mateus 5.13,14.

13 Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens. 14 Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. (Mateus 5.13,14)

As expressões “Sal da terra” e “Luz do mundo” empregadas por Jesus nos lançam ao mundo como responsáveis pela salvação do mundo. Não podemos sujeitar a fé à esfera privada somente ou ao interior dos nossos templos. A fé com a qual fomos agraciados por Deus nos convoca a assumirmos o protagonismo de nossa história. Nós cristãos devemos participar ativamente da política buscando tornar o mundo em que vivemos mais justo. A igreja institucional não deve fazer política ou participar da política, somente o crente.

Uma vez compreendido que devemos participar do protagonismo de nossa história, isto é, que devemos participar ativamente da política vou buscar apontar como devemos participar da vida política de nosso país.

·      Devemos participar orando por toda autoridade de nosso país, conforme nos orienta o apóstolo Paulo em sua carta a Timóteo (1 Tm 2.1,2). É nosso dever como cristão orar por nosso presidente seja ele o Bolsonaro ou Lula.

·      Devemos participar respeitando e nos sujeitando a toda autoridade mesmo que ela não tenha sido colocada através de nosso voto. Não podemos nos esquecer que toda autoridade embora escolhida por homens através dos votos, ela só ocupa o poder porque Deus em Sua soberania a permite ocupar. Por isso o apóstolo Paulo afirma em sua epístola aos Romanos (13.1) que toda autoridade provem de Deus e aquele que se rebela contra qualquer autoridade está se rebelando contra Deus. Diante disso, não devemos usar nossas redes sociais para falar mal de autoridades, desdenhá-los, tratá-los com desonra ou divulgar notícias das quais não temos certeza serem verdadeiras.

Talvez você esteja se perguntando: “Mas, e quando uma autoridade extrapola seu poder se colocando contra os princípios e valores do Reino de Deus?” Neste caso podemos participar de protestos e manifestações quando estas são feitas de forma pacifica e ordenada. Contudo somente quando a autoridade a quem estamos protestando esteja agindo em direção oposta aos valores e princípios de Deus. O mesmo vale para protestos dirigidos a uma lei ou decreto. Mas isso não nos permite tratá-los com desonra, usando palavras de baixo escalão, como muitos cristãos tem feito em suas redes sociais.

·      Podemos participar como profetas sendo uma referência para o Estado e para as autoridades governamentais dos valores e princípios de Deus. Acredito que aqui é onde mais falhamos como igreja e como cristãos. Não devemos viver uma políticolatria e nem uma políticofobia. Não podemos colocar nossa fé e esperança na política, nos partidos políticos e nem ter medo deles nos distanciando da vida política. Não existe político salvador, partido salvador, pois todos os seres humanos nascem com o coração corrompido pelo pecado. Mas também precisamos compreender que o exercício político pode colaborar para a liberdade religiosa e manutenção dos valores e princípios do Reino de Deus. Também não podemos entrar na política com o fim de nos beneficiarmos e barganharmos ajuda, pois isto é o princípio da politicagem.

Como profetas devemos vigiar e se necessário cobrar o Estado e as autoridades revestidas de poder para cumprirem suas obrigações. Cabe ao Estado proteger os direitos civis fundamentais de todo cidadão brasileiro. Prover trabalho, moradia, saúde, educação, segurança e liberdade religiosa a todos os cidadãos. Cabe ao Estado administrar os recursos arrecadados através dos impostos favorecendo o socorro aos mais pobres, fazendo assim que tenhamos uma melhor e mais justa distribuição de nossa renda per-capita.

Contudo as igrejas não querem exercer este ofício profético como fizeram os profetas no passado, pois não querem perder os benefícios barganhados com os políticos e também não querem serem alvos de perseguição.

 

REFLEXÃO FINAL

Acredito que a melhor revolução política que podemos promover como cristão é seguir o que nos ensinou o apóstolo Pedro.

12 Vivam entre os pagãos de maneira exemplar para que, naquilo em que eles os acusam de praticarem o mal, observem as boas obras que vocês praticam e glorifiquem a Deus no dia da sua intervenção. 13 Por causa do Senhor, sujeitem-se a toda autoridade constituída entre os homens; seja ao rei, como autoridade suprema, 14 seja aos governantes, como por ele enviados para punir os que praticam o mal e honrar os que praticam o bem. 15 Pois é da vontade de Deus que, praticando o bem, vocês silenciem a ignorância dos insensatos. 16 Vivam como pessoas livres, mas não usem a liberdade como desculpa para fazer o mal; vivam como servos de Deus. 17 Tratem a todos com o devido respeito: amem os irmãos, temam a Deus e honrem o rei. (1 Pedro 2.12-17)

Não podemos nos esquecer que somos peregrinos neste mundo e aqui estamos com uma missão, tornar o amor de Deus conhecido a todos os povos, a todas as pessoas. Portanto precisamos fazer política somente até o limite que ela não nos prejudique no cumprimento de nossa missão maior, anunciar o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo a todas as pessoas.

Não estamos neste mundo para governarmos, mas para servirmos como o fez Jesus Cristo.

 

 

Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira

06/06/2021 (manhã)

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