O MENINO E O DRAGÃO
Série: Apocalipse (11
parte)
O capítulo doze inicia uma nova parte do livro Apocalipse. Antes de começarmos a
reflexão deste capítulo, devemos relembrar resumidamente o que já passou. O
primeiro capítulo apresentou Jesus Cristo como a fonte da revelação descrita em
todo o livro. Os capítulos dois e três contêm as cartas escritas às sete
igrejas da Ásia. Do capítulo quatro ao onze, a revelação do plano de Deus para
o seu povo é mostrada por etapas.
Os
capítulos quatro e cinco apresentam o Pai e o Filho no céu, recebendo a
adoração de todas as suas criaturas. Os capítulos seis, sete e oito apresentam os
sete selos. Os capítulos oito, nove, dez e onze apresentam as sete trombetas. A
sétima trombeta encerra a revelação do mistério de Deus para o seu povo,
fechando com a grande celebração da vitória dos servos do Senhor.
O
resto do livro, a partir do capítulo doze, é uma apresentação ampliada dos
detalhes dessa vitória. Não apresenta uma nova sequência de acontecimentos, e
sim uma vista mais próxima do que já fora revelado nos capítulos anteriores.
O
capítulo doze que iremos refletir hoje mostra o dragão tentando derrotar o
menino, mas não conseguindo, lança toda sua raiva sobre a mulher que gerou o
menino.
Vamos
iniciar nossa reflexão lendo Apocalipse
12.1-6.
1 Apareceu no céu um sinal extraordinário: uma mulher vestida do sol, com a lua debaixo dos seus pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça. 2 Ela estava grávida e gritava de dor, pois estava para dar à luz. 3 Então apareceu no céu outro sinal: um enorme dragão vermelho com sete cabeças e dez chifres, tendo sobre as cabeças sete coroas. 4 Sua cauda arrastou consigo um terço das estrelas do céu, lançando-as na terra. O dragão colocou-se diante da mulher que estava para dar à luz, para devorar o seu filho no momento em que nascesse. 5 Ela deu à luz um filho, um homem, que governará todas as nações com cetro de ferro. Seu filho foi arrebatado para junto de Deus e de seu trono. 6 A mulher fugiu para o deserto, para um lugar que lhe havia sido preparado por Deus, para que ali a sustentassem durante mil duzentos e sessenta dias. (Apocalipse 12.1-6)
A mulher
descrita neste capítulo é a Igreja de Cristo. A mulher usa uma coroa com doze
estrelas para simbolizar a totalidade do povo de Deus – 12 é o número do
governo de Deus -, fazendo referência aos doze patriarcas e também aos doze
apóstolos. Ela é descrita sofrendo dores de parto e tendo que fugir da fúria do
dragão após o nascimento do menino. Essa simbologia se refere à igreja do Velho
Testamento que sofreu com dores de parto aguardando o Messias, o Cristo que
haveria de nascer.
Ø
Desde Gênesis
3.15 até Mateus 2.16 – o dragão está tentando matar o Messias
Desde a promessa
de que o descendente da mulher pisaria sobre a cabeça da serpente, até a ordem
de Herodes de matar todos os bebes, até dois anos de idade, encontramos o
dragão, a antiga serpente, tentando matar o menino cuja a igreja do A.T. estava
para dar a luz. O dragão perde esta batalha. O menino nasceu e cresceu.
Essa mulher
também representa a Igreja do Novo Testamento que sofre ainda hoje por causa da
fúria do dragão, Satanás, que não conseguiu impedir o nascimento do menino
Jesus, apesar de todas suas tentativas de devorá-lo enquanto ainda era
vulnerável.
Ø
Desde a
crucificação até hoje – o dragão está tentando matar a Igreja
Desde a morte de Jesus na cruz que resultou na expulsão definitiva de
Satanás, o dragão foi expulso dos céus, ele tenta destruir a mulher que deu a
luz ao menino, a igreja do Novo Testamento – formada por judeus e gentios. Ele
não consegue destruir a mulher até que se complete o tempo determinado por
Deus.
Satanás, o
dragão vermelho em sua fúria conseguiu arrastar um terço das estrelas do céu
com ele, isto é, ele conseguiu arregimentar um terço dos anjos celestiais para
o seu exército.
O menino cresceu
e na cruz venceu o grande dragão. Ao terceiro dia ressuscitou e subiu aos céus
onde recebeu do Pai todo o poder para governar sobre todo universo, sobre todas
as criaturas visíveis e invisíveis. A Ele toda honra e toda glória pelos
séculos dos séculos.
A partir do
verso sete, Deus abre mais ainda a cortina da história para nos mostrar a
batalha espiritual que garantiu a vitória dos fiéis a Cristo. Esta vitória dos
servos de Deus no céu é resultado da vitória de Jesus na cruz sobre o pecado e
a morte (Apocalipse 12.7-18).
7 Houve então uma guerra no céu.
Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão, e o dragão e os seus anjos
revidaram. 8 Mas estes não foram
suficientemente fortes, e assim perderam o seu lugar no céu. 9 O
grande dragão foi lançado fora. Ele é a antiga serpente chamada diabo ou
Satanás, que engana o mundo todo. Ele e os seus anjos foram lançado à terra.
10 Então ouvi uma forte voz do céu que dizia: "Agora veio a salvação,
o poder e o Reino do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo, pois foi lançado
fora o acusador dos nossos irmãos, que os acusa diante do nosso Deus, dia e
noite. 11 Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra
do testemunho que deram; diante da morte, não amaram a própria vida. 12 Portanto,
celebrem, ó céus, e os que neles habitam! Mas, ai da terra e do mar, pois o
diabo desceu até vocês! Ele está cheio de fúria, pois sabe que lhe resta pouco
tempo". 13 Quando o dragão viu que havia sido lançado à terra,
começou a perseguir a mulher que dera à luz o menino. 14 Foram
dadas à mulher as duas asas da grande águia, para que ela pudesse voar para o
lugar que lhe havia sido preparado no deserto, onde seria sustentada durante um
tempo, tempos (se refere a dois tempos) e meio tempo, fora do alcance
da serpente. 15 Então a serpente fez
jorrar da sua boca água como um rio, para alcançar a mulher e arrastá-la com a
correnteza. 16 A terra, porém, ajudou a mulher, abrindo a boca e
engolindo o rio que o dragão fizera jorrar da sua boca. 17 O
dragão irou-se contra a mulher e saiu para guerrear contra o restante da sua
descendência, os que obedecem aos mandamentos de Deus e se mantêm fiéis ao
testemunho de Jesus. 18 Então o dragão se pôs em pé na areia do mar. (Apocalipse 12.7-18)
Novamente temos aqui uma referência a profecia
de Daniel, referente aos três anos e meio de grande tribulação, período este em
que o povo de Deus embora vivendo durante a grande tribulação é de alguma forma
guardado pelo poder de Deus, conforme lemos no verso treze.
Deserto aqui não
é literal, mas se refere à terra como lugar de passagem, temporário, assim como
o povo de Israel que andou pelo deserto recebendo o cuidado de Deus até se
estabelecerem na terra de Canaã.
A vitória sobre
o dragão, a antiga serpente do Éden, Lúcifer, também chamado diabo (significa acusador)
e Satanás (significa adversário), não foi conquistada por Miguel e seus anjos,
mas por Jesus na cruz, conforme lemos em Colossenses
2.13-15.
13 Quando vocês estavam mortos em
pecados e na incircuncisão da sua carne, Deus os vivificou juntamente com
Cristo. Ele nos perdoou todas as transgressões, 14 e cancelou a escrita de dívida, que consistia em
ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz, 15 e,
tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público,
triunfando sobre eles na cruz. (Colossenses 2.13-15)
Satanás foi
vencido na cruz. O menino cresceu e despojou o diabo de toda autoridade que ele
havia usurpado ao condenar o ser humano no pecado. Não tendo mais do que acusar
a humanidade, ele foi expulso do céu e lançado a terra, juntamente com todos os
anjos que se aliaram a ele.
A história de Jó
conta que o diabo certo dia se apresentou a Deus juntamente com outros anjos.
Quando Deus perguntou de onde ele vinha, ele respondeu: “De rodear a terra”.
Ele tinha acesso a terra e no céu. Contudo agora ele não tem mais acesso ao
céu. Acabou a história dele se apresentar diante de Deus no céu para nos
acusar.
Condenado a
viver na terra, ele passa a perseguir a mulher que deu a luz ao menino, que é a
igreja de Cristo, com toda sua fúria. Ele está aqui na terra nos perturbando,
embora ele tenha uma atuação limitada, pois está preso. O fato de o diabo ainda agir na terra não nega a vitória total de Jesus,
mas apenas reforça que ainda não chegou o grande dia do juízo final, quando
Satanás também será jugado e lançado no lago de fogo que arde com enxofre, a
segundo morte (Apocalipse 20.10).
A vitória da igreja, da mulher
está descrita no verso onze. Esta é a razão da nossa vitória. O menino venceu o
dragão e nos fez vencedor nele.
11
Eles o
venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do testemunho que deram; diante
da morte, não amaram a própria vida. (Apocalipse 12.11)
Este
texto é a comprovação da verdade de que a salvação vem pela graça, e nós nos
apropriamos dela mediante a fé. A vitória nos é dada pelo sangue do Cordeiro.
Não existe vitória fora do sangue do Cordeiro. A resposta que damos a essa
verdade, é o nosso testemunho, que pode envolver e exigir uma dedicação total de
nossas vidas. Os fiéis não amaram a própria vida ao ponto de se apegarem a ela,
e até, consideraram morrer por Jesus uma honra. Esse é o testemunho que deram os
nossos irmãos no passado. Esse é o testemunho que Deus espera que você dê hoje.
Melhor é morrer por Cristo, do que se apegar a essa vida.
A
lição deste capítulo é que o diabo está no mundo, limitado, mas está agindo no
mundo.
1 - O DIABO ESTÁ AGINDO NO MUNDO
15 Não amem o mundo nem o que nele há. Se
alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele. 16 Pois
tudo o que há no mundo — a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação
dos bens — não provém do Pai, mas do mundo. (1 João
2.15,16)
19 Sabemos que somos de Deus e que o mundo
todo está sob o poder do Maligno. (1 João 5.19)
Essa é a
mensagem deste capítulo. O diabo está no mundo com o fim de destruir a Igreja
de Cristo, de fazer sangrar aqueles que são fiéis a Jesus. Este mundo não é
amigo da Igreja. O diabo não pode vencer a Jesus, o dragão perdeu para o menino;
agora ele quer destruir você que proclama Jesus como o Senhor de sua vida.
O diabo e seus
anjos estão no mundo fazendo de tudo para nos atazanar. Ele tenta nos induzir a
uma compreensão errada das Escrituras. Ele fez isso com Eva. Ele induziu Eva a
pensar que Deus estava escondendo dela o que ela podia ser. Eva acreditou que
ao comer do fruto seria conhecedora do bem e do mal como Deus.
O diabo nos faz
pensar que Deus, nossos pastores, nossos irmãos e até nossos familiares estão
escondendo algo de nós, que estão tirando de nós à oportunidade de sermos tudo
o que desejamos ser – “afinal Deus me capacita a fazer qualquer coisa”. Isso é
uma mentira do diabo. Deus te capacita a fazer o que Ele te ordena a fazer. Ele
te capacita para ser no Corpo de Cristo o que Ele deseja que você seja. Eu não
tenho capacidade para cantar. Deus não me chamou para isso, portanto eu tenho
que reconhecer que não recebi este dom. Contudo o diabo mente para nós e produz
em nós um espírito rebelde, que não aceita o que nos foi dado. E erramos
tentando viver o que não era para ser vivido, experimentando o que não era para
ser experimentado, assim muitas vezes usurpando o lugar e a autoridade que era
de outro. Dessa forma vivemos ferindo todos ao nosso redor porque estamos no
lugar errado, por acreditar nas palavras da serpente. Aos poucos ela vai nos
enchendo de orgulho e nos tornando incapazes de aprender e ouvir a voz do nosso
bom pastor Jesus através de sua igreja e de seus pastores.
O diabo nos
induz também a uma compreensão errada da vida. Ele nos leva acreditar que o
mundo existe para nos saciar. Que nenhum fruto nos pode ser negado. Afinal
somos “filhos de Deus”. Passamos a rejeitar aqueles que não nos compreendem e
que tentam impor limites as nossas ações e as nossas vontades. Transformamos em
inimigo aquele que nos alerta de que se comermos do fruto morreremos. Então
começamos a provocar divisões, conflitos, desrespeitamos e tratamos com desdém
nossos irmãos, jogando uns contra os outros. Todas estas coisas são frutos da
carne e não do Espírito e testificam a quem de fato servimos.
REFLEXÃO FINAL
Eu quero
encerrar dizendo que o diabo trabalha para que o amor entre nós se esfrie. Ele
transforma a igreja de Cristo em instituições onde as ações não fluem de atos
de humanidade presencial, onde o calor humano, a troca de abraços e afetos não
encontram lugar para que possam ser vivenciados.
Ao transformar a
igreja de Cristo em instituições o diabo conseguiu fazer com que as ações da
igreja sejam simplesmente atos institucionais, frutos não de um movimento de vida,
mas de um movimento mecânico, sistêmico frio e distante.
A igreja será
vencida por um tempo como vimos na reflexão das duas testemunhas. O Evangelho
de Cristo será silenciado. Mas ainda não chegou este tempo.
Nós, eu e você, pessoas
vivas, pedras vivas somos a Igreja de Cristo hoje. Não a instituição batista,
não a instituição presbiteriana, não a instituição Assembleia de Deus, etc e
etc. O dragão não nos vencerá se nos mantermos fiéis a Jesus Cristo e a Sua
Palavra. O diabo não te vencerá se você não deixar o amor se esfriar em seu
coração. Mas se você se esfriou, o diabo já te venceu. Se você odeia seu irmão,
o diabo já te venceu. Se você não é capaz de sentar na mesma mesa com seu irmão
e se alegrar com ele, o diabo já te venceu. Se você não ama o seu próximo como
Jesus o ama, o diabo já te venceu.
A igreja que
vence é a igreja que dá testemunho do amor de Deus, mesmo quando é provocada,
mesmo quando é incompreendida, mesmo quando é insultada, mesmo tendo que morrer
para que o amor de Cristo seja visto.
Que Deus nos
ajude a sermos igreja viva, que ame em tempos que o amor tem se esfriado. Deus
te abençoe!
Pr. Cornélio
Póvoa de Oliveira
26/06/2022
(noite)
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