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terça-feira, 12 de março de 2024

SERMÕES 222 - REINICIANDO A VIDA PROFISSIONAL

 REINICIANDO A VIDA PROFISSIONAL

Série: Reset

 

Estamos refletindo na série Reset. O tema de nossa mensagem de hoje é “Reiniciando a Vida Profissional”.

Nosso desejo através desta série é ajudá-los a reiniciarem a vida a partir da Palavra de Deus. Às vezes chegamos a uma determinada situação em nossas vidas que precisamos parar tudo o que estamos fazendo e recomeçarmos tudo do zero para podermos colocar tudo em ordem. Outras vezes precisamos parar e resetarmos algumas áreas de nossas vidas para que possamos iniciá-las de forma diferente.

Hoje iremos desafiá-los a refletirem sobre suas vidas profissionais. O primeiro ponto que eu gostaria de pensar com vocês é uma pergunta: “O trabalho para você é uma carreira profissional ou uma vocação de Deus?”

 

1 – O TRABALHO PARA VOCÊ É UMA CARREIRA PROFISSIONAL OU UMA VOCAÇÃO DE DEUS?

Qual a sua resposta para esta pergunta? A sua resposta define a sua compreensão a respeito do trabalho, define a sua cosmovisão a respeito deste tema.

A bíblia nos ensina que o trabalho é uma vocação e não uma carreira. Quando o homem estava no Éden, ele recebeu de Deus a vocação para cuidar da criação. Esta é a origem e a base do trabalho. Portanto o trabalho surge como vocação e não como uma carreira profissional conforme podemos ler no livro de Gênesis 1.27-30.

27 Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. 28 Deus os abençoou, e lhes disse: "Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra". 29 Disse Deus: "Eis que lhes dou todas as plantas que nascem em toda a terra e produzem sementes, e todas as árvores que dão frutos com sementes. Elas servirão de alimento para vocês. 30 E dou todos os vegetais como alimento a tudo o que tem em si fôlego de vida: a todos os grandes animais da terra, a todas as aves do céu e a todas as criaturas que se movem rente ao chão". E assim foi. (Gênesis 1.27-30)

Quando Deus diz ao ser humano subjuguem a terra, dominem sobre as espécies de forma geral e sobre as plantas e vegetais, ele estava tornando o trabalho como parte inerente da vida humana. Neste sentido o trabalho é vocação e não um anexo em nossas vidas. A nossa sobrevivência depende do trabalho e a nossa ação de glorificar a Deus está relacionado com o trabalho.

Deus criou todas as coisas existentes, isto significa que Deus trabalhou para que tudo viesse a existir e continua trabalhando hoje para manter a existência de todas as coisas. Assim Ele nos fez a Sua semelhança, seres vocacionados para trabalhar e por meio do nosso trabalho sobrevivemos e mantemos todas as coisas que nos foi dado por Deus. A ordem para trabalhar é criacional e devemos compreendê-la a partir daquele que nos criou.

O trabalho não implicava em salário, mas em tarefas. Toda tarefa, toda realização é trabalho, independentemente de ser remunerado. O trabalho de uma mãe é trabalho. O trabalho voluntário é trabalho.

O trabalho como vocação não deve ser compreendido com o que você faz para viver (médico, professor, gari, borracheiro, pastor, etc) e sim como você faz o seu trabalho. Independentemente do que você faz profissionalmente, a pergunta é: “Você glorifica a Deus no que faz?”

Em nosso mundo atual, após a queda do homem no Éden, o trabalho deixou de ser uma vocação e se tornou um ídolo. O trabalho passou a definir cada ser humano, seu papel e lugar na sociedade. Também passou a ser o alvo da realização pessoal do ser humano. Antes era um meio para glorificar a Deus, mas acabou se tornando um meio para nos sentirmos realizados. O glorificar a Deus ficou para segundo plano ou terceiro plano.

Muitos hoje cultuam o trabalho remunerado, cultuam a carreira profissional, pois ela passou a dar as pessoas o poder para alcançarem as concupiscências deste mundo. Por meio do trabalho as pessoas podem adquirir todo o luxo oferecido aos que têm dinheiro em abundância.

O chamado criacional para trabalhar implicava somente em fazer algo ordenado por Deus, que nos provia o alimento para nossa sobrevivência e O glorificava. Após a queda e com o desenvolvimento organizacional das sociedades este chamado foi gradativamente sendo substituído pela carreira profissional, onde o indivíduo não busca somente se sustentar e glorificar a Deus, mas busca sua realização pessoal e identidade por meio do trabalho.

Em nosso segundo ponto eu quero apresentar a compreensão que nós cristãos temos sobre trabalho.

 

2 – A COMPREENSÃO QUE NÓS CRISTÃOS TEMOS SOBRE TRABALHO

De uma maneira geral existe uma compreensão do trabalho que está enraizada em nossa cultura cristã. Timothy Keller escreveu sobre essa compreensão em seu livro “Como Integrar Fé e Trabalho”. Ele aponta três maneiras como nós cristãos nos relacionamos com o trabalho.

Ø  Imagem do Livro “Como Integrar Fé e Trabalho”.

 

·         Primeira maneira: “Servir no Reino de Deus” é sinônimo de atividade ministerial de tempo integral

A grande maioria dos cristãos não consideram o seu trabalho secular como ministério integral para Deus. Ministério integral é somente o trabalho do pastor e do missionário. É muito comum ouvirmos dizeres como: “Pastor você que é sortudo, pois vive só para orar e estudar a bíblia”.

·         Segunda maneira: Buscamos justificar nossas habilidades e dons através da sua utilidade espiritual

Neste sentido o trabalho só é compreendido como bom quando nós usamos nossas habilidades naturais e dons para o serviço na igreja ou missionário.

É muito comum músicos profissionais tocarem na equipe de louvor da igreja com o fim de justificarem suas habilidades. Médicos servirem em suas férias em um campo missionário. Estamos falando de profissionais de várias áreas que colocam suas habilidades a serviço da igreja por um período. Eles desejam servir a Deus e por não entenderem suas profissões como ministério integral a Deus, o fazem quando possível servindo na igreja ou num campo missionário.

·         Terceira maneira: Entendemos que precisamos criar alternativas “cristãs” de trabalho para proporcionarmos um ambiente cristão

Uma vez que o crente não consegue servir integralmente a Deus por meio do seu trabalho, ele tenta tornar o ambiente do seu trabalho um ambiente mais parecido com a igreja. Ele cria uma radio cristã, uma pizzaria cristã, uma loja de roupa cristã, etc. Coloca no balcão de sua empresa uma bíblia aberta para que as pessoas perguntem algo que lhe dê a chance de testemunhar de Jesus. Ele ora para abrir a empresa com seus funcionários e ora ao fechar agradecendo o dia trabalhado. Compartilha o lucro de sua empresa com instituições cristãs de caridade. Consagra o seu local de trabalho para Deus. Coloca folhetos nas sacolas dos clientes. Põe fundo musical gospel em sua empresa. Ele faz de tudo para tornar o ambiente espiritual e convidativo para Deus.

 

Estas três maneiras que nós cristãos nos relacionamos com o trabalho estão fundamentadas sobre o mesmo erro, a dicotomia existente entre fé e trabalho. Não estamos dizendo que essas maneiras de nos relacionarmos com o trabalho são pecados. Elas podem ser até praticadas, contudo a relação nossa de fé e trabalho devem ultrapassar as fronteiras criadas pela dicotomia entre fé e trabalho. Essas maneiras apresentadas por Timothy Keller elas apenas apresentam momentos de encontros entre fé e trabalho, mas não as unem, como era a proposta criacional.

Essa dicotomia se torna evidente na vida de muitos profissionais cristãos quando olhamos para o seu testemunho. É muito comum uma pessoa “crentona” na igreja, mas desonesta no trabalho, boca suja, insubmissa aos seus chefes, injusta nos salários de seus empregados, etc. Esse tipo de crente não compreende o trabalho como espaço sagrado a Deus.

Também percebemos essa dicotomia quando cristãos se mostram moralmente corretos no trabalho, mas praticam atividades incoerentes com sua fé. Por exemplo: Um lutador que se diz cristão, ele é honesto, irrepreensível, mas soca seu adversário sem dó, com o fim de quebrar seus ossos. É incoerente com o evangelho do amor de Cristo. Essa forma violenta de se sustentar não glorifica a Deus e causa sérios danos físicos aos seus adversários.

Outro exemplo: Um advogado que trabalha em busca de falhas contratuais com o fim de levar vantagens sobre o outro, pratica um trabalho incoerente com sua fé. Contratos são feitos para serem cumpridos e quando um dos lados buscam meios para quebrarem o contrato, está na verdade buscando meios para não cumprir a parte que lhe cabe, sendo assim, mostram claramente que não desejam honrar com a palavra. Este advogado está trabalhando em prol de pessoas mal intencionadas. Existem empresas que contratam advogados só para esse fim.

 No caso do lutador e do advogado, embora ambos possam ser irrepreensíveis em suas vidas e condutas dentro do ambiente profissional, suas ações profissionais são incoerentes com a fé que proclamam. O lutador e o advogado estão destruindo vidas, um por meio da força e o outro por meio das palavras. Poderíamos acrescentar ainda nesta lista de exemplo os “coachings”, pois esses motivadores profissionais são na verdade despertadores dos ídolos dos corações humanos. Eles estimulam as pessoas a correrem atrás de seus sonhos pessoais, inflamando os egos dos funcionários para servirem aos desejos competitivos e de enriquecimento de seus patrões.

Eu quero apresentar uma proposta que possa por fim a dicotomia existente entre fé e trabalho. Acredito que isso só será possível se resetarmos, isto é, reiniciarmos a nossa compreensão de fé e trabalho. Este será o nosso terceiro ponto.

 

3 – REINICIANDO A COMPREENSÃO DE FÉ E TRABALHO

17 Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai. 18 Mulheres, sujeitem-se a seus maridos, como convém a quem está no Senhor. 19 Maridos, amem suas mulheres e não as tratem com amargura. 20 Filhos, obedeçam a seus pais em tudo, pois isso agrada ao Senhor. 21 Pais, não irritem seus filhos, para que eles não se desanimem. 22 Escravos, obedeçam em tudo a seus senhores terrenos, não somente para agradar os homens quando eles estão observando, mas com sinceridade de coração, pelo fato de vocês temerem ao Senhor. 23 Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens, 24 sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo. (Colossenses 3.17-24)

É interessante observarmos a expressão “tudo o que fizerem”, ela aparece duas vezes nesta perícope. Estes versos expressam que todas as nossas ações e falas, em quaisquer dos papéis que estejamos exercendo em nossas vidas, devem ser feitos com o fim de honrar a Cristo Jesus. 

Podemos incluir dentro desta perícope o texto de Colossenses 4.1.

1 Senhores, dêem aos seus escravos o que é justo e direito, sabendo que vocês também têm um Senhor no céu. (Colossenses 4.1)

Quando Paulo diz “tudo o que fizerem”, isto expressa que todas as nossas ações resultam em trabalho que visam honrar a Cristo, incluindo o trabalho remunerado e escravo daqueles dias, conforme nós lemos.

Paulo está integrando a fé a todas as dimensões da vida, inclusive a dimensão profissional, o trabalho. Podemos dizer que Paulo resetou a compreensão fé e trabalho, retornando ao modelo criacional. O trabalho não é visto como realização pessoal, mas como vocação, um chamado de Deus para sua sustentação e um meio para glorificá-Lo.

Com isso não estou dizendo que você não possa ser médico, dentista, advogado, engenheiro, professor, mecânico ou exercer qualquer outra profissão que você tenha paixão e aptidão.  Certamente a vocação de Deus inclui áreas de sua paixão e aptidão.

O que precisamos compreender é que a fé deve estar integrada em nosso trabalho, ela não pode ser algo separada de nossa vocação primária, que é glorificar a Deus. Não podemos ser profissionais que abraçam a fé em determinados momentos do nosso trabalho, mas devemos sim, sermos cristãos em todo tempo em que exercemos nosso trabalho, seja qual for ele, pois todo trabalho é vocação de Deus.

Devemos pensar em nosso trabalho como meio e o lugar onde vivemos integralmente nossa fé. O seu trabalho é o seu serviço ministerial integral para Deus, assim como o trabalho pastoral ou missionário o são.

 

REFLEXÃO FINAL

Eu quero concluir essa mensagem nos exortando a vencermos a dicotomia que foi criada entre fé e trabalho. Colocarmos a bíblia sobre o balcão, orarmos por nossos funcionários e negócios, colocarmos folhetos de evangelismo nas sacolas dos clientes tudo isso é possível e pode ser feito, afinal vivemos num país livre para expressarmos nossa fé.

Contudo precisamos entender que a nossa fé compreende o trabalho como vocação de Deus e não um caminho para nossa realização pessoal e muito menos para conquistarmos as concupiscências deste mundo.

Precisamos reinicializar nossa compreensão a respeito de nossa vida profissional, pois do contrário ela se tornará um ídolo para nós e não um espaço para glorificarmos a Jesus Cristo nosso Senhor.

O trabalho, seja ele qual for, deve ser visto sempre como o meio de glorificarmos a Deus, Se você é médico honre a Jesus Cristo, tratando os seus pacientes como se estivesse cuidando de Jesus. Se você é policial honre a Jesus, tratando as pessoas com o respeito devido como se estivesse tratando a Jesus. Não abuse de sua autoridade policial. Se você é professor honre a Jesus, ensinando seus alunos como se estivesse ensinando a Jesus. Se você é pastor honre a Jesus, pastoreando seu rebanho como se estivesse pastoreando a Jesus.

23 Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens, 24 sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo. (Colossenses 3.23,24)

 

Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira

10/03/2024

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