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terça-feira, 24 de setembro de 2024

SERMÕES 233 - O PRIMEIRO GRANDE EMBATE DA IGREJA CRISTÃ

 O PRIMEIRO GRANDE EMBATE DA IGREJA CRISTÃ

Série: Atos de Transformação (Atos 15)

 

Estamos na série “Atos de Transformação” e o tema de nossa mensagem é “O Primeiro Grande Embate da Igreja Cristã”. Através dessa série estamos buscando olhar para o livro “Atos dos Apóstolos” e extrairmos transformações ocorridas na vida dos apóstolos e da sociedade em que eles estavam inseridos visando tirarmos lições através das experiências deles. Hoje estaremos refletindo no capítulo quinze.

Mais uma vez não vou ler todo o texto deste capítulo por ser muito longo, mas incentivo você a fazer essa leitura em sua casa, e aqui buscarei contar os acontecimentos deste capítulo fazendo a leitura de alguns versos e extrairmos lições para nós.

Vamos iniciar lendo os dois primeiros versos deste capítulo. Nosso primeiro ponto de hoje é “Conhecendo a Causa do Embate”.

 

1 – CONHECENDO A CAUSA DO EMBATE (vs. 1,2)

Alguns homens desceram da Judéia para Antioquia e passaram a ensinar aos irmãos: "Se vocês não forem circuncidados conforme o costume ensinado por Moisés, não poderão ser salvos". Isso levou Paulo e Barnabé a uma grande contenda e discussão com eles. Assim, Paulo e Barnabé foram designados, juntamente com outros, para irem a Jerusalém tratar dessa questão com os apóstolos e com os presbíteros. (Atos 15.1,2)

Nestes dois primeiros versos vemos que a pregação de Paulo e Barnabé a respeito da graça provocou uma contenda e discussão entre os cristãos gentios e os cristãos judeus.

Segundo o texto um grupo de homens vindos da Judéia chegaram a Antioquia afirmando que a circuncisão e a obediência a Lei de Moisés eram necessárias e imprescindíveis para a salvação, conforme descreve o verso cinco deste capítulo, dando início a uma contenda entre eles. Para resolver a controvérsia uma delegação é designada para irem a Jerusalém com o fim de resolverem esta contenda.

Este primeiro encontro de líderes em Jerusalém foi crucial para a vida da igreja, pois promoveu a unidade da igreja e também confirmou a pregação de Paulo e Barnabé referente a salvação pela graça mediante a fé somente.

Esta exigência dos cristãos judeus pela circuncisão prova que Paulo e Barnabé não exigiam que os gentios conversos em Cristo fossem circuncidados. Precisamos compreender que o texto quando faz uso do ato da circuncisão, ele não está se referindo somente a circuncisão, mas a guarda de toda Lei de Moisés. Isto fica claro para nós na decisão tomada por eles, pois encerram a contenda orientando que os cristãos gentios se abstivessem de comida contaminada pelos ídolos, da imoralidade sexual, da carne de animais estrangulados e do sangue. Percebemos pela conclusão chegada por eles que a discussão foi muito além da circuncisão em si.

A transformação que destaco baseado nestes dois primeiros versos é que a igreja cristã perdeu a espiritualidade e a experiência vivida logo após o pentecostes, onde todos eram uma só mente e um só coração. Claramente os novos cristãos judeus começaram a impor suas leituras teológicas deixando de lado o amor e o respeito por seus irmãos em Cristo que não haviam sido criados debaixo da Lei de Moisés.

Temos aqui dois grupos de cristãos em contenda e numa forte discussão a respeito da doutrina da salvação. Ao estudarmos as cartas paulinas logo percebemos que esta discussão não terminou neste encontro em Jerusalém. Paulo em suas cartas combate com afinco toda tentativa dos cristãos judeus de impor a Lei de Moisés sobre os cristãos gentios afirmando que a salvação era um ato recebido pela fé somente e que toda a lei de Moisés com todas as suas exigências (circuncisão, guarda do sábado, guarda de alimentos, dízimos, etc.) era somente sombra do que haveria de vir. A lei de Moisés servia de aio, de ensino para todos, até a manifestação de Jesus Cristo. Paulo faz esta afirmação em sua carta aos Gálatas 3.24-26. Lemos também em sua carta aos irmãos de Corinto uma posição contraria ao que havia sido acordado em Jerusalém com relação a comida sacrificada (1 Coríntios 8 e 10). Paulo em sua carta aos Corintos apela para a consciência de cada um quanto ao comer ou não comer comida sacrificada, mas ensina a eles que por amor, os mais fortes na fé se abstivessem por causa da consciência dos mais fracos. Ele apela para o amor, não para a lei ou para o que havia sido acordado em Jerusalém. Podemos dizer que o ensino de Paulo é que o amor pelo próximo deve ser a lei que rege a vida dos cristãos.

Alguns podem pensar que Paulo foi rebelde diante o que havia sido acordado, contudo Paulo foi usado por Deus para defender uma verdade que até então ainda não havia sido aceita plenamente por todos os cristãos de seus dias. Hoje ainda esta verdade não é bem compreendida por muitos cristãos.

Ainda hoje vivemos muitas divergências entre nós cristãos. Basta olharmos o grande número de denominações evangélicas em nossos dias e a grande variedade de teologia em nossos dias. Pessoalmente acredito que o distanciamento entre nós cristãos hoje é consequência de não estudarmos uma teologia bíblica pura, baseada no conhecimento linguístico e no que realmente os textos dela queriam dizer no momento histórico em que foi escrito, na verdade estudamos a bíblia mais preocupados em afirmar nossas teologias denominacionais do que ver o que ela realmente diz, e isso passa por nossos seminários teológicos que são em sua maioria tendenciosos e formam pastores tendenciosos.

Aplicação: A grande lição destes dois primeiros versos é reconhecermos que as divergências entre nós sempre existirão nesta era, uma vez que nosso orgulho e arrogância não nos permite aceitarmos que a bíblia é de fato nossa única regra de fé e prática. Pronunciamos esta verdade dos reformadores como um slogan, mas não a levamos a sério.  

Se a bíblia fosse de fato nossa única regra de fé e prática e dialogássemos corajosamente a partir dela, abertos a nos avaliarmos e a reaprendermos uns com os outros, nos sujeitando todos ao ensino do Espírito Santo, nos aproximaríamos uns dos outros, pois este era o desejo de Cristo em sua oração sacerdotal (João 17) e esta é a obra do Espírito Santo em nós. Como pode a bíblia nos distanciar uns dos outros se quem a inspirou sempre desejou nos unir?

A bíblia não deve ser estudada com o fim de nos atacarmos pelas nossas diferenças de doutrinas e nos distanciarmos, ela deve ser estudada com um sentimento de humildade, encontrando em nós sempre uma disposição de aprender e reaprender quantas vezes forem necessárias, pois somente assim nos aproximaremos uns dos outros a fim de que a unidade espiritual do corpo de Cristo não seja quebrada.

Precisamos levar em conta que nos dias do apóstolo Paulo, nos dias deste embate que estamos estudando, os cristãos ainda não tinham a bíblia como nós a temos hoje para servir de instrumento de ensino e orientação para eles. As bases do cristianismo ainda estavam sendo construídas. Hoje tudo o que precisamos para nosso ensino e correção já foi escrito e tudo está contido na Bíblia, a Palavra de Deus.

 

2 – O PRONUNCIAMENTO DE PEDRO (vs. 7-11)

Depois de muita discussão, Pedro levantou-se e dirigiu-se a eles: "Irmãos, vocês sabem que há muito tempo Deus me escolheu dentre vocês para que os gentios ouvissem de meus lábios a mensagem do evangelho e cressem. Deus, que conhece os corações, demonstrou que os aceitou, dando-lhes o Espírito Santo, como antes nos tinha concedido. Ele não fez distinção alguma entre nós e eles, visto que purificou os seus corações pela fé. 10 Então, por que agora vocês estão querendo tentar a Deus, impondo sobre os discípulos um jugo que nem nós nem nossos antepassados conseguimos suportar? 11 De modo nenhum! Cremos que somos salvos pela graça de nosso Senhor Jesus, assim como eles também". (Atos 15.7-11)

Pedro inicia seu discurso lembrando a todos da experiência vivida na casa de Cornélio, o centurião romano. Enquanto ele discursava a Cornélio a respeito de Jesus Cristo, o Espírito Santo desceu sobre Cornélio e sua casa da mesma forma que havia descido no dia do pentecoste sobre os cento e vinte discípulos de Jesus Cristo que lá estavam.

O apóstolo Pedro através desta experiência reconhece e afirma que Cornélio e sua casa receberam o Espírito de Deus pela fé e não pela guarda da Lei de Moisés, mostrando que Deus não fez distinção entre eles judeus e os gentios. Então ele faz a afirmação mais forte deste pequeno discurso: “Cremos que somos salvos pela graça de nosso Senhor Jesus, assim como eles também”.

Sem dúvida estas palavras finais do apóstolo Pedro deram força a pregação e ao trabalho de Paulo e Barnabé entre os gentios. Esta verdade pronunciada por Pedro deve ser pregada hoje a todos os povos.

Nossa salvação não é obra do que produzimos, mas do que Jesus fez na cruz por nós pecadores. Hoje praticamos boas obras e fomos chamados por Deus em Cristo Jesus para praticá-las, mas não as fazemos com o objetivo de sermos salvos ou de conquistarmos o amor de Deus, as praticamos porque elas são frutos de nossa nova natureza em Cristo Jesus.

A obra de Cristo na cruz é imputada a nós mediante a fé. A salvação foi realizada plenamente por Jesus Cristo na cruz, não temos que fazer nada com relação a isso. Cabe a nós somente crermos no que Ele fez por nós na cruz, essa é nossa única participação a fim de que a salvação nos seja dada; e devemos guardar a nossa fé até o fim.

A transformação que aqui podemos destacar é que a obra da redenção humana começa a se desprender da teologia cristã judaica onde fé e obras são contadas para a salvação. Essa teologia cristã judaica onde fé e obras são contadas está presente no catolicismo e também ainda em muitas igrejas pentecostais e neopentecostais de nossos dias. 

 

3 – O PRONUNCIAMENTO DE TIAGO (vs. 13-21)

13 Quando terminaram de falar, Tiago tomou a palavra e disse: "Irmãos, ouçam-me. 14 Simão nos expôs como Deus, no princípio, voltou-se para os gentios a fim de reunir dentre as nações um povo para o seu nome. 15 Concordam com isso as palavras dos profetas, conforme está escrito: 16 ‘Depois disso voltarei e reconstruirei a tenda caída de Davi. Reedificarei as suas ruínas, e a restaurarei, 17 para que o restante dos homens busque o Senhor, e todos os gentios sobre os quais tem sido invocado o meu nome, diz o Senhor, que faz estas coisas’ 18 conhecidas desde os tempos antigos. 19 "Portanto, julgo que não devemos pôr dificuldades aos gentios que estão se convertendo a Deus. 20 Pelo contrário, devemos escrever a eles, dizendo-lhes que se abstenham de comida contaminada pelos ídolos, da imoralidade sexual, da carne de animais estrangulados e do sangue. 21 Pois, desde os tempos antigos, Moisés é pregado em todas as cidades, sendo lido nas sinagogas todos os sábados". (Atos 15.13-21)

No pronunciamento de Tiago podemos destacar alguns pontos interessantes.

 

·      Primeiro ponto – Ele cita a experiência de Pedro e as palavras dos profetas para mostrar a todos que a pregação aos gentios estava coerente com o que havia sido anunciado pelos profetas.

·      Segundo ponto – Eles não deveriam atrapalhar a obra de Deus colocando um jugo pesado sobre os gentios, uma vez que a pregação aos gentios era coerente com o que havia sido anunciado pelos profetas.

·      Terceiro ponto – Ele apresenta quatro exigências aos gentios com o fim de apaziguar os judeus, uma vez que existiam sinagogas em todas as cidades, e Moisés era pregado nelas todos os sábados.

 

A proposta de Tiago pareceu bem a todos naquele momento e decidiram enviar Judas e Silas que eram profetas, junto com Paulo e Barnabé para levarem esta proposta aos cristãos gentios de Antioquia, Síria e Cilícia.

Como já havia dito anteriormente esta proposta foi aceita naquele momento, mas não colocou fim a este debate a respeito da salvação. Os judeus cristãos continuaram tentando impor aos gentios convertidos ao cristianismo a guarda da Lei de Moisés com todas as suas implicações. As cartas de Paulo aos Romanos, Coríntios, Gálatas e aos Colossenses são uma grande prova de que este embate continuou na vida da igreja.

 

REFLEXÃO FINAL

Quero concluir esta mensagem compartilhando um pouco do meu sentimento diante deste texto de Atos 15. Ao iniciar a leitura do livro “Atos dos Apóstolos” sou inundado nos quatros primeiros capítulos pela presença do Espírito Santo na vida dos primeiros cristãos. Homens e mulheres das mais diversas línguas e culturas, pessoas diferentes e desconhecidas umas das outras, mas que foram unidas de uma forma extraordinária por meio do poder e do amor transbordante do Espírito de Deus que nelas passaram habitar, de tal forma que todas passaram a ter a mesma mente e o mesmo coração, ajudando umas as outras de forma que ninguém ficava sem assistência. Era visível a unidade do corpo de Cristo.

A partir do capítulo cinco começamos ver esta unidade entre os cristãos se desmanchando, entrando num processo de distanciamento uns dos outros. E ao chegar aqui em Atos 15 vemos o início de um embate teológico que nunca mais deixou de existir na igreja. Houve uma tentativa de conciliação, mas que ao longo da história provou não ter sido eficaz.

Acredito que nunca mais experimentaremos nesta era uma unidade como viveram os cristãos dos primeiros quatro capítulos do Livro “Atos dos Apóstolos”. Eu gostaria muito de viver hoje esta experiência que eles viveram nos primórdios do cristianismo. Contudo o ser humano está cada vez mais duro em seu coração, cada vez mais inimigo do bem, insubmissoas lideranças levantadas por Deus, presunçosos e arrogante. Vivemos dias em que os crentes não suportam a sã doutrina, as verdades bíblicas, de tal forma que buscam para si mestres que ensinem segundo os seus próprios desejos.

Contudo não nos cansemos de fazer o bem e não percamos a esperança, pois Jesus Cristo voltará e estabelecerá o seu reino para todo sempre. Para ele vivemos! Nele nos movemos e existimos. A Ele toda glória para sempre. Deus te abençoe grandemente.

 

Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira

23/09/2024

 

 

 

 

 

 

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