AS AVENTURAS DO VIVER COM CRISTO (parte 2)
Série: Atos de
Transformação (Atos 16.16-40)
Hoje iremos dar
continuidade a segunda parte de nossa mensagem “As Aventuras do Viver Com
Cristo”. Estamos na série “Atos de Transformação” e estamos refletindo no
capítulo dezesseis do livro “Atos dos Apóstolos”.
Para nossa
meditação dividimos este capitulo dezesseis de Atos dos Apóstolos em cinco
partes, dando foco em cada uma das partes em um dos personagens citados neste
capítulo.
·
Primeira parte: Atos 16.1-5 – Timóteo.
·
Segunda parte: Atos 16.6-12 – Espírito Santo de Deus.
·
Terceira parte: Atos 16.13-15 – Lídia.
·
Quarta parte: Atos 16.16-23a – Escrava possessa de um
espírito adivinhador.
·
Quinta parte: Atos 16.23b-36 – O carcereiro.
Em nosso último encontro refletimos nas três primeiras partes deste estudo. Hoje iremos refletir na quarta e na quinta parte deste estudo. Iremos falar da escrava possessa de um espírito adivinhador e do carcereiro. O tema de nossa quarta parte é...
4
– O GRITO PERTUBADOR DE UMA ESCRAVA (Atos 16.16-23a)
16 Certo dia, indo nós para o lugar de oração,
encontramos uma escrava que tinha um espírito (πνεῦμα Πύθωνα - pneuma
Pythōna) pelo qual predizia o
futuro. Ela ganhava muito dinheiro para os seus senhores com adivinhações. 17 Essa moça seguia (κατακολουθοῦσα - katakolouthousa) a Paulo e a nós, gritando: "Estes homens são
servos do Deus Altíssimo e lhes anunciam o caminho da salvação".
18 Ela continuou fazendo isso por muitos dias.
Finalmente, Paulo ficou indignado, voltou-se e disse ao espírito: "Em nome
de Jesus Cristo eu lhe ordeno que saia dela!" No mesmo instante o espírito
a deixou. 19 Percebendo que a
sua esperança de lucro tinha se acabado, os donos da escrava agarraram Paulo e
Silas e os arrastaram para a praça principal, diante das autoridades. 20 E, levando-os aos magistrados, disseram:
"Estes homens são judeus e estão perturbando a nossa cidade, 21 propagando costumes que a nós, romanos,
não é permitido aceitar nem praticar". 22 A
multidão ajuntou-se contra Paulo e Silas, e os magistrados ordenaram que se
lhes tirassem as roupas e fossem açoitados. 23a Depois
de serem severamente açoitados, foram lançados na prisão. (Atos 16.16-23a)
Antes de falarmos
da escrava do nosso texto me permita apresentar para você a história de Bernadete, uma jovem de 22 anos,
que morava no litoral norte de São Paulo, na praia de São Sebastião.
Bernadete era uma prostituta muito procurada na praia de São Sebastião,
era muito comunicativa e alegre, apesar de ser portadora do vírus HIV. Bebia
muito e conseguia obter um considerável lucro para a casa de prostituição, pois
aprendera até algumas palavras e expressões em grego para atrair os turistas e
marinheiros de regiões da Grécia, que chegavam em quantidade ao cais. A jovem
começou a frequentar o Centro de Convivência da Igreja Católica, um local de
reunião, oração e estudo profissionalizante. Bernadete quis fazer catequese
para a primeira comunhão. Esse dia era muito esperado por ela. Marcos, um jovem
do grupo de reflexão bíblica, ia todas as tardes ensinar-lhe o catecismo. Ela
se arrumava com gosto para esperá-lo.
Pouco a pouco, Bernadete foi tomando consciência da proposta de vida que
Jesus lhe oferecia na comunidade que se dispunham a acolhê-la em seu meio. Não
podia mais continuar na situação de morte na qual estava mergulhada.
A dona da boate, percebendo que ia perder “a menina” e com ela o lucro
que obtinha, tratou de tirar a garota dali. Da noite para o dia mandou-a para a
zona de Santos e o grupo do Centro de Convivência não mais a encontraram. A
dona da boate também conseguiu que os agentes da pastoral da área de São
Sebastião fossem impedidos de dar continuidade ao seu trabalho naquele local.
Bernadete era mantida como escrava. Ela não dispunha do dom de sua vida,
pois não podia fazer nada que prejudicasse os lucros da gerente da casa.
Situação semelhante a de Bernadete é vivida por tantas outras mulheres e também
rapazes, nas mais diferentes realidades. Pessoas que, de muitas formas, vivem
submetidas a uma outra pessoa que fazendo uso da força física ou psicológica
assumiram a função de serem seus donos. Manipulam
suas vidas, vendem seus corpos, decidem suas ações, administram seus lucros,
sua forma de ser, enfim, condicionam até mesmo sua forma de pensar e de agir. -
Por Enilda de Paula Pedro, Maristela Tezza,
Shigeyuki Nakanose (Centro Bíblico Verbo) - https://www.vidapastoral.com.br/artigos/temas-biblicos/grito-de-uma-jovem-escrava-at-1616-18/
Tal realidade de escravização também esteve presente na sociedade das
primeiras comunidades cristãs. O texto que lemos nos relata uma história muito
parecida com a de Bernadete. É a história de uma jovem escrava possessa de um
espírito adivinhador explorada por seus patrões.
Literalmente ela possuía um espírito de pitonisa, traduzido em nossas
versões como espírito de adivinhação. O termo provavelmente se refere a uma
serpente mística (Píton) que, segundo se acreditava, guardava o templo e o
oráculo do deus grego Apolo, em Delfos um pequeno vilarejo cujos habitantes
veneravam uma antiga deusa chamada Geia[1],
a mãe terra.
Fica claro pelo texto a crença da população local de que a escrava
possuía habilidades sobrenaturais. Sem dúvida, seus gritos frenéticos eram
considerados oráculos e aceitos como tais pelos filipenses. A população de
Filipos acreditava que a serpente mística falava por meio dessa escrava. Seus
donos se aproveitavam da suposta inspiração da jovem e a faziam dar respostas
àqueles que a procuravam, obtendo dessa forma muito lucro através desta escrava.
Filipos, principal cidade da região da Macedônia, tinha uma população
constituída, em sua grande maioria, de militares aposentados. Esses homens
possuíam a cidadania romana, que lhes dava muitos privilégios, como, por
exemplo, a isenção de impostos. Além do mais, Filipos era uma cidade de cultura
grega e seguia a religião imposta por Roma. O império romano respeitava o
politeísmo de cada cidade desde que o imperador fosse obedecido e reverenciado
como o único “Senhor”. As pessoas que não se submetiam as leis estabelecidas
por Roma eram perseguidas.
Por isso os judeus foram hostilizados em várias cidades do império. Em
Filipos, a aversão aos judeus pode ter sido um dos motivos pelos quais eles não
conseguiram edificar uma sinagoga. Tradicionalmente os judeus, bem como os
gentios que seguiam a fé judaica, se não conseguiam manter uma sinagoga por
falta de membros ou por outro motivo, faziam suas orações em locais abertos —
como às margens de um rio, por exemplo. Por isso encontramos Paulo e Silas se
dirigindo a um local perto do rio para fazer suas orações diárias.
Paulo e Silas permaneceram alguns dias em Filipos. Um dia, quando estavam
indo para o lugar de oração, foram abordados por uma jovem escrava que possuía
um espírito de adivinhação. A jovem escrava passou a seguir os missionários por
vários dias, gritando: “esses homens são servos do Deus Altíssimo e anunciam o
caminho da salvação para todos vocês” (At 16.17). Paulo, irritado com esse modo
de agir, muito provavelmente isto deve ter atraído muitos curiosos e também muitos
oponentes, criando assim perigos para o seu trabalho missionário na cidade... irritado
expulsou o espírito de adivinhação.
Os patrões da jovem, por sua vez, furiosos por perderem sua fonte de
renda, arrastaram Paulo e Silas até a Ágora — a praça principal onde aconteciam
os julgamentos e os debates dos filósofos. Ali os dois missionários foram
acusados de perturbar a cidade e, como judeus, de propagar costumes que não
eram lícitos aos romanos (At 16.21). Os membros do tribunal mandaram despir
Paulo e Silas, torturá-los com açoites e colocá-los na prisão (At 16.22-23).
A partir do
momento que a moça é liberta do espírito de adivinhação ela desaparece de cena.
O livro de Atos não a menciona mais. Isso se deve porque Lucas está mais
preocupado em mostrar as realizações missionárias de Paulo do que as
consequências dessas realizações. Contudo a inserção dessa escrava está aí...
nos fazendo olhar para a realidade daqueles que são escravizados.
Na sociedade
romana o escravo ou escrava ocupava uma posição social inferior. Eles e elas
pertenciam a um patrão que podia dispor deles conforme achasse melhor ou
desejasse. O patrão ou o senhor tinha poder ilimitado sobre suas escravas e
escravos, tanto para premiar como para castigar. Elas e eles não eram
considerados pessoas dignas de afeto e de valor. Em nosso texto a jovem escrava
aparece duplamente explorada: por ser escrava todo o seu querer de nada valia e
por ter o dom de adivinhação se tornou uma propriedade de fins lucrativos para seus
patrões.
O texto diz que a
jovem começou a seguir Paulo e Silas gritando. Preste atenção, o verbo
“seguir”, do grego “katakoloutheo”, significa mais do
que simplesmente caminhar atrás de uma pessoa. Ele expressa o seguir como
desejo de aprender, de ser discípula, de comprometer-se com o mesmo projeto
daquele a quem está seguindo. Isso tem levado muitos a crerem que após sua
libertação ela se tornou discípula de Jesus. Mas não temos como afirmar isso
como verdade absoluta.
O verbo “seguir”
também é usado por Jesus, foi assim que ele convocou seus discípulos mais
próximos, convidando-os a serem seus seguidores. Por trás deste termo “seguir”
está a ideia de ser comprometido com o seu Senhor e com seus projetos. Ser
cristão ou cristã não é simplesmente ter fé em Jesus. Ser seguidor de Jesus é
uma forma de viver que vai além das normas e princípios morais. É assumir no
concreto da vida hoje a vontade revelada por Deus que se manifestou na prática
histórica de Jesus de Nazaré; é assumir hoje o mesmo modo de vida de Jesus.
Talvez você esteja
se perguntando: “Nós podemos viver essa vida de Jesus?” Acredito que sim, se
permitirmos sermos plenamente conduzidos pelo Espírito Santo que habita em nós.
Se vivermos e andarmos no Espírito. A questão é: Até aonde estamos dispostos a
caminharmos no discipulado com Cristo? O jovem rico (Mateus 19.16-30) estava
disposto a caminhar até aonde não precisasse abrir mão de sua riqueza. E você:
Até aonde vai na caminhada com Jesus?
Tudo nos leva a
crer em nosso texto que a jovem escrava se dispôs a trilhar o mesmo caminho de
tantas outras mulheres em Filipos que seguiram Jesus e seu projeto. Ela acreditou
na força da vida presente nas comunidades dos seguidores e seguidoras de Jesus
e viu ali a possibilidade de salvação para si, por isso ela os seguia
insistentemente. Entretanto não sabemos se ela conseguiu se libertar do poder
opressor de seus patrões.
Reflexão 1: Como esta jovem
escrava do livro de Atos dos Apóstolos, Bernadete e tantas outras mulheres continuam
gritando na esperança que um dia alguém pare para libertá-las. Não sabemos qual
foi o destino da jovem escrava do livro de Atos, nem de Bernadete. Mas, a
existência de todas elas e seus gritos ecoam, ainda que muitas vezes abafado ou
silenciado pelos patrões de uma sociedade acostumada a oprimir. Seus gritos
continuam sendo uma denúncia e ao mesmo tempo um anúncio.
Denúncia de uma
sociedade que discrimina e trata as mulheres como objetos descartáveis,
principalmente as mais empobrecidas. Anúncio que convoca a todos nós para somar
forças na construção de um mundo mais justo, fraterno e solidário, em
conformidade com o projeto de vida plena que Deus deseja entregar a cada ser
humano por meio de seu Filho Jesus Cristo.
A realidade da
escravidão em nossos dias nos pede uma revisão que começa em nós, em mim e em
você. Qual é a nossa posição diante dos gritos de milhões de mulheres, homens e
crianças que vivem em situação de escravidão? Seja ela escravidão financeira,
religiosa, psicológica, sexual, trabalhista ou qualquer outra.
Jesus morreu na cruz para que verdadeiramente fossemos
livres. A liberdade espiritual oferecida por Cristo Jesus a nós pecadores nos
convoca a vivermos essa liberdade em todas as dimensões de nossas vidas e a
conduzirmos aqueles que ainda vivem em algum tipo de escravidão a liberdade.
O que devemos fazer
concretamente para que nossas igrejas, para que a nossa maneira de viver e de
se relacionar sejam um espaço de salvação, no qual os que se encontram em
escravidão possam se sentir acolhidas e acolhidos, onde possam receber e
partilhar seus dons?
5
– O VALOR DA VIDA DO CARCEREIRO (Atos 16.23b-36)
23b O carcereiro recebeu instrução para vigiá-los com
cuidado. 24 Tendo recebido tais ordens,
ele os lançou no cárcere interior e lhes prendeu os pés no tronco. 25 Por volta da meia-noite, Paulo e Silas estavam
orando e cantando hinos a Deus; os outros presos os ouviam. 26 De repente, houve um terremoto tão violento que os
alicerces da prisão foram abalados. Imediatamente todas as portas se abriram, e
as correntes de todos se soltaram. 27 O carcereiro acordou e, vendo abertas as portas da
prisão, desembainhou sua espada para se matar, porque pensava que os presos
tivessem fugido. 28 Mas Paulo gritou: "Não
faça isso! Estamos todos aqui!" 29 O carcereiro pediu luz, entrou correndo e, trêmulo,
prostrou-se diante de Paulo e Silas. 30 Então levou-os para fora e perguntou:
"Senhores, que devo fazer para ser salvo?" 31 Eles responderam: "Creia no Senhor Jesus, e
serão salvos, você e os de sua casa". 32 E pregaram a palavra de Deus, a ele e a todos os de
sua casa. 33 Naquela mesma hora da noite o
carcereiro lavou as feridas deles; em seguida, ele e todos os seus foram
batizados. 34 Então os levou para a sua
casa, serviu-lhes uma refeição e com todos os de sua casa alegrou-se muito por
haver crido em Deus. 35 Quando amanheceu, os
magistrados mandaram os seus soldados ao carcereiro com esta ordem: "Solte
estes homens". 36 O carcereiro disse a Paulo:
"Os magistrados deram ordens para que você e Silas sejam libertados. Agora
podem sair. Vão em paz". (Atos
16.23b-36)
Os donos daquela
escrava, quando perceberam que tinham perdido uma fonte de lucro, ficaram
revoltados. Eles arrastaram Paulo e Silas até a praça principal onde estavam as
autoridades da cidade. Diante os magistrados disseram que Paulo e Silas estavam
causando grande confusão e perturbação na cidade propagando costumes judaicos
que não eram permitidos por Roma.
É interessante
percebermos que em nenhum momento a jovem foi mencionada na acusação. Toda
denúncia partiu do confronto entre os interesses romanos e os interesses
judeus. Na época a religião judaica era permitida dentro do império, porém os
judeus não poderiam tentar converter os cidadãos romanos, e naquele momento
ainda não havia ficado clara para os romanos a distinção entre Cristianismo e
Judaísmo.
Com todo o tumulto
que se aglomerou na praça da cidade, os magistrados ignoraram qualquer
procedimento legal e deram ordem para que Paulo e
Silas fossem despidos e açoitados. Por serem cidadãos
romanos, Paulo e Silas não poderiam, de forma alguma,
ter passado por essa seção de tortura.
Paulo e Silas foram lançados na prisão. Ao
carcereiro foi ordenado que ele guardasse os dois prisioneiros com segurança,
ou seja, com total rigidez. O carcereiro então colocou Paulo e Silas no “cárcere interno e prendeu seus pés no tronco” (At
16.24).
As cadeias da
época eram divididas em duas partes: o cárcere externo e o cárcere interno. Na
parte externa os presos desfrutavam de mais liberdade, podendo andar e receber
visitas. Já na parte interna o aprisionamento era bem mais rígido, e geralmente
reservado aos prisioneiros mais perigosos. A prova disto é que o carcereiro colocou as pernas de Paulo e Silas no tronco,
para que se tornasse impossível qualquer possibilidade de fuga.
O próprio uso do
tronco nas pernas também era um tipo de tortura, pois o preso perdia
praticamente toda mobilidade, além de que em muitas vezes os buracos de cada
perna eram bem afastados, causando grande incomodo.
Com seus corpos
totalmente doloridos, e submetidos a condições sub-humanas, Paulo e Silas resolveram orar a Deus e cantar louvores a Ele. Naquele
momento eles estavam com dor, fome e sede, mas seus corações estavam voltados a
Deus.
Eles estavam na
cadeia porque decidiram libertar uma jovem escrava do poder demoníaco que lhe
acompanhava e a tornava objeto de lucro nas mãos de homens sem escrúpulos.
Diante a injustiça praticada a eles e o sofrimento que lhes foram impostos,
Paulo e Silas decidiram apenas adorar a Deus por meio de orações e hinos.
Quando nos
sentimos injustiçados somos tendenciosos a murmurarmos, mas diante as dificuldades
e injustiças a melhor escolha é confiarmos em Deus e adorá-Lo, pois só Ele sabe
os planos que tem para nós.
O texto nos
informa que os outros presos também ouviram as orações e os cânticos de Paulo e Silas. Com
toda certeza esse foi um testemunho genuíno de dois seguidores de Cristo. Certamente
Paulo e Silas entendiam que não tinham qualquer direito de reclamar diante o
sofrimento, pois Jesus sofreu calado no Calvário
por eles.
Sofrer por Cristo era visto por eles como honra e não vergonha.
A Bíblia diz que de repente houve um violento terremoto, de
maneira que os alicerces da prisão foram sacudidos. Com isso,
todas as portas foram abertas e todas as correntes dos prisioneiros se
soltaram.
É verdade que na
Macedônia havia incidência de terremotos, porém claramente esse terremoto
específico foi providência de Deus, ou seja, Deus usa até mesmo de meios
naturais para prover milagres inexplicáveis. Aquele terremoto tinha um papel decisivo nos propósitos de Deus.
Não foi apenas uma coincidência.
Apesar de todos os
prisioneiros estarem livres, nenhum deles escapou. É possível que todos ficaram
perplexos ao redor de Paulo e Silas admirando
o poder do Deus deles. As orações e as músicas cantadas por Paulo e Silas
fizeram com que todos os prisioneiros compreendessem que o Deus deles havia
libertado a todos.
Quando o carcereiro
acordou e viu que todas as portas da prisão estavam abertas, ele planejou se
matar. Ele sabia que se um único prisioneiro escapasse sua própria vida seria
dada em troca pela vida do fugitivo, sendo assim ele estava condenado a morte
aos seus olhos. Esse era o valor que o imperador romano dava a sua vida. Entretanto,
antes que ele tirasse sua vida, Paulo o avisa que ninguém havia fugido (At 16.28).
Aqui precisamos
fazer algumas considerações, pois é justamente nesse ponto onde várias
interpretações erradas são tomadas. Algumas pessoas utilizam essa passagem para
tentar ensinar que a oração da madrugada é mais poderosa, tão poderosa que até
mesmo um terremoto ocorreu quando Paulo e Silas oraram à meia-noite.
No entanto esse
ensino é completamente estranho aos ensinos das Escrituras. O terremoto aqui
não serviu para mostrar a eficácia da oração feita num determinado horário da
noite.
Outras pessoas
também usam esse relato sobre Paulo e Silas na prisão para
pregar um tipo de “determinismo”, onde Deus faz qualquer coisa para resolver o
seu problema. Para muitos é só louvar e pronto, um terremoto virá sacudir sua
vida e te libertar de seus problemas. Não é bem assim.
Em primeiro
lugar, não há qualquer evidência no texto de que
Paulo e Silas tenham orado para que fossem libertos da prisão,
muito menos que tenham solicitado o terremoto que ocorreu. O texto claramente
parece indicar que os dois missionários estavam simplesmente rendendo graças ao
Senhor. Acredito que eles nem esperavam por tamanha libertação.
Devemos nos
lembrar que Paulo foi preso outras vezes e não houve novos terremotos. Essa foi
uma experiência única.
O que houve ali
foi a perfeita execução de um plano do Senhor. O terremoto foi um instrumento usado por Deus para que seus
propósitos soberanos fossem cumpridos.
O terremoto não
apenas quebrou as correntes que prendiam Paulo e Silas e abalou os alicerces do
cárcere, foi muito mais além do que isto, o
terremoto quebrou as correntes da incredulidade e abalou os alicerces do
coração do carcereiro e também de toda sua família.
Aquele terremoto revelou o poder e a majestade do Senhor, bem como
a soberania de seus propósitos eternos. O grande objetivo do
terremoto pode ser notado nas palavras do carcereiro: “Senhores, o que devo fazer para ser salvo?” (At
16.30).
Os missionários
lhe responderam: “Creia no Senhor Jesus” (At
16.31). A salvação havia alcançado não só o carcereiro, mas toda sua casa
(incluindo seus servos). Paulo e Silas ensinaram àquela
família a Palavra do Senhor, e imediatamente todos foram batizados.
Naquele momento o
carcereiro já não era mais o mesmo, ele havia nascido de novo. Sua atitude já
demonstra o caráter de alguém regenerado. Se poucas horas antes ele havia
lançado no cárcere dois homens debilitados, sem ao menos se importar com as
necessidades deles, prendendo seus pés no tronco, agora ele estava cuidando das
feridas dos missionários Paulo e Silas (At 16.32). Somente o Espírito Santo pode promover uma transformação tão
radical.
O carcereiro
também conduziu os missionários até sua casa, e ali os alimentou. Para ele,
Paulo e Silas não eram mais prisioneiros, mas agora eram irmãos em Cristo.
O texto bíblico
nos informa sobre a grande alegria do carcereiro por não só ele, mas toda
sua família, agora crerem em Deus. A expressão grega desse texto revela uma
confiança permanente, ou seja, a fé daqueles irmãos não era nominal, mas
verdadeira.
Depois, Paulo e Silas voltaram voluntariamente para a prisão. Eles
não tentaram se aproveitar da situação para fugir. Se eles tivessem fugido logo
após o terremoto o carcereiro teria se matado e ido para o inferno. A decisão
de Paulo e Silas privilegiou o carcereiro que os mantinha presos e não o desejo
pessoal de libertação. Eles poderiam ter ido embora, mas a vida do carcereiro
tinha valor para eles. No outro dia, pela manhã, as autoridades ordenaram que
os dois fossem soltos.
Entretanto, Paulo
se recusou a ir, e também expôs a injustiça que tinha sido cometida com dois
cidadãos romanos, e exigiu uma retratação pública. A revelação de que Paulo e Silas tinham cidadania romana perturbou
os magistrados, que foram até a prisão e pediram desculpas a
eles, implorando também que eles deixassem a cidade.
Após saírem da
prisão, Paulo e Silas foram para a casa de Lídia,
onde se reuniram com os irmãos e, depois de encorajá-los, partiram de Filipos.
O episódio da prisão de Paulo e Silas nos fornece duas grandes lições:
Primeira lição: Não temos que
negar a dor, seja qual for a razão dela. Não somos chamados para fingir que não
está doendo. O sofrimento faz parte de nossa existência, mas precisamos em meio
a dor olharmos para a cruz e nos lembrarmos de que Jesus certamente sofreu muito
mais, experimentou dores mais intensas, do que qualquer dor que possamos
experimentar, por causa de nossos pecados. Temos que olhar para a cruz e
percebermos que mesmo diante nossa dor existe uma razão para nos alegrarmos,
pois há vida abundante nos esperando na ressurreição.
Segunda lição: Precisamos dar
valor a todas as pessoas, mesmo que elas sejam para nós carcereiros que nos
aprisionam e nos subjugam. Elas necessitam do Evangelho de Cristo, e você pode
ser o instrumento de Deus que a conduzirá a nova vida em Cristo Jesus.
Deus te abençoe
grandemente!
Pr. Cornélio Póvoa
de Oliveira
08/10/2024
[1] A deusa Geia e
seu Templo eram protegidos pela serpente Píton, que proferia oráculos e
profetizava. Conforme conta a lenda, Apolo — deus greco-romano, o mais belo dos
deuses —, querendo dominar o Templo de Delfos e adquirir os poderes de fazer
oráculos e profetizar, mata a serpente e incorpora os poderes desta,
denominando-se Apolo-Pythias, tornando-se assim
senhor do Templo.
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