A EXPERIÊNCIA MISSIONÁRIA EM TESSALÔNICA, BERÉIA E ATENAS
Série: Atos de
Transformação (Atos 17.1-33)
Hoje em nossa
série “Atos de Transformação” iremos estudar o capítulo dezessete do Livro
“Atos dos Apóstolos”. O tema de nossa mensagem é... Lembro que desde o capítulo
dezesseis estamos refletindo sobre acontecimentos ocorridos na segunda viagem
missionária de Paulo.
Nós iremos dividir
o estudo deste capítulo em três partes.
·
Primeira
parte: A experiência missionária em Tessalônica (vss. 1-9).
·
Segunda
parte: A experiência missionária em Beréia (vss. 10-14).
·
Terceira
parte: A experiência missionária em Atenas (vss. 15-34).
Buscaremos tirar lições destas experiências missionárias. Nosso primeiro ponto é “A Experiência Missionária em Tessalônica”.
1
– A EXPERIÊNCIA MISSIONÁRIA EM TESSALÔNICA (vss. 1-9)
Eu não vou fazer a
leitura destes versos bíblicos, mas peço a gentileza que você possa fazer esta
leitura em sua casa. Eu não estarei lendo porque os relatos da experiência
missionária vividas por Paulo, Silas, Timóteo e Lucas em Tessalônica são
exatamente iguais aos relatos das experiências missionárias anteriores, da
primeira viagem de Paulo e Barnabé.
Os missionários
foram à sinagoga de Tessalônica por três sábados e discutiram com eles a
respeito da necessidade do Cristo sofrer e ressuscitar ao terceiro dia. Paulo
anunciou que o Cristo apresentado nas Escrituras é Jesus a quem ele e seus
companheiros tem proclamado.
Alguns dos judeus
e também muitos gentios creram na pregação de Paulo, entre estes convertidos
muitas mulheres de alta posição social.
Como sempre alguns
judeus movidos por inveja inflamaram homens perversos e desocupados contra
Paulo e seus companheiros criando um grande tumulto na cidade.
É interessante
notarmos que assim como em outras experiências missionárias anteriores o que
moveu os judeus foi a inveja. A partir da inveja eles levantaram falsos
testemunhos contra Paulo e seus companheiros de missão. A inveja os levou a
pronunciarem que eles eram hereges, que estavam contra o sistema romano... a
inveja os fazia mentir e acreditarem em suas próprias mentiras. Eles não
estavam interessados no bem comum de todos, eles estavam sendo movidos por
inveja, com o fim de se justificarem eles agiam se dizendo os defensores das
verdades de Deus e do sistema institucional da qual faziam parte, no caso aqui
o império romano, a quem na verdade eles odiavam. A inveja leva os judeus a se
aliarem ao império romano contra Paulo e seus companheiros.
Infelizmente este
movimento de inveja dos judeus contra Paulo tem acontecido em muitas igrejas de
nossos dias. O que posso dizer a respeito disso é não se desanimem, pelo
contrário alegrem-se no Senhor, pois Jesus disse (Mateus 5.10-12):
10 Bem-aventurados os perseguidos por causa da
justiça, pois deles é o Reino dos céus. 11 "Bem-aventurados
serão vocês quando, por minha causa os insultarem, perseguirem e levantarem
todo tipo de calúnia contra vocês. 12 Alegrem-se
e regozijem-se, porque grande é a recompensa de vocês nos céus, pois da mesma
forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês". (Mateus 5.10-12)
De Tessalônica
Paulo e seus companheiros foram para Beréia, o que nos leva ao nosso segundo
ponto do estudo de hoje “A Experiência Missionária em Beréia”.
2
– A EXPERIÊNCIA MISSIONÁRIA EM BERÉIA (vss. 10-14)
10 Logo que anoiteceu, os irmãos enviaram Paulo e Silas
para Beréia. Chegando ali, eles foram à sinagoga judaica. 11 Os bereanos eram mais nobres do que os tessalonicenses,
pois receberam a mensagem com grande interesse, examinando todos os dias as
Escrituras, para ver se tudo era assim mesmo. 12 E creram muitos dentre os judeus, bem como dentre os
gregos, um bom número de mulheres de elevada posição e não poucos homens. 13 Quando os judeus de Tessalônica ficaram sabendo que
Paulo estava pregando a palavra de Deus em Beréia, dirigiram-se também para lá,
agitando e alvoroçando as multidões. 14 Imediatamente os irmãos enviaram Paulo para o litoral,
mas Silas e Timóteo permaneceram em Beréia. (Atos 17.10-14)
Chegando em Beréia
Paulo, Silas, Timóteo e Lucas seguiram a estratégia a qual estavam acostumados
– foram à sinagoga judaica. Entretanto em Beréia aconteceu algo diferente com
relação a exposição da Palavra de Deus. Essa diferença foi tão notória que
Lucas fez questão de registrá-la de forma enfática para nosso conhecimento, por
isso ele fez uma comparação entre os judeus de Tessalônica e os judeus de
Beréia quanto a forma como receberam a Palavra de Deus anunciada pelo apóstolo
Paulo.
Lucas afirma que
os bereanos eram mais nobres do que os tessalonicenses.
Duas coisas o levaram a fazer este elogio para os bereanos: Primeiro, pela forma como receberam a mensagem. Eles a receberam com grande
interesse. Em segundo lugar pela forma como trataram a
mensagem. Eles examinavam todos os dias as
Escrituras, para ver se tudo era assim mesmo.
Os bereanos eles
não rejeitaram a Palavra de Deus trazida por Paulo, mas também não acolheram os
ensinos de Paulo sem que consultassem as Escrituras de forma acurada, com zelo.
Somente depois de muito estudo abraçaram a fé em Cristo Jesus.
Atualmente eu me
preocupo demais com a forma como nossas igrejas tem tratado a Palavra de Deus. Estamos
formando líderes incapazes de pensarem, de refletirem, falam somente o que
ouvem dentro dos seminários que escolheram para estudar.
As nossas diversas
denominações abraçaram determinadas teologias como se os teólogos que as
elaboraram estivessem isentos de erros e de seu próprio tempo. Essas teologias
são inculcadas, imprimidas na mente de seus seguidores de forma que são
incapazes de dialogarem com pensamentos diferentes ou posições diferentes, ainda
que estas estejam pautados na bíblia.
Quando a igreja é
chamada para refletir em posições diferentes a partir da bíblia, elas preferem
rejeitar o que está escrito na bíblia e também aquele que a chama para a
reflexão bíblica, empurrando para fora da igreja o irmão em Cristo, acusando-o
de herege e passam a tratá-lo como se ele fosse um inimigo. Essa é uma atitude
de autodefesa, onde o medo as levam a se apegarem nas afirmações teológicas de
suas instituições, assim como os católicos fizeram no passado. A palavra da
instituição passa a ter mais peso do que a bíblia. Isso é um claro sinal de
idolatria institucional.
Eu vou apresentar
como exemplo um tema que já falei nesta série de mensagens. Mas o considero
pertinente em nossos dias atuais devido ao grande número de cristãos que vejo
abandonando a fé, mas se considerando salvos.
Alguns crentes e
algumas denominações têm dificuldades de reconhecer que um crente pode
abandonar a fé, conforme descreve o apóstolo Paulo em 1 Timóteo 4.1.
1 O
Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão
a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios. (1 Timóteo 4.1)
O apóstolo está
alertando o jovem pastor Timóteo que alguns abandonarão a fé e seguirão
doutrinas de demônios, de espírito enganadores. Ele está falando de abandonar a
fé na pessoa e obra de Jesus Cristo. Só pode abandonar a fé quem está na fé.
Aqueles que pensam estar na fé e não estão, não tem fé para abandonar. O
convencido não tem fé para abandonar.
Contudo mesmo
escrito de forma tão clara muitos ainda continuam pregando que uma vez salvo,
salvo para sempre. Assim procedem porque estão apegados a teologia calvinista e
fazem toda leitura da bíblia baseado nesta teologia. Nossas igrejas batistas
estão cada vez mais calvinistas. Não me surpreenderei se daqui alguns anos não
estivermos batizando crianças. Eu pergunto como fica o texto de Gálatas 4.1-4.
1 Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permaneçam
firmes e não se deixem submeter novamente a um jugo de escravidão. 2 Ouçam bem o que eu, Paulo, lhes digo:
Caso se deixem circuncidar, Cristo de nada lhes servirá. 3 De novo declaro a todo homem que se deixa
circuncidar que está obrigado a cumprir toda a lei. 4 Vocês, que procuram ser justificados pela
lei, separaram-se de Cristo; caíram da graça. (Gálatas
4.1-4)
No primeiro verso deste capítulo
Paulo diz “permaneçam firmes e não se deixem submeter novamente a um jugo de
escravidão”. O apóstolo está alertando os irmãos para permanecerem firmes no
evangelho que haviam recebido pela fé, porque eles estavam correndo o risco de
voltarem a viver debaixo do jugo de escravidão. A afirmação do apóstolo para
permanecerem firmes é uma autenticação de que eles estavam em Cristo Jesus, libertos
da lei do pecado, salvos pela graça. Não podemos negar esta verdade. Paulo está
falando com crentes salvos pela graça mediante a fé em Cristo Jesus.
O apóstolo afirma categoricamente
aos crentes que passaram a buscar a justificação pela lei, falando para aqueles
que se circuncidaram que Cristo de nada lhes serviria mais. Eles estavam
anulando o que Cristo havia feito por eles na cruz, pois estavam abandonando a
fé e buscando a salvação pelos méritos através do cumprimento da lei de Moisés.
No verso quatro, Paulo deixa
claro como a luz do meio-dia que eles na busca pela justificação pela lei,
separaram-se de cristo. Só pode se separar de Cristo quem estava com Cristo. O
apóstolo ainda diz: “caíram da graça”. Só pode cair da graça quem estava na
graça. Assim como só pode cair da bicicleta quem está na bicicleta.
Os calvinistas, como eu já fui um
dia, gostam de dizer que essas pessoas não eram convertidas, apenas
convencidas. A bíblia não está dizendo isso. Pelo contrário, elas foram
separadas de Cristo, caíram da graça. Portanto estavam com Cristo e na graça.
Muitos outros textos colaboram para esta verdade, entre eles o texto que já
lemos 1 Timóteo 4.1.
Não podemos negar um texto ou
criarmos desculpas intencionais para justificarmos uma posição teológica.
Precisamos saber como conciliar todas as verdades de Deus, sem negar nenhuma
delas. Precisamos ser humildes para lermos a bíblia e nos deixarmos ser
desafiados por ela. Precisamos amar aqueles que nos desafiam a pensarmos
diferentes e não expulsá-los de nossas igrejas. Há verdades bíblicas que não
podem ser negadas, são inegociáveis, mas existem muitas doutrinas teológicas
que são fundamentadas na elaboração de pensamentos extra bíblia ou que
simplesmente na busca de sua afirmação ignoram os textos que parecem contradizê-las
e estas doutrinas quase sempre são negociáveis, não justificando o repúdio
àqueles que pensam diferente de nós a respeito delas.
Não podemos negar que a bíblia
contém texto que parecem dizer que o crente não perde a salvação, mas não
podemos escolher uma verdade jogando outra fora. Precisamos saber como
conciliarmos os textos para que cheguemos à verdade, pois Deus não é Deus de
confusão.
Eu pessoalmente creio que um
crente pode se apostatar da fé. Ao abandonar a fé em Jesus Cristo, perde sua
salvação. Um pastor cheio do Espírito que abandona sua fé e passa a ser um
seguidor do budismo, eu creio que ele perdeu a salvação. Assim também creio que
um pastor que diz ter fé em Jesus, mas abandona verdades bíblicas, começa a
defender casamentos homoafetivos e passa a ensinar doutrinas demoníacas eu
creio que o Jesus que ele afirma ter fé, já não é mais o Jesus da bíblia. Ele
caiu da graça, conforme descreve Paulo.
Eu gostaria que você não se
prendesse ao exemplo apresentado por mim, é só um exemplo entre outros
exemplos, mas se prendesse ao que realmente estou querendo mostrar, a
incapacidade de nos abrirmos para estudarmos seriamente a Palavra de Deus sem o
peso da instituição a qual escolhemos congregar ou servir, sem o peso da
teologia que decidimos abraçar.
Vou apresentar um outro exemplo
para ajudá-lo a não ficar preso somente ao exemplo citado anteriormente. Paulo
ao escrever a Timóteo afirma que é a vontade de Deus que todos os homens sejam
salvos, conforme podemos ler em 1 Timóteo 2.3-6.
3 Isso é bom e agradável perante Deus, nosso
Salvador, 4 que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao
conhecimento da verdade. 5 Pois
há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus, 6 o qual se entregou a si mesmo como
resgate por todos. Esse foi o testemunho
dado em seu próprio tempo. (1 Timóteo 2.3-6)
O texto é muito claro, no verso
quatro Paulo afirma que Deus deseja que todos os homens sejam salvos, que
cheguem ao conhecimento da verdade... verdade que os libertará da condenação
eterna. Da mesma forma o verso deixa claro que Jesus se entregou a si mesmo
como resgate por todos, se referindo a todos os seres humanos.
Contudo nossos irmãos calvinistas
leem este texto e afirmam que Deus deseja salvar somente os que Ele elegeu
antes da fundação do mundo. Para encaixarem este texto e muitos outros dentro
da doutrina da predestinação, eles afirmam que a palavra “todos” se refere
somente aos eleitos.
A carta de Paulo a Timóteo em
lugar algum fala sobre eleição ou predestinação. Precisamos ler a carta e
compreendê-la dentro do momento histórico em que foi escrito. Timóteo ao
receber esta carta ele não tinha conhecimento da Teologia Calvinista, os irmãos
em Cristo não tinham uma teologia elaborada sobre predestinação como a que
temos hoje em dia. Certamente Timóteo leu a carta e compreendeu que Deus
desejava salvar todos os homens, todos os seres humanos e Jesus havia morrido
por todos eles.
Se o apóstolo Paulo quisesse
dizer que Deus desejava salvar somente todos os eleitos, ele teria escrito e
deixado claro para Timóteo para que este pudesse compreender o que ele estava
dizendo. Claramente o que vemos são instituições forçando leituras de textos bíblicos
e doutrinando pastores para continuarem defendendo suas histórias e sua
teologia.
Que nos deixemos ser conduzidos ao
estudarmos a bíblia somente pelo poder revelador do Espírito Santo. Que somente
a bíblia interprete a si mesma.
Precisamos ser como os bereanos
abertos para ouvirmos e cautelosos para abraçarmos o que nos ensinam,
verificando se tudo está de acordo com os ensinos bíblicos e não com uma
posição teológica. Se os bereanos fossem como os de Tessalônica eles não dariam
ouvidos a Palavra de Deus pregada por Paulo, pois eles já tinham sua teologia
judaica formulada na qual viviam sua religiosidade. Jesus Cristo não seria
aceito por eles como o Messias, o Salvador. E assim como aconteceu em outras
cidades, Paulo e seus companheiros seriam perseguidos ferozmente por eles. Mas
o coração aberto para ouvir atentamente e averiguar a verdade os levaram a crer
em Jesus e receber dele a salvação.
De Beréia Paulo vai para Atenas,
o que nos leva para o nosso terceiro ponto de hoje: “A Experiência Missionária
em Atenas”.
3 – A
EXPERIÊNCIA MISSIONÁRIA EM ATENAS (vss. 15-34)
15 Os homens que foram com Paulo o levaram até Atenas,
partindo depois com instruções para que Silas e Timóteo se juntassem a ele, tão
logo fosse possível. 16 Enquanto
esperava por eles em Atenas, Paulo ficou profundamente indignado ao ver que a
cidade estava cheia de ídolos. 17 Por
isso, discutia na sinagoga com judeus e com gregos tementes a Deus, bem como na
praça principal, todos os dias, com aqueles que por ali se encontravam. 18 Alguns filósofos epicureus e estóicos
começaram a discutir com ele. Alguns perguntavam: "O que está tentando
dizer esse tagarela?" Outros diziam: "Parece que ele está anunciando
deuses estrangeiros", pois Paulo estava pregando as boas novas a respeito
de Jesus e da ressurreição. 19 Então
o levaram a uma reunião do Areópago, onde lhe perguntaram: "Podemos saber
que novo ensino é esse que você está anunciando? 20 Você
está nos apresentando algumas idéias estranhas, e queremos saber o que elas
significam". 21 Todos os
atenienses e estrangeiros que ali viviam não cuidavam de outra coisa senão
falar ou ouvir as últimas novidades. 22 Então
Paulo levantou-se na reunião do Areópago e disse: "Atenienses! Vejo que em
todos os aspectos vocês são muito religiosos, 23 pois,
andando pela cidade, observei cuidadosamente seus objetos de culto e encontrei
até um altar com esta inscrição: AO DEUS DESCONHECIDO. Ora, o que vocês adoram,
apesar de não conhecerem, eu lhes anuncio. 24 "O
Deus que fez o mundo e tudo o que nele há é o Senhor do céu e da terra, e não
habita em santuários feitos por mãos humanas. 25 Ele
não é servido por mãos de homens, como se necessitasse de algo, porque ele
mesmo dá a todos a vida, o fôlego e as demais coisas. 26 De um só fez ele todos os povos, para
que povoassem toda a terra, tendo determinado os tempos anteriormente
estabelecidos e os lugares exatos em que deveriam habitar. 27 Deus fez isso para que os homens o
buscassem e talvez, tateando, pudessem encontrá-lo, embora não esteja longe de
cada um de nós. 28 ‘Pois nele
vivemos, nos movemos e existimos’, como disseram alguns dos poetas de vocês:
‘Também somos descendência dele’. 29 "Assim,
visto que somos descendência de Deus, não devemos pensar que a Divindade é
semelhante a uma escultura de ouro, prata ou pedra, feita pela arte e
imaginação do homem. 30 No
passado Deus não levou em conta essa ignorância, mas agora ordena que todos, em
todo lugar, se arrependam. 31 Pois
estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio do homem
que designou. E deu provas disso a todos, ressuscitando-o dentre os
mortos". 32 Quando ouviram
sobre a ressurreição dos mortos, alguns deles zombaram, e outros disseram:
"A esse respeito nós o ouviremos outra vez". 33 Com isso, Paulo retirou-se do meio
deles. 34 Alguns homens
juntaram-se a ele e creram. Entre eles estava Dionísio, membro do Areópago, e
também uma mulher chamada Dâmaris, e outros com eles. (Atos
17.15-34)
A experiência missionária de
Atenas é muito interessante, pois nos apresenta um choque de cosmovisões.
Quando falamos de cosmovisão, estamos falando de como as pessoas veem o mundo,
de como elas leem e compreendem a vida ao seu redor.
Entender a cosmovisão de uma pessoa
nos ajuda a compreender porque alguém tão perto de nós aparentemente vive de
forma tão distante de nós, tão diferente de nós. Essa compreensão pode nos
ajudar a expormos o evangelho a uma outra pessoa, assim também como pode nos
ajudar a compreender as diferentes reações quando expomos o evangelho a outras
pessoas.
Paulo ao apresentar na praça
pública o Evangelho de Jesus Cristo e anunciar a ressurreição dos mortos aos
atenienses, ele experimenta imediatamente essa realidade do choque entre sua
cosmovisão e a cosmovisão deles. Os atenienses já tinham entre eles mesmos
choques de cosmovisões, por compreenderem e lerem o mundo de forma diferentes
entres eles, como podemos ver no verso dezoito deste capítulo.
18 Alguns filósofos
epicureus e estóicos começaram a discutir com ele. Alguns perguntavam:
"O que está tentando dizer esse tagarela?" Outros diziam:
"Parece que ele está anunciando deuses estrangeiros", pois Paulo
estava pregando as boas novas a respeito de Jesus e da ressurreição. (Atos 17.18)
Paulo como de costume iniciou
pregando na sinagoga aos judeus e gentios que a frequentavam. Mas Atenas era
uma cidade muito culta e muito idólatra e essa última característica chamou a
atenção de Paulo levando ele a pregar na praça da cidade, possivelmente esta
praça era o local de comércio da cidade.
A pregação de Paulo para os
atenienses que não frequentavam a sinagoga, que não tinham contato com a
religião judaica, não era compreendida porque eles tinham uma cosmovisão muito
distante dos conceitos os quais Paulo estava acostumado. Para os atenienses
ressurreição era algo incompreensível, era um tema que não fazia parte das
discussões deles.
Os epicureus criam em deuses
pessoais e Jesus poderia ser mais um deus para sua lista de deuses. Entretanto
eles não criam que estes deuses interferiam na vida cotidiana dos homens. Eles
criam em deuses, mas estes deuses eram distantes e nada faziam por eles.
Os epicureus acreditavam que o mundo
existia, simplesmente existia por razões que não conseguiam explicar. Eles não
acreditavam que o mundo fora criado pelos deuses. Como eles acreditavam que os
deuses não se importavam com o mundo, eles não cultuavam os deuses, embora
cressem em sua existência. Por isso a pregação de Paulo para eles era algo que
precisava de maior estudo, pois era contrário ao que criam.
Os estóicos acreditavam que uma
força impessoal, que chamavam de providência, já tinha determinado todas as
coisas. Eles eram deterministas e acreditavam que as pessoas deviam praticar
domínio próprio diante o sofrimento do mundo. Normalmente eram pessoas frias,
apáticas pois segundo eles o ser humano não era responsável por seus atos e nem
tinha o poder de fazer escolhas, pois tudo já estava determinado muito antes
dos acontecimentos se tornarem realidade.
Os estóicos acreditavam que a
vida é cíclica e sem sentido. Para eles a boa vida era a pratica de virtudes. A
morte era o retorno da alma para o reino dos deuses, onde o ciclo da vida
recomeçava.
Paulo estava pregando a mesma
mensagem para judeus e gentios. O que já nos mostra que ele falava a mesma
coisa para grupos com cosmovisões diferentes. É importante ressaltarmos que dentro
grupo de gentios atenienses já existiam entre eles cosmovisões diferentes, os
epicureus compreendiam a vida de uma forma, os estóicos compreendiam a vida de
outra forma, ambos não criam na ressurreição dos mortos e nada sabiam a
respeito de Jesus Cristo.
Este é o primeiro ensino que aprendemos
através da experiência em Atenas. Somos chamados para pregarmos a mesma
mensagem de Cristo as mais diversas cosmovisões existentes. A mensagem não muda
porque a obra de convencimento desta mensagem não está em nosso poder, mas nas
mãos do Espírito Santo de Deus. Ele é quem convence o homem do pecado, da
justiça e do juízo.
Embora tenhamos muitas
cosmovisões no mundo, todo ser humano possui a mesma necessidade. Todo ser
humano busca de alguma forma resposta para o vazio que sente em sua alma, para
o grito pela eternidade que foi colocado por Deus em nós seres humanos.
Você não precisa conhecer todo o
pensamento de um ateu para pregar para ele. Você não precisa ser especialista
da cultura islâmica para pregar para eles. Você precisa somente conhecer a
Jesus Cristo e deixar que o Espírito de Deus fale através de você enquanto você
testemunha com sua vida o poder de Deus.
Conhecer um pouco da cosmovisão
daquele a quem você vai evangelizar ajuda, mas não é essencial. O que de fato é
essencial é você confiar no poder do Espírito Santo de Deus.
Aqueles filósofos atenienses
embora não familiarizados com que Paulo estava falando, achando se tratar de
uma nova filosofia, pediu para que ele falasse a eles no Areópago, local onde
discursavam a outros seus pensamentos e ideias a respeito da vida. Era uma
espécie de Faculdade onde os sábios buscavam ensinar uns aos outros.
Paulo passa a lhes falar a
respeito de Deus, mostrando-lhes característica que ora se aproximava e ora se
distanciava dos pensamentos dos epicureus e dos estóicos. Eles pareciam ouvir
atentamente até que Paulo falou da ressurreição. Este tema pôs fim a fala de
Paulo e fez com que todos se retirassem daquele local. Alguns que lá estava
creram na pregação de Paulo.
A segunda lição que quero
destacar é que todos temos uma cosmovisão, mesmo que não saibamos que a temos.
Todos temos uma forma de interpretar o mundo e as ações das pessoas no mundo,
inclusive esta cosmovisão está presente em nossa leitura da bíblia. Nossa
cosmovisão pode ter sido construída através dos ensinos de nossos pais, de
nossos professores e a nossa cosmovisão espiritual pode ter sido formado pela
igreja que frequentamos ou pelo grupo de oração que frequentamos. Por isso
reafirmo que precisamos aprender a ler a bíblia e interpretá-la através dela
mesma, sem buscarmos darmos desculpas infundadas... desculpas que não estão
escritas na bíblia quando nos depararmos com textos difíceis e que parecem
contraditórios ao que pensamos.
REFLEXÃO FINAL
Eu tenho me preocupado muito com
este hábito entre nós cristãos de supormos hipóteses que não estão na bíblia e
criarmos desculpas diante textos que não concordamos, tornando nossas hipóteses
e desculpas como verdades absolutas. Dizermos que Paulo quando fala a Timóteo a
respeito dos crentes abandonarem a fé, está falando de pessoas que pensam ter
fé, mas não tem, são apenas convencidas... é um erro grotesco e uma violência
contra o texto bíblico, assim também a afirmação que Jesus morreu só pelos
eleitos, sendo que muitos textos afirmam que Ele morreu por todos os homens,
por todos os seres humanos.
Se aceitarmos este hábito de
darmos desculpas aos textos que não correspondem ao nosso querer, de
acrescentarmos pensamentos que não estão escritos, logo teremos que aceitar também
que Paulo ao escrever que os alcoólicos não entrarão no reino de Deus, não
tinha consciência em seu tempo de que o alcoolismo é uma doença que precisa ser
tratada e não pecado da alma. O alcoolismo, assim como a glutonaria podem ser
sintomas de uma crise emocional. Mas isso retira a verdade de que o alcoólatra
não entrará no reino de Deus? O que você acha?
Este tipo de raciocínio nos
levará a dizermos que a homossexualidade é uma doença também e não pecado da
alma. Podemos concordarmos que Paulo em seus dias não tinha o conhecimento
cientifico que temos hoje. Mas como fica a ação do Espírito Santo na iluminação
sobre os homens que escreveram a bíblia? Eles foram iluminados por Deus e toda
Palavra é útil a nós hoje ou escreveram segundo seus próprios conhecimentos?
Esse hábito de darmos desculpas
para os textos difíceis ao invés de reconhecermos o que de fato está escrito,
nós trazemos dos reformadores, hábito este que está levando muitos pastores e
líderes de igrejas a afirmarem que a bíblia não é totalmente inspirada por
Deus, dando a todos o direito de atualizá-la e reinterpretá-la conforme a sua
teologia escolhida. Assim fez as Testemunhas de Jeová, assim fez o catolicismo,
assim faz a teologia liberal, da libertação, da prosperidade, os seguidores do
calvinismo, do arminianismo e outros.
Enquanto lermos a bíblia para
defendermos nossas instituições e não de fato a bíblia... continuaremos nos
distanciando uns dos outros e produzindo o direito de cada um interpretar a
bíblia a partir de sua cosmovisão. Precisamos ser como os crentes de Beréia, abertos
para aprendermos e zelosos para verificarmos se tudo está de acordo com os
ensinos bíblicos. A bíblia é a Palavra
de Deus e nossa única regra de fé e pratica.
Deus te abençoe grandemente!
Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira
12/10/2024
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