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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

MISSÕES URBANA 1 - MANUAL PARA COMPREENSÃO DA CIDADE

MANUAL PARA COMPREENSÃO DA CIDADE
(Pr. Cornélio Póvoa de Oliveira - 2001)

INTRODUÇÃO

            Este manual tem por objetivo ajuda-lo a compreender uma cidade. Meu objetivo é poder dar a você leitor algumas idéias que possam auxilia-lo a colher informações para a compreensão da cidade.
Cidade é o nome dado a um lugar estabelecido para o ajuntamento de pessoas. As cidades podem ser desenvolvidas, primitivas, pequenas ou grandes. A definição que faço de cidade é bem simples, mas nos ajuda a ter uma visão da cidade seja qual for seu modo de vida.
Estarei dividindo este trabalho em cinco partes:
Na primeira parte estarei elaborando algumas dicas para compreensão de qualquer cidade em seu aspecto socioeconômico, eu diria que seria um conhecimento superficial da cidade. Neste primeiro momento não estarei preocupado com o individuo em si, mas apenas em seu contexto como parte da cidade.
Na segunda parte estarei analisando a cidade de um ponto de vista mais profundo. Neste segundo momento estarei mais preocupado com o individuo dentro da cidade, e as característica que aqui procuro mostrar estão mais ligadas as grandes cidade, contudo isso não implica que não estejam presentes nas pequenas cidades.
Na terceira parte vou procurar destacar como podemos compreender a igreja em relação com a cidade. Meu objetivo será analisar as características dos indivíduos da cidade que estudamos na segunda parte dentro da igreja.
Em quarto lugar procurarei apenas abrir um caminho para uma discussão a respeito de como a igreja deve responder as necessidades dos indivíduos da cidade.
Na ultima parte deste trabalho estarei fazendo uma analise da cidade de Jesuítas, como demonstração de uma leitura da cidade levando em consideração os elementos vistos nas duas primeiras partes de nosso trabalho.






1. COMPREENSÃO SUPERFICIAL DA CIDADE:
1.1  Ler jornais e revistas da cidade
Não temos o habito de lermos, e quando o fazemos somos acostumados a ler apenas revistas evangélicas, livros evangélicos e com isso não temos conteúdo para analisar nossa cidade. Nosso conhecimento da cidade aumentará quando lermos jornais e revistas publicados em nossa cidade, isto é, quando lermos matérias sobre a nossa cidade. Precisamos ler o jornal, da Câmera dos Vereadores, com os projetos dos vereadores (caso sua cidade tenha jornal).
Conheceremos nossa cidade a partir do momento que dedicarmos tempo para a busca deste conhecimento. Eu te pergunto: “Quem é o vereador que mais trabalha em prol de sua cidade? Qual vereador tem se preocupado com os aposentados de sua cidade? Qual vereador tem lutado para que a cidade atenda as necessidades dos bairros mais carentes? Que projeto a prefeitura possui para o seu bairro?”
Muitas outras perguntas poderiam ser acrescentadas a estas, entretanto meu objetivo é apenas mostrar que não conhecemos nada de nossa cidade, porque não buscamos este conhecimento.
Como pastor falhamos na instrução aos membros de nossas igrejas, pois como orienta-los politicamente se não sabemos o que acontece na vida política de nossa cidade, se não sabemos quais são os vereadores que estão trabalhando ou os que estão apenas recebendo dinheiro de graça (sem trabalhar). O pastor não deve necessariamente fazer campanha política (subir em palanques, ser candidato), entretanto não deve ficar alheio a vida política. Se desejamos transformar a cidade devemos fazer isto participando da vida pública.

1.2  Buscar conhecer a história de sua cidade
Para realizarmos um bom trabalho em qualquer lugar é importante conhecermos a história deste lugar. Através da história poderemos conhecer algumas características do povo que compõem esta cidade (seus hábitos, sua linguagem, comida típica, seus valores, etc.).
Nem todas as cidades possuem trabalhos de campo ou livros contendo sua história. Mas é importante que você leia trabalhos sobre sua cidade ou elabore uma pesquisa para conhecer mais a história de sua cidade. Quem sabe você pode fazer uma obra a respeito da história de sua cidade.
Veja alguns passos que você poderia dar para conseguir estas informações:
a)      Visitar a prefeitura (obter informações sobre a fundação da cidade);
b)      Visitar a biblioteca da cidade (procurar livros que contenham informações sobre a cidade);
c)      Visitar a faculdade da cidade (procurar por trabalhos que falem a respeito da cidade);
d)      Visitar antigos moradores da cidade (fazer uma pesquisa para conhecer a história da fundação da cidade, de seus costumes, etc.).
A igreja deve conhecer a história da cidade para poder se contextualizar com o povo desta cidade. Por exemplo, se a cidade é predominantemente constituída por alemães a forma de abordar as pessoas será diferente daquelas cidades que são predominantemente constituídas de italianos, espanhóis, etc. Existem cidades que possuem em seus calendários festas típicas.
Trabalhei como pastor por três anos em Toledo, no Paraná, e o mês de Setembro é o mês do “porco no rolete” em Toledo. A cidade durante três dias deste mês é invadida por visitantes de vários estados do país; esta festa atrai para a cidade mais ou menos quarenta mil pessoas. Como podemos usar desta festa para a evangelização? Como nos aproximarmos das pessoas através desta festa? O que significa esta festa para a cidade?
Assim como Toledo várias outras cidades de nosso país possuem suas festas típicas, e muitas destas festas estão relacionadas com a cultura da cidade. A história de como estas festas se iniciaram podem nos ajudar para trabalharmos na cosmovisão da cultura da cidade.

1.3  Passear pela cidade
A primeiro momento parece-nos que não é muito importante passearmos pela cidade para conhece-la. Precisamos compreender que não adianta conhecer nossa cidade apenas por meio de revistas, jornais, ou programas de televisão, precisamos passear pela cidade. Passear pela cidade implica em conhece-la pessoalmente, em termos contato com o padeiro, com o açougueiro, com o banqueiro, com todos que fazem parte desta cidade. Andar pelas ruas significa sermos participativos da vida da cidade. Devemos conviver com as pessoas de nossa cidade, de nosso bairro, se identificar com elas, andar com elas, comprar pão onde as pessoas compram pão, fazer compras no mesmo super mercado, etc.
Nosso envolvimento com a cidade será mais efetivo quando conhecermos pessoalmente a cidade. Como poderemos atuar numa cidade se vivemos alheio a ela, se não nos envolvermos emocionalmente, fisicamente, culturalmente com a cidade. Este envolvimento não significa aceitação de todas as praticas da cidade, não darei ênfase a este assunto, pois este trabalho é apenas um manual para compreensão da cidade.
No contato pessoal com nosso vizinho é que poderemos ouvir as dificuldades que ele passa no seu dia-a-dia na cidade. No dialogo com um companheiro da cidade é que verificaremos a verdade daquilo que estudamos.  No dialogo poderemos construir a imagem da sociedade que nos cerca. Esse dialogo só existirá a partir do momento que passearmos pela cidade.

1.4  Observar sinais de vida e de morte em sua cidade
Chamo de sinais de morte os problemas que surgem dentro de uma cidade, pois tais problemas significa a morte do ser humano, e, chamo de sinais de vida as soluções dadas a estes problemas.
O que quero dizer com isso? Uma vez que você já tem conhecimento da história, já está andando pelas ruas da cidade é importante notar quais são os problemas mais preeminentes de sua cidade e quais são as soluções apresentadas a estes problemas.
Talvez o grande problema de sua cidade seja o crescimento de pessoas desempregadas, talvez seja o crescimento de pessoas da terceira idade, talvez seja o crescimento de meninos de rua, etc.
Quais são os sinais de vida apresentados pelos vereadores diante destes sinais de morte? Quais são os sinais de vida apresentados pelas entidades beneficentes? Quais são os sinais de vida apresentados pelas igrejas?
Neste momento é oportuno pensarmos em como podemos ajudar nossa cidade a resolver seus problemas.
Jesus disse: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10:10). Como igreja devemos continuar a missão de Jesus, devemos levar vida. A igreja tem o dever de promover vida na cidade.
Como pastores devemos despertar os membros da igreja para essa realidade, a igreja deve ser atuante na cidade e não a margem da cidade. A igreja deve participar, criar e promover projetos de vida.

1.5 Sinais de crescimento da cidade
O crescimento da cidade pode ser avaliado através de algumas características:

A)    Crescimento populacional – Este dado pode nos dar uma compreensão de nossa cidade. Nossa cidade esta em processo de crescimento ou está diminuindo? Qual a população que mais cresce em nossa cidade: a de jovens, idosos, mulheres? O crescimento populacional nos ajudará a entender o perfil de nossa cidade.
B)     Crescimento econômico – Este dado nos ajudará a compreender de que forma nossa cidade está crescendo (caso esteja crescendo). Como está distribuída a renda em nossa cidade? Qual a média salarial da cidade? Se a cidade esta crescendo sem um crescimento econômico, poderemos concluir que teremos desemprego, maior numero de roubos, mais favelas, mais violência e outros males que sofrem as cidades.
C)    Crescimento de residências – Este dado deve ser observado com alguns cuidados: Onde estão surgindo mais residências? Que tipo de residências? O objetivo é descobrir se a cidade está crescendo em melhor qualidade de vida ou não. Com estes dados também podemos avaliar quais são os bairros mais ricos da cidade.

Estes dados são importantes para a igreja saber qual tipo de igreja deve construir em determinados bairros. Onde deve construir, pois é necessário saber qual lugar está crescendo e como esta crescendo. Devemos compreender que isto influência em nossa abordagem, pois as necessidades mudam conforme a classe social. Para determinadas classes sociais a necessidade está no nível fisiológico, para outras no nível existencial e outras podem estar transitando nos dois níveis.



















2. COMPREENSÃO PROFUNDA DA CIDADE:
2.1  Relações superficiais
As relações numa grande cidade tendem a serem superficiais. O cidadão das cidades modernas e grandes tende a distribuir sua atenção e sua energia entre as diversas pessoas de suas relações. Ela fica menos tempo com cada uma, de forma a melhor administrar o excesso de relações. No entanto, ela estabelece, inconscientemente, um limite máximo de relações possíveis, que acaba por não ser muito maior que teria numa situação da sua comunidade tradicional. Mas ainda assim, ela absorve a atitude de não ter tempo para as pessoas. Isto é interessante, porque explica o fato de certas pessoas não manterem um relacionamento excessivamente extenso ou variado, e ainda assim não serem capazes de aprofundar-se em nenhum. A superficialidade já não tem exatamente uma relação direta com o numero, mas com o fenômeno global da cidade grande, da modernidade.

2.2  Estabelecimento de prioridades
O individuo da cidade estabelece prioridades devido ao grande número de atividades. A pessoa estabelece parâmetros de seleção, de forma que possa reservar tempo e energia para as prioridades cuidadosamente estabelecidas. Dessa forma, ainda que inconscientemente, o individuo passa a selecionar as pessoas e os assuntos que receberão sua atenção. Isto talvez explique, o fato de o cidadão urbano ignorar os bêbados e os doentes na rua.

2.3  Transferência de responsabilidades
Passa-se a ser natural que o individuo transfira as responsabilidades para o outro, devido sua falta de tempo ou interesse no assunto. “Liga para mim” é uma demonstração dessa transferência de responsabilidade. Talvez nenhuma das partes tenha realmente interesse numa relação mais profunda.
Esta transferência aparece também em nossos sistemas de transações comerciais. Em certas transações sociais, novos limites são traçados de maneira que o sistema sobrecarregado possa transferir o ônus para a outra parte da transação. Assim, antigamente os atormentados motoristas de ônibus de Nova Iorque davam o troco para o passageiro, mas agora esta responsabilidade foi transferida para o passageiro, que tem que ter o dinheiro certo para o preço da passagem.



2.4  Bloqueio da recepção
Você deixaria seu número numa lista telefônica caso soubesse que todos os dias alguém ligaria para sua casa tentando te convencer a comprar algo que não lhe interessa?
Moradores da cidade grande cada vez mais usam números de telefones não incluídos na lista, para impedir que pessoas liguem para eles, ou deixam, propositadamente, o telefone fora do gancho para impedir chamadas. Outra forma é assumir uma cara feia, ou carregada, com ar de preocupado, ou superocupado, de forma a desencorajar uma abordagem de alguém que queira simplesmente “bater um papo”. O executivo passa pelo corredor olhando para baixo, ou falando sozinho, carregando um pacote grande para algum lugar bem definido (que pode ser o lugar de partida), com ar de apressado ou no estilo “superatrasado”, ou então, no estilo “o chefe chamou, não posso parar agora”.
O pai não pode falar agora com o filho porque está muito ocupado, atualizando-se (lendo o jornal). Outra forma de colocar anteparos, bloqueios na recepção é criar barreiras verdadeiras, como uma secretária de ar firme e decidida que quer saber da sua vida toda, antes de decidir se você vai falar ou não com o chefe (ou pastor). Ou então ela assume o costume de dizer que você não está, antes de perguntar o assunto, a sua altura, idade, carteira de identidade, CPF e outras informações essenciais à concretização do encontro. Se você for realmente feliz nessa triagem, o chefe (ou pastor) pode “acabar de chegar”, numa grande coincidência.

2.5  Cria-se um personagem para as relações superficiais
Você já se imaginou conversando com alguém, mas esse alguém não é quem você pensa que é? Você pode estar conversando com o Edson e pensa que esta conversando com o Pelé, você pode estar conversando com o Arthur e pensa estar falando com o Zico, entretanto o Pelé não é o Edson e nem o Zico e o Arthur.
Hoje se criam convenções, pelas quais as pessoas não precisam dizer quem são, ou mostrar suas emoções, afetividade, falar de sua família, de seu passado (a não ser naqueles pontos inocentes e divertidos, totalmente destituídos de contextos). As pessoas criam uma espécie de “relações públicas” de si próprios, personagem desempenhado por eles próprios, mas que chegam a falar de si na terceira pessoa, de forma que os interlocutores jamais falem diretamente com elas, mas com seus relações públicas. Levado ao extremo esse mecanismo, torna-se possível que Edson Arantes do Nascimento diga que Pelé acha isso ou aquilo; o que ele mesmo acha não é da conta de ninguém. Ele reserva sua intimidade, sua verdadeira opinião, para seus íntimos. Uma vez questionado sobre religião Edson disse que Pelé não cria em nada, mas ele, era outro assunto.Esse é um mecanismo muito comum, pelo qual se estabelece um convívio indolor entre as pessoas, porque elas não têm que colocar sobre a mesa toda sua vida, e isso torna o relacionamento mais fácil. Por outro lado não temos uma verdadeira comunhão. Você não sabe se é amigo do Edson ou do Pelé ou se quando Pelé fala ele fala pelo Edson. As amizades não possuem profundidade, tudo é apenas relações públicas.

2.6  Instituições substituem a responsabilidade individual
Numa grande cidade as instituições especializadas são criadas para absorver as responsabilidades que o individuo possui com a sociedade ou pelo menos muitos indivíduos pensam que são. Assim, o departamento de serviço social existe para cuidar das necessidades financeiras de milhões de indivíduos. Com isso o individuo não sente responsável pelo o que acontece diante de seus olhos. O individuo se sente confortado, pois sabe que existe uma instituição que está cuidando de cada caso. Poderíamos citar instituições que cuidam dos meninos de rua, de meninos com câncer, dos aidéticos, etc. Contudo a interposição de instituições e organismo entre o individuo e o necessitado faz com que o individuo haja diante do pedinte com indiferença, afinal ele já contribui para alguma instituição. Diante disso o individuo acredita que seu dever esta cumprido e não se importa mais com as necessidades dos outros que surgem a sua frente.

2.7  Lugar para satisfazer todas as necessidades básicas do ser humano
Devemos considerar que as cidades são compostas por diversos indivíduos. A hermenêutica das cidades deve ser compreendida a partir dos indivíduos. Os indivíduos possuem necessidades e que essas necessidades formam a hermenêutica das cidades.
A)    Necessidades fisiológicas: Fome, sede, saúde são necessidades que levam as pessoas para a cidade. Fatores que contribuem para isso são a seca, miséria, falta de emprego, etc.
B)     Necessidades sociais: Status, comodidade (facilidade para obter bens de consumo). A cidade se apresenta como um local melhor (oferece mais oportunidades) para enriquecimento.
C)    Necessidades existenciais: Realizações de sonhos (lugar onde se enxerga a possibilidade de tornar os sonhos em realidade). A cidade faz com que as pessoas acreditem que poderão um dia ser importantes.
Entretanto as cidades são compostas de muitos indivíduos com as mesmas necessidades e isto transformam as cidades em um lugar de competição (a existência de pouco recursos para muita gente), de solidão (num ambiente competitivo ninguém é amigo), de relações meramente econômico-financeira (as pessoas passam a ser valorizadas pelo que tem, não pelo que ganha).
            Muitos indivíduos estão cheios de feridas, de rupturas profundas causadas por esse processo de luta, de indiferença que torna o individuo uma pessoa sem passado, sem reconhecimento, sem história. Seus valores têm de ser relegados a segundo plano. Se o individuo insiste em ser ético, sofrerá, terá de andar nos limites da ética, pois, na cidade os valores são de guerra.


























3. COMPREENDENDO A IGREJA ATRAVÉS DA CIDADE
            A partir de agora gostaria de analisar a igreja dentro da cidade. A igreja é formada por indivíduos que vivem na cidade, isso é claro, e óbvio demais, entretanto a igreja parece se esquecer disso e não busca responder as necessidades do individuo da cidade.
A igreja tem uma missão que é ganhar as nações para Cristo, ela deverá faze-lo, cidade por cidade. A igreja só cumprirá sua vocação, se conseguir entender, ainda que superficialmente a relação do individuo com a cidade e a relação da cidade com a igreja.
Vou começar analisando a igreja a partir das características que destacamos quando estudamos a compreensão da cidade no nível mais profundo, que seria a relação do individuo com a cidade.
Estes indivíduos são moldados pela sociedade, pela cidade. Isto significa que o individuo incorpora o estilo de vida da cidade.
Para que a igreja seja atuante na cidade ela precisa levar estas características, do individuo da cidade, a sério. Não podemos trabalhar na igreja sem considerar a influência da cidade no individuo. Nossa eclesiologia precisa analisar estas característica e buscar responde-las.

3.1  Relações superficiais
Uma das características da igreja deve ser a vida de comunhão (Koinonia). Uma vez que o individuo prefere estabelecer relações superficiais, ele tende a criar na igreja também relações superficiais.
O apostolo Paulo diz que devemos consolar uns aos outros (1 Ts 5:11), mas como isso será possível numa relação superficial. Consolar significa ajudar, socorrer, andar junto, fortalecer, para isso é preciso parar e ouvir o outro, é preciso ter uma relação mais profunda.
Muitas igrejas tem tentado superar este problema através de grupos pequenos, como células, cafés da manhã, e outros. Estes trabalhos podem ser uma resposta para ajudar a igreja a superar este problema de relações superficiais, entretanto é necessário cuidar para que as relações sejam verdadeiras. O fato de se encontrar semanalmente não implica necessariamente numa relação mais profunda.

3.2  Estabelecimento de prioridades
Por que muitas de nossas igrejas demonstram insensibilidade para os visitantes? Eu mesmo já entrei e saí de igrejas sem que ninguém me percebesse ou pelo menos agiram como se não tivessem me percebido.
Devemos entender que a própria dificuldade (falta de tempo) de estabelecer relacionamentos mais profundos, fazem com que as pessoas de nossa igreja estabeleça prioridades em seus relacionamentos. As panelinhas surgem por causa deste estabelecimento de prioridades.
Nossas relações são superficiais, quando buscamos nos relacionar um pouco mais, priorizamos algumas pessoas, e normalmente aquelas que vivem em nosso mesmo contexto social.
Normalmente o individuo está fechado para novos relacionamentos, seu tempo é curto para ouvir novos problemas, para conhecer novas histórias, ele não deseja ter mais um em sua lista de amizades, de oração, de comunhão.
Inconscientemente o individuo está preocupado em usar seu pouco tempo depois do culto para conversar com aquelas pessoas que já fazem parte da sua lista de prioridades.

3.3  Transferência de responsabilidades
Este é um mecanismo que acontece muito em nossos dias. A transferência de responsabilidades aparece dentro de nossas igrejas na relação de irmãos para irmãos e também na relação do pastor para com os irmãos. Expressões como: “Aquele cafezinho, saí ou não saí?”, “qualquer dia apareço por lá”, são expressões usadas depois do culto num rápido cumprimento, que demonstram na verdade a falta de interesse no relacionamento. Entretanto ambos se sentem satisfeito, um por saber que não foi desconsiderado e outro por saber que este encontro não implica em responsabilidade nenhuma. De quem é a responsabilidade pelo café que nunca foi marcado ou pelo encontro que não foi marcado? De forma que ninguém cobra de ninguém e assim continua todos os finais de semana, afinal “um dia apareço por lá para tomar um cafézinho”.

3.4  Bloqueio da recepção
Você já foi falar com o pastor e o encontrou de cara feia, amarrada? Possivelmente num dia em que você decidiu ir a sua sala para discutir algum assunto ou simplesmente buscar um conselho. Esta é uma forma de bloqueio da recepção. Ao olharmos a cara amarrada do pastor ou do irmão com que decidimos procurar para uma conversa nos sentimos intimidados, e muitas vezes até desistimos de falar de nosso problema ou do assunto que nos levou a procura-lo.
Muitas vezes para falar com um pastor você tem que vencer uma série de obstáculos, afinal ele é um homem muito ocupado para pastorear vidas, ele precisa cuidar das burocracias da igreja. Este grande perigo muitas vezes acontece por culpa do pastor que quer ser tudo e se esquece do verdadeiro sentido de ser pastor, criando um bloqueio inconsciente, causada pelo cansaço das demais tarefas que na verdade não são prioridades no exercício do dom pastoral.

3.5  Cria-se um personagem para as relações superficiais
Esse é um mecanismo muito comum, pelo qual se estabelece um convívio indolor entre as pessoas, porque elas não têm que colocar sobre a mesa toda sua vida, e isso torna o relacionamento mais fácil. Por outro lado, a comunhão fica prejudicada. Imagine-se tendo comunhão, ou tomando a Santa Ceia com o relações públicas do seu irmão, que se senta ao lado. E vocês “celebram” esse rito que fala de amor, intimidade, ter tudo em comum, etc. O impacto desse mecanismo sobre o caráter comunitário da igreja é, devastador, porque gera um tipo de relacionamento com toda a aparência de fraternidade, mas com uma das marcas mais severas da privatização: a indiferença.
Neste tipo de relação ninguém mais colide com ninguém; desaparecem as rixas, os ódios, os atritos. Mas isso será longe do padrão cristão de santidade: isso é produto do isolamento, da falta de comunhão, da morte da igreja conforme definida no evangelho. Será o fim da Koinonia para uma pseuda-koinonia.

3.6  Instituições substituem a responsabilidade individual
Hoje em dia quase todas as grandes igrejas possuem seu departamento de Ação Social, embora talvez com outros nomes. Estes departamentos possuem dentro das igrejas uma função muito importante e bíblica o de socorrer os necessitados.
O perigo destes departamentos é contribuir para que os membros da igreja não participem da transformação da sociedade. Minha preocupação se faz quando somente algumas pessoas da igreja participam deste trabalho, enquanto os outros no máximo trazem algum donativo sem se importar para quem este donativo vai ou como está vivendo aquela pessoa.
Alguns jogam a responsabilidade da diaconia para alguns irmãos. Diaconia não é um departamento, mas deve ser um estilo de vida de todo cristão. O departamento de Diaconia ou de Ação Social não pode substituir a responsabilidade dos demais irmãos.




3.7 Lugar para satisfazer todas as necessidades básicas do ser humano
Neste ponto encontramos as pessoas procurando a igreja como o último lugar para a realização de seus sonhos. A igreja se torna a última esperança para a pessoa se sentir realizada nas dimensões fisiológicas, social e existencial.
Este ponto é importante para aqueles que pretendem trabalhar com igrejas locais. Você deve descobrir quais dessas necessidades o povo possui mais. Se sua igreja situa-se num bairro pobre, se você esta trabalhando num bairro pobre, é bem provável que a necessidade do povo não seja existencial e sim fisiológica. Neste caso não adianta me preocupar em explicar Deus, em explicar a existência do ser humano e sim em prover alimento, roupas, em matar a fome do povo.
A importância da igreja é que ela é o último recurso uma vez que a pessoa já está cansada da falta de emprego, da miséria, da competição, da luta pelo status, da vida hipócrita levada pelas pessoas que vivem para a sociedade, de verem que seus sonhos não possuem sentido nenhum para a vida. A igreja deve promover para estas pessoas esperança, nova vida, novos sonhos.



















4. RESPOSTAS DA IGREJA PARA A CIDADE
Gostaria de lembrá-los que a resposta da igreja para a cidade começa a partir da visão que ela tem das pessoas na cidade. Chamo a atenção porque cada igreja deverá analisar seu bairro, seu povo para poder lidar com os problemas. Embora as grandes cidades apresentam características semelhantes à forma de se lidar com elas poderá ser diferente dependendo do contexto de cada igreja.
Diante disso não pretendo descrever como responder a cada problema, mas apenas mostrar como a Bíblia nos chama para responder aos diversos desafios da cidade.
O capitulo onze do livro de Mateus nos diz: “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração: e achareis descanso para vossas almas porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.
Jesus apresenta uma antítese a loucura da vida da cidade. A Igreja como
Corpo de Cristo, é continuadora da missão de Jesus Cristo, tem de incorporar este texto como estratégia de ação. Jesus se propõe como solução para a sobrecarga e o cansaço do indivíduo. Se a igreja existe na finalidade de encarnar a missão de Jesus Cristo, ela deve trazer alivio aos que estão cansados e sobrecarregados.
“A Igreja, portanto, percebendo isso, tem de – a exemplo do Senhor – apresentar-se à cidade como a antítese da vida da cidade. Um lugar de refrigério e de descanso para estes esgotados. Isto quer dizer que, se na cidade há competição, na Igreja deve haver cooperação; se lá, há perda da identidade, aqui, deve haver pleno autoconhecimento; se naquela, há solidão, nesta, deve haver comunidade. Na Igreja a pessoa deve ser valorizada pelo que é e deve ter acesso aos valores que a cidade escamoteia”[1].




 Obs.: Este material foi elaborado quando eu ainda residia na cidade de Jesuítas. 



5. CONTEXTO SÓCIO-CULTURAL DE JESUÍTAS


5.1 Um resumo da história de Jesuítas
5.1.1 Origem do nome Jesuítas
Desde tempos imemoriais habitavam nesta região nações indígenas, que eram senhores absolutos da terra.
A partir de 1610, período em que este território pertencia à Província de Guairá, do governo espanhol, com sede em Assuncion, no Paraguai, instalaram-se aqui e nas margens dos rios Piquiri, Ivaí, Tibagi e Paranapanema, os padres jesuítas. O objetivo dos missionários da Companhia de Jesus, eram catequizar milhares de índios espalhados pelo sertão adentro. Para isso foram criadas treze (13) reduções que na verdade eram povoações para abrigar algo em torno de cem mil almas.
A escolha do nome “Jesuítas” para o município, teve como razão à profunda e latente admiração e fé que possuíam os colonizadores da região, que crente nos trabalhos desenvolvidos na catequização dos indígenas brasileiros, resolveu prestar uma homenagem aos jesuítas. Assim compreende-se porque as denominações das principais ruas e avenidas do município de Jesuítas ostentam os memoráveis e importantes nomes dos padres jesuítas.

5.1.2        A colonização de Jesuítas
Embora já existisse moradores antes de 1960 nesta pequena cidade, sua colonização realmente começa a partir desta data.
A colonização do município foi bastante heterogênea em virtude da sua própria localização, onde se tem de um lado os municípios de Formosa do Oeste e Goioerê, com a população predominantemente dos estados localizados ao norte do Paraná, de outro lado os municípios de Nova Aurora, Corbélia e Toledo, onde predominam os sulistas. Quanto às emigrações podemos destacar embora em minoria, italianos, portugueses, espanhóis, japoneses. Destacam-se também colonizadores que vieram de outras regiões do estado do Paraná, principalmente das regiões do Norte Velho e do Norte Novíssimo. Com isso, o município de Jesuítas apresenta-se sem predominância migratória caracterizada.
Atraídos pela fertilidade do solo e pelas condições climáticas vieram para Jesuítas os primeiros colonizadores de outros estados brasileiros, principalmente de São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul.
Os primeiros colonizadores ao estabelecerem-se em Jesuítas dedicaram-se á agricultura, iniciando o desenvolvimento da cultura do café, tradição trazida pelos nortistas.
5.1.3 A emancipação de Jesuítas
Jesuítas já era habitada há muito tempo, contudo só foi reconhecida a partir de 1960 como município de Formosa do Oeste. Durante grande parte de sua existência ela pertenceu ao Município de Formosa d’Oeste. Somente no dia treze de Maio de um mil novecentos e oitenta foi aprovada pelo então governador do Paraná, Ney Braga, a emancipação de Jesuítas.
No dia um de Fevereiro de um mil novecentos e oitenta e três tomou posse o primeiro prefeito eleito pela cidade de Jesuítas. Este foi um dia de festa em toda cidade, finalmente a cidade havia conquistado a sua independência e estava iniciando uma nova fase em sua história.


5.2. Compreendendo a atual cidade de Jesuítas
Tenho tido contato com algumas pessoas que já estão aqui há uns cinqüenta anos. Ouvir suas histórias sobre a cidade é algo muito interessante, pois percebemos através destas histórias, que Jesuítas embora tenha tido um desenvolvimento, este foi muito pequeno.
Para compreender melhor o contexto sócio-cultural de hoje passarei a analisar algumas características desta cidade:

5.2.1        Crescimento Populacional
A população de Jesuítas no ano de 1991 era de 12.841 habitantes. No ano de 1996 a população diminui para 10.426 habitantes. No ano de 2000 a população diminuiu para 9.832 habitantes. 
A informação que tenho é que atualmente esta população encontra-se no número aproximado de 8.000 habitantes. Estes dados são dados oficiais do IBGE o qual também consta que o número de eleitores na ultima eleição foi de 6.640.
O que percebemos em Jesuítas é um decréscimo no número populacional. Em Jesuítas você sempre vê alguma família deixando a cidade. Na cidade já existem aqueles que brincam dizendo: “o último que sair apague a luz”.
Diversos fatores têm contribuído para a diminuição da população, entretanto citarei apenas alguns fatores, que dentro de minha percepção são os grandes responsáveis por essa diminuição populacional:
a)                           Desemprego;
b)                          Falta de estabelecimentos de ensino superior;
c)                           Falta de confiança no sistema de saúde.
5.2.2        Vida econômica da cidade
Jesuítas é uma cidade tipicamente agrícola. Muitos de seus moradores residem em sítios e vem à cidade, mais para receber seu INSS, pagar contas, fazer pequenas compras e participar dos trabalhos religiosos da cidade.
Nos dois últimos anos muitas pessoas têm construído residências dentro da cidade. Muitos destes já idosos com o objetivo de poderem usufruiu melhor dos recursos da cidade. Basta dar uma volta em nossa pequena cidade e veremos muitas casas em construção, isto se deve ao fato também que os filhos destes sitiantes não querem mais viver fora da cidade.
A primeira vista podemos até pensar que a cidade está crescendo, que população está aumentando, contudo com uma investigação mais apurada, logo descobrimos que são apenas antigos moradores em busca de mais conforto.
A cidade por ser agrícola, e ter sua força no café, tem sofrido muito. O preço do café não tem sido suficiente para que os agricultores tenham lucros, obrigando-os a mandarem diversas pessoas embora de seus sítios. Tornou-se comum encontrarmos os donos do sitio colhendo o café, e fazem isto para poderem sobreviver.
Com a queda do preço do café, com a diminuição dos trabalhadores nos sítios o comércio da cidade caiu assustadoramente. Então começa o ciclo perigoso, o comerciante fecha seu estabelecimento, mais pessoas desempregadas, menos dinheiro girando na cidade. Muita oferta para pouco emprego. Mesmo, muitas vezes, contra sua própria vontade as pessoas buscam na cidade grande refugio para sobreviver.

5.2.3        Saúde
O que dizer de saúde? É verdade que a saúde melhorou durante estes últimos anos no Brasil, contudo cidades como Jesuítas continuam a desejar. Uma cidade que possui aproximadamente 8.000 habitantes têm apenas um hospital e dois médicos. Na verdade temos alguns outros médicos que ajudam no hospital, mas não residem na cidade.
Não faz muito tempo levei meu filho mais novo ao hospital, pois este estava com febre. Era uma quarta-feira, o relógio marcava 17:00 horas. Pensei comigo que naquele horário encontraria um médico disponível no hospital, uma vez que já tinha passado pelo posto de saúde da cidade. Entrei no hospital fui atendido por uma recepcionista, que na verdade é membro da igreja que pastoreio, e ela logo me disse: “Pastor nós não temos nenhum médico aqui no momento e na cidade não temos pediatra, seria melhor o senhor encaminha-lo para a cidade de Assis”.
Assis é uma cidade próxima de Jesuítas, com uma população aproximada de 25.000 habitantes. A irmã também disse que a pediatra estaria em Jesuítas no outro dia e que minhas opções seriam ira para Assis ou ficar com meu filho doente até o outro dia. Peguei meu carro e fui para Assis e lá meu filho foi medicado numa clinica infantil.
Poderia contar algumas histórias piores do que essa, mas eu te pergunto: O que acontece às pessoas que não podem ir para Assis? Há pessoas que não podem muitas vezes nem pagar o ônibus. Não podem pagar uma consulta particular.
A Unidade Tratamento Intensivo mais próximas de Jesuítas fica a 60 quilômetros. Parece perto, entretanto é preciso lembrar que não se consegue vaga nessas U.T.I. e diversas pessoas já morreram a caminho de um outro hospital. Hoje mesmo temos uma amiga que está na U.T.I. em um dos Hospitais de Maringá uma vez que não se achou nenhuma vaga mais próxima de Jesuítas.


5.3 Compreendendo os costumes do povo de Jesuítas
Jesuítas é uma cidade tipicamente rural e como toda cidade rural possuem característica peculiar a elas que devem ser levadas em consideração no processo de evangelização.
Destaco aqui algumas das características que vejo nesta cidade e que são peculiares a cidades rurais:
Primeira o povo desta cidade aprecia muito a música regional e para ser mais exato a música sertaneja. Hoje em dia até nos grandes centros se apreciam a música sertaneja, talvez isto se deve também ao fato de que muitas pessoas que vivem na cidade grande são ex-moradores de cidades pequenas como esta. Contudo, os moradores, desta pequena cidade aprecia mais a música sertaneja antiga, a qual eles chamam de “moda de viola”, do que as músicas sertanejas românticas ouvidas pelos grandes centros de nosso país.
Segunda característica deste povo é que vivem sem pressa, não há aquele stress das grandes metrópoles como se o mundo fosse acabar no outro dia.
Terceira característica é que valorizam a comunhão. Aqui em Jesuítas você sempre será bem recebido em qualquer casa, com certeza você não sairá sem tomar um cafezinho. O povo de Jesuítas é um povo amigo que gosta de conversar.
Este povo tem como quarta característica o fato de se satisfazerem com pouco. Na cidade grande as pessoas estão sempre sentindo necessidade de consumir, aqui isto não é notado. O povo não se preocupa em consumir, todos tem o desejo de possuir uma casa, um carro, sonham como qualquer ser humano, entretanto se satisfazem com pouco, isto é, em possuir uma pequena casa, um carro ainda que este seja usado. Por isso digo que se satisfazem com pouco, isto se deve, também ao fato de não se preocuparem com status.
Valorizam as tradições, esta é uma das características mais fortes, no campo negativo, para o nosso trabalho de evangelização. Quando alguém muda de religião não é muito bem aceito na cidade, inicialmente as pessoas passam a zombar do novo convertido com muita veemência. Com um pouco de tempo logo ele é aceito pela sociedade novamente e respeitado.
A última característica que citarei é o fato de possuírem pouca participação na vida política. Contudo, esta verdade, se faz mais evidente na vida daqueles que ainda moram nos sítios, diferentemente dos cidadãos que moram na cidade, pois estes já estão mais envolvidos com os interesses da cidade.























BIBLIOGRAFIA
AMORESE, Rubem Martins. Excelentíssimo Senhores. Viçosa, Mg: Editora Ultimato, 1995

RAMOS, Ariovaldo. Veja Sua Cidade Com Outros Olhos – ação da Igreja na Cidade. São
     Paulo: Editora Sepal, 1995


[1] Ariovaldo RAMOS, Veja Sua Cidade Com Outros Olhos, p. 13.

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