A Boa Agradável e Perfeita Vontade de
Deus
"E não vos conformeis com
este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que
experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." –
Romanos 12:2
A
expressão "para que experimenteis a boa, agradável e perfeita vontade de
Deus", expressa neste texto, aponta-nos para a especificidade do
imperativo "transformai-vos pela renovação da vossa mente".
Ela
também indica que a vontade de Deus é imperiosa na vida do crente, exercendo autoridade
absoluta sobre aquele que já nasceu de novo, cabendo-lhe apenas prestar
obediência a mesma. É que cada crente, por causa de sua nova natureza dirigida
e moldada pelo Espírito Santo, mediante aplicação da Palavra de Deus, vê-se
capacitado a não só descobrir qual a vontade de Deus para sua vida, mas
principalmente em cumpri-la para a glória do SENHOR.
É
extremamente indesculpável qualquer argumento para que o crente não viva
segundo a vontade de Deus, pois está perfeitamente habilitado para assim viver.
Isto, por sua vez, é exatamente o oposto na vida do não crente, que preso à
vontade de sua natureza pecaminosa, energizada pelo diabo e por este mundo
tenebroso, não consegue agradar a Deus ainda que esforce-se ao máximo neste
intuito. E embora uma boa parte dos crentes de hoje desconheçam e mostrem-se
obstinados quanto a viver e submeter-se a vontade de Deus, experimentá-la é um
privilégio ímpar que eles têm como novas criaturas em Cristo.
O
pecador não regenerado, mesmo conhecendo algo da vontade de Deus, ou obtendo
algo de Sua revelação, sabendo algo de Sua vontade, e tendo consciência de que
deve glorificar a Deus como Deus e dar-Lhe graças por isso, sempre volta-se
para os seus próprios raciocínios e rebela-se contra o SENHOR, afastando-se
mais ainda de Sua estreita e perfeita comunhão (Cf. Romanos 1:19-23).
Com
isso Deus os entrega à uma disposição mental reprovável e abominável, que por
sua vez o conduz a um estado cada vez mais degradante e miserável em sua vida
(Cf. Romanos 1:25-32).
No
pecador regenerado, cujo caráter é moldado e potencializado em Cristo a cumprir
a vontade de Deus, o processo é invertido e a disposição mental reprovável, à
que fora entregue antes, é renovada pelo inexaurível poder do Espírito Santo.
Com
isso ele pode e consegue perseguir, descobrir e comprovar em obediência a
vontade de Deus, e não mais rejeitá-la e obstinar-se contra ela, como dantes
fazia. Ou seja, o crente, com sua nova natureza é potencializado a viver
segundo Deus. Pois, sendo o crente nova criatura, Deus não está apenas sobre e
com ele, mas principalmente está nele (Cf. Gálatas 2:20).
É
com tristeza que percebemos que o vivenciar a gloriosa e bendita vontade de
Deus em sua vida, tem sido a plenitude da vida cristã a qual muitos cristãos
tem aberto mão nestes dias de hoje. Olvidam que experimentar a boa, agradável e
perfeita vontade de Deus em suas vidas, ainda é o que de melhor os crentes
podem desfrutar neste mundo tenebroso – muito mais que acumular riquezas e bens
materiais.
Na
verdade, a verdadeira felicidade humana está não em garantir uma suposta
independência (seja lá o que se quer dizer com isso), mas sim reconhecer sua
eterna dependência do Divino e Nele descansar para que Suas promessas nos sejam
realidade e vivamos com menos ansiedade e estresse pelas coisas básicas da vida
humana, como o comer o vestir-se e o beber; coisas estas que os pagãos fazem
das tripas coração para obterem-nas, como nos declara Jesus: "Portanto,
não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos ? Que beberemos ? Ou: Com que nos vestiremos
? Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste
sabe que necessitais de todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar, o seu
reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas" (Cf.
Mateus 6:31-34).
Sem
dúvidas, podemos inferir que esta ordem de Jesus permeava a mente do apóstolo
quando dissera aos seus leitores em 1 Pedro 5:7: "Lançando sobre ele toda
a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós" O termo grego empregado
pelo apóstolo Paulo no texto de Romanos 12:2 e que fora traduzido por
experimentar, sugere o fazer de um teste, pôr em prova para confirmação. E este
sentido não é estranho, pois no Antigo Testamento há inúmeros textos que
convocam os santos a isto.
Um
destes, clássico entre os crentes de hoje, é Malaquias 3:10, que convoca o povo
hebreu a fazer prova de Deus quanto a entrega de dízimos e ofertas, para ver se
Deus não lhes derramaria bênçãos sem medidas, caso obedecessem de coração a
esse chamado.
Nem
mesmo a grotesca distorção que os profetas da confissão positiva e do
triunfalista evangelho da prosperidade tem dado a este texto e a tantos outros
que incluem promessas de gozo e relativa prosperidade aos filhos de Deus, podem
nos levar a ignorar o verdadeiro sentido de teste em relação a vontade de Deus.
O que fica como desafio, no tocante ao experimentar a vontade de Deus, é que
aqueles que se permitirem experimentá-la, colherão os benefícios a ela
pertinentes. Assim também, aqueles que contra ela se obstinarem e se furtarem a
experimentá-la colherão as más conseqüências.
O
cuidado quanto ao colher benefícios resultantes da observação da vontade de
Deus, se encontra na motivação com a qual a procuramos cumprir e experimentar.
Na verdade a motivação de nosso fazer cristão sempre indicará a intenção
subjacente ao mesmo. Neste sentido, segundo as próprias Escrituras, se nossa
motivação em cumprir a vontade de Deus for a exaltação de Sua majestosa glória,
então nosso fazer cristão pauta-se numa motivação justa, correta e nobre. Por
outro lado, se a motivação no testarmos a vontade de Deus for apenas o de
colher Suas bênçãos para satisfação egocêntrica, então ela é profana,
abominável e até diabólica. Na verdade, trata-se de uma aviltante atitude
idólatra para com as bênçãos de Deus e não de sincera adoração ao Deus da
bênção.
Não
tenho quaisquer receios em afirmar, sustentar e ensinar que manter uma viva e
real comunhão com o Deus da bênção em detrimento de desfrutar as bênçãos que
este Deus pode proporcionar, ainda é muito mais significante e relevante que
bens e prestígio, embora esta não seja a presente tendência em muitos círculos
cristãos contemporâneos, como nos evidencia a ética do evangelho da
prosperidade e da confissão positiva.
Ou
seja, amar a Deus pelo que Ele é e não somente pelo que Ele pode nos dar, ainda
é uma real, ímpar e maior demonstração de fé do que ficar pressionando Deus
contra a parede com berros que exigem Suas bênçãos por suposta observância de
alguns preceitos religiosos, por nós estigmatizados como sendo chaves que abrem
os cofres dos céus.
O
episódio envolvendo a disputa cósmica entre Deus e Satanás a respeito da fé e
integridade de Jó, demonstra-nos nitidamente que Deus pode ser amado e adorado
apenas pelo que é, e não porque como o Deus dono de todo ouro, prata e vida,
conceda a seus fiéis bens, riquezas, saúde ou vida longa. Satanás, após ouvir
do próprio SENHOR que Jó era um homem íntegro, reto, temente a Deus e que se
desviava do mal (Cf. Jó 1: 8 e 2:3), desafiou o SENHOR com a acusação de que Jó
só temia a Deus porque havia sido cercado de bens e de bênçãos por Ele. Ou
seja, Satanás acusa Jó de amar as bênçãos de Deus e não o Deus da bênção.
"Estende, porém, a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e verás se não
blasfema contra ti na tua face", foram as palavras de desdém, de acusação
e de desafio ditas por Satanás a Deus (Cf. Jó 1:11).
Estas
palavras de Satanás são na verdade, um ataque contra a integridade de Deus,
pois sugerem que Deus não é digno de ser amado em Si mesmo. Deus então, para
comprovar o contrário disto, permite a Satanás que cause terríveis males a Jó,
sua família e seus bens, dando-nos a singular revelação de quem nem sempre os
sofrimentos dos santos são oriundos de pecado. Satanás, embora sagaz em seu
intento, sai perdedor naquela disputa cósmica sobre a integridade do patriarca,
pois mesmo diante de tantas calamidades e de um sofrimento que o fez querer uma
audiência com Deus, para saber a razão de tão grande infortúnio, Jó afirma com
a fé que é peculiar apenas aos que amam a Deus simplesmente pelo que Ele é:
"Ainda que Ele me mate, nEle esperarei..." (Cf. Jó 13:15).
Tal
afirmação contradiz a vil acusação satânica de que o íntegro Jó amava as
bênçãos de Deus e não o Deus da bênção. Esta é uma declaração que antecipa a
fragorosa derrota de Satanás naquela disputa cósmica a respeito da fé de Jó e
do amor devotado a Deus por seus santos, pois Jó mantivera-se intacto em sua
integridade (mesmo diante de infortúnios e calamidades) e Deus amado por este
mesmo Jó, a quem Deus pudesse parecer uma espécie de sádico que saboreia-se com
o sofrimento de seus adoradores. Por tudo isso, é que revela-se a importância e
a relevância do considerar os qualificativos que são empregados pelo apóstolo
Paulo em Romanos 12:2 para descrever a natureza da vontade de Deus a seus
santos.
E
a compreensão destes qualificativos é chave na prática da consagração de nossas
vidas em louvor da glória e graça majestosa de Deus. E segundo registra o
apóstolo Paulo, a vontade de Deus é BOA, AGRADÁVEL e PERFEITA. E ele assim a
descreve com a convicção que é peculiar aos que amam a igreja de Deus e o Deus
da igreja. São estes qualificativos que passaremos a considerar a seguir, com o
objetivo de melhor compreendermos a razão de nos consagrarmos em total e
verdadeira adoração a Deus.
Adoração
esta que dignifique o SENHOR como Deus pelo que é, e também, que nos encha de
um prazer imensurável em fazê-lo. Apenas quando nos tornamos cônscios de quem
Deus é realmente, de como e porquê se deu a nós e o tornamo-lo nosso Deus
pessoal, é que conseguimos amá-lo pelo que é, pois Ele mesmo derrama o seu amor
em nossos corações pelo Espírito Santo que nos é outorgado (Cf. Romanos 5:5).
E
só estando abastecido com o amor de Deus poderemos doar-nos a Ele em total e
completa confiança. É realmente um espanto saber que há um Deus que nos
capacita a amá-lo exatamente como requer que o amemos. Não há ninguém que
proceda assim como Ele, que só nos exige o que somos aptos e capazes de fazer.
E se é Sua exigência que vivamos segundo Sua boa, agradável e perfeita vontade
revelada, cabe-nos apenas a submissão, pois tal tarefa não nos é nenhuma
utopia, mas uma realidade que revolucionará nossa vida e a vida daqueles com
quem nos relacionarmos. E hoje, mais que nunca, o mundo demanda que expressemos
a Deus encarnando Sua vontade como a razão de nossas vidas, pois só assim crerá
em nossa palavra.
1.
O Caráter Benéfico da Vontade de Deus
A
primeira característica da vontade de Deus descrita pelo apóstolo Paulo é de
que ela é boa. E ela é boa porque é livre de todo mal, só beneficiando quem a
experimenta e submete-se à ela em obediência. Até mesmo no caso do patriarca
Jó, em que a disputa cósmica entre Deus e Satanás a respeito de sua fé e de sua
integridade lhe resultou em inúmeros infortúnios e terríveis calamidades, como
a perda de seus bens, saúde e filhos, a benevolência da vontade de Deus não se
descaracterizou, pois Jó com tudo aquilo fora grandemente honrado por Deus ao
haver o SENHOR – de certa forma – apostado Sua reputação de Deus na integridade
de um falível pecador de quem Deus tinha certeza de que não o abandonaria se os
bens e saúde dos quais gozava lhe fossem tirados, como acusava Satanás.
Como
ressalta Philip Yancey, "Jó prefere viver com o torturante paradoxo de que
Deus ainda o ama mesmo que toda a evidência aponte para o contrário" (Cf.
Philip YANCEY: A Bíblia Que Jesus Lia; Editora Vida; 2000; p. 58).
Sinceramente, creio que resolver-se a experimentar a boa vontade de Deus e
considerá-la assim – como boa – independente da forma ou circunstâncias em que
se nos apresente, é um tremendo desafio para as igrejas de nossos dias,
soando-lhe como extremamente revolucionário.
É
que a filosofia hedonista do evitar a dor e quaisquer dificuldades na vida, tem
sido o referencial de muita gente que se professa crente atualmente. De sorte
que problemas, dificuldades e sofrimentos na vida cristã tem sido apregoados
como sinônimo de reprovação divina, como falta de fé e como triunfo satânico
sobre quem os experimenta, ainda que tais sofrimentos sejam o resultado de uma disputa
cósmica entre Deus e Satanás, como fora no caso de Jó e que envolva situações
específicas de uma lição de Deus a Seu povo, como ocorre nos casos dos profetas
Oséias e Ezequiel.
O
primeiro teve que conviver com a dor de uma mulher infiel que inúmeras vezes
prostituiu-se com outros homens, sem jamais com isso tê-la deixado de amar; e
tudo para ilustrar a infidelidade de Israel para com o SENHOR e o incondicional
amor deste para com aquele. Já o segundo, a dor que lhe corroeu o coração foi
ter que ouvir da boca de Deus que sua amada esposa, a quem o profeta
considerava como a delícia de seus olhos, lhe seria tirada para demonstrar a
Israel que da mesma forma o SENHOR tiraria do povo o santuário, delícia dos
olhos do povo igualmente (Cf. Ezequiel 24:15-27).
Deus
em Sua natureza é um ser bom (Cf. Salmo 25:8), e neste sentido, Sua natureza
bondosa é que torna todas Suas ações, sejam quais forem, benéficas para com
aqueles que Lhe servem em amor e em adoração. E ainda que em muitas ocasiões
essas ações nos sejam dolorosas e paradoxais, levando-nos às vezes à
compreensão que Deus é uma espécie de sádico cósmico – como percebemos nas
histórias de Jó (que sofrera em razão da disputa pela integridade de sua fé) de
Moisés (que após dura peregrinação no deserto, liderando o povo judeu, fora
impedido por Deus de adentrar a terra prometida por haver batido na rocha a
qual deveria simplesmente ter falado) e dos profetas Oséias e Ezequiel (vistos
acima) – o caráter benéfico da vontade de Deus não se descaracteriza e nem pode
nos ser perdido de vista, pois são as mão por trás do cálice a razão para que
se aceite o cálice como bom, e não o conteúdo do cálice em si. E sem dúvidas, a
consciência dos personagens acima de que mão que lhes oferecia o cálice amargo
era boa, foi a razão para que suportassem a carga de sofrimento posta sobre
seus ombros. "Meu Pai: Se possível, passe de mim este cálice!
Todavia,
não seja como eu quero, e, sim como tu queres", foi a oração de Jesus
quando se aproximava a hora da crucificação. A boa vontade de Deus em salvar os
homens pecadores se efetivaria, como de fato se efetivou, pelo amargo cálice da
crucificação. "Todavia, não seja como eu quero, e, sim como tu
queres", é a expressão chave nas palavras de Cristo, pois demonstram a
disposição do Filho em aceitar o cálice oferecido pelo Pai.
E
embora seja a expressão chave na agonizante oração de Jesus no Jardim do
Getsêmani, me parece ser a expressão que menos queremos entender e aceitar
quando o assunto é submissão a vontade de Deus em meio a um cálice amargo. É
que sempre queremos que Deus honre nossas vontades em detrimento da Dele, ou
ainda que faça-se cumprir a Sua em nós em um cálice saborosamente doce.
"Aceitar o cálice amargo que Deus nos oferece só é possível quando
aceitamos que as mãos que o oferecem são boas e dignas de confiança. A
disciplina ou mesmo o sofrimento a que muitas vezes somos submetidos por Deus
são para nossa redenção e salvação.
É
aqui que percebemos a diferença entre um relacionamento pessoal, estabelecido
pelo amor e confiança, e um relacionamento impessoal, onde o gesto, o presente,
a oferta, são mais importantes que a pessoa", sentencia-nos com
propriedade e lucidez teológica o pastor Ricardo Barbosa de Souza (Cf. Ricardo
Barbosa de SOUZA: As Mãos ou o Cálice ? In: Eclésia; (58), Setembro de 2000). E
que nós queremos viver a vida cristã sem haver que beber cálices amargos,
corrobora-se na composição de nossa rede de relacionamentos, onde selecionamos
aqueles a quem doaremos amor, evitando aqueles que nos despertem sentimentos de
antipatia. Mas o próprio Jesus já declara aos discípulos que hemos de amar não
só os que nos amam, porém os inimigos também.
Em
Romanos 8:28, vemos o apóstolo assegurar que todas as coisas cooperam para o
bem daqueles que amam a Deus. E certamente entre estas coisas cooperadoras para
o bem dos santos, encontram-se inclusos muitos dos cálices amargos repletos de
sofrimento e dores, os quais aliás, nem sempre gostamos de admitir como
legítimos para confirmação e lapidação de nossa fé em Deus. Entretanto, nossa
inclinação hedônica e egoísta em rejeitar cálices nada saborosos e regados a
fel, não fará com que os mesmos não nos sobrevenham como vontade legítima de
Deus para conformação de nossas vidas a vontade de Deus. É preciso que
entendamos e reconheçamos que a natureza do bem referido no texto, não
refere-se a um estado ausente de conflitos, dores, provações, infortúnios ou
calamidades como bem gostaríamos que fosse. Antes, o bem ali referido é melhor
compreendido em seu contexto como sendo o conformar de nossa imagem à imagem de
Jesus Cristo (Cf. Romanos 8:29-30). E para que este conformar de imagem se
configure, cálices amargos serão tão inevitáveis quanto imprescindíveis na
experiência cristã.
Que
nos diga Jesus Cristo com o cálice de Sua morte ! Não angustiou-se
profundamente a alma de Jesus, ao ponto de suar gotas de sangue lá no Jardim do
Getsêmani (Cf. Lucas 22:40-46) ? Mesmo sua alma estando em angústia profunda,
Jesus não abdicou de levar adiante a vontade do Pai, em morrer na cruz para satisfazer
a justiça de Deus e trazer salvação ao que crer. Tenho uma esposa e três filhos
a quem amo de paixão fogosa e ardente, e se os perdesse por conta de Deus assim
o querer, objetivando confirmar ou lapidar minha fé, ou simplesmente glorificar
Seu nome por um motivo que me seja desconhecido, como tenho o visto fazer com
personagens bíblicos e alguns colegas de ministério, admito que muito sofreria
e até entraria em choque com Deus (exatamente como fizeram Jó, Moisés e muitos
salmistas com seus salmos imprecatórios). Mas creio também, que pediria ao
SENHOR muitíssima graça para continuar amando-o pelo que Ele é e não pelas
maravilhas que pode me conceder como ministro de Sua igreja, como me concedera
as preciosas pérolas Nira, Johnny Anderson, Jehnny Ádria e Julie Anny – minha
esposa e respectivos filhos.
Que
os cálices amargos que nos trazem a boa vontade de Deus, não nos impeça de
contemplarmos as boas mãos que nos o oferecem, pois a vontade de Deus é boa
mesmo em situações que nos pareçam desconfortáveis e contrárias a satisfação de
nosso ego. E mais, a vontade de Deus nunca perderá esta qualidade de boa só
porque murmuramos sempre que nos sentimos perturbados com ela. E sem sombras de
dúvidas, experimentar a boa vontade de Deus em sua plenitude continuará nos
trazendo benefícios, ainda que não consigamos percebê-los à primeira vista.
E
o melhor de tudo isso, em experimentarmos a sempre boa vontade de Deus, é que
Ele será glorificado como Deus e nossa vida melhor lapidada em sua integridade.
Que as muitas tristezas e circunst6ancias da vida, que às vezes confundimos com
o próprio Deus, não nos roubem as alegrias imensuráveis que Ele também nos
proporciona. Pode até nos parecer fácil incentivar outros a aceitarem a vontade
de Deus em meio a dor e agruras que enfrentam em suas vidas, porém que casos
como do patriarca Jó nos sirva de lição para aprendermos que homens íntegros,
retos, tementes a Deus e que se desviam do mal, também sofrem com infortúnios
os mais terríveis.
Que
jamais percamos de vista, quando tivermos que experimentar a boa vontade de
Deus em cálices de conteúdo notadamente amargo, que "todos quanto querem
viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos" (Cf. 2 Timóteo
3:12-13), "sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança,
experiência; e a experiência, esperança" (Cf. Romanos 5:3-4) e que bendito
é "o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o pai de misericórdias e
Deus de toda consolação!", pois "é Ele quem nos conforta em toda
nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em qualquer angústia,
com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por Deus" (Cf. 2
Coríntios 1:3-4).
Enfim,
que os casos de Jó, Oséias, Ezequiel, Moisés e outros santos cujo infortúnio
deve-se a sua confiança na bondade e caráter de Deus, nos torne cônscios de que
o sofrer para glória de Deus ainda é melhor que sofrer por rebeldia contra
Deus. "Se pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem aventurados sois,
porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus. Não sofra, porém,
nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se
intromete em negócios de outrem; mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe
disso; antes, glorifique a Deus com esse nome", prega-nos o apóstolo (Cf.
1 Pedro 4:14-16) Uma vez que, como crentes em Cristo e habitados pelo Espírito
Santo, somos renovados em nossa mente e transformados em nossa natureza pelo
poder do evangelho, estando soberana e graciosamente potencializados a cumprir
com os preceitos do SENHOR, experimentar Sua terna e boa vontade não se nos
apresenta apenas como algo mister, mas como um imperativo que não deve ser
negligenciado.
Assim
é que, resolutos devemos avançar em direção ao experimentar da boa vontade de
Deus, pois ao fazê-lo colheremos os bons frutos a ela pertinentes e
testemunharemos da bondade divina, ainda que tais frutos sejam colhidos em meio
a dor de cálices amargos e em meio a circunstâncias que nunca as queríamos ter
enfrentado, mas passado de largo pelas mesmas.
2.
O Caráter Agradável da Vontade de Deus
A
segunda característica da vontade de Deus descrita pelo apóstolo Paulo é de que
ela é agradável. E ao descrevê-la como agradável, ele está nos revelando que é
prazerosa, preenchendo nosso ser com uma leveza sem precedentes e sem iguais. A
caracterização da vontade de Deus como sendo agradável, na verdade é a
descrição teológica daquilo que fora decantado em poesia por Davi quando
dissera: "com efeito, os teus testemunhos são o meu prazer ..." (Cf.
Salmo 119:24).
Infelizmente,
está cada vez mais evidente na praxis de vida cristã de muitos dos crentes de
hoje, que submeter-se à vontade de Deus parece-lhes uma tortura agonizante, não
uma experiência gostosa de imenso prazer. E como Deus nunca está equivocado,
mas nós é que Lhe desconhecemos os desígnios, a obstinação de muitos de nós em
não nos submetermos à vontade divina, só revela nosso lado ocultista e
feiticeiro, afinal de contas "a rebelião é como o pecado da feitiçaria, e
a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos do lar", sentencia-nos o
profeta Samuel (Cf. 1 Samuel 15:23).
Ora,
o feiticeiro está a serviço de Satanás, procurando em como agradá-lo. Logo, não
é absurda a conclusão de que qualquer um que se professa crente mas não tem
prazer na vontade de Deus, antes obstina-se ossificado contra ela, está em
condição semelhante a de um macumbeiro, em nada sendo melhor do que ele, pois
com sua rebeldia contra Deus revelam estar ambos a serviço de um mesmo senhor,
o diabo. A vontade de Deus é agradável, e não deixará de sê-la só porque alguns
fiéis, sucumbindo diante da vontade de Satanás e seus enganos, murmuram contra
ela e induzem outros fiéis ao mesmo, como no caso da rebelião liderada por
Abirão e Coré, que não viam como agradável a vontade de Deus em estabelecer
Moisés e Arão como líderes do povo judeu em sua peregrinação no deserto.
A
obstinação que mantiveram contra a vontade de Deus, opondo-se aos líderes que
Deus estabelecera junto ao povo, revelou o lado de feiticeiros satânicos
latentes em Abirão e Coré. Há aqueles também, por exemplo, que diante de
desculpas esfarrapadas se furtam a consagrar seus dízimos e ofertas a Deus,
como deveriam fazer com imensa alegria e gratidão nos corações. E o pior de
tudo, é que tais obstinados induzem outros ao mesmo pecado de rebelião que amam
tanto. Entretanto, a consagração de dízimos e ofertas é um nítido mandamento de
Deus a Seu povo (Cf. Malaquias 3:10), e de forma alguma deixará de ser uma
vontade agradável de Deus ao mesmo porque alguns insistem em não consagrá-lo
para que sua vontade prevaleça acima da vontade do SENHOR. Em âmbito familiar a
crise também é patética, pois há esposas que mesmo professando-se crentes em
Jesus Cristo, não consideram como agradável o submeter-se em amor à liderança
do marido, como o cabeça do lar. E há maridos que não consideram como agradável
o ter que amar suas esposas e tratá-las com a dignidade que deveriam, como
preceitua-nos a vontade de Deus.
Entretanto,
as responsabilidades conjugais de marido e esposa não deixarão de ser
agradáveis porque alguns se obstinam contra ela e não colhem os benefícios
resultantes da obediência aos mesmos (Cf. Efésios 5:22-33 e1 Pedro 3:1-7).
Tenho
vistos inúmeras senhoras mal amadas em seus matrimônios incentivando as
solteiras a nunca se casarem porque carregarão uma pesada cruz pelo resto de
suas vidas. Todavia, qual o testemunho bíblico sobre o casamento ? Não é o de
que consiste em um estado honroso cujo leito deve ser conservado sem mácula?
Sim, o casamento é um estado honroso (Cf. Hebreus 13:4), e só torna-se um
inferno insuportável quando vivido fora dos princípios de Deus estabelecidos
para o mesmo. Em quem confiar quanto a relação marital, diante de tão ríspida
disputa ? Em pessoas cujas experiências são frutos de uma compreensão
particular e descabida do que realmente seja o matrimônio e de sua obstinação
em observar os princípios divinos do mesmo? Ou será mais seguro crermos na
infalibilidade da Palavra de Deus que assevera que "digno de honra entre
todos seja o matrimônio" ? Deus ainda continua sendo verdadeiro e mentiroso
todo homem, por isso não deve restar dúvidas sobre em quem confiar.
Ainda
em âmbito familiar, verificamos entre muitos cristãos sinceros e leias, que há
filhos que não honram, não obedecem e nem auxiliam seus pais. Buscam uma
suposta independência que caracteriza-se mais pela rebeldia que pela
responsabilidade pessoal. Na verdade, para alguns filhos crentes, honrar e
obedecer os pais, bem como auxiliá-los no ministério do lar, lhes soa pesado e
careta demais, mesmo que esta seja a clara a vontade de Deus revelada para
todos eles (Cf. Efésios 6:1-3). De igual modo, é patético entre as famílias
cristãs contemporâneas, haver pais que obstinadamente recusam-se em disciplinar
seus filhos sob a alegação de que não se deve punir ou castigar crianças, pois
não têm entendimento suficiente para receberem a disciplina. Entretanto, esta
recusa em obedecer a agradável vontade de Deus, fazendo-a cumprir em suas
vidas, os tem levado a criarem marginais que entendem que tudo deve girar em
torno deles e de sua vontade inflexível (Cf. Efésios 6:4 e Colossenses 4:21).
Por
furtarem-se a observar tão clara vontade de deus em suas vidas é que muitos
pais não sabem porque perdem seus filhos para o mundo. Na área passional e
sentimental da vida humana, tenho convivido com inúmeros jovens crentes que se
rebelam contra a vontade de Deus de não namorarem e não se casarem com pessoas
não crentes – em manter jugo desigual com os incrédulos, como nos fala Paulo
(Cf. 2 Coríntios 6:14-18).
Entretanto
esta vontade negativa e proibitiva de Deus não deixa de ser boa e agradável só
porque muitos dentre eles insistem em não obedecê-la, namorando e casando-se
com quem bem entendem, sem levar em conta os claros propósitos de Deus em suas
vidas. Quando os crentes, na área sentimental e passional de suas vidas,
revoltam-se contra a vontade separatista de Deus – no tocante ao jugo desigual
com incrédulos – estão priorizando seus próprios sentimentos e não a glória de
Deus. E mais, com esta atitude não só desagradam e desafiam Deus em Sua
autoridade, como também colhem e sofrem – e na maioria das vezes amargamente –
com as conseqüências de caráter maléfico que são resultantes da obstinação
contra a vontade de Deus.
Muitos
crentes hoje, ao que me parece, não conseguem entender que quando primarem pela
glória de Deus em suas vidas, todas as outras coisas, incluindo seus
sentimentos, serão naturalmente acrescentados. Na área da sexualidade, há
aqueles também, que não vêem como agradável a vontade de Deus em que se
conserve a virgindade sexual até o casamento e que se prime pela fidelidade
monogâmica, onde o sexo pode ser desfrutado em sua plenitude de real beleza e
propósitos, pois consideram isso uma abrupta e violenta intervenção em sua
liberdade amorosa. Porém, a pureza sexual até o casamento e no casamento, não
deixará de ser uma vontade boa e agradável de Deus a quem quiser experimentá-la
só porque alguns se obstinam contra ela. Pelo contrário, aqueles que se
submeterem a ela colherão todos os benefícios dela resultantes e evitarão todos
os males que são peculiares aos que a não observam.
Ainda
na área da sexualidade, é fato que alguns homens cristãos não vêem como uma
imperiosa vontade de Deus a satisfação sexual plena de suas esposas quando lhes
negam o direito de atingir o clímax orgásmico na relação sexual com eles. Não
encaram sua negação de satisfação da feminilidade de suas esposas como uma
rebeldia contra Deus. Da mesma sorte, há esposas cristãs que não vêem sua
negação em satisfazer a masculinidade sexual de seus esposos como pecado diante
de Deus. Com certeza, uma visão distorcida da sexualidade segundo a Bíblia seja
o fator mor determinante nestes casos, pois o doar-se na satisfação sexual
plena do cônjuge não é nenhuma novidade revolucionária, mas uma clara vontade
de Deus na vida de seus filhos casados.
Quando
Paulo diz: "O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também,
semelhantemente, a esposa, ao seu marido" (Cf. 1 Coríntios 7:3), está
falando da relação sexual entre o casal. "A mulher não tem poder sobre o
seu próprio corpo, e sim o marido; e também, semelhantemente, o marido não tem
poder sobre o seu próprio corpo, e sim a mulher. Não vos priveis um ao outro,
salvo talvez por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à
oração e, novamente, vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa
da incontinência" (Cf. 2 Coríntios 7:4-5), conclui o apóstolo. Existe
ainda, aqueles crentes que obstinam-se diante do imperativo bíblico de
congregarem com os irmãos de sua comunidade cristã, no fortalecimento mútuo de
sua fé em Cristo. Justificam sua obstinação alegando desculpas como cansaço,
distância, falta de tempo, muito trabalho e tantas outras.
Entretanto,
a submissão fiel e cabal à ordem dada do "não nos deixemos de congregar,
como é costume de alguns", (Cf. Hebreus 10:25), não deixará de ser uma
vontade boa e agradável de Deus aos crentes só porque fiéis em rebeldia contra
o SENHOR criam milhões de justificativas para não cumpri-la. Cristãos que
furtam-se a comunhão fraternal com os irmãos de fé, ainda não compreenderam a natureza
do ser igreja, do viver em comunidade e nem experimentaram o poder
revolucionário do amor-ágape que neles está. É bom lembramos sempre, que apenas
o crente está potencializado a cumprir de forma cabal com a boa e agradável
vontade de Deus em sua vida, pois somente ele tem a habitação permanente do
Espírito Santo, o qual de glória em glória transforma sua imagem, conformando-a
a imagem do Filho de Deus. Só o crente goza de uma nova natureza potencialmente
inclinada a cumprir cabalmente a vontade de Deus, uma vez que se vê livre da
devassa e hedionda escravidão do pecado. E diante destes fatos bíblicos, creio
que já passou da hora, como crentes habilitados pela graça de Deus, de darmos
desculpas esfarrapadas para nossa obstinação contra Deus e Sua clara vontade
revelada a Seus filhos. É preciso estarmos convictos de que a vontade revelada
de Deus sempre nos será agradável, satisfazendo e alegrando com verdade nossas
almas. E agradar-nos da vontade de Deus é a chave para uma vida cristã
vencedora e abundante, pois, quando nos decidirmos em cumprir com a vontade de
Deus em nossas vidas, não só experimentaremos quão prazeroso e benéfico ela
será para nossas vidas, mas acima disso, Deus será glorificado em nós. Jesus
Cristo é nosso maior paradigma para ansiarmos por fazer da agradável vontade de
Deus a razão de nosso viver. "A minha comida consiste em fazer a vontade
daquele que me enviou a realizar a sua obra", proclamara o Filho de Deus a
seus discípulos (Cf. João 4:34)
"Confia
no SENHOR de todo o teu coração e não te estribes em teu próprio entendimento.
Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas. Não
sejas sábio aos teus próprios olhos; teme ao SENHOR e aparta-te do mal; será
isto saúde para o teu corpo e refrigério, para os teus ossos. Honra o SENHOR
com os teus bens e com as primícias de toda tua renda; e se encherão fartamente
os teus celeiros, e transbordarão de vinho os teus lagares", é a promessa
de Deus, descrita por Salomão em Provérbios 3:5-10.
Observar
com prazer o que preceitua a lei de Deus, abdicando de nossas próprias
pressuposições quanto ao estilo de vida que preferimos ter, de fato, resulta em
saúde para nosso corpo e em refrigério para nossa alma. Qual fora a receita
dada pelo SENHOR a Josué para que fosse um vencedor e bem sucedido em sua
jornada frente a Israel quanto a conquista da terra de Canaã ? Não fora a de
que observasse fielmente os preceitos de Sua lei ? (Cf. Josué 1:8).
Quando
o crente concebe alguma vontade de Deus para sua vida como pesada, não só contraria
a Palavra de Deus, a qual declara que seus mandamentos não nos são penosos (Cf.
1 João 5:3), como também revela a verdade de que seu ego está sendo
contrariado, sentindo-se ofendido em seus desejos. Entretanto, tal crente não
pode esquecer que consagração é precisamente isto: crucificação do ego, para
que a verdade e a vontade de Deus reine absoluta em seu viver. "Porque eu,
mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou
crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim;
e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pelo fé no Filho de Deus, que me
amou e a si mesmo se entregou por mim", vociferava Paulo aos crentes da
Galácia (Cf. Gálatas 2:1920).
Creio
que a doutrina do senhorio de Cristo que temos ensinado aos crentes de hoje é
por demais frouxa. Oferecemos a eles aquilo que Dietrich Bonhoeffer denominou
de graça barata. Ou seja, a vontade de Deus não é mais apresentada como
imperativa, mas como optativa ao paladar do crente. As conseqüências que tal
postura tem nos trazido são terrivelmente desastrosas, pois a igreja tem
perdida sua autoridade espiritual, uma vez que o encarnar a vontade de Deus não
é mais prioridade máxima em sua praxis missiológica. Como agradável, a vontade
de Deus satisfaz plenamente quem a experimenta, trazendo-lhe o gozo e o
regozijo pelos quais a alma humana é tão sedenta. Seria bom ressaltar, que o
termo grego empregado por Paulo e que fora traduzido por agradável, na versão
em português, sugere exatamente um estado de conforto, prazer e segurança.
Assim sendo, o que implica-se é que se desejamos gozar verdadeiro prazer,
conforto espiritual e segurança inabalável, devemos primar em experimentar a
agradável vontade Deus em nossas vidas.
E
mais, não podemos perder de vista a verdade de que a vontade de Deus não
perderá sua característica de singular agradabilidade porque muitos recusam-se
em experimentá-la e dela fazer seu razão de viver, rebelando-se frontalmente
contra ela, ou ainda porque venha contida em cálices amargos. Mas como vimos
anteriormente, as mãos de Deus que nos dão o cálice amargo são boas e
confortadoras em sua natureza, o que nos permite confiar mesmo em meio a
tribulações. Portanto, qualquer crente que se obstine em se rebelar contra a
vontade de Deus, e dê a desculpa que melhor julgar justificável, na verdade
estará se colocando à disposição de Satanás e suas hostes para ser seu agente e
seu adorador, e não um legítimo adorador de Deus.
É
preciso que resgatemos o cumprir com a vontade de Deus como um distintivo de
nossa ortopraxia cristã. É preciso que a glória de Deus volte a ser o motivo
mor de nosso ser, ter e fazer cristãos. Nossa ambição deve voltar a ser aquilo
que tanto dá prazer a Deus como nosso Deus: submeter-nos em amor a Sua vontade
revelada. Afinal de contas é boa e também agradável. Na experiência e no
testemunho do Rei Davi, a vontade de Deus sempre lhe soou mais desejável do que
o ouro depurado, mais doce do que o mel e que o destilar dos favos (Cf. Salmo
19:10).
Em
inúmeros salmos Davi ressalta seu prazer em cumprir a vontade de Deus. E sem
dúvidas era essa uma das razões pelas quais Davi tornou-se homem segundo o
coração de Deus, pois o SENHOR considera a importância da motivação de nosso
coração quanto a tudo que fazemos a Ele, ao próximo e a nós mesmos. E sendo Sua
vontade agradável, por que é que muitos de nós detemo-nos tanto em torná-la
nossa obsessão, como o fizeram Jó, Davi, Daniel, Paulo e o próprio Senhor Jesus
Cristo ? Detemo-nos tanto a isso porque ainda nutrimos a falsa suposição de que
somos independentes, podendo viver nossa vida fora da vontade divina.
Infelizmente, e para a desgraça de muitas igrejas, há entre os crentes mesmos
quem não julgue o aborrecer a Deus com seus pecados o que há de mais grave e
hediondo na vida. Estes mesmos ainda não compreenderam que um coração submisso
a Deus e regozijado por poder e conseguir viver segundo os preceitos de Sua
Palavra é o que realmente proporciona felicidade ao homem e faz diferença na
hora da prestação de contas com Aquele que é o Soberano de toda terra.
Transformemo-nos pela renovação de nossa mente para que experimentemos a boa e
agradável vontade de Deus, para que com isso revelemos ao mundo que não nada
melhor do que viver segundo o que Deus preceitua para a vida humana.
3.
O Caráter Perfeito da Vontade de Deus
A
terceira característica da vontade de Deus, descrita por Paulo em Romanos 12:2,
é perfeita.
O
termo grego utilizado por Paulo e que fora traduzido em português por perfeita
é teleios, cuja significação aponta para algo que é completo, que já tem sua
forma final definida, que é suficiente em si, transmitindo-nos a idéia de algo
que cobre todos os aspectos de uma questão. Ou seja, Paulo está nos revelando
que a vontade de Deus é completa e inteiramente suficiente para nos levar a ser
o que devemos ser, a ter o que devemos ter e a fazer o que devemos fazer, não
precisando de nenhum adendo, pois a perfeição desta vontade não contém falhas
ou vacilos, antes preenche nosso anseio de plena humanidade. A vontade de Deus
como sendo perfeita, mostra-se segura, verdadeira, única e confiável em cumprir
os propósitos divinos para a vida do crente. Ou seja, todo aquele que pode
viver e vive pela perfeita vontade de Deus, edifica sua vida com equilíbrio e
consistência, além de colher inúmeros benefícios e tornar-se agradável a Deus,
tendo a aprovação dEle, o que é o melhor de tudo (Cf. Gálatas 1:10).
E
como não poderia deixar de ser, a perfeição da vontade de Deus brota da própria
perfeição de Seu Ser, que é perfeito em todos os Seus atributos e em todas as
Suas obras. Contrário a perfeição de Deus, entretanto, está o homem, cuja
estrutura é pecaminosa, enganosa e destruidora. Por isso viver segundo a
vontade humana é caminhar rumo à morte, rumo ao precipício e em direção ao
caos. Pois como bem já salientava o salmista em seus escritos, "há caminho
que ao homem parece ser direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte" (Cf.
Provérbios 14:12), e como também alertara o profeta de Deus outrora, não
podemos ignorar o fato de que "enganoso é o coração, mais do que todas as
coisas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá ?" (Cf. Jeremias
17:9).
A
perfeição da vontade divina em relação a mordomia carismática na igreja local,
por exemplo, é experimentada, percebida e manifestada quando cada crente vive
como o ministro de Deus que é: em total dedicação de vida serviçal, objetivando
a edificação de seus irmãos de fé por meio de seus dons. É que na medida em que
cada ministro do corpo servir, também será servido. E na medida em que edificar
também será edificado. É simples, lógico e perfeito.
O
problema é que gostamos de complicar as coisas com nossa atitude de obstinação
em relação à vontade de Deus e em formar estruturas eclesiásticas que
dificultam a liberação do poder de Deus que há na igreja. A mesma perfeição se
percebe nos papéis familiares, pois quando o marido resolver amar a mulher,
tratando-a com dignidade, como preceitua a vontade de Deus, a submissão dela à
sua liderança se dará com naturalidade, como que numa relação de causa e efeito.
Da mesma sorte, quando a mulher resolver submeter-se à liderança do marido com
prazer e alegria, em função de que isto agrada e glorifica a Deus, seu marido
lhe dispensará o amor e louvor que merece, reconhecendo suas virtudes e
suportando aqueles defeitos que só mudam a longo prazo ou sequer mudam (Cf.
Efésios 5:22-33; 1 Pedro 3:1-7 e Provérbios 31:10-31).
Por
outro lado, se um ou outro cônjuge se obstinar em cumprir com a perfeita
vontade de Deus, o caos se estabelecerá e o que poderia ser prazeroso se
tornará em um calvário. E como já ressaltáramos no profeta Samuel,
obstinar-mo-nos contra a vontade revelada de Deus, é praticarmos feitiçaria e
idolatria em louvor a glória de Satanás, pois "a rebelião é como o pecado
de feitiçaria" (Cf. 1 Samuel 15:23). A vontade de Deus em que o jovem se
mantenha puro em sua sexualidade, primando por manter a sua virgindade sexual
até o casamento, está além de querer impedi-lo de desfrutar as delícias que o
sexo proporciona em prazer, como muitos supõem. Antes se revela no fato de que
aqueles que se submetem a mesma, são protegidos contra os males pertinentes a
perversão sexual, como se evidencia nas muitas doenças venéreas existentes,
gravidez indesejada e a letal AIDS, além é claro de lhes propiciar a bênção de
experimentarem em gozo inefável a faceta verdadeira do que seja o sexo em amor,
com amor, por amor e para o amor.
E
ainda que isto possa soar estranho para alguns jovens crentes, esta é a
perfeita vontade de Deus para suas vidas, não deixando de sê-la caso insistam
em não observá-la na prática de suas vidas. É bom lembrar que sempre que
rebela-mo-nos contra a vontade de Deus só temos a perder. A perfeição da
vontade divina em que crentes não se casem com descrentes se verifica tanto no
fato de o primeiro ter uma nova natureza e o Espírito Santo, que lhes permitem
desenvolver um novo caráter potencializado a cumprir a vontade de Deus,
evidenciando frutos como o amor e a fidelidade, que são dois dos requisitos
básicos e imprescindíveis para um matrimônio realmente feliz (Cf. Gálatas
5:22-23), quanto no fato de o segundo ser dominado por uma natureza pecaminosa
escravizadora que lhe faz ter como marcas potenciais a prostituição, a
infidelidade, a mentira, a bebedice, o destemperamento e tantos outros males
(Cf. Gálatas 5:19-21) que facilmente destroem qualquer relação.
Esta
restrição da união do crente com o incrédulo, portanto, não visa privar o
crente da liberdade em se apaixonar e viver seus sentimentos amorosos, mas
apenas de lhe proteger de males que são prejudiciais à sua vida com Deus. A
perfeição da vontade divina com respeito a funcionalidade da igreja, como corpo
de Cristo, se atesta no fato de nem todos terem o mesmo dom espiritual e o
mesmo ministério, o que torna cada crente dependente um do outro. Há os que
dependem dos capacitados com o dom de ensino para que aprendam mais da Palavra
de Deus.
Os
professores, por sua vez, dependem e precisam daqueles com o dom de consolação,
pois quem os socorrerá quando necessitados de conforto? E os pastores, que são
dados à igreja para que equipem os santos, para que estes desempenhem o seu
serviço? Não são nenhuma classe de superdotados, necessitam e muito daqueles
que tem o dom de liderança para que conduzam os ministérios diversificados que
uma igreja local pode ter, quanto também necessitam dos dotados com o dom de
auxílio, pois sozinho nada conseguirão fazer para a saúde, edificação e
crescimento da igreja. E o que dizer, então, dos profetas que tanto são
necessários para apontar o que vai de errado com o povo e chamá-los de volta à
vontade de Deus? Eles também não são auto suficientes, antes necessitam
daqueles com o dom de misericórdia para que quando eles, os profetas, forem os
que estiverem em falta com Deus tenham quem possa socorrê-los e auxiliá-los a
sair de seu pecado. Sem falar que necessitam do ministério dos pastores, pois
estes é quem curam com paciência as feridas abertas e tocadas por sua mensagem
profética.
O
plano de Deus é perfeito porque a vontade de Deus é perfeita! Se conseguirmos
não complicar, já teremos feito muito ! Ao declarar que a vontade de Deus é
perfeita, e tendo a significação de ser completa e suficiente, no propósito de
nos conduzir ao exato lugar e estado que Deus quer que estejamos, devemos
rejeitar os tão comuns e letais adendos humanos que estão sendo oferecidos a
igreja como instrumentos de crescimento espiritual.
A
palavra de Deus, a cruz de Jesus Cristo e o Espírito Santo são nossa
suficiência para a prática de um cristianismo revolucionário e verdadeiramente
contracultural. E mais, quando Paulo nos apresenta a vontade de Deus como
perfeita, não nos deixa outra alternativa a não ser a de que nos entreguemos em
consagração total à vontade de Deus. Persegui-la não nos é uma questão de
opção, mas imperativamente necessário.
É
por não consideramos mais a Palavra de Deus, a cruz de Cristo e o Espírito
Santo como as maiores riquezas que temos, as quais nos conduzem ao centro da
vontade de Deus, é que temos nos voltado e contentado com o lixo do mundo, o
qual reputa por riqueza. Assim é que não mais a glória de Deus é nossa
obsessão, mas a fama e o sucesso pessoa; não mais o caráter íntegro, mas a
performance; não mais o ser, mas o ter: não mais o altruísmo, mas o egoísmo.
Já
passa da hora dos crentes contemporâneos, em especial a geração filha da
confissão positiva e do evangelho da prosperidade, conscientizarem-se de que
sua submissão amorosa à boa, agradável e perfeita vontade de Deus, é o caminho
que os fará serem o que devem ser, ter o que precisam ter e a fazer o que lhes
fora comissionado fazer. Quando conscientizarmo-nos que submeter-nos à boa,
agradável e perfeita vontade de Deus, é primar pelo que é benéfico, prazeroso,
completo e suficiente para nos levar a chegar exatamente aonde Deus quer que
cheguemos, a saber: sermos conforme à imagem de Seu Filho Jesus Cristo (Cf.
Romanos 8:29).
Conclusão
Não
podemos continuar enganando-nos a nós mesmos pensando que o mero exercício de
nossa religiosidade travestida de pseuda espiritualidade nos aprovará diante de
Deus. Só mediante uma entrega resoluta e definitiva em consagração à singular
vontade de Deus, submetendo-nos à ela em amor, é que verdadeiramente poderemos
afirmar que adoramos a Deus de uma maneira total e verdadeira. Devemos
entregar-nos a vontade de Deus porque ela é boa, trazendo-nos benefícios sem
iguais, ainda que estes benefícios nos venham contidos em cálices amargos de
infortúnios e sofrimentos angustiosos. Devemos entregar-nos à vontade de Deus
porque é agradável, não nos sendo pesada e impossível de cumpri-la, mas por ser
extremamente prazerosa e refrescante a alma do que resolve por ela viver e
dirigir os valores de sua vida. Devemos entregar-nos à vontade de Deus porque é
perfeita, não tendo vacilos ou oscilações, mas por ser completa e suficiente,
pautada na própria estrutura do Ser de Deus, o que nos permite total confiança
em nela crer e nela nos deleitarmos. Enfim, devemos primar em experimentar a
boa, agradável e perfeita vontade de Deus porque estamos, como crentes em
Cristo, habilitados a isso e porque resultará em glória a Deus e porque nos
tornará plenamente humanos e verdadeiramente felizes.
Autor Desconhecido
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