A Arca de Noé e o Monte Ararat
"Então disse Deus a Noé: O fim de
toda carne é chegado perante mim; porque a terra está cheia da violência dos
homens; eis que os destruirei juntamente com a terra. Faze para ti uma arca de
madeira de gôfer: farás compartimentos na arca, e a revestirás de betume por
dentro e por fora. (Gn 6.13-14). Assim fez Noé;
segundo tudo o que Deus lhe mandou, assim o fez. (Gn
6.22). e a arca repousou, no sétimo mês, no dia dezessete do mês, sobre
os montes de Ararate."
Localização do Monte Ararat e as Expedições Arqueológicas:
O monte Ararat está situado na parte
oriental da Turquia, próximo a fronteira soviético-iraniana. Seu cume, coberto
de neves perpétuas, eleva-se cinco mil cento e cinquenta e seis metros acima
do nível do mar.
As primeiras expedições ao monte Ararat aconteceram já no século passado, muitos anos antes que os arqueólogos começassem a escavar no solo da Mesopotâmia. O impulso que levou a essas expedições foi dado pela história de um pastor.
Nas faldas do Ararat, existe uma
aldeiazinha armênia chamada Bayzit, cujos habitantes contam há várias gerações
a aventura extraordinária de um pastor das montanhas que um dia, no monte
Ararat, teria visto um grande navio de madeira. A narrativa de uma expedição
turca do ano de 1833 parecia confirmar a história do pastor. Essa narrativa
fala expressamente da proa de um navio de madeira que no verão seria posta a
descoberto na geleira do sul.
Depois teria sido vista pelo Dr. Nouri,
arcediago de JerusaIém e Babilônia. Esse irrequieto dignitário eclesiástico
empreendeu, em 1892, uma viagem de exploração as cabeceiras do Eufrates. Ao
voltar, falou dos restos de um navio que vira no gelo perpétuo: "O
interior estava cheio de neve; a parede exterior apresentava um tom vermelho
escuro"
Durante a Primeira Guerra Mundial, um
oficial de aviação russo chamado Roskovitzki informou ter avistado de seu
avião, na encosta sul do Ararat, "os restos de um estranho navio". Em
plena guerra, o Czar Nicolau II expediu imediatamente um grupo para investigar.
Esse grupo não só teria visto o navio, mas ate tirado fotografias dele. Parece,
entretanto, que todas as provas desapareceram durante a Revolução de Outubro.
Durante a Segunda Guerra Mundial,
várias pessoas informaram terem visto a arca do ar: um piloto russo e quatro
aviadores americanos.
As últimas notícias fizeram entrar em
campo o historiador e missionário americano, Dr. Aaron Smith, de Greensborough,
perito em dilúvio. Após longos anos de trabalho, conseguiu compilar uma
história literária sobre a arca de Noé. Existem oitenta mil obras, em setenta e
duas línguas, sobre o dilúvio, sete mil das quais mencionam o lendário casco do
Ararat.
Em 1951, com quarenta companheiros, o
Dr. Smith percorreu em vão a calota de gelo do Ararat durante doze dias.
"Embora não tenhamos encontrado vestígio algum da arca de Noé",
declarou mais tarde, "minha confiança na descrição bíblica do dilúvio
reforçou-se ainda mais. Voltaremos lá."
Animado pelo Dr. Smith, o jovem explorador
francês da Groenlândia, Jean de Riquer, subiu ao monte vulcânico em 1952.
Também ele voltou sem resultados de qualquer espécie sobre a arca. Não
obstante, continuamente estão sendo organizadas novas expedições ao monte
Ararat.
Nenhuma tradição sobre os tempos
primitivos da Mesopotâmia concorda tão de perto com a Bíblia como a história da
inundação descrita na epopéia de Gilgamesh. Em alguns trechos, há uma
consonância quase literal. Existe, porém, uma diferença significativa e
essencialíssima. Na história do Gênesis, tão familiar para nós, trata-se de um
Deus único. Desapareceu a idéia grotesca, fantástica e primitiva de um céu
superpovoado de divindades, muitas das quais apresentam características
demasiado humanas, divindades que choram e se lamentam, e se assustam e se
encolhem como cães.
Aportamento da Arca de Noé:
O problema com todas as tradições
supracitadas do dilúvio está justamente na tendência pouco feliz de o homem
acreditar naquilo em que gostaria de crer. Essa mentalidade vem a tona de
maneira bem acentuada na busca da arca no cume do monte Agri Dagi, que se eleva
a cinco mil cento e sessenta e cinco metros acima do nível do mar, situado na
fronteira entre a Turquia e a URSS. Segundo a Bíblia (Gn
8.4), lá teria aportado a arca de Noé. A rigor, a indicação não é tão
inequívoca como parece ser, pois a Bíblia fala somente nos "montes de
Ararat", quando "Ararat" é apenas a designação do antigo país de
Urartu, o que, grosso modo, corresponde a Armênia moderna. A epopéia de
Gilgamesh menciona ainda o "monte Nisir" como local do aportamento da
arca; por sua vez, Beroso, sacerdote babilônico da época do helenismo, em sua
obra Antiguidades babilônias, introduz nos debates mais outro local, as
"montanhas de Cordiéia". A título de mais outro candidato a honra de
servir de ponto de ancoragem para a arca de Noé, surgiu um monte na Frígia,
Ásia Menor, perto da cidade de Celaenae, lendária desde a Antiguidade, e, por
fim, os maometanos preferem localizar o sítio do aportamento da arca mais ao
sul do Agri Dagi, no monte Djudi, de cujo cume se tem ampla vista panorâmica da
planície da "terra entre os rios". Em todo caso, estão sobrando
alguns montes de aportamento da arca de Noé.
Da mesma forma, tampouco foram
convenientemente documentados os eventos ligados ao Agri Dagi, o monte do
aportamento da arca da mencionada tradição cristã. Para André Parrot, o mutismo
e a única atitude a ser adotada pela literatura especializada diante das
tentativas periódicas, e que a imprensa costuma divulgar sempre com grande
alarde, de visualizar restos da arca bíblica naquelas altitudes, sob o gelo e a
neve. Efetivamente, até hoje nenhum arqueólogo profissional participou daquelas
tentativas de localizar a arca, e inexiste todo e qualquer esboço do local do
achado cientificamente aproveitável; também não há dados sobre os métodos de
busca empregados e as circunstâncias nas quais o achado foi feito, e muito
menos uma documentação fotográfica. Isso não se deve ao fato de arqueólogos
"profissionais" se recusarem a despender os esforços necessários à
escalada do monte Ararat (ou melhor, Agri Dagi), mas antes ao aspecto
financeiro da questão, visto que pesquisas arqueológicas sistemáticas em
terreno tão difícil e acidentado como esse implicariam despesas enormes. E
acontece que verbas de tal vulto geralmente são liberadas quando de fato podem
ser antecipados achados de grande interesse científico e geral. Com o Ararat,
tais achados são pouco prováveis, e assim, por enquanto, devemos dizer: desde
que existe o monte de cinco mil cento e sessenta e cinco metros de altitude e
desde que o homem povoa a Terra, nenhuma inundação do mundo,
"cientificamente explorada", subiu o bastante para levar aquelas
alturas um objeto parecido com a arca bíblica. Por outro lado, no decorrer
desse tempo, não houve na região do Ararat nenhuma elevação do solo, de
proporções suficientemente espetaculares para permitir que a arca ali
aportasse, talvez, em uma época quando o cume era menos alto que hoje. Logo,
parecem ser inúteis as tentativas de procurar a arca no Agri Dagi, e, segundo a
opinião bastante abalizada de André Parrot, todas as expedições para o monte
Ararat visam mais o alpinismo que a arqueologia.
Madeira antiquíssima encontrada no
Monte Ararat:
Igualmente, não existiria madeira com
"no minimo cinco mil anos", tirada do monte Ararat? Existe, sim; tal
madeira foi recolhida e apresentada; afirmou-se até que era do Ararat. Porém, a
datação não confere; noticiou-se que estaria baseada em "estimativas"
de um instituto florestal de Madri; "um laboratório em Paris" teria
datado aquela madeira de quatro mil quatrocentos e oitenta e quatro anos antes
da época moderna, ao passo que um "instituto de pesquisas pré-históricas",
em Bordeus, teria somente comentado a "idade antiquíssima" do
material analisado. Mas mesmo que, com um exame mais aprofundado desses dados,
os respectivos institutos se revelassem sérios e seus pareceres, responsáveis e
inatacáveis, cumpriria considerar o fato de as provas do material, retiradas do
seu local de achado por pessoas inexperientes no assunto e levadas por grandes
distâncias até os respectivos locais de destino, terem evidentemente sofrido
alterações que influiram nos seus valores de medição, a ponto de nem mais ser
possível fazer uma datação exata. Uma das expedições deixou até de reencontrar
o primitivo local do achado da madeira em questão, mas em compensação encontrou
madeira em outro sítio do Agri Dagi, cuja idade foi estimada em somente mil e
trezentos a mil e setecentos anos. Esse resultado enquadra-se e muito bem na
tese levantada por alguns cientistas, segundo a qual o Agri Dagi era
considerado "monte santo", devido a seu nexo tradicional com o relato
bíblico do dilúvio; lá teriam existido abrigos para peregrinos ou cavernas
habitadas por eremitas, datados de tempos cristãos.
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