A Confissão de Fé Escocesa*
E
será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas
as nações. Então, virá o fim (Mateus
24.14)
Prefácio
Os Estados da Escócia, com seus
habitantes, professando o evangelho santo de Jesus Cristo: para os seus
compatriotas, e para todos os outros reinos e nações, professando o mesmo
Senhor Jesus com eles, deseja graça, misericórdia, e paz de Deus o Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo, com um espírito de justo julgamento, para saudação, etc.
Durante muito tempo, queridos
irmãos, nós tivemos o desejo de notificar ao mundo, a soma daquela doutrina a
qual nós professamos, e pela o qual nós temos recebido infâmia e perigo. Mas
tal foi a fúria de Satanás contra nós, e contra a verdade eterna de Jesus
Cristo, recentemente nascida entre nós, que até este dia nenhum tempo foi
concedido a nós para clarear nossas consciências, como alegremente nós teríamos
feito. Como nós temos sido lançados a um ano inteiro de passado, a maior parte
de Europa (como nós supomos) entende. Mas vendo que a infinita bondade de nosso
Deus (que nunca faz sofrer o aflito completamente para não ser confundido),
acima de qualquer expectativa, nós obtivemos algum descanso e liberdade, nós
não pudemos, mas passo adiante esta breve e simples confissão de tal doutrina
como é proposta à nós, e como nós acreditamos e professamos; em parte para
satisfação de nossos irmãos cujos corações, não temos dúvida, temos sido ainda
feridos apesar da ira que ainda temos de não aprender a falar bem; e em parte
pelo parar as bocas de insolentes blasfemadores que corajosamente amaldiçoam
aquilo que eles nem mesmo ouviram, e o que nem ainda entendem.
Não que julguemos que tal
cancerosa malícia pode ser curada por esta nossa simples confissão. Não, nós
sabemos que o doce sabor do evangelho é, e deve ser, morte para os filhos de
perdição. Mas nós temos respeito principalmente para com nossos irmãos fracos e
enfermos, para quem nós comunicaríamos o fundo de nossos corações, para que
eles não sejam aborrecidos ou levados por diversos rumores que Satanás espalha
[contra] nós, para derrotar este nosso empreendimento religioso; protestando
que, se qualquer homem notar nesta nossa confissão, que qualquer artigo ou
sentença seja repugnante para com a Palavra santa de Deus, isto nos agradará,
por sua gentileza, e pela causa da caridade cristã, nos prevenir destes mesmos
escritos; e nós, por nossa honra e fidelidade, prometemos a ele satisfação da
boca de Deus (quer dizer, de suas Escrituras Santas), ou qualquer reforma que
ele prove em que temos nos extraviado. Para Deus nós levamos as historias de
nossas consciências, que de nossos corações nós detestamos todas as seitas
heréticas, e todos os professores de doutrina errônea; e que, com toda
humildade, nós abraçamos a pureza do evangelho de Cristo que é o único alimento
de nossas almas; e isto é tão precioso para nós, que nós estamos determinados a
sofrer a extremidade do perigo mundano, ao invés de que nós sofreremos ao ser
defraudados pelo mesmo. Pela espera nós somos certamente persuadidos, que
aquele que de alguma forma negar a Cristo Jesus, ou ter vergonha dele, na
presença dos homens, será negado diante do Pai, e diante de seus santos anjos.
E então, pela ajuda do poderoso Espírito do nosso mesmo Senhor Jesus, nós
firmemente propomos ficar juntos até o fim, na confissão desta nossa fé, como
se seguem nestes artigos.
1º
CAPÍTULO
De Deus
De Deus
Confessamos e reconhecemos
um só Deus, a quem, só, devemos apegar-nos, a quem, só, devemos servir, a quem,
só, devemos adorar e em quem, só, devemos depositar nossa confiança.1
Ele é eterno, infinito, imensurável, incompreensível, onipotente, invisível;2
um em substância e, contudo, distinto em três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito
Santo.3 Cremos e confessamos que por ele todas as coisas que há no
céu e na terra, visíveis e invisíveis, foram criadas, são mantidas em seu ser,
e são governadas e guiadas pela sua inescrutável providência para o fim que
determinaram sua eterna sabedoria, bondade e justiça, e para a manifestação de
sua própria glória.4
1. Dt 6:4; 1Co 8:6; Dt 4:35; Is 44:5-6.
2. 1Tm 1:17; 1Rs 8:27; 2Cr 6:18; Sl 139:7-8; Gn
17:1; 1Tm 6:15-16; Êx 3:14-15.
3. Mt 28:19; 1Jo 5:7.
4. Gn 1:1; Hb 11:3; At 17:28; Pv 16:4.
2º
CAPÍTULO
Da Criação do Homem
Da Criação do Homem
Confessamos e reconhecemos que nosso
Deus criou o homem, isto é, nosso primeiro pai, Adão, segundo sua própria
imagem e semelhança, e lhe deu sabedoria, domínio, justiça, livre arbítrio e
consciência de si mesmo, de modo que em toda a natureza do homem não se podia
encontrar nenhuma imperfeição.1 Dessa perfeição e dignidade caíram o
homem e a mulher; a mulher, enganada pela serpente e o homem dando ouvido à voz
da mulher, ambos conspirando contra a soberana majestade de Deus, que, com
palavras claras, os havia previamente ameaçado de morte, se ousassem comer da
árvore proibida.2
1. Gn 1:26-28;
Cl 3:10; Ef 4:24.
3º
CAPÍTULO
Do Pecado Original
Do Pecado Original
Por essa transgressão, geralmente
conhecida como pecado original, a imagem de Deus foi totalmente deformada no
homem, e ele e seus filhos se tornaram, por natureza, inimigos de Deus,
escravos de Satanás e servos do pecado,1 de modo que a morte eterna
tem tido e terá poder e domínio sobre todos os que não foram, não são e não
forem regenerados do alto. Essa regeneração se realiza pelo poder do Espírito
Santo, que cria nos corações dos escolhidos de Deus uma fé firme na promessa de
Deus a nós revelada pela sua Palavra; por essa fé aprendemos Jesus Cristo com
os seus dons gratuitos e com as bênçãos nele prometidas.2
1. Sl 51:5; Rm
5:10; 7:5; 2Tm 2:26; Ef 2:1-3.
4º
CAPÍTULO
Da Revelação da Promessa
Da Revelação da Promessa
Cremos firmemente que Deus,
depois da tremenda e horrenda defecção de sua obediência feita pelo homem,
procurou Adão, chamou-o a si,1 foi ter com ele, repreeendeu-o e
convenceu-o do seu pecado e fez-lhe afinal a promessa gratuita e a mais grata
de que a semente da mulher esmagaria a cabeça da serpente,2 isto é,
destruiria as obras do Diabo. Essa promessa foi repetida e tornada cada vez
mais clara com o correr do tempo; foi abraçada com firmeza e alegria por todos
os fiéis, de Adão a Noé. Semelhantemente, de Noé a Abraão, de Abraão a Davi e
assim por diante até a encarnação de Jesus Cristo; todos - isto é, os
patriarcas crentes sob a lei - viram os dias agradabilíssimos de Cristo e se
regozijaram.3
1. Gn 3:9.
2. Gn 3:15.
3. Gn 12:3; 15:5-6; 2Sm 7:14; Is 7:14; 9:6; Os
2:6; Jo 8:56.
5º CAPÍTULO
Contituidade, Aumento e Preservação da Igrejas
Contituidade, Aumento e Preservação da Igrejas
Cremos, com a maior segurança, que Deus
preservou, instruiu, multiplicou, honrou, adornou e vocacionou, da morte para a
vida, a sua Igreja em todas as épocas, desde Adão até a vinda de Cristo Jesus em carne.1 Ele
chamou Abraão da terra de seu pai, instruiu-o e multiplicou a sua semente;2
ele o preservou maravilhosamente e mais admiravelmente livrou sua semente da
servidão e da tirania de Faraó;3 deu-lhe as suas leis, constituições
e cerimônias,4 deu-lhes a terra de Canaã.5 Depois de lhes
haver dado juizes, e posteriormente Saul, deu-lhes Davi para ser rei, a quem
prometeu que do fruto dos seus lombos um devia assentar-se para sempre no seu
trono real.6 A esse mesmo povo ele enviou profetas, em contínua
sucessão de tempo, a fim de, da idolatria pela qual eles freqüentes vezes se
desviaram, reconduzi-los ao caminho reto do seu Deus.7 E, embora,
por seu obstinado desprezo da justiça, tenha sido ele, compelido a entregá-los
nas mãos dos seus inimigos,8 como fora previamente ameaçado pelos
lábios de Moisés,9 de modo que a cidade santa foi completamente
destruída, o templo devorado pelo fogo,10 e toda a terra desolada
durante setenta anos,11 contudo, por sua graça e misericórdia ele os
reconduziu a Jerusalém, onde a cidade e o templo foram restaurados e onde eles
resistiram contra todas as tentações e assaltos de Satanás, até a vinda do
Messias, segundo a promessa.12
1. Ez 6:6-14.
2. Gn 12:1; 13:1.
3. Êx. 1, etc.
4. Jo 1:3; 23:4.
5. 1Sm 10:1; 16:13.
6. 2Sm 7:12.
7. 2Rs 17:13-19.
8. 2Rs 24:3-4.
9. Dt 28:36, 48.
10. 2Rs 25.
11. Dn 9:2.
6º
CAPÍTULO
Da Encarnação de Cristo
Da Encarnação de Cristo
Quando chegou a plenitude do
tempo, Deus enviou ao mundo o seu Filho1 - sua eterna sabedoria, a
substância da sua própria glória - o qual assumiu a natureza humana da
substância de uma mulher, uma virgem, e isso por obra do Espírito Santo.2
E assim nasceu a “semente justa de Davi”, o “Anjo do grande conselho de Deus”,
o próprio Messias prometido, a quem reconhecemos e confessamos como o Emanuel,
verdadeiro Deus e verdadeiro homem, por duas naturezas unidas e ligadas em uma
só pessoa.3 Assim, por esta nossa Confissão condenamos as condenáveis
e pestilentas heresias de Ário, Márcion, Eutiques, Nestório e outros, que, ou
negaram a sua divindade eterna ou a verdade da sua natureza humana, ou as
confundiram ou dividiram.
1. Gl 4:4.
7º
CAPÍTULO
Por que Devia o Mediador ser Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem
Por que Devia o Mediador ser Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem
Reconhecemos e confessamos que
esta admirável união entre a divindade e a humanidade, em Jesus Cristo ,
procedeu do decreto eterno e imutável de Deus, do qual decorre e depende toda a
nossa salvação.1
1. Ef 1:3-6.
8º
CAPÍTULO
A Eleição
A Eleição
O mesmo eterno Deus e Pai, que somente
pela graça nos escolheu em
seu Filho , Jesus Cristo, antes que fossem lançados os
fundamentos do mundo,1 designou-o para ser nosso chefe,2 nosso
irmão,3 nosso pastor e o grande bispo de nossas almas.4
Mas, visto que a inimizade entre a justiça de Deus e os nossos pecados era tal
que nenhuma carne por si mesma poderia ter chegado a Deus,5 foi
preciso que o Filho de Deus descesse até nós e assumisse o corpo de nosso
corpo, a carne de nossa carne e o osso de nossos ossos, para que se tornasse o
perfeito Mediador entre Deus e o homem,6 dando a todos os que crêem
em Deus o poder de se tornarem filhos de Deus,7 como ele mesmo diz:
“Subo para o meu Pai e vosso Pai, para o meu Deus e vosso Deus”.8
Por meio desta santíssima fraternidade, tudo o que perdemos em Adão nos é de
novo restituído,9 e por isso não tememos chamar a Deus nosso Pai,10
não tanto por nos ter ele criado - o que temos em comum com os próprios
réprobos – 11 como por nos ter dado o seu Filho unigênito para ser
nosso irmão,12 e por nos ter concedido graça para reconhecê-lo e
abraçá-lo como nosso único Mediador, como ficou dito acima.
1. Ef 1:11; Mt 25:34.
2. Ef 1:22-23.
3. Hb 2:7-8, 11-12; Sl 22:22.
4. Hb 13:20; 1Pd
2:24; 5:4.
10. Rm 8:15; Gl 4:5-6.
11. At 17:26.
12. Hb 2:11-12.
13. 1Pd 3:18; Is 53:8.
14. At 2:24.
15. Jo 1:2; At 20:20; 1Tm 3:16; Jo 3:16
9º
CAPÍTULO
A Morte, a Paixão e o Sepultamento de Cristo
A Morte, a Paixão e o Sepultamento de Cristo
[Confessamos] que nosso
Senhor Jesus Cristo se ofereceu ao Pai em sacrifício voluntário por nós,1
que sofreu a contradição dos pecadores, que foi ferido e açoitado pelas nossas
transgressões,2 que, sendo o Cordeiro de Deus puro e inocente3
foi condenado na presença de um juiz terreno,4 a fim de que fôssemos
absolvidos perante o tribunal de nosso Deus;5 que sofreu não só a
cruel morte de cruz - que foi maldita pela sentença de Deus6 - mas
também sofreu por um pouco a ira de seu Pai,7 que os pecadores
mereciam. Mas declaramos que ele permanece como o Filho unicamente amado e
bendito do Pai, mesmo em meio à angústia e ao tormento que ele sofreu na alma e
no corpo, para dar plena satisfação pelos pecados do povo,8 e agora
confessamos e declaramos que não resta nenhum outro sacrifício pelo pecado.9
Se há alguns que assim afirmam, não necessitamos em declarar que são blasfemos
contra a morte de Cristo e contra a satisfação eterna que por ela nos foi
preparada.
1. Hb 10:1-12.
2. Is 53:5; Hb 12:3.
3. Jo 1:29.
4. Mt 27:11,26; Mc 15; Lc 23.
5. Gl 3:13.
6. Dt 21:23.
7. Mt 26:38-39.
8. 2Co 5:21.
9. Hb 9:12; 10:14.
10º
CAPÍTULO
A Ressurreição
A Ressurreição
Visto que era impossível que
as dores da morte pudessem reter cativo o Autor da vida,1 cremos sem
nenhuma dúvida que nosso Senhor Jesus Cristo foi crucificado morto e sepultado,
o qual desceu ao inferno, ressuscitou para nossa justificação2 e
para a destruição daquele que era o autor do pecado, e nos trouxe de novo a
vida, a nós que estávamos sujeitos à morte e ao seu cativeiro.3
Sabemos que sua ressurreição foi confirmada pelos testemunhos de seus inimigos4
e pela ressurreição dos mortos, cujos sepulcros se abriram e eles ressuscitaram
e apareceram a muitos dentro da cidade de Jerusalém,5 e que foi
também confirmada pelos testemunhos dos anjos,6 pelos sentidos e
pelo julgamento dos apóstolos e de outros que privaram com ele e com ele
comeram e beberam depois da sua ressurreição.7
1. At 2:24.
2. At 3:26; Rm 6:5, 9; 4:25.
3. Hb 2:14-15.
4. Mt 28:4.
5. Mt 27:52-53.
11º
CAPÍTULO
A Ascensão
A Ascensão
Não duvidamos, de modo nenhum, que exatamente
o mesmo corpo que nasceu da Virgem, foi crucificado, morto e sepultado, e que
ele ressurgiu e subiu aos céus, para cumprimento de todas as coisas,1
onde em nosso nome e para a nossa consolação recebeu todo o poder no céu e na
terra,2 onde ele está sentado, à destra do Pai, tendo sido coroado
no seu reino, como o único advogado e mediador por nós;3 essa
glória, honra e prerrogativa possuirá ele, só, entre os irmãos, até que todos
os seus inimigos sejam feitos escabelo dos seus pés.4 Assim também cremos,
sem dúvida alguma, que haverá um juízo final, para cuja execução o mesmo Senhor
Jesus há de vir visivelmente, como foi visto subir.5 E cremos
firmemente que virá então o tempo da recriação e restauração de todas as
coisas,6 de modo que aqueles que desde o principio sofreram
violência e afronta por causa da justiça, entrarão na posse da bendita
imortalidade a eles prometida desde o princípio.7
1. Mc 16:9; Mt 28:6; Lc 24:51; At 1:9.
2. Mt 28:18.
3. 1Jo 2:1; 1Tm 2:5.
4. Sl 110:1; Mt 22:44; Mc 12:36; Lc 20:42-43.
5. At 1:8.
6. At 3:19.
7. Mt25:34. 2Tss 1:4-8.
8. Ap 21:27; Is 66:24; Mt 25:41; Mc 9:44,
46,48; Mt 22:13.
9. 2Pd 3:11; 2Co 5:9-11; Lc 21:27-28; Jo
14:1, etc.
10. Is 7:14; Ef 1:22; Cl 1:18; Hb 9:11,15;
10:21; 1Jo 2:1; 1Tm 2:5.
12º
CAPÍTULO
A Fé no Espírito Santo
A Fé no Espírito Santo
Esta fé e a sua certeza não
procedem da carne e do sangue, isto é, de uma faculdade natural que há em nós,
mas são a inspiração do Espírito Santo,1 que nós confessamos ser
Deus, igual com o Pai e com seu Filho,2 que nos santifica e nos
conduz em toda verdade pela sua operação, sem o qual permaneceríamos para
sempre inimigos de Deus e ignorantes de seu Filho, Jesus Cristo. Porque por
natureza somos mortos, cegos e perversos, de maneira que nem sequer sentimos
quando somos aguilhoados, nem vemos a luz quando brilha, nem podemos assentir à
vontade de Deus quando ela se revela, se o Espírito de nosso Senhor não
vivificar o que está morto, não remover as trevas de nossas mentes e não dobrar
a rebelião dos nossos corações à obediência da sua bendita vontade.3
Dessa forma, assim como confessamos que Deus o Pai nos criou quando ainda não
existíamos,4 assim como o seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, nos
redimiu quando éramos seus inimigos,5 assim também confessamos que o
Espírito Santo nos santificou e regenerou, sem qualquer respeito a qualquer
mérito nosso - seja anterior seja posterior à nossa regeneração.6
Para deixar isto ainda mais claro: como de boa vontade renunciamos a qualquer
honra e glória pela nossa própria criação e redenção,7 assim também
o fazemos pela nossa regeneração e santificação, pois por nós mesmos nada de
bom somos capazes de pensar, mas só aquele que em nós começou a obra nos faz
continuar nela,8 para o louvor e glória de sua graça imerecida.9
1. Mt 16:17; Jo 14:26; 15:26; 16:13.
2. At 5:3-4.
3. Cl 2:13; Ef 2:1; Jo 9:39; Ap 3:17; Mt 17:17;
Mc 9:19; Lc 9:41; Jo 6:63; Mq 7:8; 1Rs 8:57-58.
4. Sl 100:3.
5. Rm 5:10.
6. Jo 3:5; Tt 3:5; Rm 5:8.
7. Fp 3:7.
13º CAPÍTULO
A Causa das Boas Obras
A Causa das Boas Obras
Assim, confessamos que a causa das
boas obras não é nosso livre arbítrio, mas o Espírito de Jesus, nosso Senhor,
que habita em nossos corações pela verdadeira fé, produz as obras, quais Deus
as preparou para que andássemos nelas. Por isso, com toda a ousadia afirmamos
que é blasfêmia dizer que Cristo habita nos corações daqueles em quem não há
nenhum espírito de santificação.1 Portanto, não hesitamos em afirmar
que os assassinos, os opressores, os cruéis, os perseguidores, os adúlteros, os
fornicários, os idólatras, os alcoólatras, os ladrões e outros que praticam a
iniqüidade, não têm nem verdadeira fé, nem qualquer porção do Espírito do
Senhor Jesus, enquanto obstinadamente continuarem na impiedade.
1. Ef 2:10; Fp 2:13; Jo 15:5; Rm 8:9.
2. Rm 7:15-25; Gl 5:17.
3. Rm 8:16.
4. Rm 7:24; 8:22.
5. Rm 6:12.
6. 2Tm 2:26.
7. Jo 15:5.
14º CAPÍTULO
As Obras que são Consideradas Boas diante de Deus
As Obras que são Consideradas Boas diante de Deus
Confessamos e reconhecemos que
Deus deu ao homem sua santa Lei, na qual se proíbem não só as obras que
desagradam e ofendem sua divina majestade, mas também se ordenam todas aquelas
que lhe agradam e que ele prometeu recompensar.1 Essas obras são de
duas espécies. Umas são praticadas para a honra de Deus e as outras para
benefício de nosso próximo, e ambas têm a vontade revelada de Deus como sua
garantia.
Ter um só Deus, adorá-lo e
honrá-lo, invocá-lo em todas as nossas dificuldades, reverenciar o seu santo
nome, ouvir a sua Palavra e crer nela, participar dos seus santos sacramentos,
são obras da primeira espécie.2 Honrar pai, mãe, príncipes,
governantes e poderes superiores, amá-los, sustentá-los, obedecer às suas
ordens - se estas não são contrárias aos mandamentos divinos - salvar as vidas
dos inocentes, reprimir a tirania, defender os oprimidos, conservar nossos
corpos limpos e santos, viver em sobriedade e temperança, tratar de modo justo
todos os homens tanto por palavras como por obras e, finalmente, reprimir
quaisquer desejos pelos quais nosso próximo recebe ou pode receber dano,3
são as boas obras da segunda espécie, as quais são mui gratas e aceitáveis a
Deus, visto que ele mesmo as ordenou.
1. Êx 20:3, etc.; Dt 5:6, etc.; 4:8.
2. Lc 10:27-28; Mq 6:8.
3. Ef 6:1,7; Ez 22:1,etc.; 1Co 6:19-20; 1Tss
4:3-7; Jr 22:3, etc.; Is 50:1, etc.; 1Tss. 4:6.
9. 1Jo 3:4.
15º
CAPÍTULO
A Perfeição da Lei e a Imperfeição do Homem
A Perfeição da Lei e a Imperfeição do Homem
Confessamos e reconhecemos que a
Lei de Deus é a mais justa, a mais imparcial e a mais santa, e o que ela
ordena, se perfeitamente praticado, iluminaria e poderia conduzir o homem à
felicidade eterna;1 mas a nossa natureza é tão corrupta, fraca e
imperfeita que jamais seríamos capazes de cumprir perfeitamente as obras da
Lei.2 Mesmo depois de sermos regenerados, se dissermos que não temos
pecados, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade de Deus não está em nós.3 Por
isso, importa que nos apeguemos a Cristo, em sua justiça e satisfação, pois ele
é o fim e o complemento da Lei e é por ele que somos libertados, de modo que,
embora não cumpramos a Lei em todos os pontos, contudo, estamos imunes da
execração de Deus.4 Deus o Pai contempla-nos no corpo de seu Filho
Jesus Cristo, aceita como perfeita a nossa obediência imperfeita5 e
cobre todas as nossas obras, que estão poluídas por muitas manchas,6
com a perfeita justiça do seu Filho.
1. Lv 18:5; Gl 3:12; 1Tm 1:8; Rm 7:12;
Sl 19:7-9; 19:11.
2. Dt 5:29; Rm 10:3.
3. 1Rs 8:46; 2Cr 6:36; Pv 20:9; Ec 7:22; 1Jo
1:8.
4. Rm 10:4; Gl 3:13; Dt 27:26.
5. Fp 2:15.
6. Is 64:6.
7. Lc 17:10.
16º
CAPÍTULO
Da Igreja
Da Igreja
Assim como cremos em um só Deus, Pai, Filho
e Espírito Santo, assim também firmemente cremos que houve desde o princípio,
há agora e haverá até o fim do mundo uma só Igreja, isto é, uma sociedade e
multidão de homens escolhidos por Deus, que corretamente o adoram e aceitam,
pela verdadeira fé em
Jesus Cristo ,1 o qual, só, é a Cabeça da Igreja,
assim como é ela o corpo e a esposa de Jesus Cristo. Essa Igreja é católica,
isto é, universal, porque compreende os escolhidos de todos os tempos, de todos
os reinos, nações e línguas, ou dos judeus ou dos gentios, que tenham comunhão
e associação com Deus o Pai, e com seu Filho, Jesus Cristo, pela santificação
do Espírito Santo.2 Por isso ela é chamada comunhão, não dos
profanos, mas dos santos, que, como cidadãos da Jerusalém celestial,3
gozam de benefícios inestimáveis: um só Deus, um só Senhor Jesus Cristo, uma só
fé e um só batismo.4 Fora dessa Igreja não há nem vida nem
felicidade eterna. Portanto, detestamos completamente a blasfêmia dos que
sustentam que os homens que vivem segundo à equidade e a justiça serão salvos,
não importando que religião professem. Pois, visto que sem Cristo não há vida
nem salvação,5 ninguém terá parte nesta senão aquele que o Pai deu
ao seu Filho, Jesus Cristo, e aqueles que no tempo oportuno a ele vierem,6
confessarem a sua doutrina e nele crerem (incluímos as crianças de pais
crentes).7 Essa Igreja é invisível, conhecida só de Deus - que é o
único a conhecer os que ele escolheu8 - e compreende, como já ficou
dito, tanto os escolhidos que já partiram, e é chamada geralmente a “Igreja
Triunfante”, como os que ainda vivem e lutam contra o pecado e Satanás, e os
que viverem daqui por diante.9
1. Mt 28:20; Ef 1:4.
2. Cl 1:18; Ef 5:23-24, etc.; Ap 7:9.
3. Ef 2:19.
4. Ef 4:5.
5. Jo 3:36.
6. Jo 5:24; 6:37; 6:39; 6:65; 17:6.
7. At 2:39.
8. 2Tm 2:19; Jo
13:18.
17º
CAPÍTULO
Da Imortalidade das Almas
Da Imortalidade das Almas
Os escolhidos, que
partiram, estão em paz e descansam de seus trabalhos;1 não que
durmam e estejam perdidos no esquecimento, como sustentam alguns fantasistas,
mas porque foram libertados de todo medo, de tormentos, e de toda tentação,
coisas a que nós e todos os escolhidos de Deus nesta vida estamos sujeitos.2
Por isso a Igreja é chamada Militante. Por outro lado, os réprobos e infiéis
falecidos padecem angústia, tormentos e penas inenarráveis.3 Nem
estes nem aqueles se encontram em tal sono que os impeça de sentir em que
situação estejam, como claramente atestam a parábola de Jesus Cristo em São Lucas 16,4
as suas próprias palavras na cruz ao ladrão5 e o clamor das almas,
sob o altar:6 “Senhor, que és justo e imparcial, até quando deixarás
sem vingança o nosso sangue entre os habitantes da terra?”
1. Ap 14:13.
2. Is 25:8; Ap 7:14-17; 21:4.
3. Ap 16:10-11; Is 66:24; Mc 9:44, 46, 48.
4. Lc 16:23-26.
18º
CAPÍTULO
Os Sinais pelos quais a Verdadeira Igreja será Distinguida da Falsa
e quem será Juiz da Doutrina
Os Sinais pelos quais a Verdadeira Igreja será Distinguida da Falsa
e quem será Juiz da Doutrina
Satanás vem trabalhando
desde o princípio para adornar sua pestilenta sinagoga com o título de Igreja de
Deus, e inflamando corações de crudelíssimos assassinos, para perseguirem,
perturbarem e molestarem a verdadeira Igreja e seus membros, como Caim com
Abel,1 Ismael com Isaque,2 Esaú com Jacó3 e todos
os sacerdotes dos judeus com Jesus Cristo e seus apóstolos que vieram depois
dele.4 Por isso, é necessário que a verdadeira Igreja, por sinais
claros e perfeitos, se distinga de tais sinagogas corruptas, a fim de que não
sejamos enganados e, para nossa própria condenação, recebamos e abracemos a
falsa pela verdadeira. As marcas, os sinais e as características pelos quais a
noiva imaculada de Cristo se distingue da impura e horrível meretriz - a Igreja
dos maldosos - nós afirmamos que não são nem a antiguidade, nem o título
usurpado, nem a sucessão linear, nem a multidão de homens que aprovam o erro.
Caim existiu primeiro do que Abel e Sete5 quanto à idade e ao
título; Jerusalém tinha precedência sobre todos os outros lugares da terra,6
pois nela os sacerdotes descendiam linearmente de Aarão, e maior era o número
que seguia os escribas, fariseus e sacerdotes do que aqueles que
verdadeiramente criam em
Jesus Cristo e aprovavam a sua doutrina.7 No
entanto ninguém de são juízo, supomos, sustentará que qualquer dos acima
nomeados era a Igreja de Deus.
Portanto, nós cremos, confessamos
e declaramos que as marcas da verdadeira Igreja são, primeiro e antes de tudo,
a verdadeira pregação da Palavra de Deus, na qual Deus mesmo se revelou a nós,
como nos declaram os escritos dos profetas e apóstolos; segundo, a correta
administração dos sacramentos de Jesus Cristo, os quais devem ser associados à
Palavra e à promessa de Deus para selá-las e confirmá-las em nossos corações;8
e, finalmente, a disciplina eclesiástica corretamente administrada, como
prescreve a Palavra de Deus, para reprimir o vício e estimular a virtude.9
Onde quer que essas marcas se encontrem e continuem por algum tempo - ainda que
o número de pessoas não exceda de duas ou três - ali, sem dúvida alguma, está a
verdadeira Igreja de Cristo, o qual, segundo a sua promessa, está no meio dela.10
Isto não se refere à Igreja universal de que falamos antes, mas às igrejas
particulares, tais como as que havia em Corinto,11 na Galácia,12
em Éfeso13 e noutros lugares onde o ministério foi implantado por
Paulo e às quais ele mesmo chamou igrejas de Deus.
Tais igrejas nós,
habitantes do reino da Escócia, confessando a Jesus Cristo, afirmamos ter em
nossas cidades, vilas e distritos reformados, porque a doutrina ensinada em
nossas igrejas está contida na Palavra de Deus escrita, isto é, no Velho e no
Novo Testamentos, nos livros originalmente reconhecidos como canônicos.
Afirmamos que neles todas as coisas que devem ser cridas para a salvação dos
homens estão suficientemente expressas.14 Confessamos que a
interpretação da Escritura não é atribuição de nenhuma pessoa particular ou
pública, nem mesmo de qualquer igreja em virtude de qualquer preeminência ou
prerrogativa, pessoal ou local, que uma tenha sobre a outra, mas esse direito e
autoridade só pertencem ao Espírito de Deus por quem as Escrituras foram
escritas.15
Quando surge, pois,
controvérsia acerca do exato sentido de qualquer passagem ou sentença da
Escritura, ou para a reforma de algum abuso na Igreja de Deus, devemos
perguntar não tanto o que os homens disseram ou fizeram antes de nós, como o
que o Espírito Santo, uniformemente, fala no corpo das Escrituras Sagradas e o
que Jesus Cristo mesmo fez e mandou.16 Pois todos reconhecem sem
discussão que o Espírito de Deus, que é o Espírito de unidade, não pode
contradizer-se a si mesmo.17 Assim, se a interpretação ou decisão ou
opinião de qualquer doutor da Igreja ou concílio é contrária à expressa Palavra
de Deus em qualquer outra passagem da Escritura, é certo que
essa interpretação não representa a mente e sentido do Espírito Santo,
ainda que concílios, reinos e nações a tenham admitido e aprovado. Não ousamos
admitir nenhuma interpretação contrária a qualquer artigo principal de fé, ou a
qualquer texto claro da Escritura, ou à regra do amor.
1. Gn 4:8.
2. Gn 21:9.
3. Gn 27:41.
4. Mt 23:34; Jo 15:18-20,24; 11:47,53; At
4:1-3; 5:17, etc.
5. Gn 4:1.
6. Sl 48:2-3; Mt 5:35.
7. Jo 12:42.
8. Ef 2:20; At 2:42; Jo 10:27; 18:37; 1Co 1:13;
Mt 18:19-20; Mc 16:15-16; 1C .
11:24-26; Rm 4:11.
9. Mt 18:15-18; 1Co 5:4-5.
10. Mt 18:19-20.
11. 1Co 1:2; 2Co 1:2.
12. Gl 1:2.
13. Ef 1:1; At 16:9-10; 18:1, etc.; 20:17, etc.
14. Jo 20:31; 2Tm
3:16-17.
19º
CAPÍTULO
A Autoridade das Escrituras
A Autoridade das Escrituras
Cremos e confessamos que as
Escrituras de Deus são suficientes para instruir e aperfeiçoar o homem de Deus,
e assim afirmamos e declaramos que a sua autoridade vem de Deus e não depende
de homem ou de anjo.1 Afirmamos, portanto, que os que dizem não
terem as Escrituras outra autoridade a não ser a que elas receberam da Igreja
são blasfemos contra Deus e fazem injustiça à verdadeira Igreja, que sempre
ouve e obedece à voz de seu próprio Esposo e Pastor, mas nunca se arroga o direito
de senhora.2
1. 1Tm
3:16-17.
20º
CAPÍTULO
Dos Concílios Gerais, seu Poder, sua Autoridade
e Causas de sua Convocação
Dos Concílios Gerais, seu Poder, sua Autoridade
e Causas de sua Convocação
Assim como não condenamos
irrefletidamente o que homens bons, reunidos em concílio geral legalmente
convocado, estabeleceram antes de nós, assim não admitimos sem justo exame tudo
o que tenha sido declarado aos homens em nome de concílio geral, pois é
manifesto que, sendo humanos, alguns deles manifestamente erraram, e isso em
questões de máximo peso e importância.1 Então, na medida em que um
concílio confirma sua decisão e seus decretos pela clara Palavra de Deus, nós
os respeitamos e acatamos. Mas, se homens, em nome de um concílio, pretendem
forjar-nos novos artigos de fé, ou tomar decisões contrárias à Palavra de Deus,
então devemos definitivamente negar como doutrinas de demônios tudo aquilo que
afasta nossas almas da voz do único Deus para levar-nos a seguir doutrinas e
decisões de homens.2
A razão por que os concílios
gerais se reuniram não foi para elaborar qualquer lei permanente que Deus não
tivesse feito antes, nem para formular novos artigos para a nossa fé, nem para
conferir autoridade à Palavra de Deus; muito menos para afirmá-la como Palavra
de Deus, ou para dela dar a verdadeira interpretação que não fora previamente
expressa pela sua santa vontade em sua Palavra.3 Mas a razão dos
concílios - pelo menos daqueles que merecem tal nome - foi em parte refutar
heresias e fazer confissão pública de sua fé a ser seguida pela posteridade, e
eles fizeram uma e outra coisa pela autoridade da Palavra de Deus escrita, sem
apelar a qualquer prerrogativa de que, pelo fato de serem concílios gerais, não
poderiam errar. Foi essa a razão primeira e principal dos concílios gerais, em
nossa opinião. Uma segunda foi constituir e observar boa administração na
Igreja, em que - como casa de Deus que é4 – convém que tudo seja
feito com decência e ordem.5 Não que pensemos que a mesma
administração ou ordem de cerimônias possa ser estabelecido para todas as
épocas, tempos e lugares; pois, como cerimônias que os homens inventaram, são
apenas temporais, e, assim, podem e devem ser mudadas quando se percebe que o
seu uso fomenta antes a superstição que a edificação da Igreja.
1. Gl 2:11-14.
2. 1Tm 4:1-3; Cl 2:18-23.
3. At 15:1, etc.
4. 1Tm 3:15; Hb 3:2.
21º
CAPÍTULO
Dos Sacramentos
Dos Sacramentos
Assim como os patriarcas sob a Lei, além
da realidade dos sacrifícios, tinham dois sacramentos principais, isto é, a
circuncisão e a páscoa, e aqueles que os desprezavam e negligenciavam não eram
contados entre o povo de Deus,1 assim nós também reconhecemos e
confessamos que agora, na era do Evangelho, só temos dois sacramentos
principais, instituídos por Cristo e ordenados para uso de todos os que desejam
ser considerados membros de seu corpo, isto é, o Batismo e a Ceia ou Mesa do
Senhor, também chamada popularmente Comunhão do seu Corpo e do seu Sangue.2
Esses sacramentos, tanto do Velho Testamento como do Novo, foram instituídos
por Deus, não só para estabelecer distinção visível entre o seu povo e os que
estavam fora da Aliança, mas também para exercitar a fé dos seus filhos e, pela
participação de tais sacramentos, selar em seus corações a certeza da sua
promessa e daquela associação, união e sociedade mui felizes que os escolhidos
têm com seu Cabeça, Jesus Cristo.
E, assim, condenamos inteiramente
a vaidade dos que afirmam que os sacramentos não são outra coisa que meros
sinais desnudos. Muito ao contrário, cremos seguramente que pelo Batismo somos
enxertados em Jesus
Cristo , para nos tornarmos participantes de sua justiça, pela
qual todos os nossos pecados são cobertos e perdoados; cremos também que na
Ceia corretamente usada, Cristo se une de tal modo a nós, que se torna o
próprio alimento e sustento de nossas almas.3 Não que imaginemos
qualquer transubstanciação do pão no corpo natural de Cristo e do vinho em seu
sangue natural, como têm ensinado perniciosamente os pontifícios e como crêem
para sua condenação; mas essa união e associação que temos com o corpo e o
sangue de Jesus Cristo no uso reto dos sacramentos se realiza por meio do
Espírito Santo, que pela verdadeira fé nos transporta acima de todas as coisas
visíveis - que são carnais e terrenas - e nos habilita a alimentar-nos do corpo
e do sangue de Jesus Cristo, uma vez partido e derramado por nós, e que agora
está no céu e se apresenta por nós na presença do Pai.4 Não obstante
a distância entre o seu corpo agora glorificado no céu e nós mortos aqui na
terra, contudo cremos firmemente que o pão que partimos é a comunhão do corpo
de Cristo e o cálice que abençoamos é a comunhão do seu sangue.5
Assim, confessamos, e cremos, sem nenhuma dúvida, que os fiéis, mediante o uso
reto da Ceia do Senhor, comem o corpo e bebem o sangue de Jesus Cristo, porque
ele permanece neles e eles nele; eles, até, se tornam carne da sua carne e osso
dos seus ossos6 de maneira tal que, como a Divindade eterna conferiu
à carne de Jesus Cristo vida e imortalidade,7 assim também o comer e
o beber da carne e do sangue de Jesus Cristo nos confere essas prerrogativas.
Declaramos, contudo, que isto não nos é dado só na ocasião do sacramento, nem
pela sua ação ou virtude; mas afirmamos que os fiéis, mediante o uso certo da
Ceia do Senhor, têm com Jesus Cristo,8 uma união que o homem natural
não pode compreender.
1. Gn 17:10-11; Êx 23:3,etc.; Gn
17:14; Nm 9:13.
2. Mt 28:19; Mc 16:15-16; Mt 26:26-28; Mc
14:22-24; Lc 22:19-20; 1Co 11:23-26.
3. 1Co 10:16; Rm 6:3-5; Gl 3:27.
4. Mc 16:19; Lc 24:51; At 1:11; 3:21.
5. 1Co 10:16.
6. Ef 5:30.
7. Mt 27:50; Mc 15:37; Lc 23:46; Jo 19:30.
8. Jo 6:51; 6:53-58.
22º
CAPÍTULO
Da Reta Administração dos Sacramentos
Da Reta Administração dos Sacramentos
Duas coisas são necessárias
para a reta administração dos sacramentos. A primeira é que eles devem ser
ministrados por ministros legítimos; e declaramos que tais são apenas os que
são designados para a pregação da Palavra, em cujos lábios pôs Deus a Palavra
de exortação e que estes são os que são para isso legitimamente escolhidos por
alguma Igreja. A segunda é que devem ser ministrados com os elementos e da
maneira que Deus estabeleceu; de outra forma, afirmamos que deixam de ser os
sacramentos corretos de Jesus Cristo.
1. Mt 26:26; Mc 14:22; Lc 22:19; 1Co
11:24.
2. 1Co 11:24-26.
23º CAPÍTULO
A quem Interessam os Sacramentos
A quem Interessam os Sacramentos
Reconhecemos e sustentamos
que o batismo se aplica tanto aos filhos dos fiéis como aos fiéis adultos,
dotados de discernimento, e assim condenamos o erro dos Anabatistas, que negam
o batismo às crianças até que elas tenham compreensão e fé.1 Mas
sustentamos que a Ceia do Senhor é somente para aqueles que pertencem à família
da fé e podem examinar-se e provar-se a si mesmos, tanto em sua fé como no
dever da fé para com o próximo. Os que sem fé ou permanecendo em dissensão com
os seus irmãos comem e bebem naquela santa mesa comem indignamente.2
Esta a razão por que os pastores da nossa Igreja fazem exame público e
particular, tanto no conhecimento como na conduta e na vida, daqueles que devem
ser admitidos à Ceia do Senhor Jesus.
1. Cl 2:11-12; Rm 4:11; Gn 17:10; Mt
28:19.
2. 1Co 11:28-29.
24º CAPÍTULO
Do Magistrado Civil
Do Magistrado Civil
Confessamos e reconhecemos
que impérios, reinos, domínios e cidades foram diferenciados e ordenados por
Deus; o poder e a autoridade neles - dos imperadores nos impérios, dos reis nos
reinos, dos duques e príncipes em seus domínios, e dos outros magistrados nas
cidades – são uma santa ordenança de Deus destinada à manifestação de sua
própria glória e à singular utilidade do gênero humano.1 Por isso
afirmamos que todos os que procuram levantar ou confundir todo o estado do
poder civil, já há muito estabelecido, não são apenas inimigos da humanidade,
mas lutam impiamente contra a vontade manifesta de Deus.2
Além disso, confessamos e
reconhecemos que todos os que foram colocados em autoridade devem ser amados,3
honrados, temidos e tidos na mais respeitosa estima, pois fazem as vezes de
Deus, e em seus concílios o próprio Deus se assenta e julga.4 São
eles os juizes e príncipes a quem Deus entregou a espada para o louvor e defesa
dos bons e para justo castigo e vingança de todos os malfeitores.5
Além disso, afirmamos que a purificação e preservação da religião é, sobretudo
e particularmente, dever de reis, príncipes, governantes e magistrados. Não foram
eles ordenados por Deus apenas para o governo civil, mas também para manter a
verdadeira religião e para suprimir toda idolatria e superstição. Pode-se ver
isso em Davi,6 Josafá,7 Josias,8 Ezequias9
e outros altamente recomendados pelo seu singular zelo.
Por isso, confessamos e
declaramos que todos quantos resistem à suprema autoridade, usurpando o que
pertence ao ofício desta, resistem a essa ordenação de Deus e, portanto, não
podem ser considerados inculpáveis diante dele. Afirmamos mais que, enquanto
príncipes e governantes vigilantemente cumprirem sua função, quem quer que lhes
recusar auxílio, conselho e assistência nega-o a Deus, que pela presença do seu
lugar-tenente lhes solicita isso.
1. Rm 13:1; Tt 3:1; 1Pd 2:13-14.
2. Rm 13:2.
3. Rm 13:7; 1Pd 2:17.
4. Sl 82:1.
5. 1Pd 2:14.
6. 1Cr 22-26.
7. 2Cr 17:6, etc.; 19:8, etc.;
8. 2Cr 29-31.
25º CAPÍTULO
Os Dons Livremente Concedidos à Igreja
Os Dons Livremente Concedidos à Igreja
Embora a Palavra de Deus
verdadeiramente pregada, os sacramentos corretamente ministrados e a disciplina
executada segundo a Palavra de Deus sejam sinais certos e incontestáveis da
verdadeira Igreja, contudo nem por isso julgamos nós que toda pessoa,
individualmente, nessa comunidade seja um membro escolhido de Jesus Cristo.1
Reconhecemos e confessamos que o joio pode ser semeado com o bom trigo, e joio
e palha crescem em grande abundância no trigal, isto é, que réprobos podem
unir-se às congregações dos escolhidos e comungar com eles nos benefícios
externos da Palavra e dos sacramentos. Mas, como eles só confessam a Deus por
um pouco com seus lábios e não com seus corações, desviam-se e não continuam
até o fim.2 Portanto, não participam dos frutos da morte,
ressurreição e ascensão de Cristo.
Levanta-te, ó Senhor, e sejam
confundidos todos os teus inimigos; fujam da tua presença os que odeiam o teu
divino Nome. Dá aos teus servos forças para proclamarem a tua Palavra com
ousadia, e que todas as nações se apeguem ao verdadeiro conhecimento de ti.
Amém.12
1. Mt 13:24,
etc.
9. Ap 14:10; Rm 2:6-10.
10. Fp 3:21.
11.1Co 15:24,28.
12. Nm 10:35; Sl 68:1; At 4:29.
___________________
* Revisão: Pr. Fanklin Ferreira.
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