A CONFISSÃO POSITIVA E AS ENFERMIDADES
A seguinte declaração de Jesus deve causar algum incômodo aos filhos da
Confissão Positiva: “As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o
Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8.20).
Como é que Jesus fez tal declaração negativa? Ele desconhecia que as palavras
têm poder? Que o que falamos se transforma em realidade? Que confirmar miséria
é duvidar da providência divina? É dar brecha ao diabo? É claro que Jesus
desconhecia tal doutrina. A doutrina dEle era a da Verdade. Jesus sabia que nem
sempre o que é positivo é verdadeiro. Não procurava enganar a Si próprio. Se um
“positivista”, por algum motivo, for morar debaixo de uma ponte dirá: “Estou
morando numa linda mansão com piscina de água cristalina”.
Jesus disse que Pedro O negaria três vezes. Aconteceu exatamente como afirmara,
apesar da confissão positiva de Pedro (Lc 22.34, 57-60). Que coisa! Como é que
o Mestre fez essa confissão negativa? Falou negativo, deu negativo. Em outra
ocasião, Pedro disse a Jesus, em tom de branda repreensão, que de modo nenhum
Ele iria padecer em Jerusalém, nas mãos dos principais sacerdotes e escribas.
Ouviu uma dura repreensão: “Para trás de mim, Satanás, que me serves de
escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são
dos homens” (Mt 16.22,23). Jesus disse que Pedro estava agindo de modo
semelhante ao diabo, querendo impedir Sua morte expiatória. Pedro já deveria
ter aprendido que o positivo para Jesus era sempre o verdadeiro, e não o falso.
Se ele disse que seria morto Jerusalém, é porque Ele seria morto em Jerusalém.
O rei Josafá andou na contramão da Confissão Positiva. Fez tudo ao contrário.
Em vez de levantar-se e exigir que o diabo saísse do seu caminho; em vez de
“confessar a Palavra de Deus” que sempre prometeu livramento ao seu povo; em
vez de “decretar” a sua vitória, “pôs-se a buscar o Senhor, e apregoou jejum em
todo o Judá”, e disse: “Em nós não há força perante esta grande multidão que
vem contra nós, e não sabemos o que faremos; porém os nossos olhos estão postos
em ti” (2 Cr 20.3,12). As palavras de Deus ainda estavam bem conservadas no
coração daquele rei: “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e
orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu
ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra” (2 Cr
7.14).
A Bíblia nos ensina que nossas confissões positivas não podem contrariar a
verdade dos fatos. Se um crente está com um câncer nos intestinos, com
metástase no estômago e no fígado, não pode simplesmente afirmar que são apenas
sintomas ou artimanhas do diabo para que haja confissão negativa. E quando o
crente morre é porque morreu mesmo; não são sintomas da morte. Se o apóstolo
Paulo fosse um “positivista”, teria negado a existência de um espinho na sua
carne.
Teria dito: “Saia de cima de mim, Satanás. Você quer me enganar com seus
sintomas, mas você não me engana não. Ouviu bem, seu safado? Arrume tudo o que
é seu e esqueça meu endereço. O Senhor já levou as minhas dores e enfermidades.
Já fui completamente curado por Suas pisaduras”.
Porém, com humildade, e reconhecendo a realidade da situação, revelou que “orei
[pediu] ao Senhor por três vezes” para que desviasse de mim esse espinho. A
reposta de Deus foi um “NÃO” bem grande. Os “positivistas” não querem nem ouvir
falar nessa “fraqueza” de Paulo. O apóstolo era um pessimista? Ou era porque
ele, seguindo o exemplo de Cristo, sempre falava a verdade? Falava o que era
verdadeiro sem perder a confiança: “Como a verdade de Cristo está em mim, esta
glória não me será impedida nas regiões da Acaia” (2 Cr 11.10). De modo algum
Paulo seria admitido no rol dos arautos da Confissão Positiva. Como é que um
crente que já foi sarado pode sofrer tantas adversidades? Mas Paulo se gloriava
nas fraquezas: “Sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas
perseguições, nas angústias por amor a Cristo. Porque quando estou fraco então
sou forte” (2 Co 12.10). Os arautos ensinam e afirmam: “Não sou fraco, não fico
doente, não passo necessidade, então sou forte”.
Não podemos confessar nossas doenças porque elas não existem, porque são apenas
sintomas colocados pelo diabo para nos enganar? O Apóstolo desconhecia essa
estratégia do inimigo. Não negou que estava doente quando pregou pela primeira
vez aos gálatas (Gl 4.13-14) e confessou a doença de Trófimo e a freqüente
enfermidade de Timóteo (2 Tm 4.20; 1 Tm 5.23).
Deus é bom, não castiga ninguém com doenças nem que seja para provar a fé de
seus filhos? Leiamos: 1) “E disse-lhe o Senhor: Quem fez a boca do homem? Ou
quem fez o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou eu, o Senhor? (Êx
4.11). 2) “E o Senhor feriu o rei, e ficou leproso até ao dia da sua morte” (2
Rs 15.5). 3) “A lepra lhe saiu na testa [de Uzias]... visto que o Senhor o
ferira” (2 Cr 26.19,20). 4) “Miriã ficou leprosa como a neve” porque “a ira do
Senhor se acendeu” contra ela” (Nm 12.9-10). 5) Jó “era homem íntegro, reto e
temente a Deus e se desviava do mal”; foi chamado por Deus de “meu servo”, mas
Deus permitiu que a destruição viesse sobre ele: perdeu seus filhos e seus
bens, e ficou coberto de “úlceras malignas, desde a planta do pé ao alto da
cabeça” (Jó 1.1,8,12; 2.5).
Deus sempre atende ao que lhe pedimos? Deus disse “não” a Moisés quando este
pediu para entrar em Canaã: “Rogo-te que me deixes passar, para que veja esta
boa terra. Porém o Senhor não me ouviu. Antes o Senhor me disse: Basta, não me
fales mais deste assunto” (Dt 3.25-26). É porque esse Deus era do Antigo Testamento?
Mas na Nova Aliança Ele também não atendeu ao pedido de Paulo na questão do
espinho na carne (2 Co 12.7-9). Hoje em dia, Ele diz não a muitos de seus
filhos, porque muitas vezes pedimos coisas inconvenientes, ou que serão pedra
de tropeço no futuro. Graças a Deus não somos atendidos em tudo que Lhe
pedimos. O melhor é dizermos “se Deus quiser”, pois Ele sabe o que é melhor
para nós (Tg 4.15). A Confissão Positiva condena com veemência a oração em que
se diz “se for da Sua vontade”. Mas vejam:
“Porque melhor é que padeçais fazendo bem, se a vontade de Deus assim o quer,
do que fazendo o mal” (1 Pe 3.17; cf 4.19). “Esta é a confiança que temos nele,
que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve” (1 Jo
5.14). Os crentes são exortados a orarem para que a vontade de Deus seja feita
(Mt 6.10; 26.42. Lc 11.2; Rm 15.30-32; Tg
4.13-15).
Comparemos
agora esses fatos bíblicos com o pronunciamento de alguns arautos da Confissão
Positiva:
“Jesus era sempre positivo em Sua mensagem” (E.W.Kenyon). Positivo ou sincero?
A conotação do Movimento é diferente. Confessar positivo é dizer as coisas boas
segundo as promessas da Bíblia. Exemplo: se alguém está doente, nunca deve
confessar que está doente, mas dizer que já foi curado. Se um casal crente
tiver um filho paraplégico, deve dizer que a criança está curada. Levar uma
criança ao médico, ainda que os sintomas nos digam que se trata de grave
enfermidade, é não confiar na Palavra de Deus.
Assim, podemos dizer que Deus foi sincero, e não positivo, quando disse ao
primeiro casal: “Porque no dia em que dela comeres certamente morrerás” (Gn
2.17). E quando disse à mulher: “Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua
conceição; com dor darás à luz filhos” (3.16). E quando disse a Adão: “Maldita
é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida”
(v.17).
“Nosso problema é que oramos e confessamos muito., mas não mandamos. É gostoso
mandar!...
Jesus pagou o preço para fazermos isso...” (Kenneth Hagin Jr). Isto é, orar muito não convém; confessar nossas
fraquezas, idem. Mandar seria o melhor caminho. Que arrogância! Tal ensino
destoa dos termos da oração-modelo ensinada por Jesus: “Pai nosso, que estais
nos céus, seja feita a tua vontade... não nos deixes cair em tentação, livra-nos
do mal...”. Na relação com o Pai, Jesus não mandava: “Se queres, passa de mim
este cálice” (Lc 22.42).
“Não ore mais por dinheiro... Exija tudo o que precisar. Deus quer que seus
filhos usem a melhor roupa, dirijam os melhores carros e tenham o melhor de
tudo... simplesmente exija o que você precisa” (Kenneth Hagin). O tema
principal da Confissão Positiva é dinheiro, sucesso, prosperidade para viver
bem aqui e agora. Muito pouco ou quase nada se fala em arrependimento e perdão,
uma das primeiras recomendações de Pedro, no início da Igreja (At 2.38).
“Satanás, espíritos demoníacos da AIDS, eis que eu os amarro! Vocês, espíritos
demoníacos do câncer, da artrite, das infecções, da enxaqueca, da dor – saiam
já desse corpo. Espíritos de enfermidades que atormentam o estômago, Satanás,
eu amarro você, no nome de Jesus” (Roberto Tilton, na televisão). Algumas
dessas enfermidades não têm nada a ver com demônios, mas com desejos
pecaminosos da carne. “Infelizmente, porque esses vícios humanos [como o de fumar],
como a lascívia, o egoísmo e a glutonaria são tidos como provocados pelos
demônios, os crentes se condicionam a interpretá-los como ataques satânicos,
fugindo à sua responsabilidade pessoal.
Quando um homem casado comete adultério, ele pode racionalizar convenientemente
o seu pecado, ser exorcizado do “demônio” da lascívia, e seguir seu caminho sem
ao menos descobrir seu verdadeiro problema espiritual – que é a raiz de tudo –
e a única e real solução – o arrependimento” (Hank Hanegraaff).
“Quase a cada dia um novo personagem da Fé parece emergir do nada. Entretanto,
todos têm uma coisa em comum: as conseqüências de seus ensinos são letais.
Nalguns casos, o dano é físico; noutros, espiritual, e, tragicamente, em alguns
poucos, o dano é múltiplo, tanto um como o outro. Só podemos orar para que a
Igreja cristã finalmente reconheça os proponentes da Fé [Confissão Positiva]
como o que de fato são: falsos mestres que estão desviando seus seguidores da
verdadeira fé para o reino das seitas” (Hank Hanegraaff, Cristianismo em Crise,
p.393).
“Recuso-me a considerar o meu corpo, recuso-me a ser movido pelo que vejo e
pelo que sinto...Escolho ouvir sua Palavra, em vez de dar crédito ao que meu
corpo tenta dizer... Tenho visto pessoas morrerem, mas eu continuo firme,
dizendo: `Bendito seja Deus, você não vai morrer! E de qualquer jeito morrem!´
Mas permaneço alegre porque resisti” (Kenneth Copeland). Aí temos uma confissão
negativa da Confissão Positiva. Ou seja: há pessoas que adoecem e morrem,
apesar da oração, apesar de “por suas pisaduras fostes sarados”. Copeland não
deveria permanecer alegre ao ver os outros morrerem. Deveria se recolher em
arrependimento e reconhecer que acima de tudo está a soberania de Deus, que não
promete cura instantânea e automática para todos os que passam à condição de
filhos de Deus (Jo 1.12).
“A fé em Deus – fé que parte do coração – acredita na Palavra de Deus, sem
importar quais sejam as evidências físicas. Uma pessoa que busque cura deveria
olhar para a Palavra de Deus e não para seus sintomas. Ela deveria dizer: “Sei
que estou curada, porque a Palavra diz que pelas suas pisaduras eu fui curada”
(Kenneth Hagin).
Seguindo os passos doutrinários de Hagin e de outros “positivistas”, o
televangelista brasileiro R.R. Soares assim resume suas convicções: É errada a
idéia que “o Senhor Deus é quem cura, e que Ele é o responsável para que os
milagres ocorram. Enquanto você esperar que Ele venha curá-lo, provavelmente
continuará sofrendo. Se você descobre que certa coisa é sua, você não precisará
de nenhuma fé para exigir aquilo que sabe que é seu. Você simplesmente tomará
posse do que é seu. Você deve exigir o cumprimento do seu direito imediatamente
e, logicamente, ficar curado. Você deve “exigir os seus direitos em Cristo.
Usar a frase `se for a Tua vontade´ em oração pode parecer espiritual, e
demonstrar atitude piedosa de quem é submisso à vontade do Senhor, mas além de
não adiantar nada, destrói a própria oração. Não é pela misericórdia de Deus
que você poderá ser curado, mas sim que você tem o direito de exigir a sua
cura. É só você crer no que o Senhor declara e exigir a Sua bênção [exigir de
Deus a bênção], ordenando ao mal que saia do seu corpo. Você não precisa orar,
jejuar ou pedir a quem quer que seja para orar por você. Segundo estas
declarações [Is 53.4,5] você pode ter certeza absoluta que Deus já o curou.
Você é o único responsável por sua cura. Você deve exigir o cumprimento do seu
direito imediatamente e, logicamente, ficar curado” (R.R.Soares, “O Direito de
Desfrutar Saúde”, pp. 6,7,8,10,17-19,23,31).
“Aquilo que você diz invariavelmente torna-se no que você será ou terá. Falar
em fracasso, comentar o quanto você sofre, confessar o que o mal está lhe
fazendo, é dar aos poderes das trevas o senhorio da sua vida. As suas palavras
farão de você um vencedor ou um derrotado. São as nossas palavras que nos darão
saúde, ou que nos manterão enfermos. Os sintomas não significam que você já
esteja doente. Quando você fala dos seus sofrimentos e dissabores... você faz
com que o inimigo tenha mais força e controle sobre a sua vida. Quem confessa
isso está semeando as piores sementes da destruição. Quando o diabo lhe trouxer
qualquer sintoma de doença ou de qualquer outra coisa, recuse receber e
resista-lhe usando a Palavra do Senhor. Assim, você não ficará enfermo. É
impossível alguém confessar fracassos e derrota e viver vitoriosamente. Não
adianta ficar orando, jejuando e pedindo ao Senhor que o vença [o diabo] por
você”.
(R.R.Soares, A Sua Saúde Depende do que Você Fala, pp. 5,6,9,10,42,43).
Os bereanos foram chamados de “mais nobres” em relação aos de Tessalônica
“porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se
estas coisas eram assim” (At 17.11).
Sejamos tão nobres quanto aqueles irmãos de Beréia. Façamos um resumo da
doutrina apresentada por R. R. Soares: 1) Não é Deus quem cura. 2) A ocorrência
de milagres não é responsabilidade de Deus. 3) É inútil ficar esperando por
Deus. 4) O crente não precisa de fé para exigir o que é seu. 5) O crente deverá
simplesmente exigir seus direitos em Cristo. 6) Colocar-se à mercê da vontade
de Deus anula a oração. 7) A cura não decorre da misericórdia de Deus, mas do
direito a que fizemos jus, o qual deve ser exigido. 8) Basta exigir que o mal
saia do corpo, sem necessidade de orar ou jejuar, ou pedir oração a qualquer
pessoa. 9) As doenças que os crentes julgam ter são apenas sintomas. 10) Quem
fala de seus sofrimentos e dissabores está semeando as piores sementes da
destruição.
Essa doutrina é estranha à Bíblia. Os expositores da teologia da prosperidade
têm a liberdade de criar dia após dia novas teses, conceitos, dogmas, modismos
sem fim. Agora mesmo – escrevo em setembro de 2004 – a Igreja Universal lançou
a campanha para troca do anjo da guarda. Os cristãos brasileiros foram
convidados a comparecerem aos templos daquela Igreja para os procedimentos
legais com vistas à substituição do seu anjo guardião. Mas voltemos ao que foi
ensinado pelo missionário, que tentou sintetizar em dois ou três livros a
doutrina da teologia da prosperidade.
Para contradizer esses ensinos, vejamos, em primeiro lugar, a carta de Paulo
aos filipenses: “Mas confio no Senhor que também eu mesmo, em breve, irei ter
convosco. Julguei, contudo, necessário mandar-vos Epafrodito, meu irmão, e cooperador,
e companheiro nos combates...
porquanto tinha muitas saudades de vós todos e estava muito angustiado de que
tivésseis ouvido que ele estivera doente. E, de fato, esteve doente e quase à
morte, mas Deus se apiedou dele e não somente dele, mas também de mim, para que
eu não tivesse tristeza sobre tristeza” (Fp 2.24-27).
Primeiro, deduz-se desse relato que crente adoece e poderá chegar a morrer em
conseqüência da doença. Paulo também declara que Timóteo sofria de freqüentes
enfermidades no estômago (1 Tm 5.23) e que ele mesmo orou três vezes ao Senhor
para que se livrasse de um espinho na carne, e o Senhor não o atendeu (2 Co
12.7-10).
Segundo, vimos que Epafrodito e Timóteo não estavam com sintomas de doença, mas
estavam enfermos mesmo.
Terceiro, Paulo não apelou para exigir seus direitos em Cristo ou para mandar o
diabo sair nem dele nem de seus discípulos. Pelo contrário, considerou que a
cura de Epafrodito foi resultado da misericórdia de Deus (“Deus apiedou-se
dele”).
Quarto, o texto nos revela que Paulo sempre esperava que a vontade de Deus
prevalecesse. Isto está ainda mais claro na questão do espinho na carne.
Quinto, vê-se que não se pode interpretar em termos absolutos o versículo 22,
capítulo 21 de Mateus: “E tudo o que pedirdes em oração, crendo, o recebereis”
(v.Mc 11.24). Vimos que Deus disse “não” para Paulo e Timóteo e “sim” para
Epafrodito. É que nossos pedidos esbarram na soberana vontade de Deus, que pode
agir ou deixar de agir, atender ou não atender.
Sexto, vimos que em nenhum momento Paulo julgou que a enfermidade de Epafrodito
e Timóteo fosse de origem maligna, embora o apóstolo fosse dotado de
discernimento para detectar tal investida (v.Atos 13.8-11; 16.16-17).
Sétimo, deduz-se que a vontade de Deus prevaleceu nas enfermidades desses dois
irmãos, pois Deus, “pelas mãos de Paulo, fazia maravilhas extraordinárias, de
sorte que até os lenços e aventais levavam do seu corpo aos enfermos, e as
enfermidades fugiam deles, e os espíritos malignos saíam” (At 19.11-12). Apesar
de tais poderes, não pôde curar seus queridos companheiros. Entendemos portanto
que tudo o que pedirmos receberemos... se for da vontade de Deus.
Filipenses 2.24-17 talvez não tenha sido suficiente para convencer os
contradizentes (Tt 1.9). Vamos então obter mais subsídios no livro de Tiago,
escrito “para encorajar os crentes judeus que enfrentavam várias provações, que
punham sua fé à prova, para corrigir crenças errôneas a respeito da natureza da
fé salvífica”. Não há dúvida quanto aos destinatários do livro: “Doze tribos da
Dispersão” (Tg 5.1); “irmãos” (5.2,19; 2.1,5; 5.7,9,10,12). Vejamos o que diz:
“Está alguém entre vós aflito? Ore. Está alguém contente? Cante louvores. Está
alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o
com azeite em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o
levantará... Confessai as vossas culpas uns aos outros e orai uns pelos outros,
para que sareis; a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos” (Tg
5.13-16). Deduz-se que:
Primeiro, em qualquer situação devemos falar com Deus e rogar por Sua
misericórdia. Segundo, o pedido é feito, mas quem levanta o enfermo é o Senhor,
se Ele quiser. Não é a nossa atitude isolada de levantar-se e exigir nossos
direitos em Cristo Jesus. Terceiro, contrariando a doutrina da prosperidade,
Tiago recomenda pedir oração a outro irmão, “orai uns pelos outros”.
Falta mais alguma coisa. A Confissão Positiva diz que se confessarmos nossos
problemas estaremos semeando destruição e dando brecha para o diabo nos
dominar. Vamos recorrer em primeiro lugar ao Senhor, que revelou não ter onde
repousar a cabeça, como já dito no início deste trabalho (Mt 8.20). E mais uma
vez recorremos a Paulo, que de modo algum seria aceito como arauto da Confissão
Positiva. Além de não negar seu “espinho na carne”; de não ocultar a doença em
Timóteo e Epafrodito, ele jogou pesado ao falar de suas vicissitudes. Vejamos.
“São ministros de Cristo? Eu ainda mais; em trabalhos, muito mais; em açoites,
muito mais; em perigo de morte, muitas vezes. Recebi dos judeus cinco
quarentena de açoites menos um; três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui
apedrejado, três vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei no abismo; em
viagens, muitas vezes; em perigos de rios, de salteadores; em perigos dos da
minha nação, em perigos dos gentios, na cidade, no deserto, no mar, entre
falsos irmãos; em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede,
em jejum, muitas vezes, em frio e nudez” (2 Co 11.23-27).
Como o próprio nome diz, a Confissão Positiva ensina que devamos falar
positivamente, confessando a Palavra. O Espírito Santo não orientou Paulo nessa
direção. Ele, segundo essa doutrina, deveria ter dito: “Nunca passei fome nem
sede, nem sofri açoites nem perseguições porque a Palavra diz que Deus supre as
minhas necessidades. Porque Deus não deseja que nenhum filho seu sofra; porque
Deus é amor dEle não pode se originar o mal, por isso eu vivo num mar de rosas,
e a minha casa tem uma piscina de água mineral e empregados à minha disposição.
Eu sou um homem próspero”. Nada disso. Paulo falou simplesmente a verdade, sem
receio de que suas “poderosas” palavras o colocasse sob o senhorio de forças
malignas. Não satisfeito com o relato de suas mazelas, Paulo ainda declarou que
se gloriava em suas fraquezas (v.30), que sentia “prazer nas fraquezas, nas
injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de
Cristo. Porque, quando estou fraco, então, sou forte” (2 Co 12.10). Jamais um
discípulo da Confissão Positiva diria tamanha asneira. Falaria assim: “Sinto
prazer na minha boa vida, quando estou no meu carro importado, comendo em bons
restaurantes, ganhando muito dinheiro. Porque, enquanto sou próspero, sou
forte”.
Nossas palavras têm poder? Aquilo que falamos se concretiza? Não aconteceu com
Jonas. Ele preferiu morrer a cumprir a missão em Nínive. Foi preciso passar
pelo vale da sombra da morte para compreender que Deus é soberano e faz o que
lhe agrada (Jn 1.12,17): “Agindo eu, quem o impedirá?” (Is 43.13). Eu mesmo,
durante a doença de minha esposa, pedi que, se fosse da vontade de Deus levá-la
para Si, levasse a mim. Eu a substituiria na morte. Deus tinha outro plano. Ele
não me atendeu.
Pelas suas pisaduras fomos sarados
A principal coluna em que a Confissão Positiva se sustenta, com relação às
enfermidades, é Isaías 53.4-5, como segue: “Verdadeiramente ele tomou sobre si
as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si... Mas ele foi ferido
pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades. O castigo que nos
traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”. A partir
daí, os arautos defendem que, ao sermos aceitos como filhos de Deus pela fé em
Jesus Cristo, estamos automaticamente livres de qualquer espécie de doença; que
a nossa conquista de saúde perfeita se deu na cruz; que não precisamos orar,
ter fé ou pedir que a vontade de Deus seja feita; que cabe a cada um se
levantar e tomar posse da bênção e exigir de Deus seus direitos, e, do diabo,
que saia do nosso corpo. Em síntese, é assim que a Confissão Positiva apresenta
sua doutrina. Benny Hinn tenta resumir a questão assim: “Se seu corpo pertence
a Deus, não pode pertencer às enfermidades”. Kenneth Copeland: “Depende de você
decidir se quer ou não viver sofrendo enfermidades”. Kenneth Hagin: “Faz grande
diferença aquilo que alguém pensa. Acredito que esse é o motivo pelo qual
muitas pessoas estão enfermas. O que faz um crente ser bem-sucedido é o
pensamento certo, a crença certa e a confissão certa”.
Devemos aceitar pacificamente tais ensinos, ou fazermos como os bereanos? A
segunda opção é a mais correta, pois tudo deve ser examinado e passado pela
peneira da Palavra.
Vejamos a experiência pessoal. Você conhece ou teve notícias de crentes
verdadeiros que estão ou estiveram doentes? Muitos, não é verdade? Você
conheceu crentes fiéis que morreram em conseqüência de determinada doença,
apesar das orações e vigílias? Muitos, não é verdade? Talvez o próprio leitor
esteja lutando contra determinado mal, apesar de se levantar, de exigir, de
repreender.
As evidências nos revelam que os crentes adoecem e eventualmente morrem em
conseqüência das enfermidades adquiridas. Isto é um fato. Outra comprovação,
além das nossas experiências pessoais e dos exemplos bíblicos, já relatados
(Paulo, Timóteo, Epafrodito), é a que lemos no livro de Tiago, capítulo cinco,
já citado. Ali se diz que crente pode adoecer, e, quando, adoece, o melhor é
pedir oração (vv. 14,15 e 16).
Tais evidências nos levam a refletir no seguinte: a) Se “pelas suas pisaduras
fomos sarados”, por que as doenças ocorrem? b) As doenças relatadas na Bíblia e
as que conhecemos por experiências pessoais são apenas sintomas? Elas não
existem e nunca existiram? c) Se nossas doenças foram levadas por Jesus há dois
mil anos, por que Deus na Sua Palavra, pela carta de Tiago aos crentes,
recomenda que estes chamem os presbíteros para receberem oração? d) Por que a
doutrina de não pedir oração, de não aceitar, de decretar, estrebuchar, exigir
somente foi dada aos santos da Confissão, depois de dois mil anos? e) Tiago não
foi inspirado pelo Espírito Santo e portanto suas recomendações não servem para
os dias atuais?
Tais proposições nos levam a examinar com maior atenção Isaías 53.4-5. O
versículo quatro fala em “enfermidades” e “dores”. Os versículos 5 a 12 falam
em “transgressões”, “iniqüidades”, “expiação do pecado” “justificará a muitos e
“levar sobre si o pecado de muitos”. Então, o livramento proporcionado por
Jesus envolve os problemas físicos e espirituais, isto é, abrange enfermidades
e pecados, porém em tempos diferentes. Como veremos mais adiante, a profecia de
Isaías foi cumprida uma parte durante o ministério de Jesus (Mt 8.16-17) e
outra na Sua expiação (1 Pe 2.24). Se a morte expiatória de Cristo nos torna
imune às doenças, como propõem os “positivistas”, deveria também nos tornar
imunes ao pecado, pois os efeitos da expiação envolvem “transgressões”.
“iniqüidades” e “enfermidades” (Is 53.4-5). Se a proposta dos “positivistas”
diz que estamos livres das enfermidades, por que não encampa também o pecado?
Seríamos então seres perfeitos em todos os aspectos, iguais a Adão e Eva antes
da queda. Não sofreríamos sequer de dor de dente ou de unha cravada, e
estaríamos isentos de qualquer pecado. Mas não é assim.
Já vimos que estamos sujeitos às doenças, e, quanto ao pecado, sabemos que não
estamos isentos dele. Não vivemos na prática do pecado (1 Jo 5.18), o pecado
não tem domínio sobre nós (Rm 6.14), mas pecamos eventualmente. Tiago recomenda
aos crentes que confessem seus pecados uns aos outros (Tg 5.16). “Ele foi
ferido por nossas transgressões” (Is 53.5) é o mesmo que “Cristo morreu por
nossos pecados” (1 Co 15.3). Os presbíteros, assim como todos os crentes, estão
sujeitos a pecar (1 Tm 5.20). Leiam mais: “Se dissermos que não temos pecado
nenhum, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós” (1 Jo 1.8,10). A
natureza pecaminosa é uma ameaça constante na vida do crente. Contamos com o
socorro do Espírito Santo para que as obras do corpo sejam mortificadas (Rm
8.13; Gl 5.16-25). Mas há um escape para quem peca: “Se confessarmos nossos
pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda
injustiça” (1 Jo 1.9).
Todos os dias os “positivistas” oram por crentes enfermos. É uma incoerência.
Eles oram, rogam a Deus, expulsam as enfermidades chamando-as pelo nome e
declaram que “estão curados em nome de Jesus”. Ora, seria o caso de agir
conforme ensinam, isto é, não adianta orar nem ter fé; basta tomar posse do
direito conquistado. Para que haja coerência com o que pregam, em vez de oração
deveriam dizer aos irmãos doentes: “Voltem para seus lugares. Vocês não estão
enfermos. Será preciso explicar tudo novamente? Vocês foram curados há dois mil
anos. O que vocês estão sentindo é apenas um sintoma colocado pelo diabo para
enganar vocês. Essa miopia, essa dor de dente, dor na coluna, sinusite, câncer
nas vias respiratórias, tudo isso vai passar. Basta mandar o diabo sair do
corpo de vocês e proferir palavras de comando para que se cumpra o que está
dito na Palavra. Voltem tranqüilos; não procurem médicos nem tomem remédios. Se
alguém morrer, é porque já estava no tempo. Pelo menos morrem positivamente”.
Ademais, quando oram pela cura dos crentes estão “confessando” a doença de cada
um. Incoerência.
Dizem que Deus não deseja que seus filhos fiquem doentes. Este argumento é mais
ou menos semelhante ao usado pelo espiritismo com relação ao inferno. Ora,
Deus, sendo amor, bondade e misericórdia, também não deseja que nenhum se perca
ou cometa qualquer pecado. Porém, ele conhece as nossas fraquezas. Para o
pecado, temos o Espírito Santo que nos convence quando nos desviamos da
Palavra. Pelo arrependimento, recebemos o perdão e a nossa conciliação com Deus
se restabelece. Para a doença, Deus capacitou a Igreja com “dons de curar”
destinados à restauração da saúde (1 Co 12.9; cf. Mc 16.18). Deus estaria sendo
incoerente? Observadas as recomendações de Tiago 5.14-15, entende-se que os
dons de curar se destinam a curar também os crentes. Como pode? Os crentes
foram ou não foram curados há dois mil anos “pelas pisaduras” de Jesus? Podemos
entender como dons de curar sintomas? Improvável.
Mateus 8.17 é usado pela Confissão como prova de que nenhum vírus ou bactéria
ataca os crentes: “E chegada a tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados, e
ele, com a sua palavra, expulsou deles os espíritos e curou todos os que
estavam enfermos, para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías,
que diz: Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e levou as nossas doenças”.
Quando realizou essa cura e outras mais, Jesus ainda não havia passado pelo
Calvário. Ao realizá-las durante seu ministério, cumpriu-se a profecia
messiânica de Isaías 53. Foi necessário que assim procedesse para mostrar que
Ele era realmente o Messias esperado e profetizado; que se Ele tinha poder para
curar, também o tinha para perdoar. Caso semelhante ocorreu quando, no início
de sua missão, leu Isaías 61.1, e, ao final, disse: “Hoje, se cumpriu esta
Escritura em vossos ouvidos” (Lc 4.21). Ele veio para libertar os cativos, e
libertou-os. A dois discípulos de João Batista, que lhe perguntaram se ele era
o Messias esperado, Jesus respondeu: “Ide e anunciai a João as coisas que ouvis
e vedes: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos
ouvem, os mortos ressuscitam, e aos pobres é anunciado o evangelho” (Mt
11.1-5). O reino de Deus chegou com demonstração de poder. Jesus explica: “Se
eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, é conseguintemente chegado a vós
o Reino de Deus” (Mt 12.28).
Para melhor compreensão, vejamos: “Elevando ele mesmo em seu corpo os nossos
pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver
para a justiça. E pelas suas feridas fostes sarados” (1 Pe 2.24). “Pelas suas
pisaduras fomos sarados”, de Isaías 53.5, recebe aqui o seu significado maior e
o seu cumprimento na morte expiatória. Não a cura automática das doenças, mas a
remissão de nossos pecados, que se verificou no Calvário, e não antes,
visto que Ele morreu por nossos pecados (1 Co 15.3; cf. Jo 1.29; 2 Co 5.21; 1
Pe 3.18). Pedro não está afirmando que o sofrimento e morte de Jesus nos
tornaram imunes às doenças. Ele ressalta que “Cristo carregou os nossos pecados
na cruz, tornando-se nosso substituto, quando tomou sobre Si a penalidade dos
nossos pecados. O propósito de Sua morte vicária foi livrar-nos totalmente da
culpa, poder e influência do pecado. Cristo, pela sua morte, removeu nossa
culpa e o castigo dos nossos pecados e proveu um caminho, mediante o qual pudéssemos
voltar a Deus, conforme a sua justiça (Rm 3.14-26) e receber a graça de vier em
retidão diante dEle (Rm 6.2,3; 2 Co 5.15; Gl 2.20). Pedro usa a palavra
“sarados” ao referir´se à salvação e todos os seus benefícios” (Bíblia de
Estudo Pentecostal).
A cura de enfermidades continua na Igreja. Para isso, Deus distribui dons de
curar, como já dito. A Igreja também pode proclamar o perdão dos pecados, desde
que haja sincero arrependimento (Mc 2.7; Jo 20.23; At 2.38; 1 Jo 1.9).
À guisa de conclusão, destacamos:
1 - Não há uma cura automática de todos os enfermos que se convertem. Um
paraplégico poderá ser curado na hora da conversão, ou permanecer enfermo pelo
resto da vida. Nem por isto deixará de ser feliz e ter paz no coração, pois a
alegria em Cristo independe das circunstâncias.
2 – As conseqüências da queda de Adão, pelo que herdamos um corpo corruptível e
cheio de fraquezas, só serão desfeitas quando estivermos no céu, onde teremos
um corpo incorruptível e imortal (1 Co 15.54). Na glória, “Deus limpará de seus
olhos toda a lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor;
porque já as primeiras coisas são passadas” (Ap 21.4).
3 – Se acometido de alguma enfermidade, o crente deverá seguir as recomendações
da Palavra de Deus, conforme Tiago 5.14-16: a) limpar sua vida de qualquer
impureza; b) limpar o coração de qualquer sentimento de vingança ou ódio, e
perdoar as ofensas; c) solicitar oração aos líderes da Igreja e aos irmãos; d)
esperar no Senhor, confiante que Ele ouve as orações de seus filhos e agirá no
tempo determinado, segundo a Sua vontade.
4 – O texto de Isaías 53.4-5, examinado o contexto, fala de cura espiritual
(“transgressões”, “iniqüidades”) como resultado da morte vicária de Cristo,
isto é, nossos pecados foram cancelados “por suas pisaduras”, no Calvário. Tal
interpretação é evidenciada em 1 Pedro 2.24.
5 – A profecia de Isaías 53.4-5 concernente às enfermidades foi cumprida em
Jesus durante seu ministério. Tal evidência está explicitada em Mateus 8.16-17.
6 – Assim como não precisamos decretar o perdão de nossos pecados, recebido
pela fé, não precisamos decretar a cura de nossas enfermidades, que depende,
como vimos, de nossa fé e da soberana vontade de Deus.
AUTOR DESCONHECIDO
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