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sexta-feira, 2 de maio de 2014

ESTUDOS 40 - A EXPOSIÇÃO DO SENTIDO INTERNO DA PALAVRA

A Exposição do Sentido Interno da Palavra 

Exemplos de exposição do sentido interno ou espiritual por meio da ciência das correspondências

1- Primeiro exemplo: A CIDADE SANTA
1.1- A primeira passagem cujo sentido interno vamos considerar é o primeiro versículo do capítulo 21 do livro do Apocalipse, onde lemos:
"E levou-me em espírito a um grande e alto monte, e mostrou-me a grande cidade, a santa Jerusalém, que de Deus descia do céu".

1.2- Que significa esta cidade santa, que também é chamada a Esposa do Cordeiro? Certamente não é uma cidade material. Consideremos o que foi Jerusalém e logo se tornará claro o que representa a referida cidade. Jerusalém foi a capital da terra de Canaã, porém teve maior importância por ser o único lugar onde era permitido ao povo israelita realizar os atos do culto. Em Jerusalém, os escribas e fariseus copiavam as Escrituras e as estudavam, formulando suas doutrinas. Logo, é perfeitamente compreensível que Jerusalém represente o culto e as doutrinas do povo israelita. Jerusalém era o lugar onde se formulava a doutrina de Deus e chegou a ser símbolo, por isso, da doutrina da Igreja. Dessa forma, a santa cidade da Nova Jerusalém, a que se refere o versículo que examinamos, é a representação das doutrinas celestiais que o Senhor predisse, em Sua vida mortal, que seriam reveladas posteriormente aos homens.


1.3- Se aceitarmos essa idéia, logo compreenderemos a descrição da cidade: os "muros" significam a defesa da doutrina, para conservar puras as suas verdades; as "portas" significam os ensinamentos que, em primeiro lugar, atraem aqueles que buscam as verdades e os habilitam a entrar na glória de seus segredos celestiais; e as "ruas" significam os caminhos da vida daqueles que ingressam ali.

1.4- Na Palavra, uma cidade representa, portanto, o conjunto de doutrinas para a vida, seja essa doutrina falsa ou verdadeira. É o que se vê também no Apocalipse, a respeito de outras cidades mencionadas:
"E jazerão os seus corpos mortos na praça da grande cidade que espiritualmente se chama Sodoma e Egito, onde o seu Senhor também foi crucificado" (11:8).
Ora, João sabia muito bem que o Senhor não tinha sido crucificado em Sodoma nem no Egito. Não foi por deslize que escreveu isso no Apocalipse, e sim por uma razão Divina, pois a cidade que "espiritualmente se chama Sodoma e Egito" é a representação de um princípio ou de uma doutrina específica de vida.

1.5- Já vimos que, em toda a Palavra, a montanha significa uma exaltação do sentimento, isto é, um amor (bom ou mau) da vontade. Assim, o fato de João ter sido levado em espírito a "uma grande e elevada montanha" significa que ele foi transportado ao terceiro céu onde se acham aqueles que estão no amor proveniente do Senhor e, por Ele, na doutrina da verdade genuína. A doutrina foi vista em forma de cidade porque a "cidade" significa a doutrina, e a Igreja é Igreja pela doutrina e pela vida segundo a doutrina. Ela também foi vista como cidade para que fosse descrita por sua muralha, suas portas, seus fundamentos e por diversas medidas."

2- Segundo exemplo: A GRANDE BABILÔNIA
2.1- Voltemos, agora, nossa atenção para uma das cidades mencionadas no Antigo Testamento - a grande Babilônia - e examinemos a seguinte passagem da Palavra:
"Ah! filha de Babilônia, que vai ser assolada; feliz aquele que pegar em teus filhos e der com eles nas pedras" (Salmo 137:8,9).

2.2- Que concluímos dessa passagem? São tais palavras de um Deus de infinito amor? Contêm uma mensagem do céu? Sim, amigo, contêm uma mensagem das mais necessárias.

2.3- É regra universal que os homens julgam ser tratados de acordo com os seus próprios sentimentos. Por isso, quando Deus se dirige a um povo cruel, Suas palavras são recebidas como se Ele as tivesse proferido com crueldade; e quando Se dirige a um povo orgulhoso, Suas palavras são percebidas como palavras de orgulho. Os judeus eram um povo cruel e amavam a crueldade. Assim, quando JEHOVAH lhes falava, eles interpretavam Suas palavras com um espírito característico, embora, a fim de que a Palavra contivesse também o Amor e a Sabedoria Divina, Deus tivesse provido para que, no seu íntimo, nela se encontrasse a sabedoria dos anjos.

2.4- Vejamos, nos versículos que estamos considerando, se é possível descobrir o significado da cidade que se chama, espiritualmente, Babilônia. Babilônia foi a cabeça do primeiro império mundial - governou autocraticamente segundo a vontade de seus potentados e não de acordo com um sistema de leis. Os desejos e caprichos dos reis de Babilônia tomaram o lugar das leis e da justiça nas terras por eles subjugadas. Babilônia passou, assim, a simbolizar o desejo pelo domínio autocrático - o amor de dominar segundo o capricho do próprio desejo e não segundo a Lei Divina. Esse amor de dominar pode-se manifestar sob várias modalidades. Pode ser exercido pelos reis e príncipes contra seus súditos, por um pai de família contra a esposa e os filhos, por uma mulher contra suas amigas, por um patrão contra seus empregados e em muitas outras circunstâncias. Quando, em qualquer desses casos, uma pessoa impuser sua vontade às outras, sem respeitar o direito e a justiça, estaremos diante do amor da dominação simbolizado pela antiga cidade de Babilônia.

2.4- Se esse amor de domínio, se esse exercício da tirania se apodera do homem, prende-o de tal modo, que ele dificilmente poderá escapar. Por isso, é de suma importância desarraigar do coração das crianças tão nocivo sentimento. O versículo em questão diz: "Ah! filha de Babilônia, que vai ser assolada; feliz aquele que pegar em teus filhos e der com eles nas pedras". Ora, sabendo que a "cabeça" significa os princípios que se tem adotado e que a "pedra", na Palavra, significa a verdade, por aí se vê que uma cabeça em que se aninhem as maquinações da tirania deve ser "rebentada" contra as pedras, ou seja, as idéias provenientes do amor de dominar devem ser esfaceladas por uma confrontação com as verdades. É isto, então, que este versículo quer dizer espiritualmente, segundo a significação de "Babilônia", "cabeça" e "pedras". Agora podemos compreender a mensagem do sentido interno: felizes são aqueles que desmontam, por meio de verdades genuínas, os princípios do amor de dominar simbolizados pelos filhos de Babilônia.

3- Terceiro exemplo: a velhice de Pedro
3.1- Voltemo-nos, agora, para o Novo Testamento, em cujas páginas se encontram, muitas vezes veladas como veios de metal sob a terra, preciosíssimos ensinamentos.

3.2- Vejamos o significado simbólico da seguinte passagem do Evangelho de João:
"Na verdade, na verdade, te digo que, quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo, e andavas por onde querias; mas, quando já fores velho, estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá, e te levará para onde não queiras. E disse isto significando com que morte havia ele de glorificar a Deus. E, dito isto, disse-lhe: Segue-me. E Pedro, voltando-se, viu que o seguia aquele discípulo a quem Jesus amava, e que na ceia se recostara também sobre o Seu peito. Vendo Pedro a este, disse a Jesus: Senhor, e deste, que será? Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti?" (João 21:18-22).

3.3- Os doze apóstolos do Senhor, assim como os doze filhos de Israel, representavam os princípios gerais que formam a doutrina da Igreja. Pedro e João, sendo os principais discípulos, simbolizavam, respectivamente, os dois princípios capitais da Igreja: a fé e a caridade. Do próprio sentido literal do Novo Testamento podemos concluir que Pedro representa a fé, pois, quando o Senhor pediu a Seus discípulos uma declaração de fé, foi Pedro quem a deu:
"Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo" (Mateus 16:16).
Pedro, em grego, quer dizer "pedra", nome que lhe foi dado pelo Senhor por uma razão muito especial. Disse-lhe o Senhor:
"Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a Minha igreja..." (Mateus 16:18).
A fé é como uma pedra sobre a qual a Igreja está fundada, assim como uma rocha é o alicerce sobre o qual o templo é construído.

3.4- João representa o amor ou as boas obras, o que também deduzimos de passagens do Novo Testamento. Tudo aquilo que João escreveu nos dá testemunho do amor que lhe tinha o Senhor e do amor que um cristão fiel deve sentir pelo seu próximo. É porque representa tal amor que ele é chamado, nos Evangelhos, o discípulo amado.

3.5- Aqueles que procuram compreender a Palavra de Deus hão de sentir necessidade de uma interpretação clara da parte do Capítulo 21 de João, acima transcrita, de modo a não deixar dúvidas sobre a declaração ali contida. Certamente, a morte de Pedro foi uma tragédia, porém a predição de sua morte, feita pelo Senhor, foi uma tragédia maior que a da desaparição de um homem. E isso porque Pedro não representava apenas um homem, mas a fé da Igreja Cristã. A pergunta que o Senhor dirigiu, por três vezes, a Pedro: "Amas-me?" e a recomendação que lhe fez, dão a entender que o amor daqueles que Pedro representa poderia esfriar e que eles poderiam deixar de apascentar as ovelhas do rebanho do Senhor.

3.6- Quem quer que raciocine sobre o assunto pode concluir imediatamente que a recomendação feita a Pedro "Apascenta as Minhas ovelhas" era dirigida a todos os que tivessem de propagar a fé da Igreja Cristã. E a passagem dá-nos a entender que havia perigo de que esta fé corresse o risco de não ser ensinada em espírito e em verdade! "Quando já fores velho, outro... te levará para onde não queiras" significa que, quando perdesse o espírito de juventude, a Igreja Cristã seria desviada pelos interesses mundanos e pelas ambições. Pedro (representando a Igreja) seria cingido por outro e levado para onde não queria ir. A Igreja seria desvirtuada, e o "outro" que a desviou representa os homens que formularam credos não contidos na doutrina pregada por Jesus Cristo. Desviada do caminho da Verdade, a Igreja passou a exigir que os homens aceitassem novos credos, embora ela já não fosse guiada pela luz da Verdade.

3.7- "Se eu quero que ele (João) fique até que eu venha, que te importa a ti?" quer dizer que aqueles representados por João (amor), ou seja, aqueles que estivessem na caridade, seriam, entretanto, resguardados pelo Senhor até que Ele voltasse novamente para estabelecer, agora plenamente, a Sua Igreja. João representa todos os que têm amor genuíno ao Senhor e que obedecem à Sua Palavra, ainda que em assuntos de fé - como a natureza da Divina Trindade, a maneira da salvação e a natureza da ressurreição - possam estar em ignorância. A velhice de Pedro corresponde, pois, ao declínio e à falta de fé na Igreja Cristã.


AUTOR DESCONHECIDO

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