A
GRANDE DESFRATERNIZAÇÃO DAS IGREJAS CRISTÃS
O
terceiro século é marcado por um acontecimento muito importante na história das
igrejas de Cristo. Mais exatamente no período que vai desde o ano de 225 até o ano
de 253. Neste tempo houve uma declaração de desfraternização entre as igrejas
por motivos doutrinários e organizacional.
Eram
tempos difíceis. Apesar das conversões acontecerem em grande número as igrejas
sofriam externa e internamente. Externa devido as perseguições já mencionadas.
Internamente porque as igrejas estavam sendo corrompidas por dois erros
absurdos totalmente antibíblicos. Um deles chegava ao ponto de substituir a
salvação pela graça. O outro tirava a chefia de Cristo sobre sua própria igreja.
OS
DOIS ERROS QUE DIVIDIRIAM AS IGREJAS ENTRE 225 a 253 A .D.
O
Batismo Como Meio de Salvação
Desde
os primórdios da igreja sempre foi um problema a questão de como o homem
poderia alcançar o céu. O ensinamento de Jesus e posteriormente dos apóstolos
eram unanimes: "Pela graça somos salvos". O Novo Testamento nunca
deixou dúvidas sobre este assunto. Mesmo nas igrejas primitivas esse foi um
problema sério. O primeiro concílio das igrejas em Jerusalém foi realizado
justamente para resolve-lo. O próprio apóstolo Pedro, vendo que havia contenda
sobre o assunto, deixou claro que: "cremos que seremos salvos pela
graça". Portanto, o ensinamento bíblico sobre a questão é que o único meio
de se chegar ao céu é por Jesus, pela graça, e, usando como meio de alcançá-la,
a nossa fé.
Não
contentes com esse princípio, e querendo fazer uma mudança não autorizada nas
escrituras, muitos pastores começaram a ensinar que a salvação não era apenas
pela graça. Implantaram um novo meio de salvação: O batismo. Pensavam: "A
Bíblia tem muito a dizer em relação ao batismo. Muita ênfase é colocada na
ordenança e no dever concernente a ela. Evidentemente ela deve ter algo a ver
com a salvação". Dessa forma criou corpo a idéia de REGENERACÃO BATISMAL,
ou seja, o indivíduo precisa ser batizado para ir ao céu. Colocou-se a água do
batismo no lugar do sangue de Jesus. Esse erro é pai de um futuro que ainda
demoraria a aparecer: O batismo infantil.
Formação
de Uma Hierarquia Temporal
Hierarquia
Dentro das Igrejas
Além
desse grave erro houve um outro. Foi o surgimento dentro das igrejas de uma
hierarquia temporal. Um erro que fere a autoridade única do Senhor Jesus Cristo
sobre sua igreja. Nenhum dos apóstolos, jamais, em versículo algum do Novo
Testamento, quis a primazia entre os outros na igreja primitiva. Não vemos na
Bíblia homens como Pedro, Paulo, ou qualquer outro apóstolo subjugar seus
irmãos na fé, ou ainda requerer deles uma cega sujeição. Eles se consideram
homens comuns, sujeitos aos desejos da carne e com possibilidade de queda (At
l0,15-16; Rom 7,24;).
Mas
alguns pastores não entendiam dessa forma. Viam no cristianismo um meio de
alcançar a primazia entre seus semelhantes. Muitos começaram a se desviar do
ensinamento de que todos os membros são iguais dentro da igreja. O pastor
começou a exercer um papel de "chefão". Alguns historiadores relatam
esse erro da seguinte forma:
O
pastor de Hermas ( cerca de 150
A .D.)
Mestres dignos não faltam, mas
há também tantos falsos profetas, vãos, cúpidos (desejosos) pelas primeiras
sés, para os quais a maior coisa na vida não é a prática da piedade e da
justiça senão a luta para o posto de comando."
O
Historiador Mosheim:
"Os
pastores aspiravam agora a maiores graus de poder e autoridade do que possuíam
antes. Não só violavam os direitos do povo como fizeram um arrocho gradual dos
privilégios dos presbíteros..."
Os
membros já não eram considerados irmãos, mas súditos do "bispo".
Comandavam a igreja como se comanda um exército. João cita o exemplo de um
crente chamado Diotrefes. O apóstolo deixa claro que esse homem "buscava a
primazia entre eles", referindo-se é claro aos irmãos na fé. Diotrefes
tornou-se tão audacioso, que, quando João escrevia para a igreja ele impedia
que os irmãos lessem a carta. Esse é só um simples exemplo do que acontecia já
no tempo dos apóstolos. Pedro ao comentar o assunto diz que o pastor é o servo
e não o senhor da igreja (I Pedro 5,1-4). Aliás, a palavra por ele usada é
muito clara: "Não como tendo domínio sobre a herança de Deus". O
pastor jamais deve ser o chefe da igreja, mas o servo que irá conduzir o
rebanho.
Essa
terrível idéia de um bispo monárquico governar os demais pastores teve início
na pessoa de Clemente (95 A .D.),
pastor da igreja em Roma.
Foi ele o primeiro a buscar a primazia entre os demais.
Chegou a envolver-se num problema que não lhe pertencia por direito, querendo
mandar numa igreja a qual não pastoreava, que foi a igreja de Corinto. Depois
dele foi Inácio, bispo de Antioquia na Síria, que viveu entre o I século. - II
século. Ele exorta todos os cristãos a obedecerem o bispo monárquico e aos
presbíteros (20,2). Chegou a comparar a obediência ao bispo monárquico com as
cordas de uma harpa. Ele é o primeiro a contrastar o ofício do bispo ao do
presbítero e a subordinar os presbíteros ou anciãos ao bispo monárquico e os
membros das igrejas a ambos. Mas deve-se a Cipriano, bispo de Cartago (morto em
258), que foi um dos principais autores desta mudança de governo da igreja,
pois pugnou pelo poder dos bispos com mais zelo e veemência do que jamais fora
empregada nessa causa.
Como
se pode observar não foi uma lei feita do dia para a noite. Foi uma heresia que
aos poucos penetrava dentro das igrejas, a saber, nas igrejas maiores dos
grandes centros.
Hierarquia
Entre as Igrejas
Esse
erro veio a favorecer a outro de tamanha maldade. Foi o erro de uma igreja ter
autoridade sobre outra igreja. A Bíblia ensina que a igreja deve ser
independente ou seja: a igreja de Antioquia não tinha autoridade sobre a igreja
de Éfeso. A igreja de Éfeso não tinha autoridade sobre a igreja de Laodicéia, e
assim por diante. No livro de apocalipse, quando Cristo conversa com as sete
igrejas da Ásia, ele trata cada uma individualmente. Cada uma tem seu próprio
anjo (pastor), e nenhuma será recompensada ou corrigida pelo erro da sua
co-irmã.
Acontece
que os pastores de muitas igrejas não viam as coisas como Deus ensinou. Viam a
sua ganância acima da vontade de Deus. Os pastores das grandes igrejas como a
de Roma, Alexandria, Antioquia, e muitas outras, iniciaram um processo de
subjugar as igrejas menores. Eram tempos difíceis. O imperador perseguia a
igreja. Junto com as perseguições vinha a fome. Com isso as igrejas maiores
engrandeciam-se, e numa falsa humildade, ajudavam as menores. Foi assim que
principalmente Roma passou a gozar de uma distinção especial. Essa ajuda tinha
um preço muito alto: A submissão de muitas igrejas menores. A igreja co-irmã
deixava de ser uma igual para tornar-se vassala.
Na
luta para ver qual igreja ia ser a maior entre as igrejas erradas, prevaleceu a
igreja de Roma, mas é claro, sem o consentimento dos grandes bispos
monárquicos, iniciando-se assim uma luta interna entre as igrejas heréticas.
Esse assunto será tratado mais cuidadosamente na origem da igreja Católica.
A
DIVISÃO DAS IGREJAS TORNA-SE INEVITÁVEL
As
Igrejas Erradas Recusam-se a Voltar as Origens
Apesar
destes dois erros terem invadido as igrejas de Cristo, houve muitas, senão a
maioria, que não admitiam os tais. Houve tentativas no sentido de trazer as
igrejas desviadas de volta ao verdadeiro costume bíblico. Entretanto o poder
político das igrejas fiéis era quase nada. A maioria destas igrejas eram
pequenas congregações, e seus pastores, homens simples com o único objetivo de
fazer a vontade de Deus. Alguns não eram tão simples assim, como o pastor
Montano, que veementemente pregou em toda a Ásia contra essas heresias (160
d.C.) e Tertuliano (a partir de 202 d.C.) no ocidente. Este último chegou mesmo
a desafiar várias vezes os pastores heréticos, principalmente o de Roma, a
voltar a obedecer as escrituras.
As
Igrejas Fiéis Resolvem Tomar Uma Atitude
O
fato é que as igrejas erradas ou heréticas não voltaram a obedecer a Bíblia.
Pior. Conforme os anos passavam mais erradas elas se tornaram. O assunto chegou
a um ponto que as igrejas certas deixaram de aceitar os membros vindos das
igrejas heréticas. Essa não aceitação, que a luz das escrituras é recomendada -
pois se alguém crê que o batismo salva deixa de acreditar que só Jesus salva -
foi acrescida com o rebatismo dos membros vindos das igrejas desobedientes. Daí
ter surgido o apelido "anabatista" para os seguidores de Montano e
principalmente para as igrejas da Ásia Menor.
A
Exclusão das Igrejas Erradas é o Único Caminho
O rebatismo
dos membros vindos das igrejas erradas acabou se tornando o objeto da divisão
da cristandade. As igrejas erradas por serem grandes, mais famosas e
politicamente mais aceitas, não aceitaram passivamente a atitude das igrejas
que rebatizavam seus membros. Iniciou-se grandes controvérsias a respeito do
assunto. Realizaram muitos concílios para tentar resolver a situação. Dois
deles se deram em Cartago em 225, um composto de 18 e o outro de 71 pastores,
em ambas as assembléias ficou decidido que o batismo dos heréticos - que
pregavam a salvação pelo batismo e iniciavam o sistema hierárquico católico -
não devia ser considerado como válido. Os historiadores McClintock e Strong
comentam como se deu essa desfraternização: V.I pg 210.
"Na
Ásia Menor e na África, onde por muito tempo rugiu amargamente o espírito da
controvérsia, o batismo só foi considerado válido quando administrado na igreja
correta. Tão alto foram as disputas sobre a questão, que dois sínodos se
convocaram para investigá-la. Um em Icônio e outro em Sínada da Frígia, os
quais confirmaram a opinião da invalidade do batismo herético. Da Ásia passou a
questão à África do Norte. Tertuliano concordou com a decisão dos concílios
asiáticos em oposição à prática da igreja Romana. Agripino convocou um concílio
em Cartago, o qual chegou a uma decisão semelhante aos da Ásia. Assim ficou a
matéria até Estevão, bispo de Roma, no ano de 253, provocado pela ambição, que
procedeu em excomungar os bispos da Ásia Menor, Capadócia, Galácia e Cilícia,
aplicando-lhes os epítetos de rebatizadores e anabatistas".
Fica
evidente que entre as igrejas erradas estava a de Roma. Sendo assim ela foi
excluída no ano de 225 juntamente com as outras igrejas heréticas. A atitude do
bispo romano de excluir os pastores da Ásia mostra a que ponto estava sua
vontade de assenhorar-se do rebanho de Deus. Mas sua atitude de nada valeria,
pois, um membro excluído não pode excluir ninguém. Outro historiador, Neander,
V.I pg 318, tem o seguinte relato sobre estes acontecimentos:
"Mas
aqui, outra vez foi um bispo romano, Estevão, que instigado pelo espírito de
arrogância eclesiástica, dominação e zelo, sem conhecimento, ligou a este ponto
(salvação pelo batismo), uma importância dominante. Daí, para o fim do ano de
253, lavrou uma sentença de excomunhão contra os bispos da Ásia Menor,
Capadócia, Galácia e Cilícia, estigmatando-os como anabatistas, um nome,
contudo, que eles podiam afirmar que não mereciam por seus princípios: porque
não era o seu desejo administrar um segundo batismo aqueles que tinham sido
batizados, mas disputavam que o prévio batismo dado por hereges não podia ser
reconhecido como verdadeiro. Isto induziu Cipriano, o bispo a propor o ponto
para a discussão em dois sínodos reunidos em Cartago em 225 A .D. um composto de 18,
outro de 71 pastores, ambas as assembléias declarando-se a favor das idéias de
que o batismo de heréticos não devia ser considerado como válido".
Num
resumo simples destes dois relatos verifica-se que, no ano de 225 A .D., as igrejas
reúnem-se em concílios e decide a exclusão das igrejas que administravam o
batismo como forma de salvação, que eram, justamente, as igrejas que admitiam
um bispo monárquico sobre as igrejas. Entre as igrejas erradas estão as de
Roma, Antioquia, Cartago e muitas outras. Entre as igrejas fiéis estão uma
muito conhecida pelos estudantes da Bíblia, a igreja de Éfeso.
O
RESULTADO DA DESFRATERNIZAÇÃO DOS CRISTÃOS
A
partir desta data, 253 d.C. as igrejas de Cristo se dividiram em dois grandes
blocos. Os anabatistas, assim chamados por não aceitarem o batismo das igrejas
erradas, e os católicos, nome dado as igrejas heréticas desde o ano de l70 por
Inácio, pastor de Antioquia. O futuro destes dois grupos deu razão aos fiéis o
fato de terem excluído os demais. Com o passar do tempo as igrejas erradas,
como veremos, multiplicou ainda mais suas heresias. Enquanto isso, vivendo
conforme as escrituras, os cristãos anabatistas lutavam para sobreviver e
manter de pé as chamas do evangelho.
Se você deseja saber mais sobre a origem das igrejas cristãs escreva para:
Igreja
Batista de Gália, Av. São José, n. 156, Gália, São Paulo, CEP 17.450.000
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