A História do Antigo Testamento - 4
(Continuação)
4.1- No período dos últimos reis e no cativeiro - Durante o último período do reino de JUDAH, a Palavra
esteve tão esquecida que os sacerdotes não sabiam mais onde encontrá-la. Por
isso, quando o rei Josias, o último dos grandes reis, empreendia uma obra de
restauração no templo, em 630 a.C. aproximadamente, ficou muito espantado com
a notícia que lhe trouxe Hilquias, o sacerdote, que disse: "Achei o
livro da lei na casa do Senhor. E Hilquias deu o livro a Safan, o escrivão, e
ele o leu. Sucedeu pois que, ouvindo o rei as palavras do livro da lei,
rasgou os seus vestidos. E o rei mandou a Hilquias, o sacerdote... dizendo:
Ide, e consultai ao Senhor por mim e pelo povo, e por todo o JUDAH, acerca
das palavras deste livro que se achou." (II Re. 22:8,11- 13). O rei
Josias então determinou reformas radicais a fim de restaurar o culto ao Deus
verdadeiro, JEHOVAH. O livro encontrado era, possivelmente, toda a coleção
dos rolos sagrados, incluindo os Salmos, pois todos esses escritos foram
conhecidos pelos últimos profetas. Esses profetas certamente os liam em suas
"escolas dos profetas".
Mas as reformas instituídas por
Josias e pela profetisa Hulda não foram suficientes para impedir a decadência
da Igreja Judaica e a destruição de Jerusalém pela mão do rei babilônico
Nabucodonosor por volta do ano 600 a.C. Esse rei não só levou toda a nação
judaica ao cativeiro, como também despojou o templo de seus bens sagrados.
templo foi incendiado, mas os antigos escritos não foram destruídos, porque
Daniel, que viveu no cativeiro na Babilônia, tinha esses escritos ou, pelo
menos, tinha acesso a eles, o que prova, obviamente, a sua preservação. Com
efeito, Daniel fez referência à lei de Moisés e às profecias de Jeremias, de
sorte que se pode deduzir que ele tinha consigo a coleção dos livros: "No
primeiro ano do seu reinado (de Dario), eu, Daniel, entendi pelos livros que
o número de anos, de que falou o Senhor ao profeta Jeremias, em que haviam de
acabar as assolações de Jerusalém, era de setenta anos. ...Sim, todo o Israel
transgrediu a Tua lei, desviando-se, para não obedecer a Tua voz; por isso a
maldição, o juramento que está escrito na lei de Moisés, servo de Deus, se
derramou sobre nós..." (Daniel 9:2,11).
4.2- A restaraução - Passado o cativeiro, ao
retornar a Jerusalém, o povo "como um só homem" pediu a Esdras, o
sacerdote, que lesse o livro da lei de Moisés; e Esdras e outros sacerdotes, "leram
no livro, na lei de Deus; e declarando e explicando o sentido, faziam que,
lendo, se entendesse" (Neemias 8:8). Dia após dia, da manhã à noite,
eles liam. E, enquanto liam, iam possivelmente interpretando para o povo a
antiga língua hebraica. Pois o fato é que, no cativeiro, o povo tinha
assimilado a língua aramaica. Era, portanto, necessário que se traduzisse ou
se explicasse a língua original para o povo. Já as pessoas cultas e os
doutores da religião e das leis continuaram usando o hebraico.
Depois desse período, com a
influência da língua aramaica, o alfabeto hebraico se modificou quanto à
forma das letras, ou seja, de forma arredondada passou à forma
"quadrada" ou das "letras quadradas" como hoje o vemos. A
partir de 500 a.C., aproximadamente, o aramaico veio a se tornar como que a
língua oficial da Palestina. Entretanto, sendo da mesma família semítica, o
hebraico e o aramaico eram línguas mais parecidas entre si do que o são o
português e o espanhol. Mesmo assim, após o exílio na Babilônia, o hebraico
continuou sendo a língua em que foram escritos os livros posteriores, como os
dos profetas Ageu, Zacarias e Malaquias. Escrito no cativeiro, o livro de
Daniel teve uma pequena parte, alguns capítulos, redigida em aramaico.
De acordo com uma passagem do
livro dos Macabeus, o governante que empreendeu a restauração, chamado
Neemias, "encontrou uma biblioteca" que, além de outros documentos,
incluía "os livros sobre os reis, os profetas e os de David" (II
Macabeus 2:13). Na época de Esdras e Neemias, o cânon ou coleção do Velho
Testamento se findava com a maioria dos livros que hoje temos. Somente foram
acrescentados depois alguns livros proféticos escritos entre 540 e 440 a.C.,
dos quais Malaquias é o último. Esse livro é por isso chamado de "selo
dos profetas".
4.3 - No período dos Macabeus - Quando, mais tarde, as Escrituras do Antigo Testamento
foram traduzidas para o grego pelos "Setenta", elas se tornaram
universalmente conhecidas no mundo clássico da época. Isto estimulou o
orgulho nacional dos judeus e valorizou o estudo de seus fatos históricos.
Esse sentimento foi fortalecido quando ocorreu a perseguição movida pelos
greco-sírios. Os opressores inimigos procuraram eliminar o espírito
nacionalista judaico através da destruição de sua principal fonte de
inspiração e força, as Escrituras. Antíoco Epifânio, imperador greco-sírio,
em 168 a.C. "buscou os livros da Lei e os queimou". Também decretou
que seria considerado crime possuir cópias dos rolos da Aliança (I Macabeus
1:56).
Depois de longas guerras pela
independência, os judeus passaram a considerar as Escrituras como a sua mais
preciosa posse nacional. Dali em diante passaram a preservar, com ainda maior
zelo, uma cópia completa dos livros, que ficava encerrada no templo, além de
outras cópias espalhadas nos locais mais seguros. Para leitura e consulta
pública utilizavam apenas as cópias em grego da tradução chamada
"Septuaginta", que foram distribuídas às sinagogas de várias
regiões. É por esse motivo que a maioria das citações de passagens do Velho
Testamento que aparecem no Novo é tomada não do texto original hebraico, mas
da versão grega dos Setenta.
Vem também do grego a
modificação dos nomes próprios hebraicos, especialmente aqueles que
terminavam em "jah" ou "iah", que passaram a terminar em
"ias", em grego (por exemplo: Elijah => Elias).
4.4 - Na era cristã - Depois,
já na Era Cristã, por volta do ano 70, sob o domínio dos romanos, Jerusalém
volta a sofrer a destruição. O templo é arrasado e, de acordo com o
historiador Josephus (37-95 AD), os códices ou coleções de cópias da Lei
foram tomados das ruínas do templo por Tito, imperador romano, e levados para
Roma junto com outros despojos de guerra. Entretanto, nessa época já havia
muitíssimas outras cópias igualmente fiéis dos livros sagrados, e elas se
multiplicavam rapidamente, sendo enviadas às diversas colônias judaicas fora
da Palestina.
No decorrer do segundo século da
Era Cristã, importantes escribas e rabinos se reuniram na Palestina e, após
várias conferências, estabeleceram uma escola rabínica que veio, depois, a
fixar o primeiro texto e o primeiro cânon oficial das Escrituras em hebraico.
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