A
Igreja de Roma e os Movimentos Heréticos
por vários
autores - seleção
de Carlos Guimarães
Durante a
imersão da Europa nas trevas da Idade Média, surgiram vozes que se levantavam
contra o abuso e a arrogância do poder de Roma. Estes movimentos conheciam boa
parte da tradição espiritual do ocidente, e procuravam recuperar a pureza do
cristianismo primitivo, sem as pesadas roupagens da ritualísitica e dos dogmas
romanos. Entre as mais famosas dessas correntes rebeldes, predecessoras da
Reforma Protestante, temos o movimento da Igreja Cátara, que reprensentou de
fato uma séria ameaça à hegemonia da Igreja Católica, e a Ordem dos Templários,
conteporânea dos Cátaros e, de início, apoiada pela própria Igreja de Roma.
Antes de nos
voltarmos a estas duas, temos de precisar o que foi e como se fez o poderio da
Igreja Romana na Europa.
A Ascenção da Igreja Católica Romana
Ao longo do
século V, a Igreja Romana viveu sérias ameaças à sua sobrevivência e, por volta
de 490, a situação tornou-se desesperadoramente precária. Ela estava ainda
muito longe de ter a hegemonia do poder espiritual na cristandade, e a implosão
do Império tornava a ameaça de invasão bárbara o principal foco das atenções da
população latina. Entre 384 e 399, com o apóio oficial, o bispo de Roma já era
denominado papa, mas isto não significava muito pois sua condição oficial, em
termos de cristandade, era bem diferente do que passou a ser alguns séculos
mais tarde quando passou a desempenhar o papel de líder e cabeça suprema da
cristandade. Na verdade, o papa era uma figura que representava apenas uma
função centralizadora de interesses velados do colégio eclesiástico romano, que
era apenas uma escola dentre muitas outras linhas diferentes do cristianismo,
todas lutando por manterem-se vivas e adotarem livremente seus pontos de vista
a respeito da mensagem do Cristo. A Igreja de Roma lutava desesperadamente para
sobressair-se dentre as demais, combatendo uma grande variedade de
pontos-de-vista teológicos diferentes dos seus. A pesar de encravada no coração
do Império, a Igreja de Roma não possuia maior autoridade que outras, como, por
exemplo, a Igreja Grega ou a Igreja Celta. E sua autoridade não era maior que a
de outras correntes cristãs.
Se a Igreja de
Roma quisesse sobreviver e, ainda, criar uma hegemonia sobre todo o pensamento
cristão, exercendo uma grande autoridade e poder, ela necessitaria do apóio de
um reino forte e de uma poderosa figura secular que pudesse representá-la
resgatando um pouco da mística do Império dos Césares, impondo grande
reverência e respeito. Daí que, para que o mundo cristão evoluísse segundo a
doutrina romana, a Igreja Católica deveria ser disseminada, implementada e imposta por meio da força secular - uma
força suficientemente poderosa para enfrentar e finalmente exitirpar o desafio
das outras escolas cristãs.
Por volta de
486, o rei franco-merovíngeo Clóvis tinha expandido extraordinarimente a
extensão de seus domínios, anexando reinos e principados adjacentes e vencendo
várias tribos rivais. Cidades importantes passaram a fazer parte de seu reino,
como Troyes, Rehims e Amiens. Em pouco mais de 10 anos de conquistas, Clóvis
era o chefe mais poderoso da Europa Ocidental. E foi em Clóvis que a Igreja
Católica tinha achado um campeão para seus interesses. E foi através de Clóvis
que a Igreja Católica finalmente iria conseguir estabelecer uma supremacia que
não foi questionada por mais de mil anos.
Com poderosa
eficiência, a fé católica foi imposta pela espada, e os traços das outras
igrejas forma irremediavelmente apagados (em parte) da história; com a sansação
da Igreja, o reino franco expandiu-se para o leste, englobando a maior parte da
França, Alemana e outros países modernos.
Dois séculos
mais tarde, a Igreja já era suficientemente poderosa para achar que a linhagem
merovíngea de Clóvis começava a ser um empecilho. Dagobert II, descendente de
Clóvis, foi um rei forte que conseguiu domar a anarquia que, antes dele,
dominava o reino, restabelecendo a ordem, e reconhecendo os interesses cada vez
mais menos espirituais da Igreja. Tanto que ele parece ter abortado
deliberadamente as tentativas desta de se expandir ainda mais. E, em virtude de
se ter casado com uma princesa visigoda (cujo povo, apesar de decalar
fidelidade a Roma, tinham um imensa simpatia por idéias consideradas
"heréticas") havia adquirdo um imenso território, onde hoje é o
Languedoc, base dos futuros Cátaros. Dagobert parece ter adquirido algumas das
tendências arianas que questionavam a autoridade da Igreja. Com tudo isso, não
é de se extranhar que ele tenha obtido inúmeros inimigos políticos, entre eles
seu chanceler, Pepino, o Gordo, que, alinhando-se com outros inimigos e com a
Igreja, planejaram o assassinato de Dagobert e o extermínio da linhagem merovíngea.
Cabe salientar
que, dois séculos após sua morte, Dagobert II foi canonizado, como uma forma de
encobrir a traição visível da Igreja ao pacto que fizera com Clóvis.
Os Cátaros
Nas palavras
da Igreja Romana, no século XII a região do Languedoc estava infectada pela
heresia de um movimento nocivo, chamado de catarismo, "a lepra louca do
sul". Embora fosse sabido por todos que os adeptos dessa heresia fossem
essencialmente pacíficos, eles constituiam uma grave ameaça à autoridade
romana, a mais grave que Roma encontraria nos três séculos seguintes, até a
chegada de Martinho Lutero. Por volta de 1200 havia realmente a possibilidade
real de que o catolicismo romano fosse substituído, como forma predominante de
cristianismo, no Languedoc, pelo catarismo que estava se irradiando para outras
partes da Europa.
E, 1165 a
Igreja havia condeando formalmente o catarismo na cidade de Albi, no Languedoc.
Daí por que os conhecemos também por albigenses. Muitas de nossas informações
sobre eles provêm de fontes eclesiásticas católicas, e criar um quadro correto
dos cátaros a partir destes documentos é como compreender a resistência
estudantil brasileira, no tempo da Ditadura, a partir dos relatórios dos
militares e do DOI-CODI, ou compreender a Resistência Francesa, na Segunda
Guerra Mundial, a partir dos relatórios da Gestapo.
Em geral, os
cátaros acreditavam na doutrina da reencarnação e reconheciam Deus não como um
princípio puramente masculino, mas como tendo, igualmente, princípios femininos
(o que nos remete a doutrina dos Druidas). Tanto que
os pregadores e professores das congregações cátaras, conhecidos como parfaits, eram de ambos os sexos. Ao
mesmo tempo, rejeitavam veementemente a autoridade da Igreja Católica e negavam
a validade das hierarquias clericais, ou de intercessores oficiais entre Deus e
o homem. No centro desta oposição residia um pincípio extremamente importante:
a fé vivida como como uma experiência mística direta, sem passar por uma
segunda mão. Tal ênfase era dada na experiência mística direta que vemos
claramente a influência de Plotino no pensamento
cátaro. Hoje diríamos que os cátaros buscavam vivenciar uma experiência de
comunhão com Deus, ou uma experiência de transcdendência, num domínio Transpessoal, que, antes, chamavamos de místicas. Esta experiência chamava-se gnosis, que em grego significa
"conhecimento", e era privilegiada sobre todas as outras formas de
credos e dogmas pelos cátaros. A ênfase na experiência direta com o
transcendente, o transpessoal, tornava supérfluos padres, bispos e quaisquer
outras autoridades eclesiásticas.
Assim, a
Igreja, sentindo-se realmente ameaçada, tomou a iniciativa de formar uma
Cruzada (a primeira dentro da Europa e contra irmãoes cristãos) com o fim de
extirpar de vez com a heresia cátara: a Cruzada Albigense.
Em 1209, um
exército de mais de 30 mil homens, desceu do norte da Europa em direção ao
Languedoc, no sul da França, para executarem uma das maiores carnificinas da
história humana. Na guerra que se seguiu, a população tomou a espada e
denfendeu com ênfase os cátaros contra o despotismo católico. Todo o território
da região foi pilhado e as cidades e vilarejos arrasados sem dó nem piedade. Só
na cidade de Beziers, por exemplo, 15 mil homens mulheres e crianças foram
exterminadas, muitos até mesmo dentro de igrejas. Quando um oficial perguntou a
um representante do papa como ele iria reconhecer um herege dos crentes
verdadeiros, a resposta foi: "Mate-os todos. Deus reconhecerá os
seus". O próprio representante papal escreveu orgulhoso a Inocêncio III
que "nem idade, nem sexo, nem posição forma poupados".
A guerra cruel
durou cerca de quarenta anos. Quando terminou, toda a Europa caiu numa espécie
de modorra e barbárie.
Um dos
movimentos que mais tinha ligações com os cátaros era a Ordem dos Templários,
criado na Terra Santa, e que representavam uma associação militar cristã aberta
ao estudo e discussão de assuntos místicos. Acoselho o leitor a clicar nos
links abaixo para ler mais sobre ambas as ordens:
Os textos aqui
apresentados são, respectivamente, de:Michael
Baignet, Richard Leigh e Henry Lincoln, cujo livro O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, Editora Nova Fronteira, 1997,
serviu de inspiração e motivação para esta página Carles Cerveras, pela página
dos Cátaros Um artigo retirado do Jornal "Harmonia deMolay", sobre Os
Templários.
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