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terça-feira, 27 de janeiro de 2015

ESTUDOS 70 - A IGREJA DE ROMA E OS MOVIMENTOS HERÉTICOS

A Igreja de Roma e os Movimentos Heréticos

por vários autores - seleção de Carlos Guimarães

Durante a imersão da Europa nas trevas da Idade Média, surgiram vozes que se levantavam contra o abuso e a arrogância do poder de Roma. Estes movimentos conheciam boa parte da tradição espiritual do ocidente, e procuravam recuperar a pureza do cristianismo primitivo, sem as pesadas roupagens da ritualísitica e dos dogmas romanos. Entre as mais famosas dessas correntes rebeldes, predecessoras da Reforma Protestante, temos o movimento da Igreja Cátara, que reprensentou de fato uma séria ameaça à hegemonia da Igreja Católica, e a Ordem dos Templários, conteporânea dos Cátaros e, de início, apoiada pela própria Igreja de Roma.
Antes de nos voltarmos a estas duas, temos de precisar o que foi e como se fez o poderio da Igreja Romana na Europa.

A Ascenção da Igreja Católica Romana
Ao longo do século V, a Igreja Romana viveu sérias ameaças à sua sobrevivência e, por volta de 490, a situação tornou-se desesperadoramente precária. Ela estava ainda muito longe de ter a hegemonia do poder espiritual na cristandade, e a implosão do Império tornava a ameaça de invasão bárbara o principal foco das atenções da população latina. Entre 384 e 399, com o apóio oficial, o bispo de Roma já era denominado papa, mas isto não significava muito pois sua condição oficial, em termos de cristandade, era bem diferente do que passou a ser alguns séculos mais tarde quando passou a desempenhar o papel de líder e cabeça suprema da cristandade. Na verdade, o papa era uma figura que representava apenas uma função centralizadora de interesses velados do colégio eclesiástico romano, que era apenas uma escola dentre muitas outras linhas diferentes do cristianismo, todas lutando por manterem-se vivas e adotarem livremente seus pontos de vista a respeito da mensagem do Cristo. A Igreja de Roma lutava desesperadamente para sobressair-se dentre as demais, combatendo uma grande variedade de pontos-de-vista teológicos diferentes dos seus. A pesar de encravada no coração do Império, a Igreja de Roma não possuia maior autoridade que outras, como, por exemplo, a Igreja Grega ou a Igreja Celta. E sua autoridade não era maior que a de outras correntes cristãs.


Se a Igreja de Roma quisesse sobreviver e, ainda, criar uma hegemonia sobre todo o pensamento cristão, exercendo uma grande autoridade e poder, ela necessitaria do apóio de um reino forte e de uma poderosa figura secular que pudesse representá-la resgatando um pouco da mística do Império dos Césares, impondo grande reverência e respeito. Daí que, para que o mundo cristão evoluísse segundo a doutrina romana, a Igreja Católica deveria ser disseminada, implementada e imposta por meio da força secular - uma força suficientemente poderosa para enfrentar e finalmente exitirpar o desafio das outras escolas cristãs.
Por volta de 486, o rei franco-merovíngeo Clóvis tinha expandido extraordinarimente a extensão de seus domínios, anexando reinos e principados adjacentes e vencendo várias tribos rivais. Cidades importantes passaram a fazer parte de seu reino, como Troyes, Rehims e Amiens. Em pouco mais de 10 anos de conquistas, Clóvis era o chefe mais poderoso da Europa Ocidental. E foi em Clóvis que a Igreja Católica tinha achado um campeão para seus interesses. E foi através de Clóvis que a Igreja Católica finalmente iria conseguir estabelecer uma supremacia que não foi questionada por mais de mil anos.
 O pacto estabelecido entre Clóvis e a Igreja assegurou um triunfo político para ambas as partes. Ao primeiro assegurava legitimidade numa época em que os ideais cristãos suplantavam os pagãos, e à segunda era assegurada sua sobrevivência, consolidando-a como igual, em condições, à Igreja Ortodoxa Grega, de Constantinopla (muito influente por conta do Império Romano do Oriente), o que a faria estabelecer-se como a suprema autoridade espiritual na Europa Ocidental. A conversão e o batismo de Clóvis marcariam o nascimento de um novo Império Romano, pretensamente cristão, baseado na Igreja de Roma e administrado, ao nível secular, pelo reino franco e pela linhagem merovíngea - posteriormente traída e derrubada pela própria Igreja.
Com poderosa eficiência, a fé católica foi imposta pela espada, e os traços das outras igrejas forma irremediavelmente apagados (em parte) da história; com a sansação da Igreja, o reino franco expandiu-se para o leste, englobando a maior parte da França, Alemana e outros países modernos.
Dois séculos mais tarde, a Igreja já era suficientemente poderosa para achar que a linhagem merovíngea de Clóvis começava a ser um empecilho. Dagobert II, descendente de Clóvis, foi um rei forte que conseguiu domar a anarquia que, antes dele, dominava o reino, restabelecendo a ordem, e reconhecendo os interesses cada vez mais menos espirituais da Igreja. Tanto que ele parece ter abortado deliberadamente as tentativas desta de se expandir ainda mais. E, em virtude de se ter casado com uma princesa visigoda (cujo povo, apesar de decalar fidelidade a Roma, tinham um imensa simpatia por idéias consideradas "heréticas") havia adquirdo um imenso território, onde hoje é o Languedoc, base dos futuros Cátaros. Dagobert parece ter adquirido algumas das tendências arianas que questionavam a autoridade da Igreja. Com tudo isso, não é de se extranhar que ele tenha obtido inúmeros inimigos políticos, entre eles seu chanceler, Pepino, o Gordo, que, alinhando-se com outros inimigos e com a Igreja, planejaram o assassinato de Dagobert e o extermínio da linhagem merovíngea.
Cabe salientar que, dois séculos após sua morte, Dagobert II foi canonizado, como uma forma de encobrir a traição visível da Igreja ao pacto que fizera com Clóvis.

Os Cátaros
Nas palavras da Igreja Romana, no século XII a região do Languedoc estava infectada pela heresia de um movimento nocivo, chamado de catarismo, "a lepra louca do sul". Embora fosse sabido por todos que os adeptos dessa heresia fossem essencialmente pacíficos, eles constituiam uma grave ameaça à autoridade romana, a mais grave que Roma encontraria nos três séculos seguintes, até a chegada de Martinho Lutero. Por volta de 1200 havia realmente a possibilidade real de que o catolicismo romano fosse substituído, como forma predominante de cristianismo, no Languedoc, pelo catarismo que estava se irradiando para outras partes da Europa.
E, 1165 a Igreja havia condeando formalmente o catarismo na cidade de Albi, no Languedoc. Daí por que os conhecemos também por albigenses. Muitas de nossas informações sobre eles provêm de fontes eclesiásticas católicas, e criar um quadro correto dos cátaros a partir destes documentos é como compreender a resistência estudantil brasileira, no tempo da Ditadura, a partir dos relatórios dos militares e do DOI-CODI, ou compreender a Resistência Francesa, na Segunda Guerra Mundial, a partir dos relatórios da Gestapo.
Em geral, os cátaros acreditavam na doutrina da reencarnação e reconheciam Deus não como um princípio puramente masculino, mas como tendo, igualmente, princípios femininos (o que nos remete a doutrina dos Druidas). Tanto que os pregadores e professores das congregações cátaras, conhecidos como parfaits, eram de ambos os sexos. Ao mesmo tempo, rejeitavam veementemente a autoridade da Igreja Católica e negavam a validade das hierarquias clericais, ou de intercessores oficiais entre Deus e o homem. No centro desta oposição residia um pincípio extremamente importante: a fé vivida como como uma experiência mística direta, sem passar por uma segunda mão. Tal ênfase era dada na experiência mística direta que vemos claramente a influência de Plotino no pensamento cátaro. Hoje diríamos que os cátaros buscavam vivenciar uma experiência de comunhão com Deus, ou uma experiência de transcdendência, num domínio Transpessoal, que, antes, chamavamos de místicas. Esta experiência chamava-se gnosis, que em grego significa "conhecimento", e era privilegiada sobre todas as outras formas de credos e dogmas pelos cátaros. A ênfase na experiência direta com o transcendente, o transpessoal, tornava supérfluos padres, bispos e quaisquer outras autoridades eclesiásticas.
Assim, a Igreja, sentindo-se realmente ameaçada, tomou a iniciativa de formar uma Cruzada (a primeira dentro da Europa e contra irmãoes cristãos) com o fim de extirpar de vez com a heresia cátara: a Cruzada Albigense.
Em 1209, um exército de mais de 30 mil homens, desceu do norte da Europa em direção ao Languedoc, no sul da França, para executarem uma das maiores carnificinas da história humana. Na guerra que se seguiu, a população tomou a espada e denfendeu com ênfase os cátaros contra o despotismo católico. Todo o território da região foi pilhado e as cidades e vilarejos arrasados sem dó nem piedade. Só na cidade de Beziers, por exemplo, 15 mil homens mulheres e crianças foram exterminadas, muitos até mesmo dentro de igrejas. Quando um oficial perguntou a um representante do papa como ele iria reconhecer um herege dos crentes verdadeiros, a resposta foi: "Mate-os todos. Deus reconhecerá os seus". O próprio representante papal escreveu orgulhoso a Inocêncio III que "nem idade, nem sexo, nem posição forma poupados".
A guerra cruel durou cerca de quarenta anos. Quando terminou, toda a Europa caiu numa espécie de modorra e barbárie.
Um dos movimentos que mais tinha ligações com os cátaros era a Ordem dos Templários, criado na Terra Santa, e que representavam uma associação militar cristã aberta ao estudo e discussão de assuntos místicos. Acoselho o leitor a clicar nos links abaixo para ler mais sobre ambas as ordens:


Os textos aqui apresentados são, respectivamente, de:Michael Baignet, Richard Leigh e Henry Lincoln, cujo livro O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, Editora Nova Fronteira, 1997, serviu de inspiração e motivação para esta página Carles Cerveras, pela página dos Cátaros Um artigo retirado do Jornal "Harmonia deMolay", sobre Os Templários.

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